28 abril, 2017

1ª greve geral do país, há 100 anos, foi iniciada por mulheres e durou 30 dias

Em junho de 1917, décadas antes da consolidação das leis trabalhistas no Brasil, cerca de 400 operários - em sua maioria mulheres - da fábrica têxtil Cotonifício Crespi na Mooca, em São Paulo, paralisaram suas atividades.


                                                                  Foto: Arquivo Edgar Leuenroth/Unicamp. 

A reportagem é de Camilla Costa e publicada por BBC Brasil, 28-04-2017.
Eles pediam, entre outras coisas, aumento de salários e redução das jornadas de trabalho, que até então não eram garantidos por lei. Em algumas semanas, a greve se espalharia por diversos setores da economia, por todo o Estado de São Paulo e, em seguida, para o Rio de Janeiro e Porto Alegre. Era a primeira "greve geral" no país.
Mas uma das principais diferenças entre aquela e a greve geral convocada para esta sexta-feira, em protesto contra as reformas trabalhista e da Previdência, é que, em 1917, ela não foi anunciada como tal, disse à BBC Brasil o historiador Claudio Batalha, da Unicamp."Não é uma greve que já tivesse bandeiras gerais. Ela começa com questões específicas dos setores que vão aderindo ao movimento grevista, alguns por solidariedade. Depois é que a pauta passou a incluir desde reivindicações relacionadas ao trabalho até reivindicações de cunho político - libertação dos presos do movimento, por exemplo."
Uma destas questões específicas, menos comentada nos livros de história, era o assédio sexual. Segundo Batalha, parte da revolta das funcionárias do Cotonifício Crespi era o assédio que sofriam dos chamados contramestres, funcionários que supervisionavam o chão de fábrica. "Isso não era incomum na época. Greves anteriores já haviam começado contra determinado funcionário que tivesse um cargo de chefia e tirasse proveito desse poder", explica.

Crescimento

Mas se a convocação de 2017 reflete a insegurança causada pelo desemprego e pela recessão, em 1917, a indústria brasileira ia de vento em popa. Na verdade, os lucros das empresas chegavam a duplicar a cada ano.
"Entre 1914 e 1917, com a Primeira Guerra Mundial, se passou de uma recessão econômica a um superemprego, porque os produtos brasileiros passaram a substituir os importados e a serem exportados", explica o historiador italiano radicado no Brasil Luigi Biondi, da Unifesp. "Em 1914, o Cotonifício Crespi lucrou 196 contos de réis. No ano seguinte, o lucro foi de 350 contos de réis. E foi aumentando. Enquanto isso, aumentavam as horas de trabalho."
Com o aumento da produção, as fábricas brasileiras, que tinham poucas máquinas, vindas do exterior, tiveram que usá-las por mais tempo. Isso significava que os operários passaram a trabalhar até 16 horas por dia, sem aumento de salário.
No final de junho, a paralisação dos operários do Crespi contagiou os 1.500 operários da fábrica têxtil Ipiranga. Em seguida, se espalhou pela indústria de móveis, concentrada no Brás, e chegou até a fábrica de bebidas da Antarctica. "Em julho, a greve parou a cidade (São Paulo). Havia embates de rua e tentativa de saques aos moinhos que produziam farinha por causa da crise de abastecimento. Muitos foram mortos e feridos nos confrontos com a polícia", diz Biondi.
O movimento ganhou mais fôlego no dia 11 de julho, quando milhares acompanharam o enterro do sapateiro espanhol José Martinez, de 21 anos. Ele morreu com um tiro no estômago depois que uma unidade de cavalaria da polícia dispersou manifestantes que quebraram barris de cerveja diante da fábrica da Antartica, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, que noticiou o confronto.
"A partir daí, a greve se alastrou para quase todas as cidades do interior de São Paulo. Campinas, Piracicaba, Santos, Sorocaba, Ribeirão Preto. Até Poços de Caldas, no sul de Minas, que não era uma cidade industrial, teve movimentos de greve", afirma o historiador.

Negociação

Em 16 de julho - mais de um mês após o início da paralisação no Cotonifício Crespi - um acordo entre autoridades, organizações trabalhistas e industriais, mediado por jornalistas, pôs fim à greve em São Paulo. Mais ainda não era o fim da greve geral. "Só em São Paulo a greve de fato terminou com uma negociação única. No Rio e em Porto Alegre, os movimentos tiveram dimensões gerais, mas só terminaram na medida em que cada setor chegava a um acordo com seu patronato. O ritmo de saída da greve foi aos poucos, assim como a adesão", explica Batalha.
Segundo Biondi, até mesmo na cidade de São Paulo ainda havia categorias entrando em greve no dia 18 de julho, como os pedreiros. Parte dos empresários se recusava a assinar os acordos e queria negociar condições diretamente com os funcionários.
Mesmo com a assinatura dos acordos, a consolidação dos direitos só viria em 1943, durante o regime de Getúlio Vargas.
"O que acontecia muitas vezes na época é que algo era obtido com uma greve, passava-se algum tempo e essa reivindicação voltava para nada", diz Claudio Batalha. "Em 1907, também houve uma série de greves pedindo a jornada de trabalho de oito horas. E elas chegaram a diminuir, mas, depois de algum tempo, o patronato voltou a estabelecer as jornadas anteriores. O mesmo ocorreu após 1917."
A experiência da primeira greve geral também fez com que os empresários se preparassem para enfrentar futuras paralisações - o que tornou novas negociações mais difíceis para os trabalhadores.
"Uma das coisas que levou ao sucesso relativo da greve em 1917 é que as fábricas não tinham estoques. Quando os operários paravam, não havia produtos nas lojas. A partir daí, eles passaram a ter grandes estoques, e podiam permanecer sem funcionar um certo período porque tinham produção para vender."
Batalha lembra, no entanto, que o acordo só surgiu depois que "a greve atingiu dimensões tais que não tinha mais como controlar o movimento". "A primeira tentativa de lidar com a greve foi de repressão. Essa era a tônica do período, tanto que houve mortes. Parte do processo de ampliação da greve, inclusive, se deveu a essas mortes."
"Até hoje a solução repressiva pode ser um desserviço às autoridades. Se a gente pensar nos protestos de 2013, a virada no número de pessoas em São Paulo foi quando houve uma repressão desproporcional à manifestação", afirma.

