29 abril, 2016

'Está muito claro que é um golpe de Estado', diz Nobel da Paz argentino sobre impeachment de Dilma

O vencedor do prêmio Nobel da Paz em 1980, o ativista argentino Adolfo Pérez Esquivel, se reuniu nesta quinta-feira (28/04) com a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. Ele manifestou apoio à mandatária e afirmou que o processo de impeachment contra Dilma se trata de um “golpe de Estado”.

A reportagem foi publicada por Opera Mundi, 28-04-2016.

“Está muito claro que o que se está preparando aqui é um golpe de Estado encoberto, o que nós chamamos de um golpe brando”, disse Pérez Esquivel à imprensa após o encontro. “Seria um retrocesso muito grave para o continente. Sou um sobrevivente da época da ditadura [militar na Argentina, 1976-1983], nos custou muito fortalecer as instituições democráticas. Aqui [no Brasil] se está atacando as instituições democráticas”, afirmou.

Pérez Esquivel declarou que foi a Brasília para prestar “solidariedade e apoio para que não se interrompa o processo constitucional do Brasil”. Ele traçou um paralelo entre a atual situação política brasileira e as destituições dos então presidentes hondurenho Manuel Zelaya, em 2009, e paraguaio Fernando Lugo, em 2012. “Agora, a mesma metodologia, que não necessita das Forças Armadas, está sendo utilizada aqui no Brasil”. Segundo Pérez Esquivel, países “que querem mudar as coisas com políticas sociais” se tornam alvo de investidas da oposição a fim de “interromper o processo democrático”.

Pérez Esquivel também fez um pronunciamento no plenário do Senado, onde pediu para “que se respeite a continuidade da Constituição, do direito do povo de viver na democracia”. “[Quero] simplesmente lhes dizer que, neste momento, mais do que os interesses partidários estão os interesses do povo do Brasil e de toda a América Latina”, declarou.

21 abril, 2016

7º Intereclesial de CEBs do Paraná


TRISTE por mim!
ALEGRE por tantas peregrinas e peregrinos do nosso Paraná!
Estou com a gripe H1N1.
Iria coordenar uma mini-plenaria, más quanto isso, não preocupo, sei que tem quem fará. 
"Somos gente da esperança que caminha rumo ao Pai. Somos povo da aliança, que já sabe aonde vai."
Domingo a noite comecei a não sentir bem, estou tomando a medicação, mas não boa ainda. Não vou poder participar.
O Povo de Deus da Arquidiocese de Maringá, sairá ás 12h30 para esse lindo e importantíssimo momento da Igreja de nosso Regional Sul II.



17 abril, 2016

Manter a Esperança

"Já disse o homem que depois
morreu e ficou na memória.
Que existe uma coisa na roda da história
que uma camada pra trás quer rodar.
Mas estes não servem
pra pôr suas mãos nesta manivela
ficarão à margem olhando da janela
a luta do povo esta roda girar."

12 abril, 2016

As cinco urgências das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2015-2019)

Escrevi o texto abaixo para uma reflexão

As cinco urgências das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2015-2019)

É lindo ver que as “diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil” direciona a Igreja para ser samaritana a serviço da vida, casa para todas e todos, acolhedora, comunidade que partilha tristezas e angústias, necessidades, alegrias e esperanças. Acredita que a Igreja precisa ser solidária e servidora.

Papa Francisco, em sua Exortação Apostólica, Evangelii Gaudium, fala que existe uma “globalização da indiferença” (54). O Papa insiste: “Não deixemos que nos roubem a comunidade” (92).

Dentro de um contexto de pobreza, miséria, desrespeito, discriminação, angústia, desesperança e morte as diretrizes apresenta cinco urgências, são elas:

1 – Em estado permanente de missão.
2 – Casa da iniciação à vida Cristã.
3 – Lugar de animação Bíblica da vida e da pastoral.
4 – Comunidade de Comunidades.
5 – A serviço da vida plena para todos.

