27 fevereiro, 2015

A revolução do Papa Francisco

Ressurge o sonho das primeiras horas de seu pontificado: "Como eu queria uma Igreja pobre para os pobres"


Zenit.org

Tem despertado certo estupor a inauguração dos chuveiros e da barbearia para os desabrigados, na Praça de São Pedro. Os chuveiros foram instalados próximo aos correios do Vaticano, à direita da colunata de Bernini. A iniciativa foi pessoalmente solicitada pelo Papa Francisco. Nenhum Papa jamais havia feito isso.

A este respeito, devemos lembrar o que disse Jorge Mario Bergoglio no dia 16 de março de 2013, poucos dias depois da sua eleição à Cátedra de Pedro, quando ele se encontrou com cerca de 6.000 jornalistas. Depois de ler as primeiras linhas de seu discurso previamente preparado, ele decidiu abandoná-lo e falou espontaneamente sobre o Conclave, como ele havia sido eleito e por que ele escolheu o nome de Francisco.
Quando sua eleição tornou-se conhecida, o cardeal brasileiro Claudio Hummes, sentado ao lado dele disse: "Não se esqueça dos pobres". Então, o Cardeal Bergoglio imediatamente pensou em Francisco de Assis. Depois, ele pensou da guerra, o que foi uma confirmação: Francisco, um homem de paz. Por isso ele escolheu este nome, e tornou-se o primeiro Papa Francisco na longa história da Igreja.
Ainda durante essa audiência, ele indicou o programa de seu pontificado; o Papa Francisco parou, olhou para nós intensamente e muito sério, disse: "Desejo uma Igreja pobre e para os pobres".
Descrentes muitos colegas comentaram no dialeto romano: “ma questo Papa c’è o ci fà?” (‘Esse Papa está fazendo tipo?’). Estavam céticos até mesmo alguns padres que trabalhavam na Cúria, "vamos ver daqui há alguns meses...”. Já se passaram quase dois anos desde aquele dia, e Papa Francisco demonstrou que o seu programa de ajuda e atenção aos pobres e marginalizados, o seu compromisso com a paz, não se trata de uma retórica.
No consistório de 14 de fevereiro, o Papa Francisco conferirá o solidéu cardinalício a 15 novos cardeais, de todos os continentes. Com exceção da nomeação de Dom Dominique Mamberti - cujo cargo de prefeito do Supremo Tribunal da Signatura Apostólica prevê a nomeação como cardeal - para nenhum dos outros bispos era esperado a púrpura.
O Papa nomeou cardeais de países pequenos e pobres, na periferia do mundo, como a ilha de Tonga, na Polinésia e o arquipélago de Cabo Verde, ao largo da costa do Senegal. Ou cardeais de países onde a Igreja Católica tem sido discriminada e perseguida como Hanói (Vietnã) e Yangon (Myanmar). Da Itália provenientes de dioceses ‘não cardinalícias’ como Ancona e Agrigento. Compromissos que representam uma verdadeira revolução e que respondem ao sonho de uma Igreja pobre para os pobres.
A liberdade absoluta e a determinação com que Francisco age é apreciado por todos, mesmo aqueles de outras religiões e nações não católicas. Sua radicalidade e coerência evangélica fazem dele o personagem mais apreciado e amado do mundo. No ano passado mais de seis milhões de pessoas vieram a Roma para assistir o Angelus no domingo e participar da Audiência Geral. Mais de um milhão de cartas chegaram ao Vaticano. Cerca de dezessete milhões de pessoas no Twitter seguem a conta @pontifex. Em sua última viagem a Manila, nas Filipinas, sete milhões de pessoas participaram da celebração da missa de encerramento.
Não há nenhum encontro em que o Papa argentino não reze ou faça rezar. Em todos os encontros públicos e privados encontra tempo para ouvir, observar, abraçar, consolar, encorajar, os doentes, os deficientes, os que sofrem, os marginalizados, os representantes de outras religiões.
Entre as muitas iniciativas que promove, pela paz e desenvolvimento, é impressionante o que ele conseguiu fazer contra as velhas e novas formas de escravidão. Os signatários do Acordo que ele propôs são representantes de religiões que contabilizam mais de dois bilhões e meio de fiéis.
Graças a Bergoglio se reuniram em Roma a Hindu Mata Amritanandamayi (Amma), considerada um guru e um Mahatma, também conhecido como "a santa do abraço", dois líderes budistas, dois rabinos, o Patriarca ecumênico ortodoxo, um imã, dois Aiatolás, um xeique e o arcebispo anglicano de Canterbury. Todos muito disponíveis a assinar e apresentar ao mundo uma declaração que tem o objetivo de erradicar, no período de cinco anos, o horror das novas formas de escravidão. Da prostituição ao trabalho infantil, da exploração econômica e sexual aos exércitos que usam crianças para lutar. Assim, o Papa Francisco conseguiu montar uma espécie de ONU das religiões para combater a barbárie e extinguir definitivamente a escravidão.

Câmara concederá passagens para mulheres e maridos de parlamentares

Inaceitável – não vamos deixar
Um "reajuste com base na inflação" aprovado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) vai custar R$150 milhões aos cofres públicos. Recursos que poderiam ir pra saúde e educação, vão engordar ainda mais o orçamento dos gabinetes -- mas o reajuste ainda não entrou em vigor. Assine a petição antes que isto aconteça.