Ideologia

Em fevereiro de 1917, meses antes da greve brasileira, mulheres que trabalhavam na indústria têxtil deram início a protestos e a uma paralisação que teria consequências ainda maiores: a revolução russa.
"Essa greve também é importante porque mostra a conexão do Brasil com o resto do mundo. Naquele ano, greves como aquela ocorreram em diversos países", diz LuigiBiondi.
Ideologias como o anarquismo e o socialismo marxista, que chegaram a São Paulo principalmente pelos imigrantes italianos, tiveram um papel importante na organização do movimento. "Por causa da Rússia, eles tinham a ideia de que aquilo poderia levar a uma insurreição dos trabalhadores. Isso não ocorreu, mas a cidade foi tomada. Pela primeira vez isso espantou as elites do país, que começaram a se dar conta de que a questão social urbana era grave e tinha que ser considerada."
Batalha acha que as correntes socialistas "tinham certa liderança", mas que sua influência era maior sobre trabalhadores qualificados. "O que faz com que uma greve funcione é que as pessoas sintam que aquele estado de coisas chegou ao limite. Uma das características importantes de 1917 é que, pela primeira vez, setores que não participavam desse tipo de movimento começaram a participar." 

Mensagem da CNBB aos trabalhadoras (es) do Brasil: “Encorajamos a organização democrática e mobilizações pacíficas”

"É inaceitável que decisões de tamanha incidência na vida das pessoas e que retiram direitos já conquistados, sejam aprovadas no Congresso Nacional, sem um amplo diálogo com a sociedade", destaca a CNBB sobre as reformas em curso no congresso brasileiro, em mensagem a toda a sociedade brasileira.
Eis a mensagem.
Aos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil
“Meu Pai trabalha sempre, portanto também eu trabalho” (Jo 5,17)
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, reunida, no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida – SP, em sua 55ª Assembleia Geral Ordinária, se une aos trabalhadores e às trabalhadoras, da cidade e do campo, por ocasião do dia 1º de maio. Brota do nosso coração de pastores um grito de solidariedade em defesa de seus direitos, particularmente dos 13 milhões de desempregados.
O trabalho é fundamental para a dignidade da pessoa, constitui uma dimensão da existência humana sobre a terra. Pelo trabalho, a pessoa participa da obra da criação, contribui para a construção de uma sociedade justa, tornando-se, assim, semelhante a Deus que trabalha sempre. O trabalhador não é mercadoria, por isso, não pode ser coisificado. Ele é sujeito e tem direito à justa remuneração, que não se mede apenas pelo custo da força de trabalho, mas também pelo direito à qualidade de vida digna.
Ao longo da nossa história, as lutas dos trabalhadores e trabalhadoras pela conquista de direitos contribuíram para a construção de uma nação com ideais republicanos e democráticos. O dia do trabalhador e da trabalhadora é celebrado, neste ano de 2017, em meio a um ataque sistemático e ostensivo aos direitos conquistados, precarizando as condições de vida, enfraquecendo o Estado e absolutizando o Mercado. Diante disso, dizemos não ao “conceito economicista da sociedade, que procura o lucro egoísta, fora dos parâmetros da justiça social” (Papa Francisco, Audiência Geral, 1º. de maio de 2013).
Nessa lógica perversa do mercado, os Poderes Executivo e Legislativo reduzem o dever do Estado de mediar a relação entre capital e trabalho, e de garantir a proteção social. Exemplos disso são os Projetos de Lei 4302/98 (Lei das Terceirizações) e 6787/16 (Reforma Trabalhista), bem como a Proposta de Emenda à Constituição 287/16 (Reforma da Previdência). É inaceitável que decisões de tamanha incidência na vida das pessoas e que retiram direitos já conquistados, sejam aprovadas no Congresso Nacional, sem um amplo diálogo com a sociedade.
Irmãos e irmãs, trabalhadores e trabalhadoras, diante da precarização, flexibilização das leis do trabalho e demais perdas oriundas das “reformas”, nossa palavra é de esperança e de fé: nenhum trabalhador sem direitos! Juntamente com a Terra e o Teto, o Trabalho é um direito sagrado, pelo qual vale a pena lutar (Cf. Papa Francisco, Discurso aos Movimentos Populares, 9 de julho de 2015).
Encorajamos a organização democrática e mobilizações pacíficas, em defesa da dignidade e dos direitos de todos os trabalhadores e trabalhadoras, com especial atenção aos mais pobres.
Por intercessão de São José Operário, invocamos a bênção de Deus para cada trabalhador e trabalhadora e suas famílias.
Aparecida, 27 de abril de 2017.