Uma Igreja de ternura e afeto doce e delicada, vivida com participação viva, afetuosa e dinâmica, sair do eu para encontrar-se com o tu, uma relação real de dedicação, cuidado e reciprocidade.

As cinco urgências estão unidas, estão sempre presentes, pois se referem a Cristo, à Igreja, à vida comunitária, à Palavra de Deus como alimento para a fé, à Eucaristia como alimento para o serviço ao Reino de Deus, a caminho da vida eterna.

EM ESTADO PERMANENTE DE MISSÃO

A Conferência de Aparecida e a exortação apostólica Evangelii gaudium (Alegria do Evangelho) convocam a Igreja a ser toda missionária e em estado permanente de missão.

A Igreja “em saída” é a comunidade de discípulos missionários que “primeireiam”, que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. tomam a iniciativa! A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa! Como consequência, a Igreja sabe “envolver-se”. Jesus lavou os pés aos seus discípulos. O Senhor envolve-Se e envolve os seus, pondo-Se de joelhos diante dos outros para os lavar; mas, logo a seguir, diz aos discípulos: “Sereis felizes se o puserdes em prática” (Jo 13, 17).  (Evangelii gaudium, 24)

CASA DA INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ

Despertar o desejo de encontrar Jesus Cristo. Este encontro se dá através do mergulho gradativo no mistério do Redentor. Daí a importância do primeiro anúncio e da iniciação à vida cristã.

O estado permanente de missão implica uma efetiva iniciação à vida cristã que desperta uma resposta consciente e livre.  É preciso ajudar as pessoas a conhecer Jesus, fascinar-se por Ele e optar por segui-lo.  A iniciação à vida cristã não se esgota na preparação aos sacramentos, mas se refere principalmente à adesão a Jesus Cristo, numa catequese de inspiração catecumenal . Ela requer atitudes: acolhida, diálogo, partilha, escuta da Palavra e adesão à vida comunitária.  

Se hoje partilhamos a experiência cristã, é porque alguém nos transmitiu a beleza da fé, apresentou-nos Jesus Cristo, acolheu-nos na comunidade eclesial e nos fascinou pelo serviço ao Reino de Deus.

LUGAR DE ANIMAÇÃO BÍBLICA DA VIDA E DA PASTORAL

 “Toda escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para argumentar, para corrigir, para educar conforme a justiça” (2tm 3,16).

Todos devem redescobrir o contato com a Palavra de Deus como lugar privilegiado de encontro com Cristo. É preciso introduzir as novas gerações na Palavra através do adulto, dos amigos e da comunidade eclesial. O desafio é escutar a voz de Cristo em meio a tantas outras vozes.

A Palavra de Deus dirige-se a todos, indistintamente: crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, e em todas as situações e contextos em que se encontrem. Ouvida e celebrada na comunhão com os irmãos, a Palavra de Deus gera solidariedade, justiça, reconciliação, paz e defesa de toda a criação.

COMUNIDADE DE COMUNIDADES

A fé se vive em comunidade, em união e comunhão das pessoas umas com as outras e delas com o nosso Deus Trindade. Sem vida em comunidade, não há como efetivamente viver a proposta cristã. Comunidade implica convívio, vínculos profundos, afetividade, interesses comuns, estabilidade e solidariedade nos sonhos, nas alegrias e nas dores. A comunidade eclesial acolhe, forma e transforma, envia em missão, restaura, celebra, adverte e sustenta.

Ao mesmo tempo em que hoje se constata uma forte tendência ao individualismo, percebe-se igualmente a busca por vida comunitária. Esta busca nos recorda como é importante a vida em fraternidade. Mostra também que o Espírito Santo acompanha a humanidade suscitando, em meio às transformações da história, a sede por união e solidariedade.