Assine a petição aqui

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), acabou de fazer um reajuste na cota de gastos dos gabinetes, aumentando seu orçamento e autorizando o pagamento de passagens aéreas para as esposas e esposos de parlamentares -- isso vai custar R$150 milhões aos cofres públicos!!! 

A compra de passagens aéreas para parentes já havia sido proibida, mas Cunha quer mudar as regras novamente - isto é, no mínimo, um abuso. Os salários dos deputados já são altos o suficiente para que eles possam pagar por casa, viagens e manter uma vida de luxo que muitos brasileiros não têm. 

Se agirmos rápido e fizermos barulho contra esta medida, podemos envergonhar os deputados e fazê-los reverter a decisão, garantindo que nosso dinheiro vá para hospitais ou escolas. Alguns deputados já se pronunciaram contra o aumento - isso significa que podemos vencer! 

Assine a petição e passe adiante - ao juntar meio milhão de assinaturas, a Avaaz colocará painéis de destaque com os nomes dos deputados que aceitaram o aumento da verba.

É absurdo, em pleno ano de 2015, que os deputados continuem a legislar em benefício próprio. Esse aumento acontece ao mesmo tempo em que o próprio Congresso quer votar mudanças nas leis trabalhistas e cortes de benefícios para o trabalhador. 

O aumento total da verba de gabinetes deve ter um impacto anual de R$ 150 milhões, recurso que poderia ser investido em educação, saúde e combate à corrupção. Mas, ao invés disso, vai pagar ainda mais regalias aos barões do Congresso.

Eduardo Cunha diz que não vai haver impacto real e que o aumento da verba dos parlamentares virá de cortes no orçamento geral da Câmara, como na área de informática e contratos externos. Nem todos os deputados ficaram felizes, e dizem que os valores atuais são mais que suficientes para o cumprimento do mandato. O reajuste entra em vigor já no mês de abril -- ainda dá tempo de nos mobilizarmos e reverter a situação.

Nossos deputados parecem verdadeiros barões, legislando para si mesmos, aumentando seus próprios salários e beneficiando uma elite política que está fazendo mal para o Brasil. Em tempos de austeridade, precisamos economizar, não pagar regalias para deputados e seus cônjuges. No passado já conseguimos barrar o aumento de seus salários e vencer muitas lutas em Brasília. Vamos vencer novamente desta vez. 

Com esperança e determinação, 

Diego, Joseph, Carol, Oliver, e toda a equipe da Avaaz 

25 fevereiro, 2015

Papa Francisco nomeia padre Luiz Gonçalves Knupp bispo de Três Lagoas-MS

O papa Francisco nomeou nesta quarta-feira (25) padre Luiz Gonçalves Knupp bispo da diocese de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul.

Atualmente o presbítero é pároco da paróquia Menino Jesus de Praga e São Francisco Xavier em Maringá. Padre Knupp, como é conhecido, é o terceiro padre da arquidiocese de Maringá, nomeado bispo.

Os outros dois foram dom Vicente Costa, hoje bispo da diocese de Jundiaí-SP, e dom Edmar Peron, hoje bispo auxiliar da arquidiocese de São Paulo-SP.

Coletiva de imprensa:
Por ocasião da nomeação do padre Luiz Gonçalves Knupp como bispo da diocese de Três Lagoas-MS, haverá coletiva à imprensa nesta quarta-feira (25) às 10h na Cúria Metropolitana.

A Cúria Metropolitana fica na Avenida Tiradentes nº 740, esquina com a Avenida Duque de Caxias.

Missa de ação de graças
Nesta quarta-feira (25) haverá missa de ação de graças pela nomeação do padre Luiz Gonçalves Knupp como bispo de Três Lagoas-MS. Será às 19h na paróquia Menino Jesus de Praga e São Francisco Xavier em Maringá.

Biografia do monsenhor Luiz Gonçalves Knupp
Com a nomeação, padre Luiz passa a ser chamado de monsenhor até a sagração episcopal.

Monsenhor Luiz Gonçalves Knupp nasceu em 29 de novembro de 1967, em Mandaguari-PR. É o nono filho de Antônio Knupp e Conceição Gonçalves Knupp.

Bacharel em Filosofia pelo Instituto Filosófico Arquidiocesano de Maringá; bacharel em Teologia pelo Centro Interdiocesano de Teologia de Cascavel – PR (CINTEC); pós-graduação lato sensu em formação de educadores pela Faculdade Jesuíta de Filosofia de Teologia.

Monsenhor Luiz Knupp foi ordenado diácono em 26 de dezembro de 1998 na Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Glória em Maringá; ordenado presbítero em 24 de abril de 1999 na  Paróquia Bom Pastor em Mandaguari. Atualmente é pároco da paróquia Menino Jesus de Praga e São Francisco Xavier em Maringá; desde 2013, é membro da coordenação da Ação Evangelizadora da arquidiocese de Maringá (responsável pela dimensão pastoral da Igreja Católica na arquidiocese), e membro do Conselho Presbiteral da arquidiocese.

