31 agosto, 2023

Não ao marco temporal!

Hoje, volta a votação a respeito do marco temporal

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem manifestada contra o marco temporal.


Não ao marco temporal!

Hoje, volta a votação a respeito do marco temporal

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem manifestada contra o marco temporal.

O marco temporal é uma tese jurídica que defende que os povos indígenas só têm direito à demarcação de seus territórios tradicionais se estivessem ocupando essas terras em 5 de outubro de 1988, data da publicação da Constituição Federal do Brasil. Segundo essa tese, as terras que estavam desocupadas ou ocupadas por outras pessoas naquela data não podem ser demarcadas como terras indígenas. Esses territórios podem ser considerados propriedade de particulares ou do Estado, e não mais dos povos originários que a habitam.

O agronegócio e setores que pretendem explorar os territórios tradicionais defendem a tese, a CNBB tem manifestada contraria a tese, certa está CNBB, o artigo 231 da Constituição Federal garante aos povos indígenas o direito originário sobre as terras que tradicionalmente ocupam:

“Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.”

Para o arcebispo de Manaus e presidente do regional Norte 1 da CNBB “Se aprovado será um marco de continuidade da destruição”, e segundo ele “Será um marco de continuidade de morte dos povos indígenas, de desrespeito em relação aos povos indígenas”.

Segundo a nota técnica da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) sobre o marco temporal, as terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas são a principal condição da manutenção de sua sobrevivência física e cultural.

30 agosto, 2023

Papa anuncia publicação da segunda parte da Laudato Si

4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, é a data de publicação de uma Exortação Apostólica que atualiza questões concernentes ao cuidado da criação.

Imagem da reserva natural na Nicarágua
Fonte da Imagem: Vatican News

Vatican News

No final da Audiência Geral desta quarta-feira, 30, o Papa anunciou que a segunda parte da Laudato si' será publicada na forma de Exortação Apostólica em 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, que conclui o "Tempo ecumênico da Criação", que tem início em 1° de setembro e cujo tema em 2023 é «Que jorrem a justiça e a paz»:

Permanecer ao lado das vítimas da injustiça ambiental

Nessa data tenho a intenção de publicar uma Exortação, uma segunda Laudato si’. Unamo-nos aos nossos irmãos e irmãs cristãos no compromisso de salvaguardar a Criação como um dom sagrado do Criador.

Francisco já havia antecipado em 21 de agosto que estava "escrevendo uma segunda parte da Laudato si’ para atualizar as questões", ao receber uma delegação de advogados de países membros do Conselho da Europa.

Continuando seu apelo na AudiÇencia desta quarta-feira, o Papa resume o cerne da Mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação divulgada em maio:

É necessário permanecer ao lado das vítimas da injustiça ambiental e climática, esforçando-se para acabar com a guerra sem sentido contra nossa casa comum, que é uma guerra mundial terrível. Exorto todos vocês a trabalhar e rezar para que ela volte a transbordar de vida.

Transformar políticas públicas

Na Mensagem, o Papa propõe “transformar os nossos corações, os nossos estilos de vida e as políticas públicas que regem as nossas sociedades”. Falou novamente da conversão ecológica e da necessidade de não considerar mais a criação como um objeto a ser explorado, mas uma realidade a ser preservada “como um dom sagrado do Criador”.

Neste mesmo texto da mensagem, o Pontífice insiste na necessidade de “transformar as políticas públicas que regem as nossas sociedades e moldam a vida dos jovens de hoje e de amanhã.”. Ele sublinha ainda a importância da sinodalidade e espera “neste Tempo da Criação, como seguidores de Cristo no nosso caminho sinodal comum, vivamos, trabalhemos e rezemos para que a nossa casa comum seja novamente repleta de vida”.

25 agosto, 2023

Padre João Caruana será nome de Praça em Sarandi

Padre João Caruana será nome de Praça em Sarandi

No próximo sábado, 26, será inaugurada a Praça João Caruana, localizada na estrada Mauro Trindade, Jardim Aurora 4, em Sarandi. A solenidade de inauguração, com bênção, será às 9h.



A lei municipal, de autoria dos vereadores Eunildo Zanchim e Fábio de Souza Silveira, foi promulgada no dia 15 de agosto pelo prefeito de Sarandi, Walter Volpato.

Padre João Caruana faleceu no dia 28 de junho de 2022, aos 81 anos. Nasceu em 03 de junho de 1941, na cidade de Mosta, em Malta. Foi ordenado padre em sua terra natal no dia 11 de março de 1967.

O presbítero chegou ao Brasil em 1984 e trabalhou nas paróquias Santa Terezinha do Menino Jesus, Nossa Senhora das Graças e São Paulo Apóstolo, em Sarandi, São Silvestre em Maringá e por dois anos foi missionário na Diocese Guajará-Mirim em Rondônia – “Igreja Irmã” da Arquidiocese de Maringá, dentro do projeto “Igrejas Irmãs”, da CNBB.