Dentre os desafios dois se destacam. O 1º diz respeito aos ambientes marcados por aguda urbanização, para os quais vizinhança geográfica não significa necessariamente convívio, afinidade e solidariedade. O 2º se refere aos ambientes virtuais, onde a rapidez da comunicação e a superação das distâncias geográficas tornam-se grandes atrativos, especialmente aos jovens. É necessária a consciência de que, na ação evangelizadora, estes desafios devem ser seriamente considerados e que nada substitui o contato pessoal. Papa Francisco insiste “Não deixemos que nos roubem a comunidade”.

A SERVIÇO DA VIDA PLENA PARA TODOS

 “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10)

A vida é dom de Deus!  A vida é o centro da mensagem de Jesus. As condições de vida que contradizem o projeto de Deus devem levar a angustia diante de todas as formas de vida ameaçada. Ao contemplar os diversos rostos de sofredores, vê o rosto de nosso Deus. Daí a opção preferencial pelos pobres. Precisamos contribuir para superar a miséria e a exclusão e não podemos restringir a solidariedade à doação.

Opção pelos pobres implica convívio, relacionamento fraterno, atenção, escuta, acompanhamento nas dificuldades, buscando a mudança de sua situação e a transformação social. Os pobres são sujeitos da evangelização e da promoção humana e estão no centro da vida da Igreja. 

As leigas e leigos devem participar na construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário. É preciso avançar na consciência ecológica. Daí, a urgência na formação e apoio para que atuem nos movimentos sociais, conselhos de políticas públicas, associações de moradores, sindicatos, partidos políticos e outras entidades, sempre iluminados pelo Ensino Social da Igreja. Para o Papa Francisco a participação na política “é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum”.

Fonte: Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2015-2019)

07 abril, 2016

Para Refletir

O grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho da sua história. O grande lance é viver cada momento como se a receita da felicidade fosse o AQUI e o AGORA. Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o pneu fura, chove demais... mas, pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia?...
Carlos Drummond de Andrade


NA BUSCA DA JUSTIÇA E DA PAZ

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Associação dos Magistrados Brasileiros, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho e a Associação dos Juízes Federais do Brasil assinaram, segunda-feira, 4, o manifesto “Na busca da Justiça e da Paz”.

Eis o texto.
NA BUSCA DA JUSTIÇA E DA PAZ
A sociedade brasileira passa por um momento de grave crise institucional, provocada por uma polarização política em crescente radicalização. 
Esse sentimento que atinge hoje grandes segmentos da população apresenta, infelizmente, reações carregadas de intolerância e agressividade, dividindo brasileiros e brasileiras e gerando o risco de uma preocupante escalada daviolência, em prejuízo de toda a nação.
Neste momento, urge que os atores da cena política procurem o entendimento para consolidar a luta contra a corrupção, sempre de acordo com a institucionalidade democrática.
A unidade nacional não pode sofrer divisões insuperáveis. Por isso, é necessário que as entidades da sociedade civil se unam pela superação da intolerância e pela busca de soluções que priorizem o compromisso com o interesse comum do país.
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a Associação dos Magistrados Brasileiros, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho e a Associação dos Juízes Federais do Brasil formulam veemente apelo fraterno à inteira sociedade brasileira e suas instituições para se engajarem, de forma decidida, na incansável luta pela Justiça e pela Paz, para a construção de um país, casa comum de brasileiros e brasileiras e daqueles que adotaram esta terra como seu lar.
Brasília, 4 de abril de 2016.
Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB

Dr. João Ricardo dos Santos Costa
Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros
Dr. Ricardo Lourenço Filho

Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho
Dra. Candice Galvão Jobim
Vice-presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil

05 abril, 2016

Periferias, geográficas e existenciais

Um pequeno texto que escrevi para uma reflexão, será tema de uma das celebrações do 7º Intereclesial das CEBs do Paraná, que a Província Eclesiástica de Maringá é responsável. 
O intereclesial das CEBs acontecerá entre os dias 21 a 24 do corrente mês.