De 2007 a 2013, no regional Sul 2 da CNBB, que compreende a Igreja Católica no Paraná, monsenhor Luiz Knupp integrou a equipe de coordenação da Animação Bíblico Catequética.

Também foi diretor Espiritual do Seminário de Teologia Santíssima Trindade em Londrina de 2007-2013; diretor Espiritual da Comunidade Emaús – Residência dos estudantes de teologia da Arquidiocese de Maringá em Londrina de 2003-2004; assessor dos diáconos permanentes e organizador e coordenador da escola diaconal São Francisco de Assis da arquidiocese de Maringá de 2000 a 2007; assessor arquidiocesano da Pastoral da Juventude de 1999 a 2001; pároco da paróquia Nossa Senhora de Fátima de Marialva-PR de 2008 a 2014; pároco da paróquia Nossa Senhora de Guadalupe de Maringá de 2002 a 2006;  vigário da paróquia Nossa Senhora de Guadalupe e administrador da paróquia Santa Rita de Cássia em Maringá de 1999 a 2001.

Fonte: site da Arquidiocese de Maringá

19 fevereiro, 2015

Chuva, Chuvisco, Chuvarada - Cocoricó

Como o arcebispo ''morto no altar'' por um esquadrão da morte em El Salvador começou sua estrada para o martírio

As três cruzes ficam entre uma estrada de chão e campos de milho no município de Paisnal, localidade que uma vez foi uma fortaleza da guerrilha de esquerda nos redutos rurais de El Salvador. É fácil passar sem perceber o pequeno santuário, mas ele marca o local de uma atrocidade acontecida em 1977 que ajudou a transformar Oscar Romero, arcebispo do país, em uma das figuras mais polêmicas e controversas da história moderna do catolicismo romano.


Leia  aqui a  reportagem é de Philip Sherwell, publicada no sítio do jornal britânico The Telegraph, 17-02-2015. A tradução é deClaudia Sbardelotto.


Por que a sonegação de 8 mil brasileiros não é notícia no "JN"?

Desde a última segunda-feira (9), os telejornais do mundo inteiro noticiaram o escândalo mundial do banco HSBC ter ajudado milionários e criminosos a sonegar impostos em seus países, usando sua filial na Suíça. Mas no Jornal Nacional da TV Globo, nenhuma palavra sobre o assunto.

A reportagem foi publicada pela Rede Brasil Atual.

Não se pode dizer que a notícia é apenas de interesse estrangeiro, pois 8.667 correntistas são associados ao Brasil, despontando como a quarta maior clientela.

O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco Filho, por exemplo, confessou em depoimento à Polícia Federal, ter mantido dinheiro de propinas neste HSBC Suíço durante um período.

No Brasil, não é só a TV Globo que parece desinteressada nesta notícia. O resto da imprensa tradicional brasileira também reluta em divulgar até nomes que já saíram na imprensa estrangeira.

Um portal de notícias de Angola noticiou a presença na lista da portuguesa residente no BrasilMaria José de Freitas Jakurski, com US$ 115 milhões, e do empresário que detém concessões de ônibus urbanos no Rio de Janeiro,Jacob Barata, com US$ 95 milhões. A notícia traz dores de cabeça também para o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB-RJ), pois Barata é chamado o "rei dos ônibus" e desde junho de 2013 é alvo de protestos liderados pelo Movimento Passe Livre.

O dinheiro nas contas pode ser legítimo ou não. No caso de brasileiros, a lei exige que o saldo no exterior seja declarado no Brasil e, se a origem do dinheiro for tributável, que os impostos sejam devidamente pagos, inclusive no processo de remessa para o exterior. Porém é grande a possibilidade de esse tipo de conta ser usada justamente para sonegar impostos, esconder renda, patrimônio e dinheiro sujo vindo de atividades criminosas. O próprio HSBCafirma que mudou seus controles de 2007 para cá, e 70% das contas na Suíça foram fechadas.

A receita federal Inglaterra, onde fica a matriz do HSBC, identificou 7 mil clientes britânicos que não pagaram impostos. A francesa avaliou que 99,8% de seus cidadãos presentes na lista praticavam evasão fiscal. Na Argentina, a filial do HSBC foi denunciada em novembro de 2014, acusada de ajudar 4 mil cidadãos a evadir impostos. Segundo a agência de notícias Télam, o grupo de mídia Clarín (uma espécie de Organizações Globo de lá) tem mais de US$ 100 milhões sem declarar.


Os dados de mais de 100 mil clientes com contas entre 1988 e 2007 foram vazados pelo ex-funcionário do HSBC Herve Falciani. O jornal Le Monde teve acesso e compartilhou com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), formado por mais de 140 jornalistas de 45 países para explorar as informações e produzir reportagens, compondo o projeto SwissLeaks.


No Brasil, o jornalista Fernando Rodrigues do portal UOL é quem detém a lista e deveria revelar o que encontrou. Porém sua postura tem sido mais de esconder do que de revelar o que sabe. Segundo ele, revelará nomes que tiverem "interesse público" (portanto, independentemente da licitude) ou nomes desconhecidos sobre os quais venham a ser provadas irregularidades.

