15 maio, 2018

Cristão se alimenta do Evangelho, não de autoajuda - Roberto Malvezzi (Gogó)

Roberto Malvezzi (Gogó) 
  
Não leio livrinhos de autoajuda, muito menos esses escritos por padres e pastores. Tenho um evangelho para ler, com sua boa-nova e suas cruzes. Assim é a vida, assim é o Deus dos vivos e não um Deus de mortos (Lucas 20,38). De resto, somente bons livros, tantas vezes difíceis, mas que ajudam a entender o mundo.

Na vida tudo acontece simultaneamente. Nesse momento, enquanto escrevo, outros estudam para aprender a escrever, outros permanecerão analfabetos. Enquanto alguns estão doentes, outros fazem festa. Enquanto alguns se alegram, outros se entristecem. Enquanto alguns comem, outros passam fome. Enquanto alguns viajam, outros estão presos. Enquanto alguns nascem, outros morrem.

Por isso, é preciso rir com quem ri e chorar com quem chora (Romanos 12,15). Não há vida só de risos, não é possível excluir as agruras e cruzes de nossas vidas. É possível que Deus nos ajude a carrega-las, afinal, aprendemos que sua cruz é leve e seu peso suave (Mateus 11,30). A cruz de Deus não é desumana e cruel como as do capitalismo, que impõe jornadas de trabalho acima da capacidade humana, a um salário indigno dos animais. Ainda mais, temos que ajudar as pessoas a carregar suas cruzes, até porque também precisamos que outros nos ajudem a   carregar as nossas (Gálatas 6,2).

Princípio moral é o evangélico, isto é, “a quem muito foi dado, muito será cobrado” (Lucas 12,48). Portanto, a quem pouco foi dado, pouco será cobrado. A quem nada foi dado, nada será cobrado. Deus se curva diante da situação de cada um, não há princípios gerais iguais para todos e todas como se não houvesse diferença entre a situação de um e de outro. Não é relativismo moral, é justiça.

Não passo correntes para frente, não aceito ameaças caso não passe, não pago boletos recebidos por correio caso não seja pedido, mesmo que seja em nome de santos, de causas nobres ou mesmo de Igrejas. Faço minhas contribuições conscientemente.

Não vou à missas de cura e libertação, a sessões de descarrego e exorcismos, a outras magias que inseriram no cardápio de missas e cultos. Toda missa é de libertação, ou não é missa.

Em tempos de manipulações religiosas, de gente que se enriquece em nome de Deus, de pressões sobre as consciências frágeis, é melhor nos atermos à essência do Evangelho: “amarás a teu Deus de todo teu coração, com todas as tuas forças e com toda tua alma. Amarás a teu próximo como ti mesmo” (Lucas 10,26-27). “Cultivar e guardar a criação” (Gênesis 2,15).

Nesse tripé bíblico escapamos dos mercenários, do cativeiro das magias e dos mágicos religiosos de nosso tempo.

Cela engradeada do mundo que queremos transformar!

"Quando o policial que me foi buscar me levou para fora e a porta se fechou atrás de mim, me deu a sensação profunda de algo diferente. Senti como se eu tivesse saído de um espaço de liberdade espiritual e tivesse entrando na cela engradeada do mundo que queremos transformar".

Monge Marcelo Barros, em visita ao Lula no dia 14, segunda-feira.

O testemunho cristão acolhe e também incomoda!

Ser cristã, cristão, é dar testemunho, responder com a própria vida aos apelos do Reino e contestar profeticamente à iniquidade. É ser coerente com o anúncio e a prática, é ser testemunha de Cristo.

A ressurreição de Cristo para aquelas e aqueles que com Ele caminhavam os encheram de alegria, embora havia medo e dúvidas, a ressurreição é o fundamento da liberdade de testemunhar e com a descida do Espírito Santos sobre elas e eles o medo e dúvidas foram eliminados, o Espírito Santos os deu entendimento e coragem.

O que levou o mundo a aproximar da Igreja, foi o modo como as pessoas viviam de acordo com o que acreditavam e pregavam, isso é o Testemunho Cristão.