Periferias, geográficas e existenciais

Para o papa Francisco, a periferia é a situação limite, a fronteira do humano, a condição onde os valores se encontram sob ameaça.

Vejo a periferia como um mundo desconhecido, que precisa tornar-se conhecido, pelos governos, pela igreja e por nós.

As periferias constituem o maior fenômeno urbano e social da América Latina. Elas reúnem em condições precárias milhões de famílias, migrantes e descendentes que jamais contaram com políticas públicas razoáveis de urbanização, transportes, educação e saúde.

 O Papa convoca as mulheres e homens de boa fé a irem combater a pobreza material, dentro das periferias materiais.

Mas existe outro tipo de periferias que para o papa Francisco se não forem alcançadas, muito provavelmente a pobreza material irá crescer e se multiplicar, são às periferias existenciais.

As periferias existenciais precisam ser alcançadas, elas machucam, feri, quase não aparece, tem muita dificuldade de se mostrar e muitas vezes não quer aparecer.

A periferia existencial é a pobreza existencial, a falta de sonho, de utopias e de esperança. É o vazio da vida. Nossas cidades estão cheia de periferias existenciais.

Elas atingem pobres e ricos. As pessoas não conseguem ser felizes, vivem uma vida vazia, sem projetos que possam dar um sentido maior a vida.

Muito triste, para poderem suportar o vazio, muitas dessas pessoas recorrem a algum tipo de vício, por exemplo, o uso de drogas, o excesso de bebidas alcoólicas, o excesso de remédios antidepressivos e outros.

Papa Francisco nos diz que, é preciso reencantar a mulher e o homem, a mulher e o homem precisam voltar a sonhar, a confiar em Deus e a ter fé.

Precisamos chegar até as periferias geográficas e existenciais, com a ternura de nosso Deus. Onde não houver ternura, dificilmente haverá amor.

Uma das características lindas do agir de Jesus é o seu fazer-se próximo com uma ternura de compaixão, de amizade, de serviço e de participação profunda na vivência com toda criatura de Deus.

04 abril, 2016

Deus chega até Maria através de uma experiência profunda de Deus, isso é muito lindo.

Uma linda e abençoada semana a todas e a todos!

Deus chega até Maria através de uma experiência profunda de Deus, isso é muito lindo.

O anúncio do anjo a Maria no evangelho de hoje, Lc 1,26-38 vem depois do anúncio do anjo a Zacarias (Lc 1,5-25). Nos dois casos anuncia-se um nascimento. Importante comparar os dois anúncios e perceber as semelhanças e as diferenças.

Lucas ao descrever a visita do anjo a Maria e a Isabel,  evoca as visitas de Deus a várias mulheres estéreis do Antigo Testamento: Sara, mãe de Isaque (Gn 18,9-15), Ana, mãe de Samuel (I Sam 1,9-18), a mãe de Sansão (Jz 13,2-5).

A essas mulheres o anjo tinha anunciado o nascimento de um filho com missão importante na realização do plano de Deus.

E agora, ele faz o mesmo anúncio a Isabel, esposa de Zacarias, e a Maria. Maria não é estéril. Ela é virgem. Muitas vezes no Antigo Testamento, o anjo de Deus, é o próprio Deus.

Deus chega até Maria através de uma experiência profunda de Deus, isso é muito lindo.

Maria saia de si para servir aos outros.