27 abril, 2017

O Cristão que dá testemunho em obediência sofre calúnias, boatos e perseguições!

“As consequências do testemunho de obediência são as perseguições. Quando Jesus enumera as Bem-aventuranças termina com: “Bem-aventurados quando vos perseguirem e insultarem”. A cruz não pode ser tirada da vida do cristão. A vida de um cristão não é um status social, não é um modo de viver uma espiritualidade que me faça bem, que me faça um pouco melhor. Isto não basta. A vida de um cristão é o testemunho em obediência e a vida de um cristão é repleta de calúnias, boatos e perseguições”.

Papa Francisco

26 abril, 2017

Arquidiocese de Maringá realiza o Terço na Praça - dia 12/05/2017

Fotos da Segunda Reunião em Preparação do Terço na Praça

Terço na Praça - Caminhada Luminosa e Vigília


Arquidiocese de Maringá realiza o Terço na Praça seguido de procissão luminosa e vigília

Nosso 2º encontro em preparação

O terço será dia 12/05/201

Celebrando o Centenário das Aparições de Fátima

O terço será à 18 horas
Encerrando o Terço, procissão luminosa até a praça da catedral.
Em seguida, com das 22 horas do dia 12 até as 07 horas do dia 13 vigília.

Às 07 horas dia dia 13 -  Santa Missa presidida por Dom Anuar com Indulgência Plenária / Consagração da Arquidiocese.

Segue a escala da vigília por pastorais, movimentos e organismos:

22h às 23h – Pastoral Familiar / ECC / MFC / Vicentinos
23h à 00h   - Comunidades Eclesiais de Base, as CEBs / Grupos de Reflexão
00h às 01h – RCC
01h às 02h – Aliança de Misericórdia / Cristma
02h às 03h – Cursilho de Cristandade
03h às 04h – Ap. Eucarístico da Divina Misericórdia
04h às 05h – Juventude Missionária e Infância Missionária
05h às 06h – COMIDI / Oficina de Oração e Vida
06h às 07h – Federação das Congregações Marianas / Mãe Rainha / Apostolado da 
                      Oração / Pastoral da Criança e Catequese

O Arcebispo Metropolitano de Curitiba autorizou o batismo de três crianças, filhos de um casal gay, no último final de semana.

Filipe, um dos três filho de Toni Reis e David Harrad, sendo batizado na Catedral de Curitiba no último domingo. Foto: Arquivo Pessoal

A reportagem é publicada por O Globo, 25-04-2017.
O último domingo foi um dia especial para a família Harrad ReisAlysson, Filipe e Jéssica foram batizados na Catedral de Curitiba junto com seus dois pais, Toni e David, que vivem juntos desde 1990. A cerimônia aconteceu depois de Toni percorrer quatro igrejas de Curitiba e sempre esbarrar com problemas burocráticos impostos por secretárias e funcionários para a realização do batizado.
— Eles falavam tanta coisa que era impossível batizar. Eu sentia que quando as pessoas sabiam que eu tinha um marido ficavam meio assim. Teve até uma situação que uma secretária ficou assustada, pulou da cadeira e falou que era difícil. Tinha gente que falava do código canônico, problema de agenda. Você sente quando a pessoa tá pensando: olha, desculpa, não vai dar — contou.
Foi então que Toni decidiu escrever um ofício para o Arcebispo Metropolitano de Curitiba, Dom José Antonio Peruzzo, solicitando uma audiência. O clérigo pediu então para que o padre Élio José Dall’Agnol realizasse a cerimônia na Catedral de Curitiba.
— Nós ficamos super felizes. O bispo foi maravilhoso, não teve grandes discussões. Ele falou: nós vamos batizar as crianças, não um casal gay. A única exigência que ele fez foi que os padrinhos fossem católicos e fizessem o curso de padrinhos — disse. Alysson, Filipe e Jéssica também ficaram muito felizes com a realização da cerimônia. Toni contou que cada um teve uma reação diferente, mas todos se sentiram realizados com o batizado.
— O Alysson falou que está se sentindo purificado. A Jéssica disse que está se sentindo integrada à sociedade e o Filipe que se sente bem por ter uma religião. Só para conseguir adotar nossos filhos foram sete anos de espera. Fomos desde a primeira instância até o Supremo Tribunal Federal — contou.
Agora a família vai curtir as férias numa viagem para a Europa. Uma das paradas é Roma, para conhecer o Vaticano, a capela Sistina e assistir a uma missa do Papa Francisco.
— Nós estamos super felizes, vamos passar um mês na Europa juntos. Meus carioquinhas vão conhecer o mundo. Para eles vai ser maravilhoso, já até escolheram os monumentos que querem visitar e vamos ver o Papa.

