11 janeiro, 2018

Para Refletir!

Segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), que são atualizados quase que diariamente no site QUEM A HOMOTRANSFOBIA MATOU HOJE em 2016 foram assassinados no Brasil: 

- 343 LGBTs, um crime de ódio a cada 25 horas.
Desses:
- 173 eram gays (50%)
- 144 (42%) trans (travestis e transexuais)
- 10 lésbicas (3%)
- 4 bissexuais (1%), incluindo 12 heterossexuais, como os amantes de transexuais (“T-lovers”).

"É preciso todos os dias refletir sobre nossa espiritualidade, nosso jeito de ser e agir no mundo, e a presença de Deus constante em cada um e cada uma. Torna-se ainda necessário olharmos onde Deus tem sofrido e se feito humano."

Deus são muitas! - por Jonathan Félix


É preciso todos os dias refletir sobre nossa espiritualidade, nosso jeito de ser e agir no mundo, e a presença de Deus constante em cada um e cada uma. Torna-se ainda necessário olharmos onde Deus tem sofrido e se feito humano. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), que são atualizados quase que diariamente no site QUEM A HOMOTRANSFOBIA MATOU HOJE. Em 2016, foram assassinados no Brasil 343 LGBTs, um crime de ódio a cada 25 horas. Desses, 173 eram gays (50%), 144 (42%) trans (travestis e transexuais), 10 lésbicas (3%), 4 bissexuais (1%), incluindo 12 heterossexuais, como os amantes de transexuais (“T-lovers”).

Acredito que todos devem recordar o caso de Orlando, no ano de 2015, que foi catastrófico, e exemplo da barbárie das inúmeras mortes da população LBGT.  No Brasil temos cerca de seis massacres na mesma proporção de Orlando. Todos esses fatos, ligados a uma cultura machista, homofóbica, lesbofóbica, bifóbica e transfóbica. Deivis Macedo em seu livro sobre movimento ecumênico juvenil, nos traz algumas inquietações, onde “fica transparente que não nos envolvemos nas questões que têm roubado a vida de muitos. Acabamos por perceber uma crescente de injustiça e desigualdades que é uma realidade próxima a nós (…)”.

Na cultura judaico cristã, afirmamos constantemente que somos a imagem e semelhança de Deus, mas que imagem de Deus nós somos? Será que reconhecemos o rosto de Deus cotidianamente? Parece que estamos cegos diante dessas injustiças, que se naturalizaram.

Na tradição bíblica, Deus sempre está e se manifesta do lado dos mais fracos. Deus sempre se manifestou no rosto dos marginalizados. Se todos os seres humanos são a imagem e semelhança de Deus, sua figura não pode ser apenas masculina e heterossexual. Se Deus  é  amor e faz de toda pessoa humana sua imagem e semelhança, então Ele é também na pessoa gay, na lésbica, na travesti, na mulher transexual,  no homem trans, no/a bissexual e por ser amor, assume diversas manifestações da vida! É preciso entender Deus, não em um sentido exclusivista, mas também reconhecer sua presença na vida humana, especialmente no rosto de quem sofre.

Reconhecer o rosto plural de Deus é um desafio, um sinal de maturidade e de transcendência. Um processo de libertação. É ver que Deus está além do dogma e do gênero, reconhecendo que ele está na vida e no rosto de cada um e cada uma. No livro QS inteligência espiritual – o Q que faz a diferença, os autores contam que os místicos judeus nos lembram de que Deus tem “dez” rostos, ou seja, muitas faces. E o verdadeiro místico é aquele que se habilita a conhecer o melhor de Deus que está por trás de todas as faces. Os islâmicos também falam dos 99 nomes de Deus e até que existe um centésimo nome.

Vivemos uma cultura, que ignora e rejeita a presença Sagrada que habita em cada pessoa LBGT, chegando ao cúmulo de desejar até a sua morte.  As igrejas cristãs e religiões que têm como função revelar a presença divina no mundo, afirmam nos altares e espaços eclesiais que todos seres humanos somos sua imagem. No entanto, diante de pessoas cuja orientação e sensibilidade não correspondem a imagem social do patriarcalismo, as rejeitam e negam nelas a presença divina. Mas essas mesmas igrejas que deveriam testemunhar o amor divino no mundo, acabam de alguma forma sendo coniventes com essa cultura de morte. Esquecem que Deus se fez radicalmente humano em Jesus. Assim como não se pode crer em um Deus que não dance, eu não poderia crer em um Deus que tivesse gênero. Talvez, Nietzsche, esteja certo ao lamentar que, por enquanto, tudo isso seja humano, demasiado humano…e não cumprimos nosso papel de ser espiritualmente livres.