01 abril, 2016

O xadrez do fim da síndrome de Pilatos no STF

O xadrez do fim da síndrome de Pilatos no STF
“Hoje, as nuvens que se formam no céu político indicam o seguinte: 1. Boa probabilidade da tese do impeachment na Câmara não ter quórum; 2. Rearticulação da base política do governo, em bases precárias; 3. Novas tentativas de golpe através do TSE”, escreve o jornalista Luis Nassif, em comentário publicado por Jornal GGN, 01-04-2016.
Segundo ele, há a “necessidade de se passar à opinião pública o sentimento de urgência para abrir espaço para um pacto que impeça o aprofundamento da crise”.
Eis o comentário
Peça 1 – terminou a fase Pôncio Pilatos do STF
Na fábula do lobo e do cordeiro, qualquer argumento valia para o lobo devorar a vítima.
Com o reequilíbrio de forças nas ruas, as articulações políticas no Congresso, os abusos da Lava Jato, as agressões a Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e a perspectiva sombria de um governo com Eduardo Cunha e Michel Temer, o quadro mudou. O impeachment, agora, necessita de legitimação.
Dificilmente, hoje, o Ministro Luís Roberto Barroso repetiria a frase de dias atrás, de que o Supremo não iria analisar o mérito da votação da Câmara.
A declaração de Marco Aurélio de Mello – de longe, o mais independente e corajoso dos Ministros – sobre a necessidade da análise de mérito pelo STF, mais as agressões a Teori Zavascki, aparentemente romperam a síndrome Pôncio Pilatos que acometia o Supremo.
Nesta 5ª, foi o julgamento da liminar impetrada pela AGU (Advocacia Geral da União) contra os grampos de Sérgio Moro. A sessão era apenas para decidir se o inquérito ficava com Sérgio Moro ou se viria para o STF analisar e decidir com quem ficar. Mas houve inúmeras manifestações contra os abusos de Moro, prenunciando um futuro julgamento severo sobre sua atuação.
Até algum tempo atrás, o STF supunha que sua não-manifestação no processo do impeachment significaria respeito a outro poder. Agora, caiu a ficha que não. Nenhum Ministro – com as notáveis exceções de Gilmar Mendes e Dias Toffoli – se sentirá confortável, se o julgamento da Câmara se revelar uma farsa.
Peça 2 – O julgamento do impeachment pela Câmara é farsa
Imagine você indo a um supermercado com a lista de compras e limite de R$ 150,00 para gastar. No meio do caminho ligam de casa pedindo para reformular a lista, aumentando a quantidade de tomates. Os gastos continuam limitados a R$ 150,00. Compram-se mais tomates e cortam-se outros itens, mas não se gasta acima do teto definido.
Essa fábula hortifrutigranjeira foi o melhor exemplo levantado pela Fazenda para explicar os decretos questionados pela Câmara.
A LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) legisla exclusivamente sobre despesas primárias (excluindo juros e amortização). Quer saber se administrações gastam acima de limites pré-fixados pelo orçamento, ou se determinados itens do orçamento – como despesa com salários – superam percentuais máximos previstos em lei.
Vamos entender melhor essa questão.
O orçamento é fixado no final do ano anterior e funciona mais ou menos assim:
1. O governo define o orçamento geral para o ano seguinte.
2. Cada órgão recebe sua dotação e planeja seus gastos, definindo o montante de cada programa. Com isso, monta-se a lista do supermercado.
3. O orçamento é autorizativo, mas não obrigatório. No decorrer do ano, o governo vai adaptando o orçamento às disponibilidades de caixa. Se há frustração de receita, por exemplo, ela pode contingenciar os gastos. Pode trocar tomates por cebolas, ou até gastar menos – nunca gastar mais. Para a LRF interessa o que foi gasto, não o que foi previsto.
4. Dentro dos limites fixados, os recursos podem ser remanejados, já que é impossível prever todas as ocorrências com um ano de antecedência. A maneira de remanejar é através dos decretos
5. A Lei de Responsabilidade Fiscal mede o gasto final. E incide apenas sobre a despesa primária (a despesa pública expurgada dos juros e amortização de dívida).
