11 maio, 2017

Porta abertas aos gays e vigílias anti-homotransfobia: a reviravolta da Igreja também nas paróquias!


É preciso “acolher e acompanhar” homossexuais e transexuais, “é isso que Jesus faria hoje”. A reviravolta ocorreu depois dessas precisas e pontuais palavras proferidas pelo Papa Francisco há menos de um ano (era outubro de 2016), ao voltar da viagem à Geórgia e ao Azerbaijão. E contagiou parte do mundo católico. Tanto que, a partir desta sexta-feira até o fim de maio, serão diversas as paróquias, italianas ou não, que vão aderir (as primeiras cidades serão Milão e Sevilha) ao Dia Internacional contra a Homotransfobia.

A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 10-05-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Entre elas, também algumas comunidades católicas de Gênova e Palermo, as duas dioceses cujos arcebispos, em edições anteriores, vetaram aos fiéis a participação em vigílias organizados para a ocasião.

Em 2011, foi Paolo Romeo, cardeal de Palermo, que freou a vigília organizada pelo Pe. Luigi Consonni, pároco de Santa Lúcia, dizendo: “Nós nos inspiramos na Carta assinada em 1986 por Joseph Ratzinger”. Em 2015, foi o cardeal Angelo Bagnasco, em Gênova, que proibiu, no último instante, que o evento ocorresse na Igreja da Sagrada Família: “Em qualquer lugar, mas não em Gênova”, foi o que vazou da Cúria.

No entanto, como Francisco sempre repete, “o tempo é superior ao espaço”. E, nesse caso, ele foi gentil com os fiéis homossexuais que pretendem se unir às muitas pessoas que estarão na praça para que se diga a palavra “fim” à homofobia, à transfobia e a toda forma de discriminação. O que servirá de marco para a sua participação será um versículo da Carta de São Paulo aos Romanos“Abençoai aqueles que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis”.

A novidade deste ano não reside apenas no fato de que, pela primeira vez, não há notícias de intervenções de censura de bispos e cardeais. Mas também que – algo que não aconteceu anteriormente com estas proporções – participarão publicamente das vigílias inúmeras comunidades de ordens religiosas e associações católicas. 

Assim, em Gênova, onde a vigília não só será hospedada por uma paróquia, mas até hoje – a menos que haja mudanças de última hora sempre possíveis – conta com a participação do vigário-geral da diocese, Nicolò Anselmi

“Parece-me o sinal mais evidente de como a Igreja está começando a se interrogar seriamente sobre o que afirmava o Sínodo dos Bispos, sobre a necessidade de construir uma pastoral de acolhida para as pessoas LGBT e os seus familiares”, diz Innocenzo Pontillo, representante do projeto Gionata sobre fé e homossexualidade.

Em Milão, por outro lado, a vigília unirá idealmente, com uma procissão de velas, o templo valdense e a paróquia de Santa Maria da Paixão. Enquanto em Palermo a organização da vigília foi desejada não só pela Igreja Evangélica Luterana, mas também, dentre outros, pelos combonianos e pelos jesuítas da Igreja do Gesù. E, além disso, adesões importantes de paróquias em FlorençaReggio EmiliaCatâniaTrieste e Bolonha e em muitas outras cidades.

Pe. Franco Barbero, animador das comunidades cristãs de base – por ocasião da apresentação do explosivo livro de Ortensio da Spinetoli L’inutile fardello [O fardo inútil] (Ed. Chiarelettere), no qual o autor hoje falecido pede “uma saudável renovação teológica da Igreja”, indo além dos “pensadores medievais” –, afirma:

“Em Pinerolo, organizamos uma vigília na paróquia de São Lázaro, junto com a comunidade de base, a Igreja Valdense e a Scala di Giacobbe: decidimos sair, deixar os muros paroquiais e vigiar na praça, publicamente, na frente do monumento das vítimas de todas as perseguições. Essas vigílias são o sinal de uma Igreja que quer ‘mudar de pele’, embora, na verdade, ainda há uma parte que resiste, dentro da qual a indiferença se difundiu. Ainda há aqueles que não só não participam dos sofrimentos dos homossexuais, mas também se irrita um pouco com eles e se distancia. O motivo para mim é simples: quem se distancia, faz isso porque tem medo de si mesmo. Se a Igreja olha para dentro de si, de fato, descobre que tem homossexuais na hierarquia e tem medo dessa evidência. Substancialmente, tem medo de reconhecer nos outros o que é também em si mesma. São os nossos medos que nos tornam desconfiados em relação aos outros. Enquanto, por outro lado, a acolhida deve sem ser sem condições. Caso contrário, não é acolhida”.
Fonte: IHU

As Instituições Filantrópicas - Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Dom Murilo S.R. Krieger, scj – Arcebispo de São Salvador da Bahia (BA) e vice-presidente da CNBB
“A reforma da Previdência, proposta pelo Governo Federal, trouxe à tona o debate sobre o fim da isenção da contribuição para a Seguridade Social de inúmeras entidades, prevista no artigo 195 § 7 da Constituição Federal de 1988. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB reconhece que é necessário, de fato, rever a isenção de algumas entidades, para que elas se justifiquem pelo serviço prestado aos pobres.” 

Assim começa a Nota que a CNBB emitiu em defesa da isenção das instituições filantrópicas. É uma resposta aos que propugnam o fim dessas desonerações. Ora, as instituições filantrópicas que prestam reais serviços nas áreas da saúde, educação e assistência social são respeitadas pela sociedade. “Muitas destas instituições estão presentes onde, inúmeras vezes, há ausência do Estado. A isenção não significa doação ou favor, mas uma contrapartida do Estado, ao serviço que lhe caberia prestar aos mais pobres.”

Vejamos em números: existem, no Brasil, 1.400 instituições filantrópicas na área da saúde, mais de 2.100 na área da educação e mais de 5.000 na área da assistência social (cf. Fórum Nacional das Instituições Filantrópicas). Isso significa que 53% dos atendimentos do Sistema Único de Saúde – SUS são feitos por entidades filantrópicas; na educação, são 600 mil alunos que recebem bolsas; já no campo da assistência social, 62,7% de todo atendimento gratuito em assistência social é realizado por essas instituições.

“As entidades filantrópicas, acostumadas a fazer o mais com o menos, são fundamentais para a implementação de políticas públicas e para diminuir desigualdades sociais. Dados dos Ministérios da Saúde, Educação e Desenvolvimento Social e da Receita Federal revelam que, para cada “um real” de isenção previdenciária, a contrapartida pelas entidades é de “5,92 Reais”, ou seja, ‘seis vezes mais do que receberam em desoneração previdenciária’” (CNBB)”.

A maneira como a questão da isenção das entidades filantrópicas é por vezes colocada faz crer que os problemas da Previdência Social têm como causa tal isenção. Ora, na verdade, elas representam somente 3% da receita previdenciária. Quem está à frente de uma dessas instituições pode testemunhar que há uma contínua fiscalização feita pela Receita Federal, para verificar se a entidade preenche os requisitos legais para usufruir da isenção. Mesmo assim, podem estar ocorrendo abusos aqui e ali – abusos que devem ser punidos. O que não se pode fazer é querer resolver um problema (diminuir o déficit do orçamento) criando um outro maior (aumento dos problemas sociais).

Por fim, um convite: visite uma entidade filantrópica. Já prevejo o que, então, acontecerá: tal entidade ganhará mais um benfeitor…

Fonte: CNBB