14 maio, 2018

130 anos de uma abolição inacabada

130 anos de uma abolição inacabada


Fonte: Brasil de Fato
https://www.brasildefato.com.br/2018/05/13/130-anos-de-uma-abolicao-inacabada/

Muito além da princesa Isabel, 6 brasileiros que lutaram pelo fim da escravidão no Brasil

O fim da escravidão no Brasil completa 130 anos em 13 de maio deste ano. Em 1888, a princesa Isabel, filha do imperador do Brasil Pedro 2º, assinou a Lei Áurea, decretando a abolição - sem nenhuma medida de compensação ou apoio aos ex-escravos.


A decisão veio após mais de três séculos de escravidão, que resultaram em 4,9 milhões de africanos traficados para o Brasil, sendo que mais de 600 mil morreram no caminho.

- Especial 130 anos da abolição: A luta esquecida dos negros pelo fim da escravidão

Abolição da escravidão em 1888 foi votada pela elite evitando a reforma agrária, diz historiador

Mas a abolição no Brasil está longe de ter sido uma benevolência da monarquia. Na verdade, foi resultado de diversos fatores, entre eles, o crescimento do movimento abolicionista na década de 1880, cuja força não podia mais ser contida.

Entre as formas de resistência, estavam grandes embates parlamentares, manifestações artísticas, até revoltas e fugas massivas de escravos, que a polícia e o Exército não conseguiam - e, a partir de certo ponto, não queriam - reprimir. Em 1884, quatro anos antes do Brasil, os Estados do Ceará e do Amazonas acabaram com a escravidão, dando ainda mais força para o movimento.

A disputa continuou no pós-libertação, para que novas políticas fossem criadas destinando terras e indenizações aos ex-escravos - o que nunca ocorreu.

Conheça as histórias de seis brasileiros protagonistas na luta pelo fim da escravidão. CLIQUE AQUI

Uma linda e abençoada semana a todas e a todos!

"Toda ofensa, ferida ou violência ao corpo do nosso próximo é um ultraje a Deus Criador e Pai." (Papa Francisco) 

Escravidão moderna



Escravidão moderna

De acordo com estatísticas recentes, atualmente existem mais de 40 milhões de pessoas, homens, mas principalmente mulheres e crianças, em situação de escravidão.

O artigo é de Silvonei José  , publicado por Vatican News. 12/05/2018.

No início desta semana o Papa Francisco voltou a tocar a tecla da escravidão moderna, e o fez através de uma mensagem vídeo enviada ao 2º Fórum Internacional sobre as formas modernas de escravidão intitulado “Velhos problemas no novo mundo”. O encontro foi organizado em Buenos Aires, pela arquidiocese ortodoxa local e pelo Instituto Ortodoxo “Patriarca Atenágoras” de Berkley, EUA. O fórum se concluiu na terça-feira, dia 08 de maio. 

Compromisso comum

Contra as formas modernas de escravidão, devemos “rasgar o véu da indiferença que cobre o destino” das vítimas, criar para elas, através de “uma educação de qualidade, novas oportunidades de crescimento através do trabalho”. E as igrejas – disse o Papa -, são chamadas a um compromisso comum neste desafio, “para a construção de uma sociedade renovada”.

Já no início de sua mensagem, em espanhol, Bergoglio recorda que a escravidão não é algo de outros tempos, mas tem profundas raízes e se manifesta ainda hoje de várias formas: “tráfico de seres humanos, exploração do trabalho por meio de dívidas, exploração de crianças, exploração sexual e trabalho doméstico forçado são algumas das muitas formas”. Cada uma delas – volta a reafirmar Francisco -, “é mais grave e desumana que a outra”.

Crime contra a humanidade

De acordo com estatísticas recentes, atualmente existem mais de 40 milhões de pessoas, homens, mas principalmente mulheres e crianças, em situação de escravidão e para o Papa a primeira grande tarefa, é conhecer o tema, pois “ninguém pode ficar indiferente e, de modo algum, ser cúmplice desse crime contra a humanidade”.

Nas suas palavras Francisco evidencia que muitas pessoas que estão envolvidas com organizações criminosas, não desejam que se fale sobre o assunto, simplesmente pelo fato de que ganham muito dinheiro graças “às novas formas de escravidão”. Mas também, e essa é a outra constatação do Santo Padre, há aqueles que, apesar de conhecerem o problema, não querem falar porque estão no fim da “rede de consumo”, como consumidores dos “serviços”; serviços oferecidos por homens, mulheres e crianças que se tornaram escravos.

Não podemos nos distrair 

Somos todos chamados a deixar as formas de hipocrisia. Não podemos nos distrair - afirma o Papa -, devemos enfrentar a realidade pois o problema não está nas calçadas diante de nós: o problema nos envolve. “Não podemos olhar para outro lado e declarar a nossa ignorância ou nossa inocência”.

Mas Francisco não para por aqui, vai mais longe. Pede para agir em favor dos que se tornaram escravos. É preciso defender seus direitos, impedir que os corruptos e os criminosos escapem da justiça e mantenham o controle sobre as pessoas escravizadas. Não são suficientes políticas de Governos e Organismos Internacionais para o combate da exploração de seres humanos, se as causas não forem enfrentadas, ou seja, “as raízes mais profundas do problema”.

Quando os países vivem a pobreza extrema, a violência e a corrupção, nem a economia, nem o quadro legislativo e nem as infraestruturas de base são eficazes. Assim não conseguem garantir a segurança, os bens e os direitos essenciais. Deste modo, é mais fácil que os autores desses crimes continuem agindo na mais total impunidade.

O crime organizado e o tráfico ilegal de seres humanos escolhem as vítimas entre as pessoas que hoje possuem meios escassos de subsistência e menos esperança de futuro. Elas estão “entre os mais pobres, marginalizados e descartados”. A resposta, diz Francisco é criar oportunidades para um desenvolvimento humano integral, iniciando pela educação de qualidade: este é o ponto chave, “educação e trabalho”.

Liberdade, justiça e paz

É necessário então um grande trabalho, um esforço comum e global por parte de toda a sociedade. E a Igreja – enfatiza o Papa – “deve se comprometer nessa tarefa. Devemos construir juntos uma sociedade renovada e orientada à liberdade, à justiça e à paz.

Enquanto indivíduos e grupos especulam vergonhosamente sobre a escravidão de pessoas, nós cristãos, todos juntos, somos chamados a desenvolver sempre mais uma maior colaboração para superar todo tipo de desigualdade, todo tipo de discriminação, que são precisamente o que torna possível o fato de um homem se tornar escravo de outro homem.

É um exército de deserdados do qual o Papa Francisco é rosto e voz.

Abolição da escravidão em 1888 foi votada pela elite evitando a reforma agrária, diz historiador


Vale a pena ler a entrevista

"130 anos é pouco tempo, só cerca de quatro gerações. Mesmo assim, parece muito distante. Por que temos a impressão de que a escravidão é um passado tão longínquo"


Em entrevista para a BBC Brasil, o historiador Luiz Felipe de Alencastro, um dos maiores especialistas em escravidão, afirma ainda que a violência contra o escravo contamina a sociedade até hoje.

Leia a entrevista AQUI