CASO DE HOMOFOBIA EM CURITIBA

Há duas semanas, cartazes homofóbicos foram distribuídos em Curitiba, no bairro Água Verde, para protestar contra a mudança de um casal gay para a região. O jornalista João Pedro Schonarth, de 29 anos, e o marido, o funcionário público federal Bruno Banzato, de 31 fizeram um registro de ocorrência na Delegacia de Vulneráveis para que a polícia tente descobrir quem foi o autor dos cartazes.
No cartaz, há fotos de casais homossexuais se beijando e o texto: "Em breve, a rua será mais "alegre"!!!! Todos os dias nos passeios matinais ou nos finais das tardes terá a visão para inspirar e influenciar toda a vizinhança. Você, seus filhos, seus netos e amigos. E se fazem isso em público imagina o que fazem quando estão a sós ou com amigos mais próximos ou com as pessoas próximas a você".
O texto termina com uma pergunta: "Gostou das notícias!?!?! O endereço da baixaria". No fim, colocado onde fica a casa de João e Bruno.
Font: IHU

25 abril, 2017

A periferia liberal e os riscos da disputa narrativa “dos pobres”

Sabemos nada sobre as elites e muito pouco sobre as camadas médias. Nosso fetiche mesmo são os pobres. Na foto, menino em meio à demolição da Favela do Metrô, no Rio, em 2014.



Escreve Rosana Pinheiro-Machado, cientista social, antropóloga e professora do departamento de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Oxford, em artigo publicado por CartaCapital.