O texto de Atos 2,42 inicia dizendo: “Eram perseverantes...". Esse “Eram” indica que os quase três mil convertidos (At 2,41) que acabara de receber o batismo, acolhidos na Igreja, já estavam atuantes nas atividades descrita neste texto e testemunhava o Cristo ressuscitado. Novos na fé e perseverantes no caminho junto de Jesus e sua Igreja. Havia neles ousadia e serviço fazendo diferença em sua cidade, sua comunidade com o testemunho.

O relato dos Atos dos Apóstolos apresenta uma comunidade que vai se formando a partir do testemunho de se colocar em comum, além de bens econômicos, os carismas e dons de cada um (At 2,44-45), e do testemunho de uma evangelização aberta ao outro, ao acolhimento (At 11, 1-18), uma abertura ao diálogo com pessoas de diferentes religiões e culturas (At 17:22-28), e o testemunho profético (At 5,27-33).

O testemunho cristão acolhe e incomoda.

Unir saberes populares e acadêmicos para fomentar conhecimento e aprendizado!

Segue o texto que escrevi para ajudar a compreender a "Escola de Formadores e Articuladores para as CEBs"


Unir saberes populares e acadêmicos para fomentar conhecimento e aprendizado!

Fomentar conhecimento e aprendizado para um povo que em comunidade seja fermento de transformação em nossa Igreja Comunidades Eclesiais de Base, as CEBs, unir os saberes popular e os saberes acadêmicos, unir quem tem a sabedoria popular e quem tem conhecimento acadêmico.

Na pedagogia é através das palavras de Paulo Freire “paixão de conhecer”, é o saber que vai direcionando qual a melhor atitude a adotar nos diferentes contextos que a vida nos apresenta a partir do conhecimento próprio e rotineiro do povo e que permite discernir qual o melhor caminho a seguir.

A sabedoria popular é proveniente da relação com a natureza, com o meio ambiente e com a comunidade na qual se está inserido. E vejam, são tantos exemplos de sábias e sábios populares e são muitas pessoas reconhecidas como profetisas e profetas, o conhecimento popular, mistérios não compreendidos por uns e compreendidos e acolhidos por muitos.

A formação na mística das CEBs precisa ser uma mistura dos saberes populares e acadêmicos, reconhecer e valorizar esses saberes e as e os que possuem esses saberes.

Preocupar-se com a formação de nossas lideranças e do povo que formam a base da Igreja, hoje temos como espaço de formação em nossas CEBs os Grupos de Reflexão, a Catequese e as Pastorais e queremos oferecer a nossa Arquidiocese de Maringá (Paróquias e CEBs) e as Dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama, formadores e articuladores através da Escola de Formadores e Articuladores para as CEBs, na mística da caminhada tão longa e frutuosa de nossas Comunidades Eclesiais de Base.

Valorizando e unindo, nossas lideranças que tem o conhecimento popular, ou seja, através da experiência adquirida no dia a dia e os que possuem experiência adquirida também acadêmica. Misturar essas lideranças para fomentar nosso povo capacitando-os.

É preciso pensar as CEBs missionariamente a partir do compromisso com os pobres, marginalizados e afastados. Animados pela voz profética presente em Êxodo, 3:7 – “Eu vi, ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo”. Uma Igreja ousada e samaritana presente nas periferias geográficas e “periferias existenciais” onde há sofrimento, solidão e degrado humano.

A cidade e também o campo são hoje um grande desafio, principalmente com o Papa Francisco insistindo na ideia de uma “Igreja em saída”, que “rompe com a crosta do egoísmo” (D. Hélder Câmara), uma Igreja capaz de encarar os desafios de frente, que saiba dialogar com aquelas discípulas e aqueles discípulos, que, fugindo de Jerusalém, vagam sem meta, sozinhos, com o seu próprio desencanto, com a desilusão de uma igreja ainda fechada e estacionada.

Coordenar uma CEB, ser agente de pastoral, animar um grupo de reflexão nunca foi fácil. Para Francisco “Evangelizar é uma alegria”, é preciso pedir a graça de não cair num anúncio “aborrecido e triste”. A igreja tem o compromisso de ajudar na formação e na articulação de seus membros para estarem preparados para lidar com os problemas atuais e, acima de tudo, pensar e refletir as soluções para enfrentar essas dificuldades.