O exercício de reconhecer Deus é um exercício de olhar para dentro de nós e para o/a outro/a. De retirar as máscaras que escondem os nossos incômodos. As fobias que nos rodeiam. E reconhecer que Deus é livre, é o amor, e isso basta!


-----------------

Sobre Jonathan Felix
Editor chefe da Revista Senso, Mestrando em Ciências da Religião pela PUC Minas, pesquisa Inteligência Espiritual.

Papa: vida dupla dos pastores é ferida na Igreja


Inspirado no Evangelho do dia que fala da autoridade de Jesus, o Papa recordou "aos pastores que viveram a vida separados de Deus e do povo, das pessoas" para não perderem a esperança: "Sempre existe a possibilidade!"

Cidade do Vaticano

Comoção, proximidade e coerência. Essas são as características do pastor e da sua “autoridade”, nas palavras do Papa na missa esta manhã na Casa Santa Marta.

Comentando o Evangelho do dia, de Marcos, dedicado a Jesus que ensinava “como quem tem autoridade”, Francisco explicou que se trata de um “ensinamento novo”: a “novidade” de Cristo é justamente o “dom da autoridade” recebido do Pai.

Diante dos ensinamentos dos escribas, dos doutores da lei, que mesmo “dizendo a verdade”, evidenciou o Papa, as pessoas “pensavam a outra coisa”, porque o que diziam “não chegava ao coração”: ensinavam “da cátedra e não se importavam com as pessoas”.

Ao invés, acrescentou Francisco, “o ensinamento de Jesus provoca admiração, movimento no coração”, porque aquilo que “dá autoridade” é precisamente a proximidade e Jesus “tinha autoridade porque se aproximava das pessoas”, entendia os problemas, dores e pecados:

“Porque estava próximo, entendia; mas acolhia, curava e ensinava com proximidade. Aquilo que dá autoridade a um pastor ou desperta a autoridade que é dada pelo Pai é a proximidade: proximidade a Deus na oração – um pastor que não reza, um pastor que não busca Deus perdeu a proximidade às pessoas. O pastor distante das pessoas não chega a elas com a mensagem. Proximidade, esta dupla proximidade. Esta é a unção do pastor que se comove diante do dom de Deus na oração, e se pode comover diante dos pecados, do problema, das doenças das pessoas: deixa comover o pastor”.

 Os escribas, prosseguiu o Papa, tinham perdido a “capacidade” de se comover justamente porque “não estavam nem próximos das pessoas nem de Deus”. E quando se perde esta proximidade, destacou Francisco, o pastor acaba “na incoerência de vida”:

"Jesus é claro nisto: “Façam aquilo que dizem” – dizem a verdade – “mas não aquilo que fazem”. A vida dupla. É duro ver pastores com vida dupla: é uma ferida na Igreja. Os pastores doentes, que perderam a autoridade e seguem em frente com esta vida dupla. Existem tantas maneiras de levar em frente esta vida dupla: mas é dupla... E Jesus é muito forte com eles. Não somente diz às pessoas para ouvi-los, mas para não fazer aquilo que fazem, mas o que diz a eles? “Mas vocês são sepulcros caiados”: belíssimos na doutrina, por fora. Mas por dentro, podridão. Este é o fim do pastor que não tem proximidade com Deus na oração e com as pessoas na compaixão”.

Francisco cita a primeira leitura e repropõe a figura de Ana, que ora ao Senhor pedindo para ter um filho homem, e do sacerdote, o “velho Eli”, que “era um fraco, havia perdido a proximidade com Deus e com as pessoas”: havia considerado que Ana estava embriagada. Ela pelo contrário, estava rezando em seu coração, movendo somente os lábios.

Foi ela a explicar a Eli  estar “amargurada” e a falar foi o “excesso” de sua “dor” e de sua “angústia”.

E enquanto ela falava, Eli “foi capaz de aproximar-se daquele coração”, até dizer para ir em paz: “Vai em paz e que o Deus de Israel te conceda o que lhe pediste”.

Deu-se conta – observa o Papa – “de ter errado e brotou de seu coração a bênção e a profecia”, porque depois Ana deu à luz a Samuel:

“Eu diria aos pastores que viveram a vida separados de Deus e do povo, das pessoas: “Mas, não percam a esperança. Sempre existe a possibilidade. Para isto foi suficiente olhar, aproximar-se a uma mulher, ouvi-la e despertar a autoridade para abençoar e profetizar; a profecia foi feita e o filho da mulher veio”. A autoridade: a autoridade, dom de Deus. Somente vem d’Ele. E Jesus a dá aos seus. Autoridade no falar, que vem da proximidade com Deus e com as pessoas, as duas coisas sempre juntas. Autoridade que é coerência, não dupla vida. É autoridade, e se um pastor a perde, que ao menos não perca a esperança, como Eli: sempre há tempo para aproximar-se e despertar a autoridade e a profecia”.


Fonte: Vatican News