Hoje, 31 de março de 2015, a tarde mais triste das
ocupações da região da Isidora, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG. Morreu
Manoel Ramos, o Bahia, coordenador da Ocupação Vitória e valoroso militante da luta
das famílias sem-teto da capital de Minas Gerais e da Região Metropolitana de
BH.
Por volta das 15:00h, o Bahia foi assassinado a
golpes de machado e facão por oportunistas infiltrados na comunidade Vitória,
indivíduos que pretendiam lucrar com a luta de milhares de famílias que lutam
aguerridamente por moradia própria, digna e adequada. Bahia tombou no
lugar onde sonhou viver, um sonho que não era só dele, mas
compartilhado por milhares de famílias que desejam se libertarem do
aluguel e da humilhação de sobreviver de favor; um sonho de outras tantas
pessoas, dentro ou fora das ocupações, que assumem o compromisso de construir
uma cidade onde caibam todos e todas.
Bahia foi morto por se opor à
venda de espaços dentro da ocupação, por procurar garantir que aquela
comunidade acolhesse apenas aqueles e aquelas que realmente necessitam de teto.
Morreu por ser justo e por fazer do princípio da igualdade seu maior
estandarte. Foi vítima da cobiça intolerável de poucos, da intransigência dos
poderes públicos em construir uma solução justa, pacífica, negociada e rápida
para o maior conflito social urbano do Brasil, hoje instalado na Região do
Isidora. Foi a ausência de uma política efetiva de Reforma Urbana que fez do
Bahia uma vítima, e nos privou a todos da presença deste gigante em coragem e
generosidade.
Bahia era há meses vítima
de ameaças, por seguir as determinações coletivas que impedem a venda
de lotes em áreas ocupadas. Também foi sobrevivente de um atentado contra sua
vida executado por PMs, fato que quase o levou à morte, isso por se opor às
violações de direitos promovidas por policiais militares contra os moradores da
Ocupação Vitória. Bahia nunca se intimidou. Seguiu lutando, denunciando e
construindo o futuro de milhares. Um futuro que lhe pertence e que lhe foi
negado.
Um pedaço de nós morreu com Bahia,
porém aquilo que é vivo em nós se fortalece nesta dor. Não será inútil o
sacrifício deste amigo e companheiro. Bahia morreu por defender a justa luta
por dignidade, por uma cidade aberta, na qual todos/as e cada um/a possam conviver
em plenitude. Diante de um gesto de tanta coragem, não temos o direito de
desistir. Devemos levar às últimas consequências o exemplo deste
extraordinário ser humano. Devemos lutar, resistir e vencer, coletivamente.
Se tentaram, pelo medo, impor uma
ordem injusta, será pela coragem de moradores/as, apoiadores/as e organizações
que prevalecerá a igualdade e a Vitória. Seguiremos combatendo toda e qualquer
tentativa de utilização indevida da luta de tantos e tantas.
Cabe aos governos evitar que esta
situação se repita, e que de uma vez por todas garanta o direito
de todas as famílias sem-teto das ocupações urbanas de Minas Gerais.
Não toleramos mais pagar com sangue
a intransigência dos governantes, a insensibilidade do judiciário e
os interesses dos empresários.
A tarde mais triste nos desola. Esta noite
choramos sobre o corpo de um de nós. Amanhã nos daremos conta
que estamos vivos, e que o tributo cobrado pelo que tombou, é a
marcha firme dos que vivem. Nos manteremos sempre de pé.
Companheiro Bahia. PRESENTE!
Belo
Horizonte, MG, Brasil, 31 de março de 2015.
Assinam
essa Nota,
Brigadas
Populares;
Comissão
Pastoral da Terra (CPT);
Movimento
de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB);
Coordenação
das Ocupações Vitória, Esperança e Rosa Leão
e Rede de
Apoio.
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