Vamos a alguns exemplos das necessidades que surgem de remanejamento e como os decretos são utilizados:
1. Houve vários concursos públicos em 2014. Inscreveram-se o dobro de candidatos previstos. Com isso, arrecadou-se o dobro do valor estimado com as tarifas de concurso. Como o concurso só ocorreria em 2015, esse dinheiro ficou guardado na conta única do Tesouro, como superávit financeiro do ano anterior.
2. Em 2015 os concursos foram realizados. Como houve o dobro de candidatos, obviamente aumentaram os gastos com o concurso. Assina-se então um decreto permitindo ao MEC (Ministério da Educação) utilizar o dinheiro daquela rubrica (que ficou rendendo na conta única do Tesouro) – do ano anterior – para cobrir os gastos do concurso.
O que a acusação faz é tratar 6 decretos de remanejamento de Dilma como se fosse criação de despesa.
No tal processo do impeachment, discute-se isso:
“abertura de credito suplementar mesmo diante do cenário econômico daquele momento, quando já era sabido que as metas estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentarias, Lei n. 13.080/2015, não seriam cumpridas, o que pode ensejar o cometimento de crime de responsabilidade contra a lei orçamentária”.
Foram seis decretos, no valor total de R$ 95 bilhões. R$ 92,5 bilhões foram compensados com cortes em outros programas.
Sobram R$ 2,5 bilhões.
Desses, R$ 708 milhões foram para despesas financeiras, isto é pagamento do serviço da dívida e de amortização, sem nenhum impacto no gasto primário.
Sobra R$ 1,8 bilhão, ou 0,06% do orçamento. É sobre esse valor que se armou toda a celeuma.
No pedido de impeachment se afirma que a presidente editou os 6 decretos que ampliaram a dotação orçamentária no nível de programação e que seria incompatível com a meta fiscal
Não aumentaram e nem faz sentido a afirmação.
Segundo a advogada Janaina Paschoal, na hora em que presidente assinou o decreto, cometeu crime. Só seria ilegal se não permitisse cumprir a meta. Mas só se saberá se cumpriu a meta no final do ano. É o conhecido recurso “joga-para-ver-se-pega”, muito mal visto na área do direito.
Peça 3 – o rescaldo da semana
Encerra-se a semana, então, com o seguinte balanço:
Depois do desembarque do PMDB, o governo deu início a novas articulações que, aparentemente, lhe permitiram recuperar o fôlego no Congresso. Ficou nítido na resistência dos ministros do PMDB em entregar o cargo, e na dura crítica feita pelo presidente do Senado Renan Calheiros à precipitação do partido.
A perspectiva de um governo com Michel Temer à frente, conduzido por Eduardo Cunha, chegou a provocar arrepios cívicos no Ministro Luis Roberto Barroso. Enfim, repetiu-se o mesmo erro inicial, de amarrar o impeachment à imagem de Temer, Cunha, Aécio, Serra e outros menos votados.
Enquanto multiplicavam-se as manifestações contra o golpe, os articuladores do governo iniciavam negociações com o PP, PSD e outros, visando otimizar as vagas de ministros abertas.
O Procurador Geral da República Rodrigo Janot, no entanto, agiu rapidamente. Ontem mesmo denunciou toda a cúpula do PP, justo no momento em que o governo armava o novo Ministério e tentava cooptar o partido. Segundo a colunista Tereza Cruvinel, com a intenção de impedir as negociações. Pode ser apenas um caso de coincidência excessiva.
Ontem, ainda, surgiu o boato de que algumas federações de indústria estariam montando um enorme caixa visando convencer deputados recalcitrantes a votar pelo impeachment.
Pode ser apenas boato. Se for real, nesses tempos de Lava Jato seria um prato cheio para o MPF e a PF.
Hoje, as nuvens que se formam no céu político indicam o seguinte:
1. Boa probabilidade da tese do impeachment na Câmara não ter quórum.
2. Rearticulação da base política do governo, em bases precárias.
3. Novas tentativas de golpe através do TSE.
Necessidade de se passar à opinião pública o sentimento de urgência para abrir espaço para um pacto que impeça o aprofundamento da crise.

