23 março, 2016

Precisamos preservar nossa democracia

Precisamos preservar nossa democracia, o Estado de direito e as conquistas sociais que o nosso país alcançou nos últimos anos.
Não podemos ser guiados por uma mídia partidarizada e tendenciosa. Não podemos aceitar o golpe em marcha executado pela direita raivosa, constituída pela elite e os partidos que os representam.

Inspirados no gesto profético do Papa Francisco ousamos dizer: "ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião a uma intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos” (EG, 183).

Manifestações, ódio e golpe: as crianças do Brasil estão aprendendo

Manifestações, ódio e golpe: as crianças do Brasil estão aprendendo
"Salvem o Gui, salvem os nossos filhos. Não deixem que eles acreditem que desejar a morte de uma pessoa é normal. Não deixem que eles acreditem que xingar uma mulher de puta e vagabunda é aceitável. Que espancar alguém que veste vermelho é um comportamento admissível. Ele e os nossos filhos têm que aprender que todos podem lutar pelos seus ideais, mas dentro da lei. E que urrar, babar e matar é coisa de bicho, não de homo sapiens."

Salvem o Gui. Salvem nossos filhos", publicou Rita Lisauskas, no Estadão sobre a criança que, ao invés de fazer desenhos do "Ben 10 ou Homem Aranha, retrata a Presidenta e o ex-Presidente da República com ferimentos no peito, sangrando, ao lado das frases 'Morre Diuma' (sic) e 'Morre Lula'". A colunista afirma que o Gui e as crianças "precisam de ajuda". "E rápido", completa.
Para a colunista, o passo seguinte a esse incentivo que partem dos pais ou das escolas é aprender "também que se pode fazer justiça com as próprias mãos quando ouve o pai dizer que 'tem que matar esse bando de petistas!'".
O comentário é de Luis Nassif publicado por jornal GGN, 22-03-2016.
O jornalista, reproduz na integra o artigo de Rita Lisauskas.
Eis o artigo.
Deixe seu filho longe desse ódio todo
Quando entro na escola do meu filho e vejo aquelas crianças todas brincando meu coração sempre enche de esperança. Não paro de sorrir para aquela gritaria fininha, e meus olhos nem piscam ao ver a alegria dos meninos e meninas correndo para cima e para baixo, absortos em suas próprias fantasias, brincadeiras e sonhos, sem ter a menor ideia das guerras rolando atrás da jabuticabeira linda colada ao muro da educação infantil.
Mas fiquei chocada, semana passada, ao ver que o ódio, esse sentimento comezinho, adulto e detestável, tinha sim pulado o muro e sentado no gira-gira do parquinho das crianças. Tinha invadido também a aula de artes, esse lugar sagrado onde nossos filhos desenham o céu, as nuvens e colam lantejoulas amarelas no sol, para que fique com o brilho igual ao de suas fantasias.
Ninguém deveria ter deixado isso acontecer. Pior do que assistir à invasão bárbara é comemorá-la. “Meu filho, meu maior orgulho. Gui se manifestando na aula de artes. Vamos para as ruas domingo, vamos lutar por um país digno para as nossas crianças”, escreveu um pai semana passada em seu Facebook, ao compartilhar, orgulhoso, um desenho de seu filho feito na escola. Não sei quem é esse pai, a pessoa que compartilhou na minha timeline teve o cuidado de não expor a identidade desse homem.
Sabemos apenas que ele é o pai do Gui. Não conheço tampouco a professora do Gui e a escola do Gui mas, espero de todo o coração, que ambas tenham ficado chocadas a ponto de chamar essa família para conversar. Um menino que senta em sua mesinha, coloca um avental e, em vez de desenhar e pintar o Ben 10 ou Homem Aranha, retrata a Presidenta e o ex-Presidente da República com ferimentos no peito, sangrando, ao lado das frases “Morre Diuma” (sic) e “Morre Lula” precisa de ajuda. E rápido.
O Gui deve ser como todas as crianças. Gosta de super-heróis, adora um Lego. E muitas vezes, deve ser retirado de seu mundinho paralelo de brincadeiras para correr para a varanda e gritar uns palavrões horríveis, como “puta” e “vagabunda” enquanto seus pais batem panelas. “Mas a mamãe e o papai não disseram que é feio falar palavrão?”, pensa. Pensa, mas não diz, porque nessa idade eles aprendem tudo o que a gente faz, como esponjas, quase sem questionar. Aos poucos o Gui está aprendendo também que se pode fazer justiça com as próprias mãos quando ouve o pai dizer que “tem que matar esse bando de petistas!” Também fica confuso quando a mãe xinga uma mulher que está de vestido vermelho na rua: “Mas vermelho não é só uma cor?”, pensa. “Mas se a mamãe está tão brava deve ser uma cor horrível”, conclui.
Salvem o Gui, salvem os nossos filhos. Não deixem que eles acreditem que desejar a morte de uma pessoa é normal. Não deixem que eles acreditem que xingar uma mulher de puta e vagabunda é aceitável. Que espancar alguém que veste vermelho é um comportamento admissível. Ele e os nossos filhos têm que aprender que todos podem lutar pelos seus ideais, mas dentro da lei. E que urrar, babar e matar é coisa de bicho, não de homo sapiens.