Nessa perspectiva nasce a “Escola de Formação de Formadores e Articuladores para as CEBs”, que terá sua primeira etapa no dia trinta de junho desse ano de 2018.

Maria e José que souberam com a sabedoria popular educar Jesus intercedam por nós e com a benção de nosso Deus a escola possa ser instrumento para capacitar formadores e articuladores para ir a base e ajudar a formar o povo que são a base de nossa Igreja.

A Doutrina Social da Igreja é uma construção histórico-teológica que se atualiza sempre

Por ocasião da celebração dos 127 anos da publicação da Rerum Novarum, lançada em 15 de maio de 1891, pelo papa Leão XIII, o bispo de Jales (SP) e referencial da Pastoral Operária Nacional, dom Reginaldo Andrietta fala sobre a encíclica que deu início à sistematização do pensamento social da Igreja. Para ele a doutrina social da Igreja está integrada intimamente à sua missão evangelizadora, o que determina desdobramentos importantes em suas práticas, principalmente nos países mais pobres. Na entrevista, além de falar sobre o moderno pensamento social da Igreja, o religioso afirma que é desafio, hoje, para a instituição mostrar de modo mais claro que o ser humano é essencialmente relacional, portanto, social. “Em cada uma de suas relações essenciais (com Deus, com o outro, com o mundo, com a criação e consigo mesmo), Jesus Cristo revela ao homem o caminho da amorização, como caminho de salvação”, disse. Acompanhe a íntegra da entrevista.


Confira a entrevista:

No próximo dia 15 de maio, completam-se 127 anos de publicação da Rerum Novarum, Encíclica que, muitos consideram, deu início à sistematização do pensamento social católico, conhecido mais tarde como Doutrina Social da Igreja. O que dessa Encíclica, podemos afirmar que continua válido para os dias atuais?

A Igreja, no contexto que o Papa Leão XIII escreveu a Encíclica Rerum Novarum, havia começado, timidamente, um diálogo com a modernidade, reconhecendo a importância de analisar questões econômicas, políticas, sociais e culturais, e posicionar-se diante delas de modo mais lúcido e eficiente.

Graças a essa abertura, ela passou a analisar questões societárias de modo sempre mais sistemático, posicionando-se oficialmente frente a questões diversificadas que foram emergindo conforme os diferentes contextos históricos. Ela conservou, no entanto, seu foco em duas questões principais, assinaladas pela Rerum Novarum: a relação entre capital e trabalho e a relação entre bem particular e bem comum.

Essas duas questões entrelaçadas se tornaram marcos referenciais no desenvolvimento da Doutrina Social da Igreja, explicitamente presentes ou subjacentes nos muitos documentos pontifícios que continuaram a tratar questões sociais, vários deles comemorando aniversários da Rerum Novarum.

Quais outros documentos que integram a moderna Doutrina Social da Igreja o senhor considera importantes?

A Doutrina Social da Igreja, entendida como conjunto de escritos, mensagens, cartas, encíclicas, exortações, pronunciamentos e declarações que compõem o pensamento do magistério católico a respeito da chamada “questão social”, é muito importante no seu todo.

A Igreja, desde suas origens, sempre esteve confrontada a essa questão. Embora sua doutrina tenha se convencionado como social somente a partir da Encíclica Rerum Novarum, não se pode dizer que os problemas sociais estivessem ausentes de seus posicionamentos anteriores, muito menos da sua prática. Aliás, a Doutrina Social da Igreja tem como fonte as Sagradas Escrituras.

Referências à situação dos pobres, sob a ótica da libertação e da justiça social no Antigo e Novo Testamentos, bem como nos primeiros séculos do cristianismo e em toda a tradição católica, são abundantes. O confronto entre justiça humana e justiça divina é um dos eixos fundamentais da tradição judaico-cristã. A fonte inspiradora é a própria identidade de Deus, como Trindade, ou seja comunidade perfeita. O ser humano é, por natureza, relacional, vocacionado a ser sua imagem e semelhança.

Daí o questionamento feito nas Sagradas Escrituras, em particular no livro do Gênesis, à autossuficiência humana. A existência humana é, na realidade, coexistência. A qualidade de relações entre os seres humanos e destes com a criação e com Deus, é central na tradição judaico-cristã. A própria contemplação da Trindade, diz Santo Agostinho, obtém-se pela caridade, ou seja, pela dimensão de comunhão e solidariedade entre seres humanos.

