21 fevereiro, 2018

A população mundial por grupos de países: 1950-2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

"Na revisão de 2010, a população mundial chegaria a 9,3 bilhões de habitantes em 2050 e de 10,1 bilhões de habitantes em 2100. Na revisão 2017, os números para a população total subiram mais ainda, para 9,8 bilhões em 2050 e 11,2 bilhões em 2100." 



O  artigo é de  José Eustáquio Diniz Alves, publicado por  EcoDebate , 21/02/2018.

A Divisão de População da ONU divulgou, em 21 de junho de 2017, a atualização dos cenários das projeções populacionais para todos os países e regiões. Na revisão de 2010, a população mundial chegaria a 9,3 bilhões de habitantes em 2050 e de 10,1 bilhões de habitantes em 2100. Na revisão 2017, os números para a população total subiram mais ainda, para 9,8 bilhões em 2050 e 11,2 bilhões em 2100.

O motivo da diferença está na redução mais lenta das taxas de fecundidade nos países de renda média (menos desenvolvidos) e baixa (muito menos desenvolvidos). Na revisão de 2010 da UN/ESA, a projeção da população em 2100 dos países desenvolvidos era de 1,33 bilhão, dos países menos desenvolvidos de 6,1 bilhões e dos países muito menos desenvolvidos de 2,7 bilhões. Na revisão 2017, os números passaram para 1,28 bilhão, 3,2 bilhões e 6,7 bilhões, respectivamente, conforme mostra o gráfico acima.

Ou seja, a população dos países desenvolvidos, com 1,26 bilhão de habitantes em 2017, deve ficar praticamente estável até 2100 (mesmo recebendo imigrantes dos países mais pobres). Em compensação, as projeções para os países não desenvolvidos indicam um aumento maior do que o previsto anteriormente. Isto porque as taxas de fecundidade não estão caindo no ritmo projetado anteriormente.

A população mundial em 2017 foi estimada em 7,6 bilhões de habitantes e projetada para 8,6 bilhões em 2030. O mundo terá mais 1 bilhão de habitantes nos próximos 13 anos e praticamente a totalidade deste incremento vai ocorrer nos países menos desenvolvidos (renda média) ou muito menos desenvolvidos (renda baixa).
O gráfico abaixo mostra que a população dos países desenvolvidos representava 32,1% do total em 1950 e deve cair para 11,5% em 2100. O percentual dos países menos desenvolvidos (renda média) deve se manter praticamente estável em torno de 60%. O percentual dos países muito menos desenvolvidos (renda baixa) vai subir de 7,7% do total populacional de 1950 para 28,6% em 2100.


O maior crescimento demográfico do século XXI deve ocorrer no grupo dos países mais pobres. O mundo caminha para uma situação em que os países desenvolvidos vão ter que enfrentar os problemas decorrentes do envelhecimento populacional, enquanto os países pobres, especialmente da África Subsaariana, vão ter que enfrentar os problemas decorrentes da “bolha de jovens” com poucas oportunidades de educação e emprego. A migração poderia ser uma solução parcial, mas dificilmente o fluxo de pessoas conseguirá romper as barreiras da xenofobia e das dificuldades de integração de populações com características econômicas, sociais e culturais tão diversas. A crise migratória do Mediterrâneo deve se agravar ao longo do século.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) calcula que existam 225 milhões de mulheres sem acesso aos métodos de regulação da fecundidade. Isto quer dizer que é grande o número de gravidez indesejada, especialmente entre as pessoas mais pobres e mais necessitadas. Nem os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) e nem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) realizaram os devidos esforços para universalizar o acesso à saúde sexual e reprodutiva.

O mundo de hoje, com 7,6 bilhões de habitantes, já tem uma Pegada Ecológica 68% maior do que a biocapacidade da Terra e já ultrapassou 4 das 9 fronteiras planetárias, segundo metodologia do Stockholm Resilience Centre. O aquecimento global e a degradação dos ecossistemas agravam as perspectivas para as próximas décadas. Um acréscimo de quase 4 bilhões de habitantes nos próximos 83 anos vai colocar um grande desafio para a humanidade, que terá de garantir qualidade de vida para toda esta população, sem comprometer ainda mais as condições do meio ambiente e a garantia dos direitos da biodiversidade.

Melhor seria se o mundo tivesse no caminho do decrescimento demoeconômico. Com menos pessoas e menor consumo a Pegada Ecológica poderia ficar em equilíbrio com a biocapacidade do Planeta e a humanidade poderia respeitar as fronteiras planetária e viver harmoniosamente dentro da comunidade biótica, evitando a 6ª extinção em massa das espécies. A Terra seria um lugar melhor com menos gente e mais biodiversidade.

Referências:

UN Population Division (2017). World Population Prospects: The 2017 Revision
https://esa.un.org/unpd/wpp/

Classification of countries by region, income group and subregion of the world
https://esa.un.org/unpd/wpp/General/Files/Definition_of_Regions.pdf

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br