Padre Caruana exerceu relevante trabalho com as Comunidades Eclesiais de Base e pastorais sociais.


Fonte do texto: Site da Arquidiocese de Maringá.


CEBs - Projeto Iniciação à Vida Cristã (IVC)

Arquidiocese de Maringá

CEBs - Projeto IVC
Formação: Introdutora e introdutor

Região Pastoral Sarandi Nossa Senhora das Graças
24/08/2023



Paglia: a economia deve ser regulada pela lógica da solidariedade, menos desperdício


Paglia: a economia deve ser regulada pela lógica da solidariedade, menos desperdício

O presidente da Pontifícia Academia para a Vida falou em uma conferência da FAO em Santiago, Chile, destacando que, para enfrentar o triste fenômeno do desperdício de alimentos, os agentes econômicos devem reconhecer sua responsabilidade social e a interconexão que existe entre todos os indivíduos. Mas também precisamos de dados concretos e mudanças nos hábitos alimentares.

Tiziana Campisi – Vatican News


O desperdício de alimentos marca o destino de milhões de pessoas, e a questão da alimentação não pode ser abordada apenas em uma lógica puramente econômica e de mercado. Isso foi enfatizado por dom Vincenzo Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida, falando na conferência "Prevenir e reduzir a perda e o desperdício de alimentos no contexto da segurança alimentar e nutricional. Um desafio intersetorial", organizada em Santiago, Chile, nesta quinta-feira, 24 de agosto, na sede da Representação da FAO para a América Latina e o Caribe. O prelado, que está na América Latina desde quarta-feira para uma viagem que, até 30 de agosto, incluirá paradas na Argentina e no Chile, abordou o tema lembrando, em primeiro lugar, o que o Papa Francisco disse em 18 de maio de 2019 em seu discurso à Federação Europeia de Bancos de Alimentos: "desperdiçar alimentos significa descartar pessoas", acrescentando que esse descarte de pessoas "é intolerável, insuportável, execrável, uma fonte de imensa vergonha" e que todos são "responsáveis diante de Deus e diante da história".

Desperdício de alimentos e subnutrição

Embora o desperdício de alimentos na América Latina tenha uma porcentagem baixa, cobrindo apenas 6% do desperdício mundial de alimentos, há, no entanto, 47 milhões de pessoas subnutridas no continente, disse dom Paglia, ressaltando que a taxa de subnutrição aumentou nos últimos anos, mas que os 69 kg de alimentos desperdiçados anualmente por cada habitante - um número registrado pela ONU - poderiam contribuir significativamente para a nutrição de 30 milhões dessas pessoas. Há situações trágicas em alguns países, acrescentou o prelado, que relatou uma visita que fez ao Haiti há dois anos e às favelas da capital Porto Príncipe, onde encontrou "pessoas inchadas com alimentos não saudáveis ou atormentadas por uma desnutrição crônica". "Como é possível continuar a fingir que nada está acontecendo, a suportar isso, a não fazer nada?", foi sua amarga reflexão, com um convite "a enfrentar a questão com seriedade e responsabilidade".

A lógica da solidariedade

Ocorre que a estrutura econômica na qual se baseia a produção, a distribuição e o processamento de alimentos "excede, é maior", mas "a economia não pode ser considerada como um fim em si mesma", observou dom Paglia, "mas como um meio a serviço da vida das pessoas e da construção de uma sociedade justa". O Papa Francisco havia apontado isso em sua Mensagem para o Dia da Alimentação de 2021, escrevendo que "a luta contra a fome exige a superação da lógica fria do mercado, focada avidamente no mero benefício econômico e na redução dos alimentos a uma mercadoria como tantas outras, e o fortalecimento da lógica da solidariedade". Esta última, observou o prelado, deve levar à consideração de que "toda experiência humana, inclusive a econômica, se insere e coopera na construção de uma família humana fraterna", como o próprio Pontífice afirmou na Fratelli tutti Fratelli tutti. Portanto, para os agentes econômicos, isso significa reconhecer "a responsabilidade social de seu trabalho, a interconexão entre diferentes sujeitos, o cuidado com as pessoas e com o mundo em que habitam".

Três caminhos para não desperdiçar

Para o presidente da Pontifícia Academia, "para que ninguém fique excluído da mesa da vida", há "três caminhos concretos de trabalho" a serem seguidos. Em primeiro lugar, relatar os dados sobre o desperdício de alimentos e, portanto, avaliar "o peso social desse fenômeno", em relação ao qual "não é indiferente o número de horas de trabalho desperdiçadas ou o custo energético de tais atividades não concluídas", de modo que também seria necessário "dizer qual é a perda em termos sociais e humanos por trás do desperdício de um produto agrícola". Em segundo lugar, é necessário analisar toda a cadeia alimentar, continuou dom Paglia, porque "o desperdício de alimentos só pode ser enfrentado por meio de uma visão abrangente da realidade", portanto, é preciso considerar "a grande distribuição organizada de supermercados e mercados informais ao longo das estradas, as tecnologias mais refinadas e as mais antigas sabedorias camponesas".

