13 novembro, 2014

Quando a liberdade e a política vencem. Reflexões sobre as eleição/2014

Toda rede lançada ao mar tem sua serventia. Fisgar o peixe seria o resultado óbvio nessa empreitada, porém presume-se que a imensidão do mar pode reservar algumas surpresas. Uma sereia, um tubarão e seus filhotes poderiam emergir da rede. O cenário das eleições nesse outubro/2014, trás à tona a necessidade da retomada do debate político qualificado e com a dimensão que a ciência exige. A política não é um mito. O seu exercício deve ser constante, capaz de valorizar a compreensão do coletivo e alcançar os diversos seguimentos sociais. Muitas falas foram ditas, entretanto, o barulho continua. A imprensa midiática e os institutos fabricantes de ideologias inócuas proliferaram nas mentes das pessoas. Destilaram ódio na pauta política da sociedade. O mesmo ódio derramado nos embates da luta de classe.  Impressiona como os ânimos entre a violência e a política se mantenham  exacerbados, de tal forma, a evidenciar a tese de cientistas e estudiosos que justificam a política como um reconhecimento resgatado da violência. Algumas lições na disputa eleitoral serve para que se avalie o grau de comprometimento do projeto político dos candidatos postulantes.

Coube a Marina Silva engendrar a "nova política" ao ensaio original de Maquiavel: "Na minha intenção de escrever coisas úteis aos meus leitores, achei mais válido concentrar-me na realidade das coisas do que me abandonar às vãs especulações. Muitos imaginaram repúblicas e principados antes desconhecidos. Mas para que serve tais especulações? Há tanta distância entre a forma como vivemos e como deveríamos viver que, ao estudarmos apenas esta última, aprendemos mais a nos destruir do que a nos preservar"(O príncipe, cap. XV).


Na tradução percebe-se que existe uma física da existência política que não é violada impunimente.

Coube a Aécio Neves representar a consolidação dos diversos interesses da elite brasileira identificada como benfeitora da social democracia e os signatários da "nova política". Da mesma forma arrastou para si a adesão da maioria das representações políticas com anseios contratuais de toda ordem e natureza. É ela ou eu! O seu discurso foi carregado de uma violência fundamental. Na disputa dois projetos distintos. Aécio seguidor das diretrizes do Consenso de Washington (1989) adotou a linguagem de negação de tudo.


Negou a si próprio e depois o Estado. Fez desmoronar a torre de Babel.

Articulou-se com um exercício de anulação da política, e, esta passou a tomar conta da sua campanha. "Os ricos [...] logo [...] sonharam subjugar e reprimir seus vizinhos como lobos famintos que, depois de terem provado a carne humana, recusam qualquer outro alimento e só querem devorar os homens".(Rousseau, 1989, cap. II).

Desqualificar a sua opositora estava na ordem do dia, dos debates. Postou-se honrado e audacioso, como se essas fossem virtudes supremas do homem e o fez como estetização da política. Falou-se da pátria a ser salva e dessa forma realça o desprezo a comunidade humana que há na política. A sua rebuscada individualidade política o tornou  imoral. O glorioso e bem sucedido - um vencedor, não foi capaz de contemplar o sentido da política. Foi derrotado.

Resta a presidente Dilma o reconhecimento de uma maioria que resiste e se qualifica mais ainda no debate cotidiano que assume perfil e voz nas ruas, nas trincheiras das redes sociais, nas instituições, na consolidação mútua das liberdades, ao superar a violência. Viva sempre viva a democracia!

Maria Íris Tavares Farias
Poeta / Historiadora
Mestra em Política Pública e Gestão na Educação Superior - UFC.