14 agosto, 2017

Os que vivem a guerra

“É mais fácil uma criança saber o calibre de uma arma,
o nome todinho de cada arma 
do que saber o abecedário”, 
conta a educadora Mariluce Mariá, 
do Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. 


De janeiro até julho desse ano – em apenas 43 dos 182 dias não houve tiroteio no Alemão, contam os moradores. Os alunos de Mariluce tem de se jogar no chão para escapar das balas a caminho da escola.

O bairro é um dos recordistas em tiroteios que nesses seis meses mataram 706 pessoas no Rio de Janeiro de acordo com o aplicativo Fogo Cruzado – iniciativa da Anistia Internacional feita em colaboração com os moradores – registrando o que as estatísticas oficial não registram.

Nada do que é oficial corresponde à realidade das comunidades que vivem uma rotina de guerra. Até o Censo é contestado pelos moradores do Alemão, que contaram 190 mil moradores em lugar dos 69 mil registrados pelo órgão. E não adianta recorrer à mídia que mora no asfalto e continua a divulgar o massacre cotidiano como guerra ao tráfico.

É preciso ir até ali.

“Não existe bala perdida se ela tem um endereço: a favela”, diz um líder comunitário do Alemão em nossa reportagem investigativa da semana.

É só olhar para as paredes perfuradas de balas das casas onde vivem 40 mil famílias para entender o que ele diz.

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Fonte: Texto de Marina Amaral, codiretora da Agência Pública, 11/02/2017.

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