Por fim, é necessário "mostrar o valor do alimento e da mesa". Esse é o caminho cultural. "Precisamos de uma abordagem responsável, até mesmo espiritual", disse o prelado, ressaltando que estudos "mostram que um dos principais passos para reduzir o desperdício de alimentos é a educação, que permite a mudança de práticas domésticas que, de outra forma, seriam prejudiciais". "Se uma pessoa está ciente da dignidade e da bondade de si mesma, de seus entes queridos e dos bens que tem à sua disposição", concluiu dom Paglia, "então ela desperdiça menos e faz da alimentação um ato profundamente humano".

Fonte: Vatican News

24 agosto, 2023

CEBs - Projeto Iniciação à Vida Cristã (IVC)

Arquidiocese de Maringá
CEBs - Comunidades Eclesiais de Base
Projeto Iniciação à Vida Cristã (IVC)
Formação: Introdutora e introdutor
Região Pastoral São José
23/08/2023




22 agosto, 2023

#15º Intereclesial de CEBs: Bênçãos e Desafios



15º Intereclesial de CEBs: Bênçãos e Desafios

A reflexão é de Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo, em artigo publicado por Portal das CEBs, 21/08/2023.

Para quem teve a graça de participar do 15º Intereclesial das CEBs, sem dúvida, a primeira reação só pode ser de gratidão a Deus e aos irmãos e irmãs da equipe de coordenação e das diversas equipes de serviço que prepararam e estiveram à frente da organização desse encontro intereclesial.

Eram 18 horas da terça-feira, 18 de julho, quando chegou o último ônibus organizado pela CNBB do Regional MT, ao Centro de Cultura de um dos bairros de Rondonópolis, MT, local dos grandes plenários do 15º Intereclesial das CEBs. Eu estava ainda entrando no local que durante todo o encontro iria se chamar “Casa comum” quando escutei a voz de Dom Maurício da Silva Jardim, bispo diocesano, anunciar: “Declaro aberto o 15º Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base”.

Enquanto me aproximava do palco onde a equipe de coordenação acolhia os participantes, ia avistando e cumprimentando um mundo de pessoas conhecidas. A alegria de reencontrar participantes das CEBs do Recife que, reunidos no Movimento Encontro de Irmãos, até há poucos anos, assessorei e para o qual celebrava. Encontrava os representantes das CEBs de Pernambuco, dos quais participei várias vezes dos encontros no Santuário das Comunidades em Caruaru. E assim, gente do Brasil inteiro. Sem dúvida, algumas e alguns assessores, sempre encontro nesses encontros intereclesiais, desde o VI Encontro, em Trindade, 1986, quando, pela primeira vez, participei do grupo nacional de assessores (nos dois encontros anteriores, participei como representante, mas não como assessor). Além desses e dessas irmãs, muita gente nova, o que é ótimo e positivo.

Nesse encontro em Rondonópolis, não fui convidado para assessorar nenhum plenário nem bioma e gostei de que essa tarefa tenha ficado com pessoas dos regionais e gente mais nova. Apenas, como me ofereci, sem ser convidado, ajudei a equipe que preparou a celebração ecumênica. E fiquei feliz em participar assim, mais como participante comum e espectador do que como alguém com encargo de assessorar.

1. Primeiras impressões

Todas as pessoas com as quais conversei e que tinham participado de outros intereclesiais confirmaram a minha impressão de que esse encontro foi dos mais organizados e com estrutura que funcionou 100% bem nos mais diversos níveis. Apesar de todas as dificuldades e desafios pelos quais passou a equipe ampliada que tinha a tarefa de prepará-lo e organizá-lo, quem participou pode testemunhar uma organização impecável e extremamente eficiente.

Em primeiro lugar, as celebrações, preparadas pela equipe da Rede Celebra foram excelentes. Deram ao encontro o tom correto de profecia e espiritualidade que o encontro precisava. A celebração inicial foi sem dúvida a melhor e mais bem coordenada e realizada de todas as celebrações de abertura que já vi em um dos intereclesiais dos quais participei. Leve, profunda e tocante.

Como sinal novo e importante em nossos dias, bendigo a Deus pela profecia da realização de um ágape eucarístico, na celebração de abertura. Dou graças a Deus por ter participado desse ágape, presidido por uma mulher (Marilza Schuína) que cantou uma oração eucarística alternativa, composta pelo saudoso Reginaldo Veloso. Aquilo foi claramente um ato profético que mostra um caminho às CEBs e às comunidades da caminhada: temos de libertar a ceia de Jesus da prisão na qual se encontra como culto clerical e sacral, desligado da comunhão afetuosa da vida e da partilha, como deve ser a celebração da ceia pascal do Cristo.

A organização do 15º Intereclesial em plenários e grupos – Casa Comum e Biomas foi excelente. Só o fato de terem escolhidos esses nomes já foi importante. As palavras são fortes e expressivas. O próprio fato de que os/as participantes foram organizados por biomas foi em si mesmo significativo e a partir da espiritualidade ecológica. E esse cuidado com a espiritualidade ecológica apareceu em todos os momentos e situações. A impressão é que todos e todas que participaram se sentiram muito contentes.