Eis o artigo

Depois de ter lido que os valores da periferia eram “liberais” – e depois uma resposta de que, na verdade, a periferia apresentaria valores mais “anarquistas” – senti até vontade de escrever que, na verdade mesmo, a periferia era “comunista”.
Falaria de circulação de crianças, do compartilhamento de eletricidade, da recusa à subordinação ao patrão e dos processos de ajuda mútua. Eu citaria muitas teses para sustentar o argumento e também vivências e observações empíricas.
Seria um artigo consistente, mas menos honesto com a realidade complexa das periferias, as quais – assim como as camadas médias, enfatizo – são marcadas pela sobreposição relacional de valores e práticas liberais, conservadoras, comunistas, coletivistas, individualistas, violentas e generosas.
Mas este não é meu ponto aqui. Não é meu objetivo criticar os resultados da pesquisa “Percepções e valores políticos na periferia de São Paulo” divulgada pela Fundação Perseu Abramo (FPA)*.
Já existem críticas bem elaboradas e, é importante ressaltar, a FPA demonstrou-se muito receptiva para escutá-las.
O que quero, aqui, é fugir desse fogo cruzado que se abriu após a divulgação do relatório.
Eu escrevo mesmo para chamar atenção que, por trás do que se chama de “debate intelectual necessário” encontra-se uma cruzada narrativa perigosa, que precisa ser repensada urgentemente, pois seus resultados podem ser (se já não estão sendo) nefastos.
A disputa narrativa sobre “os pobres” é intelectualmente desestimulante, academicamente perigosa, politicamente ardilosa e socialmente ineficaz.
Explico: O debate é intelectualmente desestimulante, pois isola as periferias de um todo social e complexo. Coloca, então, os “pobres” em caixinhas e comprime diversas camadas interpretativas que merecem uma vida para ser compreendidas.
É também academicamente perigosa.Desde o século XIX, o pensamento classificatório evolucionista e desenvolvimentista persiste. É uma caça civilizatória. Isolar significa classificar. Classificar é sempre um ato de risco, especialmente quando envolve grupos humanos.
Nada novo nisso: a Antropologia foi fundada exatamente assim na Europa enquanto homens de gabinetes observavam as colônias e faziam tabelas classificatórias. A fórmula é simples, baseada em pesquisas superficiais e funciona bem: você hierarquiza valores, aos moldes do rumo que a democracia europeia seguiu, e depois aplica ao grupo que se “estuda”. Substituímos o gabinete pela pesquisa-drone (como diz a etnógrafa e ativista Lúcia Scalco, "vai lá conversa com as pessoas e tira uma foto de cima") ou menos pelas intermináveis mesas redondas.
Nessa cruzada narrativa, já cheguei a ler que as periferias teriam apenas o lado materialista do desenvolvimento: “eles” consumiriam produtos manufaturados, marcas, mas não teriam valores democráticos “liberais” e/ou a cultura civilizada mais sofisticada. Quase um barbarismo (barbarismo era um meio termo entre a civilização e a selvageria).
Já li isso da esquerda e da extrema direita. Talvez seja interessante lembrar que os escritores que dizem isso estão - enquanto tomam seu vinho, escutam Chico Buarque e mexem no seu iPhone – igualmente imersos em uma classe média consumista, contraditória e nem sempre democrática.
Enquanto isso, as camadas médias ficam surpresas com o comportamento dos homens brancos que, no impeachment, votaram por suas esposas, amantes, filhos e cachorros. Sabemos nada sobre as elites. E muito pouco sobre as camadas médias.
Nosso fetiche mesmo são os pobres.
A consequência desse processo classificatório e generalizante nada mais é do que processo de desumanização e objetificação da pobreza. E é Michel Foucault que nos lembra que conhecimento é poder.
Esse tipo de estudo, debate e discurso, no fim das contas, produz dominação. A disputa é ainda politicamente ardilosa. Nas últimas eleições, não foram poucos as/os analistas que apontaram o quanto a esquerda tinha se afastado da periferia. Insistia-se que era preciso ser menos arrogante no entendimento do papel das igrejas e do consumo.
Em São Paulo, o tucano João Doria ganhou com larga margem e, em muitas capitais, a rejeição dos candidatos de esquerda entre as camadas mais populares foi alarmante. Voltaram, inclusive, as narrativas de que pobre é manipulado e não sabe votar.
É provavelmente dessa derrota que surge o interesse em entender a periferia. Esse interesse é fundamental e precisa ser nutrido, mas a divulgação do relatório que aponta “valores liberais” não me parece um bom começo.
Quais os usos políticos que se fará desses achados baseados em uma pesquisa breve? Será inventado um candidato com uma linguagem renovada? Um candidato de esquerda modernizado e gestor?
Não acredito que chegue a esse ponto, mas traços dessa lógica provavelmente influenciarão no marketing eleitoral.
Estamos, enfim, dando subsídios para continuar a reproduzir uma das máximas de Tim Maia: o pobre é de direita. O que se ganha com isso? Os usos que podem ser feitos a partir desse tipo de conclusão são muitos, e nenhum deles é animador.
O gargalo da esquerda não reside simplesmente na comunicação, mas no seu próprio projeto despedaçado de esquerda, de nação e de futuro. Não precisamos inventar um candidato que saiba falar para os pobres: é preciso reinventar a esquerda e sua aproximação com a periferia – o que, noutro momento, chamei de periferização da esquerda.
É preciso estar lá, ouvir, entender, conversar e, mais do que apontar valores, pensar em soluções para demandas urgentes. Além de tudo, o debate é socialmente ineficaz.
É claro que entender os valores da periferia é um projeto intelectualmente nobre, especialmente no longo prazo e com uma visão menos fracionada da sociedade brasileira. É um projeto de compreensão da nação que sempre precisa ser criticamente refletido.
Mas nesse momento de crise, inferir valores da periferia me parece um tanto contraproducente, tanto socialmente quanto eleitoralmente. Nós precisamos é compreender necessidades e direitos. Muitas vezes quando a esquerda fala de direitos, ela fala de direitos que não necessariamente possuem apelo entre aqueles que estão sistematicamente fora do mercado de trabalho.
É preciso, portanto, deixar de lado a disputa narrativa por valores – esta sempre tão essencialista – e passar para uma agenda de demandas: nas periferias as pessoas precisam de água tratada, eletricidade, atendimento médico, dentistas para tratar as cáries, meio de transporte, escola, creche, lugares bonitos de lazer, dinheiro e, fundamentalmente, de respeito.
A lista é grande e não cabe a mim continuá-la. Batalha ideológica se disputa no campo, com militância motivada e capilar. E demanda tempo. Tempo para reconstruir a nossa maior lacuna, que não é compreender “os pobres”, mas a nós mesmos enquanto projeto de esquerda.
* É importante pontuar que a FPA e seus pesquisadores quiseram ir além do reducionismo das manchetes, mostrando que havia diversidade nos dados. No entanto, uma fundação política do calibre da FPA sabe muito bem o impacto de um release e precisaria ter administrado melhor o fluxo de informação anteriormente à divulgação, e não depois. Manchetes importam. Manchetes são armas.

Anunciar com humildade!


“ir onde Jesus não é conhecido e onde Jesus é perseguido ou desfigurado, para proclamar o verdadeiro Evangelho”:

“O Evangelho não pode ser anunciado com o poder humano, não pode ser anunciado com o espírito de escalada, de subir”.

“O Evangelho deve ser anunciado em humildade, porque o Filho de Deus se humilhou, se aniquilou. O estilo de Deus é este” e “não existe outro”. “O anúncio do Evangelho não é um carnaval, uma festa”. Este “não é o anúncio do Evangelho”.

“Sair para anunciar. E nesta saída está a vida, se joga a vida do pregador. Ele não está protegido, não há seguro de vida para o pregador. E se um pregador busca um seguro de vida, não é um verdadeiro pregador do Evangelho: não sai, permanece protegido. Primeiro: ir, sair. O Evangelho, o anúncio de Jesus Cristo, se faz em saída, sempre; em caminho, sempre. Seja em caminho físico, seja em caminho espiritual do sofrimento: pensemos no anúncio do Evangelho que tantos doentes fazem – tantos doentes! – que oferecem a dor pela Igreja, pelos cristãos. Mas sempre saem de si mesmos”.

Quem anuncia o Evangelho, “mas nunca sofre tentação, o diabo não se preocupa” porque “estamos pregando algo que não serve”.

“... na pregação verdadeira, há sempre algo de tentação e também de perseguição”.

“Será o Senhor a nos confortar, a nos dar força para ir avante, porque Ele age conosco se formos fiéis ao anúncio do Evangelho...".