New Yorker' compara Dilma a Nixon e diz que será trágico se crise afetar Bolsa Família

'New Yorker' compara Dilma a Nixon e diz que será trágico se crise afetar Bolsa Família
"Os verdadeiros perdedores na reformulação política que deve acontecer no Brasil não serão os políticos corruptos. As dezenas de milhões de beneficiários dos programas sociais criados nos governos de Lula e Dilma, como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, estão sob risco também. (…) Será uma tragédia se, na corrida louca para formar uma nova coalizão política, ela (coalizão) se torne mais favorável aos negócios e deixe para trás o eleitorado".
A revista semanal americana 'The New Yorker' comparou nesta quarta-feira (30) a presidente Dilma Rousseff ao ex-presidente americano Richard Nixon (1969-1974) --mandatário reeleito ao posto em 1972 que, menos de dois anos depois, acabou renunciando em meio a um processo de impeachment contra ele.
A reportagem foi publicada por BBC Brasil, 30-03-2016.
Assim como ocorre no Brasil com a Operação Lava Jato, nos Estados Unidos também houve um escândalo que levou a uma crise política sem precedentes à época.
O chamado escândalo do Watergate levou Nixon a deixar o cargo na Presidência mais cedo do que planejava. Watergate era o nome do prédio onde ficava a sede do Comitê Nacional Democrata, que foi grampeado durante a campanha eleitoral de 1972, e as investigações apontaram para Nixon.
"Richard Nixon foi reeleito de maneira esmagadora em novembro de 1972 e renunciou em agosto de 1974. Dilma Rousseff, presidente do Brasil, parece estar seguindo o mesmo caminho: reeleita (não de maneira esmagadora) em outubro de 2014, ela corre tanto perigo um ano e meio depois que não parece que vai conseguir finalizar seu mandato", afirma a revista.
A publicação opina que quem tem mais a perder com a crise e a instabilidade é a população carente.
"A revolta contra Rousseff é da classe média, em um país onde a classe média ainda não é maioria, como é nos Estados Unidos", diz.
"Os verdadeiros perdedores na reformulação política que deve acontecer no Brasil não serão os políticos corruptos. As dezenas de milhões de beneficiários dos programas sociais criados nos governos de Lula e Dilma, como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, estão sob risco também. (…) Será uma tragédia se, na corrida louca para formar uma nova coalizão política, ela (coalizão) se torne mais favorável aos negócios e deixe para trás o eleitorado".
Corrupção constante
Na reportagem, a 'New Yorker' cita a operação Lava Jato, que traz "a cada dia mais notícias de mais autoridades envolvidas na investigação, mais delações premiadas, mais esquemas de corrupção".
"Escândalos de corrupção são uma característica constante da política no Brasil. O governo tem um papel bem maior na economia do que costuma ter no mundo desenvolvido: há muitos negócios controlados pelo Estado, outros subsidiados e outros protegidos legalmente de qualquer competição", diz a publicação.
Outra crítica da revista é ao sistema político "complexo" do Brasil, que permite a presença de inúmeros partidos no Congresso.
"Há um sistema parlamentar especialmente complexo e caótico –atualmente, mais de duas dezenas de partidos ocupam cadeiras no Congresso, o que significa que a única forma de conseguir um governo de coalizão é sob uma troca de favores, que muitas vezes é feita na distribuição de ministérios em troca de apoio."
'Golpe'
Nesta quarta-feira, no lançamento da terceira fase do programa Minha Casa Minha Vida, em Brasília, a presidente Dilma Rousseff voltou a chamar de "golpe" o processo de impeachment contra ela.
"A Constituição de 1988 tem de ser honrada porque reflete nossas lutas. Não existe essa conversa: 'Não gosto do governo, então ele cai'. Impeachment está previsto na Constituição. Mas é absolutamente má-fé dizer que todo impeachment está correto. Para isso, precisa haver crime de responsabilidade. Impeachment sem crime de responsabilidade é o quê? É golpe."
Enquanto isso, os trabalhos para analisar o pedido de impeachment da presidente –baseado nas acusações sobre as pedaladas fiscais e omissão no escândalo da Petrobras– seguem na Câmara.