2. Algumas características do 15º Encontro

Vale a pena salientar o que, na atual conjuntura da Igreja Católica no Brasil, esse encontro significa:

Antes de tudo, significou ato de resistência. Militantes e pessoas da caminhada libertadora expressam claramente: estamos vivos e mantemos viva e forte a profecia da espiritualidade libertadora.

Como em outros encontros anteriores, também nesse, sentimos que as pessoas de base sentem necessidade de se descobrirem participando de algo mais amplo. O sair do “pequeno mundo da cotidianidade” que, não poucas vezes é limitado por vários fatores é sinal e instrumento de espiritualidade libertadora. Provavelmente, a primeira alegria é todo o povo da caminhada poder se encontrar, cantar e gritar: Não estamos sós! Somos muitos e muitas. E estamos juntos/as.

Nesse encontro, talvez mais do que nos intereclesiais mais recentes, parece que retomamos um elemento dos dois ou três primeiros encontros intereclesiais: em 1975, a ideia de Dom Luiz Fernandes, então bispo auxiliar de Vitória, ES, ao convocar o primeiro encontro foi reunir as Igrejas (dioceses) que viviam experiência de CEBs. A partir do 4º encontro, essa característica acabou se alargando demais e perdeu sua especificidade.

Agora, devido à realidade mais polarizada de nossas Igrejas locais e devido também ao fato de que o velho conservadorismo, hoje é mais conservador do que era nos anos 1980 e tem mais espírito intransigente de cruzada, as diferenças acabam sendo mais nítidas e de novo quem vem a um encontro como esse, em geral, tem identificação mais clara, se não diretamente com CEBs, ao menos com a Igreja da caminhada libertadora.

Disso, resultam algumas questões a aprofundarmos:

Na Igreja Católica, o que vemos é, ao contrário do que propõe o papa Francisco, uma clericalização cada vez mais forte e mais centrada no modelo de Igreja de Cristandade. Qual a repercussão dessa realidade para as CEBs?

As CEBs de hoje não são mais as mesmas de 1975 ou da década de 1980. Não são, não podem ser e não devem ser. O problema é que aquelas tinham consistência e características que conhecíamos bem. Agora, as CEBs atuais, como se constituem e o que as caracteriza verdadeiramente? Sabemos que não são apenas “pequenas comunidades missionárias” e menos ainda “meras capelas do interior”. Precisamos clarear melhor como se organizam e se expressam em nossos dias… Parece urgente refazer uma teologia das CEBs…

Sem de modo algum querer mudar a natureza do encontro intereclesial, chamo a atenção para o fato de que esse encontro teve muito a característica de um encontro de Igreja da caminhada, para além das CEBs. Penso que se passássemos uma ficha de identidade para todas as pessoas que participaram desse 15º encontro, talvez a maioria delas se colocasse como assessores dos vários organismos pastorais (Caritas e pastorais sociais) e movimentos populares.

Na década de 1990, a presidência da CNBB promoveu uma assembleia dos Organismos do Povo de Deus. Funcionou por três vezes e, mesmo se agora, continua existindo, parece ter pouca visibilidade e não sei se tem repercussão concreta.

Há dois anos, na construção do processo de sinodalidade, o papa Francisco propôs a Assembleia Eclesial Latino-americana (novembro de 2021) e aceitou a constituição da CEAMA, Conferência Eclesial Amazônica no lugar de conferência episcopal. Apesar de que concretamente essa assembleia não teve a mesma força das conferências episcopais (Medellín, Puebla e Aparecida), provavelmente, isso se deu em grande parte, a problemas e perspectivas dos próprios participantes.

Sem querer comparar o 15º Intereclesial de CEBs com uma Assembleia eclesial mais ampla, é verdade que esse incorporou um estilo ou o rosto de uma assembleia eclesial da caminhada libertadora, mais ampla do que apenas a de um encontro nacional de CEBs e como lembrei antes, desde a origem, os encontros intereclesiais de CEBs se chamam intereclesiais porque sempre foram de Igrejas que têm CEBs e não apenas da CEBs. Foi um encontro da Igreja da Caminhada, como dizíamos nos primeiros anos: Uma Igreja que nasce do povo sob o sopro do Espírito.

3º – Mais do que em encontros anteriores, esse encontro foi ocasião para a expressão de pastorais cristãs indígenas e negras, em diálogo com as culturas originárias. Em todas as celebrações e plenários, se revelou que o diálogo e a inserção com as comunidades negras e indígenas, ao menos dessa parte da Igreja da qual participamos, se aprofundou e deixou para trás as dificuldades que se sentiam nos encontros intereclesiais dos anos 1990, quando ainda não se conseguiam acolher e integrar plenamente as pessoas de tradições indígenas e negras.

