01 dezembro, 2014

Carta do Grupo Emaús à Presidenta Dilma

Estimada Presidenta Dilma Rousseff,
Nós, participantes do Grupo Emaús abaixo relacionados, queremos parabenizá-la por seu esforço e desempenho durante a árdua campanha eleitoral, bem como pelas conquistas de seu primeiro mandato. Somos um grupo de teólogos/as de várias Igrejas cristãs, sociólogos/as, educadores/as e militantes que nos encontramos regularmente há quatro décadas. Estamos todos comprometidos na construção de um Brasil, social e economicamente mais justo, solidário e sustentável.
A maioria batalhou, desde o início, em favor do PT e de seu projeto de sociedade. Nessas eleições de 2014, muitos de nós expressamos publicamente nosso apoio à sua candidatura. Discutimos e polemizamos, pois, percebíamos o risco de que o projeto popular do PT, representado pela Senhora, não pudesse se reafirmar e consolidar. Para nós cristãos, especialmente nas milhares de comunidades de base, tínhamos e temos a convicção de que a participação política, de cunho democrático, popular e libertador, se apresenta como um instrumento para realizar os bens do Reino de Deus.
Esses valores são a centralidade dos pobres, a conquista da justiça social, a mútua ajuda, a busca incansável da dignidade e dos direitos dos oprimidos, a valorização do trabalhador e da trabalhadora, a justa partilha e o respeito pela Mãe Terra. Por isso, na linha do diálogo que a Senhora propôs à sociedade, queremos apresentar algumas sugestões para que seu governo continue implementando o projeto que tanto beneficia a sociedade brasileira, especialmente os mais vulneráveis.
O BRASIL QUE QUEREMOS
Estas são as grandes opções que, acreditamos, devem estar presentes na construção do Brasil que queremos: Clique aqui para continuar lendo na íntegra a carta

Papo com a Presidenta Dilma por Frei Betto

PAPO COM DILMA
Frei Betto
 A presidente recebeu, a 26 de novembro, representantes do Grupo Emaús que, há 40 anos, articula, no Brasil, a teologia da libertação e as ferramentas pastorais que a tornam realidade na esfera eclesial.

         Acolheu-nos no Planalto por mais de uma hora, em companhia de Aloísio Mercadante, chefe da Casa Civil. Dilma demonstrava muito bom humor e abertura às nossas críticas e sugestões.

         Entregamos a ela carta assinada por 34 participantes do Emaús, entre os quais teólogos(as), sociólogos(as), educadores e militantes de movimentos pastorais.

         Manifestamos nossa proposta para seu segundo mandato, em texto intitulado “O Brasil que queremos”: reforma política (para a qual nos pediu sugestões); modelo econômico mais social e popular; auditoria da dívida pública; reavaliação dos megaprojetos à luz de critérios ambientais e sociais; defesa dos direitos de povos indígenas e quilombolas; restrição do uso de transgênicos e agrotóxicos.

         Insistimos nas reformas de que o país tanto necessita, sobretudo agrária, urbana e tributária. Sugerimos nova política de segurança pública e reforma prisional; a democratização dos meios de comunicação; e a universalização dos direitos humanos com respeito à diversidade.

         Consideramos importante a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais; a reapresentação do projeto de Participação Social; e o rigoroso combate à corrupção. (A íntegra da carta se encontra em meu site: www.freibetto.org).

         Enfatizamos a importância do diálogo permanente com os movimentos sociais e, em especial, com os jovens. Ela, imediatamente, cuidou de agendar tal sugestão. Criticamos também o sistema de comunicação do governo e insistimos na valorização dos centros de referência em direitos humanos e na política de proteção ambiental.

         Dilma não apenas agradeceu as nossas críticas e sugestões, como abriu canais para que se tornem frequentes.

         Fiquei com a impressão de que a presidente não dispõe de muitos interlocutores críticos. O poder costuma inibir aqueles que buscam tirar proveito pessoal, como manter a função e a suposta boa impressão, e preferem não correr o risco de serem mal acolhidos. Cria-se assim um círculo vicioso: a presidente escuta de muitos que a cercam apenas elogios, e fica desinformada quanto a avaliações críticas pertinentes.

         Ao final da audiência, ela externou o fascínio pelo homem que, hoje, ocupa o seu coração: o papa Francisco. Relatou os encontros que tiveram e as conversas descontraídas, concordando que ele é, atualmente, o mais importante líder mundial, capaz de estender pontes (daí o termo pontífice) entre regiões, países e Estados em conflitos.

         À saída da sala presidencial, encontrei Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria e amigo de longa data. Em seguida, ele seria recebido por Dilma. Brinquei: “Robson, já tratamos com a presidente dos direitos dos trabalhadores. Agora é a sua vez de falar dos interesses dos patrões...”

Frei Betto é escritor, autor de “Oito vias para ser feliz” (Planeta), entre outros livros.