Mas o próprio Rodrigues disse que há nomes conhecidos de empresários, banqueiros, artistas, esportistas, intelectuais e, até agora, praticamente não publicou nenhum. Nem o de Jacob Barata, de claro interesse jornalístico. Só publicou dois nomes já divulgados no site internacional do SwissLeaks (contas do banqueiro falecido Edmond Safra e da família Steinbruch), o de Pedro Barusco, também já divulgado antes, e de outros envolvidos com aOperação Lava Jato, como Julio Faerman (ex-representante da empresa SBM), o doleiro Raul Henrique Srour, e donos da Construtora Queiroz Galvão.

Rodrigues não publicou nenhum nome de artista, esportista, intelectual, político ou ex-político, contradizendo sua política editorial de revelar tudo que seja de interesse público. Jornalistas do ICIJ de outros países divulgaram os nomes de celebridades, políticos, empresários. Há atores, pilotos de Fórmula 1, jogadores de futebol, o presidente doParaguai etc.

A cautela no Brasil é contraditória com o jornalismo que vem sendo praticado pela imprensa tradicional de espalhar qualquer vazamento, sem conferir se tem fundamento, quando atinge alguém ligado ao governo da presidenta Dilma Roussef ou ao Partido dos Trabalhadores. Esta blindagem de não publicar o que sabe só costuma ser praticada quando há nomes ligados ao PSDB ou ligados aos patrões dos jornalistas e grandes anunciantes.

Um caso recente não noticiado pela mídia tradicional foi o discurso em 29 de abril de 2013 do ex-deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), no plenário da Câmara, em que disse sobre um dos donos da TV Globo: "(...) O Sr. João Roberto Marinho deveria explicar porque no ano de 2006 tinha uma conta em paraíso fiscal não declarada à Receita Federal com mais de R$ 100 milhões (...)". Tudo bem que o ônus da prova é de quem acusa, mas se fosse contra qualquer burocrata na hierarquia do governo Dilma, estaria nas primeiras páginas de todos os jornais e o acusado que se virasse para explicar, tendo culpa ou não.

O período que abrange o SwissLeaks, de 1988 a 2007, pega a era da privataria tucana e dos grandes engavetamentos na Procuradoria Geral da Republica, enterrando escândalos de grandes proporções sem investigações.
É só coincidência, mas o próprio processo de transferência do controle do antigo banco Bamerindus para o HSBC noBrasil se deu em 1997, durante o governo FHC. Reportagens da época apontaram que foi um "negócio da China" para o banco britânico.


17 fevereiro, 2015

Muros e Pontes: Memória Protestante na ditadura

Documentário sobre memória protestante na ditadura já está na web

Clique aqui para ver o documentário na íntegra


O documentário “Muros e Pontes: Memória Protestante na Ditadura", que faz parte do Projeto Marcas da Memória, com apoio do Ministério da Justiça, que reúne a Comissão da Verdade e Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, já está disponível na web. O filme sobre o impacto da ditadura no universo religioso protestante foi dirigido por Juliana Radler e lançado no Seminário “Protestantes, Democracia e Ditadura”, ocorrido no final do ano passado no Rio de Janeiro.

O filme traz depoimentos, recortes de jornais, fotos – que se destacam entre o conjunto de documentos de registro desse período – dos prisioneiros, que se tornaram a base do relato do momento mais trágico, impactante e que maiores sequelas deixou na história brasileira.

O documentário registra o depoimento de lideranças protestantes que forjaram um caminho novo, especialmente com apoio – formal ou velado – do maior segmento de igrejas evangélicas tradicionais, em que receberam destaque Zwinglio da Mota Dias, Bispo Paulo Ayres Mattos, Zenaide Machado, Leonildo Campos, Anivaldo Padilha, Jether Pereira Ramalho, Nilton Emerick, Roberto Chagas, Anita Wright Torres – filha do Pastor Jayme Wright – e de Carlos Gilberto Pereira.

A exceção mais viva é o depoimento de D. Paulo Evaristo Arns, à época cardeal arcebispo de São Paulo que teve contato com o Pastor Jaime Wright e o Rabino Henry Sobel no sepultamento do jornalista Vladimir Herzog, morto nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna, o Doi-Codi.

Desse contato surgiu o Projeto Brasil: Nunca Mais!, baseado em informações de 707 processos do Superior Tribunal Militar, fotocopiados em mais de um milhão de páginas e depois enviados à sede do Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, Suíça. Arns foi um arcebispo incansável na visita a quartéis, buscando torturados e denunciando aos meios de comunicação, especialmente aos correspondentes de agências internacionais de notícias em São Paulo.

O golpe militar de 1964 recebeu o registro histórico como um período chamado de “anos de chumbo”, mas à época tiveram forte apoio de setores conservadores da sociedade que o viam como a ‘salvação do Brasil’, com líderes como Eneas Tognini, que convocaram vigílias de oração pelo golpe civil-militar.