3. Dúvidas e Perguntas

A festa é a irrupção do tempo da graça pascal na vida das comunidades. A festa, seja religiosa como a Páscoa ou o Natal, seja a festa considerada profana como é o Carnaval, é sempre sacramento de comunhão e expressão importante da resistência do povo e da presença amorosa do Espírito que nos anima. No entanto, a festa só cumpre essa função sacramental se se alicerça na cotidianidade da experiência comunitária. Sem isso, a festa, fica sem base como casa sem alicerce ou planta sem raiz.

Provavelmente, para a maioria das pessoas que acompanham a caminhada libertadora (e desde tanto tempo, como é o meu caso), a primeira grande pergunta é até que ponto esse 15º Intereclesial de CEBs, em sua forma atual, expressou e representou a caminhada real e cotidiana das comunidades eclesiais de base nas diversas regiões do Brasil.

É difícil de responder a isso. Provavelmente, nesse encontro, se realizaram pesquisas. Não as vi. Não sei entre os/as participantes, qual a percentagem de pessoas de base e de agentes de pastoral e militantes das diversas entidades de assessoria. Sem dúvida, muitos/as dos/as participantes desse Intereclesial mantém verdadeiramente contato de presença e acompanhamento daquilo que podemos chamar de CEBs… No entanto, como médico é capaz de detectar uma enfermidade pelos sintomas que outras pessoas nem perceberiam, devo confessar que, por trás de toda a euforia visível nas danças e por trás das muitas palavras dos plenários do encontro, senti certa inquietação. A realidade por trás dos relatos que apareceram nos plenários aos quais tive acesso me deixou a impressão de que parece haver certo descolamento entre a realidade que apareceu nesse Encontro Intereclesial e a realidade cotidiana das CEBs na maior parte das dioceses.

Alguém observou que nos grupos, as perguntas a serem respondidas supunham que as pessoas presentes pudessem responder em nome das CEBs. Havia perguntas sobre como a realidade social e eclesial tem impacto sobre as CEBs ou sobre o que anima as CEBs hoje. No entanto, será que a maioria das pessoas reunidas nesse encontro, principalmente, assessores e pessoal que trabalha nas diversas pastorais sociais e organismos de apoio podiam mesmo responder a essas perguntas como representantes de CEBs?

Escutei de vários bispos, cujas dioceses tinham CEBs e se organizavam a partir delas nos anos 80 e 90 que atualmente não é essa a realidade. Pelo que escutei de vários militantes e mesmo de alguns bispos, responsáveis por dioceses que nos anos 90 eram referências de CEBs no Brasil, parece que o maior inimigo das CEBs no Brasil e do modelo de Igreja que elas representam é o clero.

Atualmente, depois que o papa Francisco denunciou o clericalismo como mal, todo mundo fala contra o clericalismo. No entanto, esse é um fenômeno de várias faces e expressões. Nesse encontro de Rondonópolis, minha impressão é que todos os plenários apontaram o Clericalismo como mal. E para eles e elas que falaram isso, o significado concreto era que a maioria dos atuais padres da Igreja no Brasil não aceitam e não gostam de CEBs e de Pastorais Sociais.

Aliás, com algumas exceções, seria bom se fazer um estudo porque algumas dioceses que, justamente, no passado eram referências da caminhada libertadora e do protagonismo do laicato, neste momento atual são das que têm clero mais conservador e refratário a qualquer proposta de CEBs e de caminhada libertadora … O que significa isso?

Ninguém de nós é favorável à paroquialização das CEBs, nem concorda com o fato de que a CNBB junte tudo no nome de “pequenas comunidades”. A paróquia é estrutura ainda ligada ao modelo de Igreja Cristandade, organizada na Idade Média e que veio ao nosso país com a estrutura colonial. As CEBs nasceram e se desenvolveram em diálogo com a estrutura paroquial, mas livres e não dependentes delas. No entanto, todos sabemos que, na atual estrutura católica, sem apoio dos párocos e das paróquias, o acesso às bases se torna mais difícil e sem continuidade.

Contra isso, podemos objetar ressaltando a presença boa e afetuosa de muitos padres e bispos presentes no intereclesial. Parece que, nesse encontro, padres de paróquia e de base eram minoria. Uma minoria brilhante e forte, mas minoria. A maioria dos padres presentes no 15º Intereclesial era de assessores de pastorais sociais, professores de universidade e teólogos. Talvez isso explique a distância que ainda existe entre o tipo de liturgia, os cânticos e os assuntos que dominaram um encontro como esse e a realidade das comunidades nas paróquias.

Mesmo nos anos 1970 e 1980, o modelo de Igreja vivido nas CEBs sempre foi minoritário. Como “minorias abraâmicas”, elas sempre lutaram com dificuldade. Esse Encontro de Rondonópolis mostra que a caminhada persiste e resiste, apesar de todas as dificuldades. No entanto, parece que a reconstrução, talvez, tenha de ser mais livre em relação ao terreno institucional da Igreja Católica institucional, ou ao menos, mais independente das paróquias.

