Por João Pedro Stedile
O Brasil consome mais de um bilhão de litros de
venenos agrícolas por ano. Isso representa 20% de todos os venenos consumidos
no mundo, embora sejamos responsáveis por apenas 3% da produção agrícola
mundial.
Despejamos 15 litros de venenos por hectare cultivado. Essa realidade não tem
paralelo com nenhuma agricultura do mundo, nem há nenhum manual de agronomia
que faça tal recomendação.
Esses venenos de origem química são produzidos por poucas grandes empresas
transnacionais. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária),
somente as dez maiores empresas do setor foram responsáveis por 75% das vendas
de agrotóxicos na última safra.
Isso lhes permite a maior taxa de lucro do mundo: US$ 8,5 bilhões de dólares na
safra 2010/2011, e ainda desovam por aqui seus estoques de venenos proibidos em
outros países.
Os venenos matam. Matam a biodiversidade existente na natureza, já que o
agronegócio visa ao monocultivo absoluto, seja de soja, milho, algodão, cana ou
pastagem extensiva. Mata os nutrientes, empobrece o solo e contamina o lençol
freático fazendo com que muitas cidades com poço artesiano encontrem resíduos
inaceitáveis para o consumo humano.
Os venenos também contaminam as chuvas. Quando o veneno secante não é
absorvido, sobe para atmosfera e volta democraticamente para todos habitantes
com a chuva. Mas, sobretudo, os venenos contaminam nossos alimentos. A Anvisa
faz testes por amostragem apenas em algumas cidades a cada seis meses.
Mesmo com os níveis alarmantes, nenhum supermercado cumpre a lei do consumidor,
que obriga que o rótulo ou a gôndola dos produtos avisem que aquele alimento é
transgênico ou possui veneno.
Resultado: segundo os cientistas do Inca (Instituto Nacional do Câncer), a cada
ano, 500 mil brasileiros são acometidos por câncer, grande parte originário dos
venenos dos alimentos. Quase metade destes brasileiros irá a óbito.
Em todos os países da Europa a pulverização aérea de veneno é proibida. Aqui no
Brasil, porém, é a mais usada, causando todo tipo de consequência à natureza,
aos rios e às pessoas. No ano passado, uma escola rural de Goiás foi atingida,
causando problemas a centenas de crianças.
Na Holanda, por exemplo, já está proibido o uso do Glifosato, o mais usado no
Brasil. Cientistas conseguiram comprovar que os agrotóxicos causam alterações
genéticas e aumentam as probabilidades de contrair câncer, sofrer abortos
espontâneos e nascimentos com malformações.
O Brasil, no entanto, caminha no sentido contrário da modernidade e da proteção
da vida. Porque aqui, o lucro das empresas transnacionais e dos bancos que as
financiam vem em primeiro lugar. E, ainda mais, o agronegócio tem hegemonia
completa na mídia brasileira, que todo dia faz sua propaganda ideológica.
O Ministério da Agricultura, em vez de ser rigoroso no controle dos venenos, os
libera - como é o caso do chamado D-4, proibido na maioria dos países. No
Congresso Nacional, o agronegócio também tem hegemonia, com os deputados
ruralistas se orgulhando desse modelo. Havia um deputado, líder ruralista, que
defendia com entusiasmo o uso de agrotóxicos, alegando progresso e modernidade
para agricultura. Deixou de fazê-lo. Há dois anos, Homero Pereira morreu de
câncer no estômago.
A Esplanada dos Ministérios, por sua vez, justifica o apoio ao agronegócio pelo
valor das exportações agrícolas, como se sustentassem nossa economia. Ledo
engano. Nenhum país do mundo se desenvolveu exportando commodities agrícolas e
minerais. Enquanto o agronegócio brasileiro representa 3% do comércio mundial
agrícola, na Holanda, com seu "enorme" território, essa cifra é o
dobro, porque compra nossas matérias-primas, as industrializa e revende a
outros países.
Por essa realidade, que organismos internacionais, entidades de saúde pública e
os movimentos camponeses de todo mundo declararam o dia 3 de dezembro como o
Dia Mundial de Combate ao Uso de Agrotóxico.
Ajude a salvar vidas (inclusive a sua), vegetais, animais. Exija que o
supermercado coloque no rótulo se tem ou não agrotóxico. Exija que o governo
não permita, ao menos, os venenos já proibidos em outros países. E potencialize
a fiscalização da Anvisa.
Cuide de sua saúde, e não se iluda com a cantilena do agronegócio e das
empresas fabricantes de venenos, que somente querem o lucro, mesmo que para
isso tenham que lhe enviar a um hospital.
Fonte: Portal Uol