Fonte: AGEN (Antonio Carlos Ribeiro )

13 fevereiro, 2015

Guia de sobrevivência de Santa Teresa de Ávila para as mulheres católicas

"Teresa de Ávila testemunhou o sofrimento feminino numa Igreja que não valorizava os seus dons, então pôs-se a realizar mudanças. Como parte de suas reformas, escreveu um manual de oração ou, como eu gosto de pensar, um guia de sobrevivência feminista do século XVI", escreve Nicole Sotelo, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 12-02-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Nicole Sotelo é autora do livro “Women Healing from Abuse: Meditations for Finding Peace”, publicado pela Paulist Press e coordena o sítio womenhealing.com/.

Segundo ela, "Teresa exorta suas companheiras a acreditarem em suas próprias capacidades de reza e acesso a Deus. “Se alguém lhes dizer que a oração é perigosa, considerem esta pessoa o verdadeiro perigo e fujam dele”.

"A transformação da Igreja numa instituição onde verdadeiramente se valorizam as mulheres, no entanto, não está finalizada ainda - conclui Nicole Sotelo.  Quando o papa considera as mulheres “a cereja do bolo” e quando as católicas ainda carecem de plena igualdade, é útil voltarmo-nos novamente para Teresa de Ávila, a santa do século XVI que conhecida o valor das mulheres e que escreveu um guia poderoso para a prática de oração delas. A escrita de Teresa falou ao coração das mulheres a quase cinco séculos atrás.
E ainda fala hoje"

Eis o artigo.

Quando eu era jovem garota, apaixonada loucamente por Deus, uma freira me deu dois livros sobre Santa Teresa de Ávila. Mais tarde, descobri que Teresa e eu tínhamos uma outra coisa em comum além do amor a Deus: uma preocupação para com a igualdade das mulheres. Teresa testemunhou o sofrimento feminino numa Igreja que não valorizava os seus dons, então pôs-se a realizar mudanças. Como parte de suas reformas, escreveu um manual de oração ou, como eu gosto de pensar, um guia de sobrevivência feminista do século XVI.

Na época, as autoridades eclesiásticas não achavam que as mulheres eram capazes de acessar a Deus através da oração por si mesmas. A “oração mental”, ou oração contemplativa, era considerada uma prática perigosa se feita sem a orientação. A Inquisição tinha recentemente banido uma série de livros de orações, e a oração realizada pelas mulheres era particularmente suspeita.

Depois que o confessor de Teresa a proibiu de partilhar sua autobiografia com suas companheiras freiras, ela se pôs a escrever um outro livro: “Caminho da perfeição”. Hoje, este é considerado um clássico espiritual sobre oração. Eu também o considero um clássico espiritual sobre a libertação das mulheres católicas.

Teresa de Jesus, como também é conhecida, foi uma reformada par excellence. Ela sabia que não seria suficiente reformar as estruturas externas. Há também que se reformar internamente, as crenças que carregamos dentro de nós.

Assim, enquanto reformava a Ordem das Carmelitas, a que pertencia, ela também buscou transformar o entendimento que as mulheres têm de si mesmas.

Teresa escreveu um livro de orações para as suas companheiras reformadoras, as irmãs de suas novas comunidades. Ela parecia saber que é na oração mais profunda onde descobrimos a verdade sobre nós mesmas; que nesta oração as suas companheiras poderiam descobrir que elas, também, eram queridas por Deus.

No livro, Teresa embasa seus pensamentos nas Escrituras, proclamando: “Tampouco, tu, Senhor, quando andaste pelo mundo, desprezaste as mulheres; pelo contrário, tu sempre, com grande compaixão, as ajudaste. E encontraste mais amor e fé nelas do que encontraste nos homens”.

E ela recorda as suas irmãs companheiras que as autoridades daqueles tempos, os quais pronunciavam juízos contra as mulheres, não estavam de acordo com o Grande Juiz: “Já que os juízes do mundo são filhos de Adão e todos são homens, não há virtude de mulheres que lhes não lhes seja respeitosa”.

Teresa exorta suas companheiras a acreditarem em suas próprias capacidades de reza e acesso a Deus. “Se alguém lhes dizer que a oração é perigosa, considerem esta pessoa o verdadeiro perigo e fujam dele”.

Acima de tudo, ela encorajou suas contemporâneas a perseverarem na oração, apesar as injunções contra esta prática impostas pelas autoridades eclesiásticas: “Sigam firme, filhas, pois eles não podem lhes tirar o Nosso Pai e a Ave Maria”.

Esta afirmação foi retirada de um manuscrito depois que um de seus censores escreveu na margem: “Parece aqui que ela está repreendendo os Inquisidores que proibiram os livros sobre orações”. De fato.

Certamente Teresa sofreu por suas críticas ousadas. Desde autoridades eclesiásticas que diziam que sua “experiência era do demônio” à prisão domiciliar, ela enfrentou inúmeros processos. Em seu primeiro escrito, “Livro da Vida”, admite: “Houve eventos suficientes para me levar à loucura”.

Mas Teresa sabia que as coisas iriam acabar mudando: “Sim, realmente, vai chegar o dia, meu Rei, em que todos serão conhecidos pelo que são (...) Percebo que estes são tempos em que será errado subestimar almas virtuosas e fortes, muito embora elas são de mulheres”, escreveu em “Caminho de perfeição”.

Ela diz a suas companheiras que Deus vai lhes dar a coragem de que necessitam. Sugere que se “uma ou duas (...) fizerem, sem medo, o que é melhor”, as coisas irão começar a mudar.