Se essa intuição for correta, as CEBs se ligariam à caminhada social das bases, mesmo se baseadas na fé e na espiritualidade libertadora. No campo da juventude, atualmente, o MEL (Movimento de Juventudes e Espiritualidade Libertadora) tem como proposta desenvolver a espiritualidade libertadora (ecumênica), mas sem se identificar com nenhuma Igreja. Será que nessa mesma linha, as CEBs hoje deveriam caminhar para ser mais comunidades humanas ou ecumênicas de base? Para ser eclesiais, elas teriam que ser menos eclesiásticas e assumir realmente o fato de que a estrutura paroquial da Igreja não as assume corretamente.

De todos os encontros intereclesiais, desde o VI em Trindade (1986), esse foi o que teve menor número de pessoas de outras Igrejas e quase ninguém se identificou como de outra religião. Isso revela a realidade das nossas Igrejas em seu dia a dia. Relações ecumênicas não se improvisam. Assim mesmo a celebração ecumênica, no segundo dia do encontro, foi marcante. Centrou-se mais no diálogo com as culturas negras e indígenas do que propriamente no convívio entre crentes de Igrejas diferentes, mas deixou como questão a ecumenicidade da nossa caminhada libertadora.

É um desafio fundamental porque não está ligado apenas a aspectos concretos da pastoral. Revela não apenas a história e o fato de que os encontros intereclesiais surgiram e se desenvolveram dentro de uma cultura católica-romana. Revela também que o modelo de Igreja ainda em vigor nos encontros intereclesiais ainda está preso ao modelo Cristandade. E nesse modelo, não há lugar para a ecumenicidade, mas não há também para a laicidade de CEBs que deveriam ser o rosto da Igreja no mundo…

Eis um exemplo de certa ambiguidade: Na parede da Casa Comum, local dos grandes plenários desse encontro, havia um cartaz reafirmando que atuar na Política é missão dos leigos/as como tarefa de transformar o mundo. Isso significa que mesmo entre nós e nos ambientes da caminhada libertadora ainda mantemos esse dualismo que legitima o clericalismo. Se a missão de se inserir no mundo e atuar na transformação do mundo, compete aos leigos, estamos concordando que compete aos ordenados o terreno do sagrado. Se nós mesmos afirmamos isso, com que direito vamos criticar padres que só querem saber de liturgia e de paramentos e parecem sacerdotes de religiões pagãs ou do templo do primeiro testamento?

Quem acompanhou alguns dos encontros intereclesiais desde a década de 1980 até o começo deste século sabe como, nos encontros intereclesiais, havia tensões e dificuldades de diálogo entre bispos e assessores. Em São Luís, Ilhéus e Ipatinga, era sempre necessário prever, durante o encontro, um bom tempo de diálogo entre bispos e assessores para desfazer mal entendidos e se avançar na caminhada eclesial. Dessa vez, não houve nenhum sinal de mal estar ou da necessidade de diálogo especial.

Não sei se isso denota a superação das dificuldades, ou significa que todos nós, bispos e assessores, vivemos uma realidade de Igreja onde o próprio fato de haver um encontro como esse já é o máximo e ninguém levanta mais nenhuma questão que eclesialmente incomode mais do que a própria realidade já é inquietante.

4 – Algumas perspectivas

Quem foi a um encontro intereclesial pela primeira vez deve ter achado maravilhoso ver bispos, padres, religiosas e leigos e leigas, juntos em uma roda de igualdade dançando ciranda ou seguindo o trem das CEBs.

Novamente, a pergunta é sobre a relação entre isso e a cotidianidade da prática pastoral.

No sul do Brasil, um grupo de religiosos muito abertos acompanhava solidariamente acampamentos do MST e lutas sociais e políticas. No entanto, quando, no fim do dia, esses religiosos jovens voltavam ao convento, pareciam entrar na máquina do tempo do professor Pardal. Travestiam-se de religiosos tradicionais, com vestes, com liturgia e devocional comum da ordem. Não pareciam se dar conta da esquizofrenia espiritual que isso representava.

Mesmo no tempo da caminhada, era frequente encontrar bispos que, fora das suas dioceses, eram simples, abertos e solidários, mas quando entravam na sua Igreja local, assumiam posturas bem mais conservadoras e autoritárias. Provavelmente, não é o caso atual de nenhum bispo ou padre presente nesse encontro. No entanto, a maioria deles tem dificuldade com o clero de suas dioceses que dificulta uma caminhada eclesial mais aberta.

Se nesse encontro de Rondonópolis, passamos entre nós mesmos e ao mundo a imagem de uma Igreja, em seu conjunto mais aberta e mais renovada, não somente não estaríamos sendo fieis à realidade como, ao dar essa impressão falsa ou superficial, não ajudamos mais profundamente a transformar a Igreja em uma Igreja sinodal e em saída (saída para as periferias e para o mundo). Dar impressão de maior abertura quando essa não existe é traição maior do que seria o assumir a realidade menos bonita ou agradável mas mais verdadeira.