Papa Francisco

24 abril, 2017

Greve Geral contra aos ataques dos direitos das/os trabalhadoras(es)!


Quem nasce do Espírito: ouve a voz, segue o vento, segue a voz do Espírito sem saber aonde terminará!

“Às vezes, esquecemo-nos de que a nossa fé é concreta: o Verbo se fez carne, não se fez ideia: tornou-se carne. Quando rezamos o Credo dizemos coisas concretas: Creio em Deus Pai que fez o céu e a terra, creio em Jesus Cristo que nasceu, que morreu...’. São coisas concretas. O Credo não diz: Creio que devo fazer isso, que devo fazer aquilo ou que as coisas são para isso...’ Não! São coisas concretas. A concretude da fé que leva à franqueza, ao testemunho até o martírio, não faz pactos ou idealização da fé.”

“Para os doutores da lei, o Verbo não se fez carne, mas lei. É preciso fazer isso só até aqui. Deve ser feito isso e não aquilo”:

“E assim, se engaiolaram nesta mentalidade racionalista que não terminou com eles, hein? Na História da Igreja muitas vezes, a própria Igreja que condenou o racionalismo, o Iluminismo, caiu nesta teologia do ‘pode e não pode’, do ‘até aqui e até lá’, e se esqueceu da força, da liberdade do Espírito, do renascer do Espírito que nos dá a liberdade, a franqueza da pregação e de anunciar que Jesus Cristo é o Senhor.”

“Peçamos ao Senhor esta experiência do Espírito que vai e vem e nos leva adiante, do Espírito que nos dá a unção da fé, a unção da concretude da fé”:

”O vento sopra onde quer e ouve-se a sua voz, mas não se sabe de onde vem e nem para onde vai. Assim é todo aquele que nasce do Espírito: ouve a voz, segue o vento, segue a voz do Espírito sem saber aonde terminará, pois optou pela fé concreta e pelo renascimento no Espírito. Que o Senhor dê a todos nós este Espírito pascal a fim de caminhar nas estradas do Espírito sem acordos, sem rigidez, mas com a liberdade de anunciar Jesus Cristo assim como Ele veio: em carne.”

Papa Francisco


21 abril, 2017

Um lindo e abençoado final de semana a todas e a todos!

Um lindo e abençoado final de semana a todas e a todos!
"Que os nossos esforços desafiem as impossibilidades. Lembrai-vos de que as grandes proezas da história foram conquistas daquilo que parecia impossível."
Charles Chaplin

Baleia Azul - Mensagem de dom Anuar Battisti

Oito Estados têm suicídios e mutilações sob suspeita de ligação com Baleia-Azul

No Brasil, 1 em cada 10 adolescentes de 11 a 17 anos acessa conteúdo na internet sobre formas de se ferir - e 1 em cada 20, de se suicidar, segundo o Centro de Estudos Sobre Tecnologias da Informação e Comunicação (Cetic). Depois de postar em sua página no Facebook a frase “a culpa é da baleia”, um adolescente de 17 anos tentou se jogar nesta quarta-feira, 19, do viaduto sobre a Rodovia Marechal Rondon, em Bauru, interior paulista. Trata-se de mais um caso que envolveria o jogo viral de internet Baleia-Azul, que incita a suicídio e mutilações e já causou alertas policiais e de saúde em oito Estados (SP, PR, MG, MT, PE, PB, RJ e SC).
A reportagem é publicada por O Estado de S. Paulo, 20-04-2017.
Pesquisa do Cetic que analisou 19 milhões de internautas brasileiros mostra o avanço das buscas desse público por mutilações (11%) e mortes (6%) no universo online. Os casos mais recentes envolvem o Baleia-Azul. O maior número de registros até agora é na Paraíba, onde a Polícia Militar diz ter identificado 20 adolescentes envolvidos no jogo. O coronel Arnaldo Sobrinho, coordenador do Escritório Brasileiro da Associação Internacional de Prevenção ao Crime Cibernético, relatou tentativas de suicídio e mutilação de adolescentes em João Pessoa e nas cidades de Campina Grande e Guarabira.
A origem e até a existência do suposto jogo, com 50 níveis de dificuldade, tendo o suicídio como resultado final, é polêmica. Seu nome deriva da espécie presente nos Oceanos AtlânticoPacíficoAntártico e Índico que chega a procurar as praias, por vontade própria, para morrer.
As primeiras informações, de 2015, relatavam um jogo de incentivo ao suicídio propagado pelo Vkontakte (VK), o Facebook russo. Posteriormente, entidades denunciaram o caso como “fake news” (notícia falsa), mas o viral não para de avançar. Participantes surgem em grupos fechados, selecionados de madrugada. Na sequência, o administrador, ou “curador”, lança desafios, que já provocaram problemas em diversos países, incluindo Espanha e França.