Acima de tudo, ela pediu-lhes para continuar com confiança: “É difícil andar neste caminho com medo. É muito importante saberem que estão no caminho certo”.

Este “caminho certo” conduziu à transformação da ordem religiosa de Teresa de Ávila há muitos anos. Este é um dos motivos por que as carmelitas ao redor do mundo vão celebrar o 500º aniversário de seu nascimento no próximo mês.

A transformação da Igreja numa instituição onde verdadeiramente se valorizam as mulheres, no entanto, não está finalizada ainda. Quando o papa considera as mulheres “a cereja do bolo” e quando as católicas ainda carecem de plena igualdade, é útil voltarmo-nos novamente para Teresa de Ávila, a santa do século XVI que conhecida o valor das mulheres e que escreveu um guia poderoso para a prática de oração delas. A escrita de Teresa falou ao coração das mulheres a quase cinco séculos atrás. E ainda fala hoje.

Fonte: IHU

12 fevereiro, 2015

10 vereadores votaram a favor da TCCC e contra a população

Do Site do vereador Humberto Henrique


O projeto de autoria do vereador Humberto Henrique (PT) que revoga o decreto abusivo do prefeito proibindo o pagamento em dinheiro, foi adiado por cinco sessões. No total, 10 vereadores rejeitaram a solução imediata do problema. Até o dia 3 de março, quando o projeto voltará para a pauta, os usuários que não possuem o cartão eletrônico continuarão sendo impedidos de usar o transporte público de Maringá.

“Quem votou pelo adiamento da votação está defendendo a empresa e prejudicando a população. A TCCC (Transporte Coletivo Cidade Canção) teve desde 2013 para se adequar e atender a legislação. Com a decisão desses 10 vereadores, a população de Maringá vai continuar impedida de usar um serviço público”, criticou Humberto.

Confira como votou cada vereador:

Favoráveis a votação
Humberto Henrique (PT),
Mário Verri (PT),
Ulisses Maia (SD),
Dr. Manoel (PC do B) e
Luiz Gari (PDT).

Contrários a votação:
Chico Caiana (PTB),
Edson Luiz (PMN),
Carlos Sabóia (PMN),
Flávio Vicente (PSDB) e
Jones Darck (PP). 
Luiz Pereira (PTC),
Da Silva (PDT),
Belino Bravin (PP),
Márcia Socreppa (PSDB) e
Luciano Brito (PSD).

Projeto de lei de iniciativa popular pela Reforma Política e Eleições Limpas

A meta  coletar 1,5 milhão de assinaturas até março de 2015.

O projeto de iniciativa popular da Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas apresenta uma proposta de representação política mais identificado com a maior parte da sociedade.
Os quatro pontos principais desta proposta são:
  1. Proibição do financiamento de campanha por empresas e adoção do Financiamento Democrático de Campanha;
  2. Eleições proporcionais em dois turnos;
  3. Paridade de gênero na lista pré-ordenada;
  4. Fortalecimento dos mecanismos da democracia direta com a participação da sociedade em decisões nacionais importantes;
Se pararmos para pensar um pouco vamos perceber que a baixa qualidade do transporte público, a crescente violência urbana, a deficiência na educação, a precariedade da saúde pública, a carência de esporte e lazer para a juventude e a falta de terra para os trabalhadores que precisam são alguns dos inúmeros problemas sociais que a sociedade brasileira sofre há muito tempo.
Por que tais problemas nunca são resolvidos? Porque a solução deles depende da aprovação de muitas reformas como a reforma urbana, a reforma agrária, a reforma tributária e a reforma política. Todas elas precisam ser aprovadas no Congresso Nacional do Brasil.
Mas o Congresso impede que tais reformas sejam aprovadas. Isto porque parte dele representa os interesses de uma pequena parte da sociedade que financia as campanhas eleitorais, ou seja, de algumas poucas empresas. Assim, as necessidades da maior parte da população nunca são atendidas de verdade.
É isso que causa grande parte da corrupção política gerando inclusive a atual crise de representatividade no País. Só com uma Reforma Política Democrática será possível superar tais problemas que degradam a democracia brasileira. 

Participe, pegue o formulário na secretaria paroquial ou baixe o formulário aqui

Fonte: site da Coalizão

Por que existe fome no mundo?