A articulação de CEBs, hoje, é mais necessária do que nunca. No entanto, ela teria de ser retomada por uma equipe nacional que se dispusesse a uma reanimação local e regional e como movimento nacional de caráter mais autônomo em relação às paróquias e mesmo às dioceses, ligadas às Igrejas locais, mas com estrutura mais autônoma e mais laical e ecumênica, talvez animada a partir do CONIC e de entidades irmãs que possam junto com as pastorais sociais assumirem a tarefa de dar maior visibilidade e solidez às comunidades ecumênicas de base ou mesmo comunidades humanas de base.

Que o sopro do Amor Divino nos ilumine e conduza pelos melhores caminhos de escuta, diálogo e acolhida do reinado divino entre nós.

08 agosto, 2023

Celebrar a memória de Santa Dulce dos Pobres!

A Dimensão Sociotransformadora da Evangelização (DSE), convida o povo de Deus para celebrar a memória de Santa Dulce dos Pobres.

No dia 13 de agosto a Igreja faz memória a Santa Dulce dos Pobres, a freira baiana que dedicou sua vida a amparar e defender os pobres e a primeira mulher brasileira canonizada pelo Vaticano.

Neste mesmo dia o Centro Social Arquidiocesano Santa Dulce dos Pobres - casa de encontro das pastorais sociais, movimentos, organismos e entidades da Arquidiocese de Maringá, completará seu segundo ano.


Festa Beneficente

 


07 agosto, 2023

Quem aprende a pensar numa mais deixa de pensar!

Essas coisas andam por meus pensamentos:

Quem aprende a pensar numa mais deixa de pensar!

Ninguém tira da gente a capacidade de pensar, e aprendendo a pensar, nunca mais deixa de pensar, más é preciso aprender a pensar, a pensar por si, a pensar em comunidade. O evangelho nos mostra que Jesus levava as pessoas a pensar, por si e em comunidade, e quando Jesus ensinava a pensar e as pessoas com Ele aprendia a pensar, não mais deixaram de pensar, e pesando compreenderam quem ninguém sabe mais do que ninguém, e sim saberes de forma e por meios diferentes e se alguém pensa ser mais sábio, ou alguém pensa que alguém á mais sábio, é porque alguns estão roubando dos demais. Pensando sabemos que, o que tem no mundo é dado por Deus, é de todas e de todos, e se pensa que não é, porque alguns estão roubando dos demais. Precisamos levar a base de nossa Igreja a aprender a pensar, e aprendendo a pensar, não mais deixarão de pensar, e para ensinar a pensar precisa de ter quem ensina a pensar, e para ter quem ensina a pensar é preciso capacitar, e para capacitar a base é preciso multiplicar capacitadores para pensar e levar a base a pensar.

03 agosto, 2023

Papo cidadão entrevista Lucimar Moreira Bueno

Programa "Papo Cidadão ENTREVISTA"
(20º Programa da Série)

Hoje entrevistaremos a Lucimar Moreira Bueno, mais conhecida como Lúcia, Assessora das CEBs na Arq. Maringá.

Articuladora das CEBs na Província Eclesiástica de Maringá, Membra da Ampliada das CEBs do Regional Sul II

Também teremos a presença da Sra. Solange Marques, mais conhecida como Sol, Paróquia São Mateus Apóstolo - Maringá, Secretária adjunta do CNLB RS2, Membra da Comissão Nacional de Formação do CNLB e Secretária da coordenação da Ação Evangelizadora da Arquidiocese de Maringá

A reflexão de hoje será como tema o "15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base"

Acompanhe, sintonizando a 98.7 FM ou acesse pelo site

http://www.colmeiafm.com.br/

Venha participar conosco! Logo mais às 19h.

Programa Papo Cidadão ENTREVISTA
Porque um mundo solidário é possível e necessário!

#PapoCidadãoENTREVISTA

Um programa de rádio do Conselho Nacional do Laicato do Brasil da Arquidiocese de Maringá

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Rádio Colmeia FM 98.7 MHz

02 agosto, 2023

#CEBs - Mensagem às Comunidades



Mensagem às Comunidades


CEBs: Igreja em saída, na busca da vida plena para todos e todas!
“Vejam! Eu vou criar Novo Céu e uma Nova Terra” (Is 65,17ss)


Queridas irmãs e irmãos da caminhada, reunidos/as em Rondonópolis, Mato Grosso para a celebração do 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base, nós, os mil e quinhentos participantes, tivemos a sensação exata de que éramos representantes de um coletivo muito maior, formado pelas milhares CEBs espalhadas por todo o país. Desta forma, você estava presente também, apesar da distância.

A alegria foi a grande marca do encontro, pois, nos olhávamos como verdadeiros e verdadeiras sobreviventes da pandemia e dos seis anos de desgoverno que nos afligiu. Guiamo-nos pelo método ver-julgar-agir, de 18 a 22 de julho, e de modo fiel aos gritos e desafios de todas e todos vocês, fizemos uma maravilhosa ciranda inclusiva.