Polícia

O problema tem ganhado contornos reais e policiais. Em São Paulo, o caso de Bauru não é isolado. Na semana passada, um adolescente de 13 anos tentou se matar, em Jaú, cortando braços com lâmina de barbear. Uma irmã contou que o garoto andava depressivo e excluiu a família das redes sociais. A mãe conseguiu entrar no notebook do jovem apenas no dia seguinte e notou a associação com o Baleia-Azul.
E os casos se espalham pelo País. No Paraná, Priscila (nome fictício), de 25 anos, decidiu entrar no jogo para investigá-lo porque estava preocupada com a irmã, de 11 anos - e se assustou. “Não consegui chegar até o fim, são mensagens pesadas, que nos incitam a fazer mal para pessoas que amamos. É agressivo, intenso, mas precisei entrar para saber o perigo.”
Paraná registrou a entrada de oito adolescentes entre 13 e 17 anos (quatro meninos e quatro meninas), na madrugada desta quarta, nas unidades de saúde de Curitiba - cinco por tentativa de suicídio por medicamentos e três por automutilação.
O secretário estadual de Segurança, Wagner Mesquita, afirmou que um dos jovens relatou a participação no jogo.“Nossa investigação vai em busca dos responsáveis para enquadrá-los por incitação ao suicídio”, disse ele. O crime, previsto no artigo 122 do Código Penal, tem pena de 2 a 6 anos de reclusão. “Vamos trocar informações com outros Estados.”
Em Pernambuco, a Polícia Federal lançou um vídeo na internet e montou equipes na terça para ir a escolas fazer alertas. Em menos de uma semana, a polícia catarinense atendeu nove casos de mutilações, instigados pelo Baleia-Azul e lançará uma campanha de conscientização. Já a região nordeste de Mato Grosso está em alerta. Além de investigar a morte de Maria Oliveira de 16 anos, há 15 dias, a PM identificou uma suposta comunidade ligada ao jogo com cerca de 350 participantes.
Em Minas, a Polícia Civil investiga dois suicídios, o de um jovem de 19 anos, de Pará de Minas (região centro-oeste), e de um rapaz de 16 anos, de Belo Horizonte. No Rio, há dois casos de aliciamento do jogo sendo apurados pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática.

‘É preciso separar o joio, sem pânico’

Juliana Cunha, coordenadora da organização Safernet, diz que “não há evidência de que o jogo seja real e, muito menos, de que poderia ter causado os suicídios”. “É preciso separar o joio do trigo, sem criar pânico.”
Segundo ela, as pesquisas sobre o jogo por usuários brasileiros se intensificaram após uma reportagem de TV em 4 de abril. “A abordagem não contribui para informar, mas para ensinar as pessoas como jogar. Isso sem nem ao menos saber se ele realmente existe. Depois dessa reportagem, o termo 'Baleia-Azul' entrou para o Trend Topics (ranking de termos mais usados) do Brasil e está entre os mais procurados no Google e em grupos de Facebook.”
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Fonte: IHU

19 abril, 2017

Papa Francisco nomeia padre Bruno Elizeu Versari bispo coadjutor de Campo Mourão


O papa Francisco nomeou o padre Bruno Elizeu Versari, da Arquidiocese de Maringá, bispo coadjutor de Campo Mourão-PR. Padre Bruno Elizeu Versari é pároco da paróquia Santa Maria Gorretti em Maringá e diretor da rádio Colméia. A nomeação foi divulgada oficialmente pelo Vaticano na manhã desta quarta-feira (19). 

Veja aqui como foi a coletiva de imprensa 

Padre Bruno é o quarto padre da Arquidiocese de Maringá nomeado bispo. Os três anteriores foram: dom Vicente Costa (bispo de Jundiaí-SP), dom Edmar Peron (bispo de Paranaguá-PR) e dom Luiz Gonçalves Knupp (bispo de Três Lagoas-MS).

“Neste ano em que nossa arquidiocese completa 60 anos, a nomeação do monsenhor Bruno é um presente para todos nós”, comenta o arcebispo de Maringá, dom Anuar Battisti.

A missa de ordenação episcopal será dia 25 de junho de 2017 às 17h na Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Glória em Maringá. Já a apresentação de dom Bruno Elizeu Versari em Campo Mourão ainda não está agendada.

Coadjutor
Bispo coadjutor é o bispo assistente (auxiliar) de um bispo diocesano, com direito a sucessão. Padre Bruno irá auxiliar dom Javier Delvalle Paredes, atual bispo da diocese de Campo Mourão.
A nomeação dos bispos é realizada após um processo determinado de seleção que varia segundo as regiões e os diversos ritos católicos, mas a aprovação final em todos os casos está sob a decisão do Santo Padre.

Biografia
Padre Bruno nasceu em 30 de maio de 1959 na cidade de Cândido Mota-SP. Filho de Ricardo Ângelo Versari e Maria de Lourdes Fiorotto Versari (in memoriam).

Possui graduação em Filosofia e História pela PUCPR de Curitiba; Teologia pelo Instituto Paulo VI em Londrina PR; Especialização em Educação Especial pela ASSINTEC em Curitiba; Pós graduação em Teologia Bíblica pela PUCPR Maringá e pós graduação em Teologia Bíblica – Novo Testamento pela PUCPR Maringá.

Foi ordenado padre dia 03 de janeiro de 1988 pelo primeiro arcebispo de Maringá, dom Jaime Luiz Coelho. Trabalhou nas paróquias Nossa Senhora do Rosário em Floresta-PR, Santa Isabel de Portugal em Maringá e, por duas vezes, na paróquia Santa Maria Goretti, também em Maringá. 