Segundo um relatório da Fundação das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura do ano de 2000, no estágio alcançado pela produção agrícola, a Terra pode alimentar 12 bilhões de pessoas.
Contudo, a cada dia no planeta, por volta de 100 mil pessoas morrem de fome, e 826 milhões estão em um estado grave de desnutrição.
Mas como pode acontecer que mesmo com nossa capacidade tecnológica, não atendamos nossa necessidade mais básica?
Por que, mesmo na era do consumo desenfreado e do supérfluo, a perspectiva de uma penúria alimentar mundial nunca esteve tão próxima?
E o que fazer para reconquistar nossa segurança alimentar?
Em resumo, a fome no mundo:
- não acontece em razão de uma fatalidade, localização geográfica ou fenômeno climatológico;
 - é resultado de uma escolha da economia;
 - é agravada pela concentração agrícola e privatização da vida;
 - pode ser combatida com eficácia através da soberania alimentar das populações sobre seus territórios, a fim de eliminar a fome e a desnutrição, através da agricultura natural, eficiente e respeitosa com os ecossistemas, para substituir o modelo da agricultura intensiva e química;
 - exige que os agricultores se posicionem como guardiões do equilíbrio da terra.
O liberalismo econômico e a concorrência internacional:
A fome não é resultado de uma fatalidade, da localização geográfica ou de um fenômeno climatológico. Ela é, antes de tudo, uma consequência das políticas econômicas impostas pelos países desenvolvidos e seu desejo de ampliar sua hegemonia.
Os subsídios à produção e às exportações que os países do Norte possuem, faz com que inundem os mercados dos países do Sul com produtos de baixo preço, concorrendo com os produtos locais.
Os países do Sul abandonam sua diversidade e soberania alimentar para se transformarem em exportadores mais competitivos.
O resultado faz com que nem os países do Sul nem os do Norte sejam capazes de responder suas próprias demandas alimentares.
A privatização da vida:
As commodities agrícolas são consideradas como meras mercadorias para aumentar os lucros das empresas e o PIB de uma nação. As sementes são modificadas a fim de responderem aos critérios de rentabilidade máxima, mas são feitas para se tornarem estéreis ou se degenerarem rapidamente, além de serem patenteadas, forçando os agricultores a comprá-las todos anos, quando antes eram um patrimônio passado de geração em geração. Atualmente, cinco multinacionais controlam por volta de 75% das sementes utilizadas na agricultura em todo o mundo. 96% dos tomates listados em seus catálogos oficiais são híbridos do tipo F1 (cuja semente não germina na segunda geração). 80% das variedades vegetais cultivadas há 50 anos já desapareceram.
A dependência do petróleo:
A agricultura intensiva é a mais cara que a humanidade já praticou. Completamente dependente dos fertilizantes químicos, isto é, feitos de derivados de petróleo, que necessitam de três toneladas de petróleo para produzir uma tonelada de fertilizante. A dependência do petróleo é reforçada pelo transporte incessante de mercadorias. O que será do futuro de nossa alimentação diante da previsível escassez do petróleo...?
A insalubridade alimentar:
Se é necessário comer para viver, é indispensável comer bem para manter uma boa saúde. Gripe aviária, vaca louca, frangos com hormônios, suínos com antibióticos, salmonela em produtos lácteos, etc... Com a agricultura intensiva, os alimentos, que sempre foram uma fonte de vida, tornaram-se uma fonte de morte. A absorção destes produtos nos alimentos (mesmo em dose baixa, mas repetidamente), pode causar vários distúrbios e doenças, como a baixa do sistema imunológico, fadiga crônica, perda de memória, gripe
s persistentes, perturbações no sistema endócrino, diminuição da fertilidade, câncer, etc.).
As multinacionais estranguladoras:
O mercado agrícola mundial está concentrado nas mãos de multinacionais privadas, mergulhando na dependência e na insegurança alimentar quase a totalidade dos povos do planeta.
O modelo alimentar encorajado pelos governos mais poderosos e agências internacionais é o modelo de agricultura intensiva, com produção em larga escala, considerada como a única viável e adaptada ao mundo moderno.
Os agricultores e as diferentes culturas alimentares são erradicadas, e com eles, mais de 10 mil anos de culturas e conhecimentos tradicionais.
Solos aráveis mal tratados e desertificados:
O desenvolvimento de biocombustíveis como nova política energética para o mundo pode ter riscos e severas consequências sobre o meio ambiente, e aumentar o flagelo da fome.
Estas culturas intensivas são implantadas promovendo o desmatamento de áreas de floresta, a exploração dos pequenos agricultores, com uso de organismos geneticamente modificados (OGM) e muitos pesticidas, colocando em risco a preservação das últimas áreas férteis do planeta. Parece absurdo que em um mundo em que milhares de pessoas não tem o que comer, que queiramos tirar o “alimento” para os nossos carros da terra.
Impulsionado pelo crescimento na demanda por biocombustíveis, os preços do milho estão em alta, tornando-o de difícil acesso para muitos. A produção de um litro de biocombustível requer entre mil e 3 mil litros de água, adicionando mais uma ameaça ao recurso da água, que já é raro.
E o que fazer? Reabilitar a soberania alimentar dos povos:
A soberania alimentar dos povos sobre seus territórios é o caminho a ser seguido para eliminar a fome e a desnutrição. A prioridade da agricultura deve ser a satisfação dos mercados locais e nacionais. Uma agricultura natural, eficiente e que respeite os diferentes ecossistemas deve substituir urgentemente a agricultura química e intensiva. O lugar dos agricultores na sociedade, como guardiões do equilíbrio da terra, deve ser valorizado. Deve-se preferir as múltiplas estruturas de pequeno porte que fornecem às pessoas uma alimentação diversificada e de qualidade. Cultivar a própria horta ou comprar alimentos locais, orgânicos e de época são as alternativas para o futuro.

