25 novembro, 2015

Liberdade, ainda que tardia!

Por Pe. Nelito Dornelas

Duas reservas de rejeitos de uma mina de ferro da Samarco S.A., um consórcio entre a Valee a BHP Billiton, se romperam e deixaram um rastro de destruição sem precedentes, matando pessoas, animais, peixes, plantas, povoados, propriedades rurais, identidades culturais e muitos sonhos. A lama de dor, sangue e desolação desceu pelo Rio Doce alcançando o Oceano Atlântico.

O trágico 5 de novembro de 2015 ficará em nossa história como a mais terrível e cruel atentado à vida contra a quinta maior bacia hidrográfica brasileira. O que virá daí não sabemos. Apenas suspeitamos.

Esta é uma tragédia anunciada, que compromete por, pelo menos, cem anos a vida de dois milhões de brasileiros que vivem nesta região atingida e de toda a biodiversidade existente no entorno deste rio e do oceano.

E agora, o que fazer em situação tão desafiadora?

Lembrei-me da oração da Salve Rainha, na qual de afirma que vivemos “gemendo e chorando neste vale de lágrimas”. E foi exatamente este o sentimento que me veio, trazendo à memória este mar de lama que desce sem fim e, provavelmente descerá por muitos anos, todas as vezes que chover na região afetada.

Mas a Salve Rainha fala também que há de se transformar este “vale de lágrimas” em “vida, doçura, esperança nossa, salve”.

Lembrei-me de um orador que certa vez abriu um congresso com esta fala: “É dos estercos mais fedorentos que nascem as rosas mais perfumadas!”

E que podemos oferecer para salvar e proteger a vida do Vale do Rio Doce e no Vale do Rio Doce? Recorri, então, ao profeta Jeremias que, vivendo diante do exílio e da deportação do povo de Israel já em curso, quando perguntado sobre o que fazer diante daquele contexto, ele respondia: vamos nos casar, constituir famílias e dar nosso filhos em casamento, cultivar jardins e plantar pomares, pois o curso da história está nas mãos de Deus. E ele mesmo deu um belo testemunho de confiava na Palavra de Deus, que ele pregava, quando um parente seu veio-lhe reivindicar o direito de resgate e exigiu-lhe que comprasse sua propriedade. Mesmo estando o país sitiado e tudo perdido, Jeremias exerce o dever de goêl, o protetor do desvalido, e compra o referido terreno, paga-lhe por ele, lavra uma escritura perante testemunhas e manda enterrá-la no mesmo terreno dentro de um pote de barro, afirmando perante todos, que um dia voltariam para aquela terra e ali se cumpririam as promessas de Deus.

Acredito que o Rio Doce é a nossa terra prometida. Deus nos plantou aqui para sermos testemunhas do seu amor solidário e sua misericórdia redentora. Mais do que nunca, devemos cumprir o pedido feito pelo apóstolo Paulo, quando afirma que a própria criação foi submetida à corrupção e está gemendo como uma mulher em dores de parto, aguardando a nobre manifestação dos filhos de Deus.

Quais são as nobres manifestações que Deus aguarda de nós?

Diante de nossos olhos já brotam, por todos os cantos, manifestações de solidariedades que, honrarão nossa geração.

É hora de repensarmos nosso estilo de vida e buscarmos a nível pessoal uma vida simples e sóbria, unindo-nos ao pensamento do Papa Francisco que implora por uma outra economia, pois esta economia mata!E afirma que “os poderes econômicos continuam a justificar o sistema mundial atual, onde predomina uma especulação e uma busca de receitas financeiras que tendem a ignorar todo o contexto e os efeitos sobre a dignidade humana e sobre o meio ambiente. Assim se manifesta como estão intimamente ligadas a degradação ambiental e a degradação humana e ética” (Laudato Si, 56).

Voltemos a nos relacionar com a natureza como criação e não como coisa, objeto externo a nós, mas como nossa mãe e irmã e fonte de nossa espiritualidade.

ONU alerta: catástrofes naturais mataram 600 mil pessoas em 20 anos

Da Agência Lusa
A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou hoje (23) que as catástrofes naturais, cada vez mais frequentes, mataram cerca de 600 mil pessoas em 20 anos. A organização destacou a importância de a Conferência do Clima (COP 21), que começa no dia 30 em Paris, chegar a um acordo.

Desde 1995, "as catástrofes meteorológicas mataram 606 mil pessoas, média de 30 mil por ano, deixando mais de 4,1 bilhões de feridos, desabrigados ou necessitados de ajuda emergencial", indicou um relatório do Gabinete da ONU para Redução dos Riscos de Catástrofes (UNISDR).

A maioria das mortes (89%) ocorreu em países mais pobres e causou perdas financeiras avaliadas em 1,8 bilhões de euros.

"O conteúdo deste relatório sublinha a importância de um novo acordo sobre alterações climáticas na COP21", em dezembro, afirmou a diretora do UNISDR, Margareta Wahlstorm, durante a apresentação do relatório.

A COP21 ocorrerá em Bourget, na região nordeste de Paris, de 30 de novembro a 11 de dezembro, para que 195 países, sob a égide das Nações Unidas, adotem um acordo mundial para frear o aquecimento climático do planeta.

O objetivo do encontro é conseguir o compromisso dos países participantes no sentido de conter a elevação da temperatura do planeta a 2 graus Celsius (ºC) desde a era pré-industrial.

"A alteração climática, a variabilidade climática e os fenômenos meteorológicos constituem uma ameaça à erradicação da pobreza extrema no mundo", explicou Margareta.

A diretora pediu aos países que, entre outras medidas, reduzam as emissões de gases de efeito estufa, melhorem a urbanização dos seus territórios e impeçam a degradação do ambiente.

De acordo com o relatório, que analisa apenas os últimos 20 anos, "as catástrofes climáticas são cada vez mais frequentes, sobretudo devido ao aumento consistente do número de inundações e tempestades".

Essa progressão vai continuar "nas próximas décadas", embora os cientistas ainda não tenham conseguido determinar em que medida o aumento desses fenômenos se deve às alterações climáticas, avisou a ONU.

Apenas as inundações representaram 47% das catástrofes climáticas entre 1995 e 2015 e afetaram 2,3 bilhões de pessoas, 95% das quais na Ásia.

Apesar de menos frequentes que as inundações, as tempestades foram as catástrofes climáticas mais letais, com 242 mil mortos.

Ao todo, os Estados Unidos e a China registaram o maior número de catástrofes climáticas desde 1995, devido à dimensão territorial.

A China e a Índia dominam a classificação dos países mais atingidos em termos de população afetada, seguidas por Bangladesh, Filipinas e Tailândia.

Na América, o Brasil lidera o ranking de população mais afetada e na África estão no topo da lista o Quênia e a Etiópia.