Colaborou com a formação no Seminário de Filosofia Nossa Senhora da Glória de Maringá entre 1988 a 1990. Ocupou o cargo de Ecônomo da Arquidiocese de Maringá de 2001 a 2009 e foi membro do Colégio de Consultores e do Conselho de Presbíteros de 2000 a 2009.

Em 2011 foi designado Vigário Geral da Arquidiocese de Maringá; cargo que ficou à frente até a abril de 2015. Em abril de 2015 foi eleito diretor da rádio Colméia, emissora ligada à Arquidiocese de Maringá.

Fonte: site da Arquidiocese de Maringá

Conflitos no campo 2016

Violência: os recordes de 2016

Em 2016 foram registrados 61 assassinatos em conflitos no campo. Isso equivale a uma média de cinco assassinatos por mês. Destes 61 assassinatos, 13 foram de indígenas, 4 de quilombolas, 6 de mulheres, 16 foram de jovens de 15 a 29 anos, sendo 1 adolescente. Nos últimos 25 anos o número de assassinatos só foi maior em 2003 quando foram registrados 73 assassinatos.
O relatório é publicado pela Comissão Pastoral da Terra, 17-04-2017, ou seja, no dia que rememora o Massacre de Eldorado do Carajás, PA.
De 2015 para 2016, todas as formas de violência apresentaram crescimento:

O número de pessoas presas em conflitos no campo em 2016 teve um aumento de 185%. Do total de prisões, 228, 184 foram na região Norte, mais de 80% do total. 88 somente em Rondônia (39%). O estado que mais assassinou (21 dos 61 assassinatos) também foi o que mais prendeu.
Amazônia Legal, que compreende toda a região Norte mais partes do Maranhão e Mato Grosso, concentrou, em 2016, 79% dos “assassinatos”: 48 dos 61 registrados; 68% das “tentativas de assassinato”, 50 das 74; 391 das 571 “agressões físicas”, e 171 das 200 “ameaças de morte”, 86%. 192 das 228 pessoas presas. O estado de Rondônia, além de concentrar o maior número de assassinatos e de presos, foi o segundo estado com o maior número de agredidos (141 de um total de 571), o segundo estado com mais ameaças de morte (40 de 200) e, junto com o Mato Grosso do Sul, foi o terceiro estado com mais tentativas de assassinato (10).

Quatro sombras históricas, base da violência

Leonardo Boff constata que “somos herdeiros de quatro sombras que pesam sobre nós e que originaram e originam a violência”. São: o nosso passado colonial violento, o genocídio indígena, a escravidão, “a mais nefasta de todas”, e a Lei de Terras que excluiu os pobres e afrodescendentes do acesso à terra, e os entregou “ao arbítrio do grande latifúndio, submetidos a trabalhos sem garantias sociais”.

Lutar não é crime!

2016 se caracterizou por ter sido o ano em que a criminalização dos movimentos do campo chegou a patamares assustadores. Em Goiás, no município de Santa Helena, a ocupação de parte da Usina Santa Helena, por 1.500 famílias ligadas ao MST, desembocou num processo em que pela primeira vez o movimento foi enquadrado na Lei nº 12.850/2013, que tipifica as organizações criminosas. Foi expedido mandado de prisão contra três integrantes do acampamento Padre Josimo, que era como se chamava a ocupação, e contra um coordenador regional e da direção nacional do MSTJosé Valdir Misnerovicz. Foram presos: um trabalhador, Luiz Batista Borges, ao atender convocação para se apresentar para prestar esclarecimentos, e o dirigente nacional, Valdir, por ser liderança, pelo “domínio do fato”. Outros dois se evadiram. Os pedidos de Habeas Corpus, com excelente fundamentação jurídica, foram sistematicamente negados, pelo Tribunal de Justiça do Estado. O STJ também denegou o pedido aos trabalhadores, mas o concedeu a Valdir, fazendo constar que a associação para luta por reforma agrária não configura organização criminosa. Na semana passada, 10 de abril, o ministro Edson Fachin do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o pedido de Habeas Corpus impetrado em favor dos trabalhadores retirou da acusação o crime de organização criminosa. Lamentavelmente, porém, isso não significa ainda que Luiz Borges, que completou no dia 14 passado um ano de detenção, seja posto em liberdade.
Em novembro de 2016, foi deflagrada, no Paraná, a “Operação Castra” contra lideranças dos Acampamentos Dom Tomás Balduino e Herdeiros da Luta pela Terra, do MST. A operação aconteceu em municípios do ParanáSão Paulo e Mato Grosso do Sul simultaneamente. Nesta ação, policiais invadiram a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP), sem portarem mandado judicial. Entraram atirando em direção às pessoas que se encontravam na escola. Pela representativade da escola e pelo simbolismo da atitude ilegal da polícia em invadi-la, a CPT escolheu a imagem deste fato para ilustrar a capa da publicação Conflitos no Campo Brasil 2016, bem como para retratar a que ponto chegou a criminalização da luta social que hoje vivemos no nosso país.
Confira os releases analíticos e tabelas comparativas:

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Fonte: IHU