17 junho, 2012

O candidato ingênuo

Por Frei Betto
Candidato, vocábulo que deriva de cândido, puro, íntegro. Quem dera a maioria correspondesse a essa etimologia... A ingenuidade de muitos candidatos a vereador se desfaz quando, convidado a concorrer às eleições, acredita que, se eleito, não será “como os outros” (quantos não disseram isso no passado e hoje...) e prestará excelente serviço ao município.
O que poucos candidatos desconfiam é que servem de escada para a vitória eleitoral de políticos que eles criticam. Para se eleger vereador, deputado estadual ou federal, é preciso obter quociente eleitoral - aqui reside o pulo do gato.
A Câmara Municipal comporta de 9 a 55 vereadores, de acordo com a população do município. Cândidos eleitores imaginam que são empossados os candidatos que recebem mais votos. Ledo engano. João pode ser eleito ainda que receba menos votos do que Maria. Basta o partido do João atingir o quociente eleitoral.
Vamos supor que o município tenha 6.000 eleitores. Destes, 1.500 deixaram de votar, votaram em branco ou anularam o voto. São considerados válidos, portanto, 4.500 votos. Como a Câmara Municipal tem nove vagas, divide-se o número de votos válidos pelo número de vagas. O resultado dá o quociente eleitoral: 500 votos. Todo candidato que obtiver nas urnas 500 votos ou mais, será eleito vereador.
É muito difícil um único candidato obter, sozinho, votos suficientes para preencher o quociente eleitoral. Casos como o do Tiririca são raros. A Justiça Eleitoral soma os votos de todos os candidatos do mesmo partido, mais os votos dados apenas ao partido, sem indicação de candidato.
A cada 500 votos que o partido recebeu, o candidato mais votado vira vereador. Se o partido obteve 1.500 votos, ele terá, na Câmara Municipal, três vereadores. Os demais candidatos, que individualmente receberam menos votos do que os três empossados, ficam como suplentes. E o partido que obtiver menos de 500 votos, neste exemplo, não faz nenhum vereador.
A lei permite que um partido apresente um número de candidatos até uma vez e meia o número de vagas na Câmara. Se o partido se coliga com outros partidos, a coligação pode apresentar candidatos em número duas vezes superior à quantidade de vereadores que o município comporta. Para uma Câmara que comporta 9 vereadores, cada partido pode ter 14 candidatos, e cada coligação, 18. Esta a razão pela qual os partidos lançam muitos candidatos. Quanto mais votos os candidatos obtêm, mais chance tem o partido, ou a coligação, de atingir o quociente eleitoral. E, portanto, de eleger os candidatos com maior votação individual.
Ora, se você pensa em ser candidato, fique de olho. Pode ser que esteja servindo de degrau para a ascensão de candidatos cuja prática política você condena, como a falta de ética. Enquanto não houver reforma política, o sistema eleitoral funciona assim: muitos novos candidatos reelegem os mesmos políticos de sempre!
Se você é, como eu, apenas eleitor, saiba que escolher o partido é mais importante que escolher o candidato. Votar de olho somente no candidato pode resultar, caso ele não seja eleito, na eleição de outro candidato do partido. Como alerta o sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, “mais freqüente, porém, é a derrota e a frustração de pessoas bem-intencionadas, mas desinformadas. Ao se apresentarem como candidatas, elas mobilizam familiares, amigos e vizinhos para a campanha. Terminadas as eleições, percebem que sua votação só serviu para engordar o quociente eleitoral do partido ou da coligação... Descobrem, tarde demais, que eram apenas ‘candidatos alavancas’”.
Convém ter presente que o nosso voto vai, primeiro, para o partido e, depois, para o candidato.
São raríssimos casos como o da manicure Sirlei Brisida, eleita vereadora em Medianeira (PR) com apenas 1 voto. Seu partido, o PPS, concorreu nas eleições de 2008 com nove candidatos. Pelo quociente eleitoral, apenas Edir Moreira tomou posse. E se mudou para o PSDB, acompanhado pelos outros sete suplentes. Sirlei, que adoeceu durante a campanha eleitoral, e não pediu votos nem à família, permaneceu filiada ao PPS. Agora, a Justiça Eleitoral decidiu que o mandato pertence ao partido, no caso, ao PPS. Edir foi cassado e Sirlei, empossada.

Para refletir

"Não é o muito saber que sastifaz a alma! E, sim, sentir e saborear todas as coisas intermanente" "Em tudo amar e Servir" (Sto Inácio de Loyola)".

Dom Pedro Casaldáliga escreve Mensagem para Encontro das CEBs

Por Maria da Silva Costa Rossi*
Tendo começado neste dia 16/06, em Sula San Pedro, Honduras, o IX Encontro Latino-Americano das CEBS. A delegação brasileira saúda todos/as os/as participantes com esta mensagem esperançosa escrita especialmente para essa ocasião por Dom Pedro Casaldáliga:
“As CEBS do Brasil e as CEBS de toda a nossa América, reunidas na pequena e resistente Honduras, na força e na alegria do Espírito do Ressuscitado Jesus. (Falamos de “Nossa América” como falamos dos libertadores da Pátria Grande, para que as Ilhas não sejam esquecidas).
Reunimo-nos para reafirmar nossa identidade como CEBs com traços fundamentais comuns:
- As CEBS, por definição, somos COMUNIDADE, igualdade fraterna, corresponsabilidade, partilha, mesa eucarística do Pão e da Palavra. Contra o egoísmo e o consumismo do capitalismo neoliberal, somos a sobriedade compartilhada, a pobreza evangélica.
- As CEBS somos IGREJA, outro modo de toda a Igreja ir sendo; sendo cada dia mais REINO, o Reino dos seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré. Igreja samaritana, libertadora, ecumênica.
- As CEBS somos BASE, Povo, fermento do Reino entre os pobres, os excluídos-excluídas, indignados-indignadas que assumem a luta e propagam a esperança.
Para um encontro das CEBS da Nossa América, nesta hora política e eclesial de crise, nos obriga ser conscientemente integração latino-americana-caribenha, fermentando a sociedade do Bem Viver e do Bem Conviver, potencializando os direitos e a presença dos povos indígenas e afrodescendentes.
O Espírito nos anima a transformar a hora escura da crise em hora luminosa de Kairós. Ser diálogo, diaconia, evangelização integral, militância e contemplação; a partir do dia a dia da família e do trabalho, da eclesialidade ministerial e da organização popular, da pastoral e da política.
Três atitudes maiores nos devem definir nessa hora:
Indignação profética
Compromisso militante
Esperança pascal
Querida e grande família das CEBS da Nossa América, com este encontro de HONDURAS relançamos nosso modo de ser Igreja na Pátria Grande na perspectiva de Outro Mundo Possível. Os deserdados da Terra nos garantem a herança do Reino. A nuvem dos testemunhos de sangue cobre a Caminhada. Jesus nos comunica seu Espírito, presente e atuante sempre em nós, sendo o grande sacramento da Libertação, Nossa Páscoa.

Do Brasil lhes enviamos um abraço carinhoso, do tamanho da nossa Esperança”.
*Maria da Silva Costa Rossi é Coordenadora Regional da Cebs do Mato Grosso e Representante Brasileira na Ampliada da Cebs Latino-americana.