Texto: Mouvement Colibris
Traduzido do francês por Leonardo Brockmann.
O Mouvement Colibris não permite a utilização do texto para fins comerciais.
Fonte: REJU 

Stédile: direita quer Alckmin 2018 e prefere sangrar Dilma a impeachment

Líder do MST afirma que o poder econômico, ao exercer sua hegemonia na política e na economia do país, está degenerando a república e a democracia.
A reportagem é de Paulo Donizetti de Souza e publicada pela agência de notícias Rede Brasil Atual - RBA, 10-02-2015.
Os meios de comunicação formam um time organizado e vão empregar todas as suas armas para manter o governo da presidenta Dilma Rousseff no córner nos próximos anos. A observação é do economista João Pedro Stédile, uma das principais lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Eu não acredito em impeachment”, diz.
De acordo com o ativista, a direita brasileira pode até usar essa ferramenta como uma das armas para promover o desgaste do governo e do PT, mas prefere investir numa operação de “sangramento” de Dilma e do partido para eleger Geraldo Alckmin (PSDB) legitimamente em 2018. “Se conseguir elegê-lo com ampla maioria (como fizeram na eleição de São Paulo agora), e retomar o poder pelo voto, quem vai conseguir fazer oposição a ele depois? Nem ‘são Lula’”, argumentou Stédile, durante visita ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região nesta segunda-feira (9).
O governador de São Paulo parece saber disso. E não quer correr riscos. Nos últimos dias, segundo informações ventiladas a partir das redações dos principais veículos da imprensa corporativa, o tucano já teria iniciado corpo a corpo junto às direções dos jornais para se queixar do fato de seu governo ter sido alvo de noticiário negativo, diante do agravamento da crise hídrica no estado mais rico da federação. Não será de estranhar se a cobertura de Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, voltar a adotar uma dosimetria mais parcimoniosa com o tucano, como no período pré-eleitoral do ano passado, quando a blindagem da imprensa sobre escândalos do governo paulista – dos contratos com empreiteiras à omissão na crise da água – contribuiu de maneira decisiva para a reeleição tranquila do governador.
Stédile considera que a fragilidade em que se encontra o governo federal facilita a ação orquestrada dos veículos e forças econômicas reunidas em torno do Instituto Millenium. Para ele, o Brasil vive problemas estruturais graves na economia, na política e na área social.
No campo econômico, tanto o setor produtivo como o financeiro se favorecem da elevada remuneração dos investidores em título públicos. Com a tese de que o governo não pode gastar para assegurar o superávit primário, associada a elevação dos juros, os capitalistas brasileiros não precisam fazer os investimentos de que o país precisa para continuar crescendo e criar novos empregos. “As aplicações financeiras lhes garantem a rentabilidade.”
No campo da política, a democracia, “degenerada” pela crise de representatividade, é uma “hipocrisia”. “Não temos uma república, em que os interesses e decisões da maioria da população estejam representados. O poder econômico domina as eleições, a burguesia controla o Legislativo, e também o Judiciário”, avalia. “E no campo social, por mais que tenhamos avançado nos últimos anos, ainda padecemos de graves problemas estruturais. Ótimo que em dez anos aumentou de 5% para 15% a presença da população jovem com acesso ao ensino superior. Mas e os outros 85%? Nossa universalização do ensino superior já bateu no teto, enquanto a Bolívia cria vagas para 67% dos jovens. A Coreia do Sul, para mais de 90%. Que país em guerra perde 40 mil jovens assassinados por ano, como nós?”, questiona.
Diante do que chama de “encruzilhada”, Stédile vê o governo Dilma diante de três alternativas a tomar: (1) emparedado no Congresso e na mídia, ceder demais nos ajustes liberais; (2) insistir no “neodesenvolvimentismo”, que marcou sobretudo o segundo mandato de Lula, e colocar o Estado para financiar o setor privado, para que este volte a investir – “tem de investir em política industrial, tirar o dinheiro do Estado que hoje vai para os bancos e emprestar para a indústria, mas botar o dinheiro dos bancos públicos nas indústria certa, e não concentrar no setor automotivo; ou (3) ir para a esquerda e jogar todo peso e capital político em reformas estruturais, compor forças com os movimentos sociais, com os partidos progressistas e se lançar aos debates com a sociedade para colocar na ordem do dia as reformas política e tributária e a democratização da mídia.
Até agora, porém, o governo parece estar tomando a opção um, segundo o ativista, para quem esse caminho seria um desastre capaz até de comprometer o projeto Lula 2018. “Esse modus operandi do governo tem a ver com um núcleo duro muito burocrático, formado por gente que não tem nada ver com o povo”, critica, referindo-se à equipe de conselheiros mais próximos da presidenta, citando nominalmente o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil).
Stédile vê o poder de reação dos movimentos sociais a esse ambiente como incipiente e que, apesar de não haver ainda um nível de unidade que leve a uma reação organizada imediata dos trabalhadores, já há sinais de que essa unidade pode se fortalecer. “As centrais sindicais se posicionam contra os ajustes e há uma movimentação social se afunilando em defesa de uma reforma política séria, que mexa com o financiamento de campanhas, que entende que só uma Constituinte exclusiva pode mexer pra valer com as regras do jogo. O Lula se posicionando em defesa da Constituinte exclusiva é um grande reforço”, diz.

Fonte: IHU