A Doutrina Social da Igreja, convencionada como tal a partir da Rerum Novarum, é fruto dessa construção histórico-teológica que se atualiza sempre. Muitos documentos pontifícios deram sequência ao tratamento de questões sociais, tais como: Encíclica Quadragésimo Anno de Pio XI (1931); Mensagens de Rádio de Pio XII (1941 e 1951); Encíclicas Mater et Magistra (1961) e Pacem in Terris (1963), de João XXIII; Encíclica Populorum Progressio (1967) e da Carta Apostólica Octogesima Adveniens (1971), de Paulo VI; Encíclicas Laborem Exercens (1981), Sollicitudo Rei Socialis (1987) e Centesimus Annus (1991), de João Paulo II; Encíclica Caritas in Veritate (2009), de Bento XVI; Exortação Apostólica Evangelli Gaudium (2014) e Encíclica Laudato Si (2015), do Papa Francisco.

O Sínodo dos Bispos de 1971 sobre a Justiça no mundo e os numerosíssimos pronunciamentos de Conferências Episcopais nacionais e continentais, tratando problemas sociais específicos de cada país e continente, se tornaram também referências importantes do pensamento social católico.

Em síntese, a Igreja Católica considera que sua Doutrina Social está integrada intimamente à sua missão evangelizadora, o que determina desdobramentos importantes em suas práticas, principalmente nos países mais pobres. Foi a partir das preocupações sociais da Igreja que se desenvolveram, por exemplo, as várias Teologias da Libertação contextualizadas, assim como as Comunidades Eclesiais de Base e muitos movimentos, pastorais e entidades da Igreja, de cunho social.

A tradução de Rerum Novarum, do latim ao português, significa “das Coisas Novas”. O que é preciso ser renovado hoje quando falamos de pensamento social da Igreja?

O modelo preponderante de sociedade e de desenvolvimento promovido nos tempos atuais é economicista. A Igreja necessita tratar essa questão com mais cientificidade, assegurando um olhar teológico atualizado. Paulo VI já alertava em sua Encíclica Populorum Progressio: “O desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento econômico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todos os seres humanos e o ser humano no seu todo”.

Essa visão tem como base a antropologia cristã fundada na premissa de que o ser humano só se realiza plenamente enquanto relacional, abrindo-se a todas as dimensões que lhe constituem como pessoa e à sua transcendência. Chamada a realizar-se, a pessoa só alcança esse objetivo, transcendendo-se na relação com Deus, com o outro e com o mundo. À medida que o ser humano se fecha a qualquer uma das suas relações, caminha na direção contrária do seu devir, tornando-se autossuficiente, portanto, contraditoriamente, menos humano.

O individualismo, na sua forma pós-moderna, nega a relacionalidade. Nos tempos atuais, o individualismo é vivido ao extremo, sob as “regras” do mercado neoliberal e sob a influência sempre maior da razão tecnocientífica. Nesse contexto de hiperindividualismo narcísico, o ser humano se encontra desorientado, correndo atrás de uma felicidade paradoxal, alcançando, no mais das vezes, a própria decepção.

Em consonância com a Populorum Progressio, somente na perspectiva integrada de sua personalidade, ou seja, integrando todas as suas dimensões constitutivas, é que o ser humano pode alcançar a sua plena realização. Apesar dessa clareza, a busca de realização plena do ser humano permanecerá um mistério. A esse respeito, a Constituição Pastoral Gaudium et Spes diz que o mistério do ser humano só se esclarece verdadeiramente em Jesus Cristo, pois Cristo revela o ser humano a si mesmo e lhe desvela sua vocação sublime de viver dignamente irmanado no amor divino.

Em suma, o pensamento social da Igreja tem como desafio, hoje, mostrar de modo mais claro que o ser humano é essencialmente relacional, portanto, social. Em cada uma de suas relações essenciais, com Deus, com o outro, com o mundo, com a criação e consigo mesmo, Jesus Cristo revela-lhe o caminho da amorização, como caminho de salvação.

Fonte: Site CNBB