O rosto das CEBs neste 15º Intereclesial revelou a identidade das comunidades com seus mais variados membros: cristãos leigos e leigas, pessoas LGBTQIAP+, diáconos e padres, religiosos e religiosas, bispos católicos e representantes de outras Igrejas, irmãs de caminhada. A força da juventude e das irmãs e irmãos pretos e indígenas, nos fizeram sentir o calor do testemunho, da resistência e da resiliência. Um rosto latino-americano, com expressões de todas as regiões do Brasil e de outros países.

Vimos que a desigualdade social é fruto de um sistema capitalista neoliberal, político e financeiro, de natureza excludente e concentrador de renda. Em decorrência dele, constatamos uma triste realidade, como: a imensa fila de desempregados e desempregadas, de trabalhadores e trabalhadoras informais, muitos/as em trabalhos análogos à escravidão; a fome, a educação e a saúde sucateadas, a falta de saneamento básico, o desmatamento e incêndios criminosos afetando os diversos biomas, a poluição das águas, do ar e da terra, destruindo a vida do planeta e das pessoas, o uso desregulado de agrotóxicos, o avanço do agronegócio e da mineração, o tráfico de entorpecentes e de pessoas, a questão urbana dominada pela violência, a presença de forças paramilitares, o armamento insano, o racismo estrutural e o alto índice de violência contra as mulheres e de feminicídios, o sistema carcerário injusto clamando pelo desencarceramento, a migração forçada e o sofrimento dos migrantes e refugiados, a criminalização dos movimentos sociais; o acesso seletivo dos meios tecnológicos, os constantes ataques aos direitos já conquistados por meio de leis que passam pelo Congresso Nacional, a exemplo de Projetos de Lei sem discussão ampla com a sociedade, a Reforma da CLT e da Previdência, e o marco temporal.

Olhando para o interno da Igreja, por um lado, as CEBs se ressentem pela falta de apoio de parte significativa do clero e, por outro, sentem-se fortalecidas pelo carinho e atenção do Papa Francisco, com suas atitudes e documentos, e por um grupo de bispos, padres, religiosas e religiosos que caminham juntos, na trilha da Igreja Povo de Deus. Constatamos ainda, que há nas CEBs, grande esperança no processo sinodal em curso, fomentando um imenso sonho de comunhão e participação em todos os âmbitos eclesiais, por uma Igreja toda ministerial, superando o clericalismo.

À luz do horizonte de um novo céu e nova terra, que a Palavra de Deus nos traz, discernimos às margens do rio da esperança, por meio dos mitos geradores de vida nova e do rito que faz a utopia ganhar sonoridade aos ouvidos dos sonhadores e sonhadoras da caminhada. Novo céu e nova terra são horizontes dos sonhos, mas também se constituem no princípio articulador das mais diversas utopias que apontam para a grande utopia do Reino, realizado em Jesus e antecipado na vida das CEBs.

As CEBs, qual mulher grávida, continuam gerando o novo, recriando os caminhos de libertação, sob o impulso do verbo sair, que funciona como um fio condutor de toda a nossa existência. De Gênesis a Apocalipses, a caminhada do povo de Deus se deu sob a inspiração da Divina Ruah, fomentando um permanente sair. Do ventre da mulher ao ventre da pachamama, saímos sempre em busca da vida plena.

O AGIR nos enviou para cuidar. Cuidar para não perdermos o entusiasmo, para não banalizarmos a missão, para que as CEBs sempre tenham o coração ardendo pela Palavra e os pés firmes na caminhada do povo periférico. Cuidar dos grupos bíblicos de reflexão como sementes de novas comunidades. Cuidar da memória martirial e profética, das estruturas de comunhão e participação, do protagonismo das mulheres e das juventudes, da vida plena dos povos originários, da aliança e parceria com os movimentos populares, da força da sinodalidade que está na comunidade e dos processos de formação permanente. E em tudo, valorizar a força dos pobres nas iniciativas comunitárias e não deixar que nos roubem as comunidades!

E assim, com a esperança do verbo esperançar, dispostos e dispostas a seguir nossa caminhada como CEBs – Igreja em saída para as periferias, partimos de Rondonópolis, certos de que, Jesus de Nazaré, a multidão de testemunhas, e os Mártires da Caminhada, seguirão animando e conduzindo as CEBs para as Galileias periféricas das terras mato-grossenses ao Estado do Espírito Santo, onde seremos acolhidos por nossa Senhora da Penha.


Rondonópolis, 22 de julho de 2023.

15º Intereclesial das CEBs


#Mensagem das Comunidades Eclesiais de Base do Brasil (CEBs) aos Bispos do Brasil – CNBB

 




Mensagem das Comunidades Eclesiais de Base do Brasil (CEBs) aos Bispos do Brasil – CNBB


As ovelhas escutam a sua voz, ele (o pastor) chama cada 
uma pelo nome e as leva para fora” (Jo 10,3)


É com espírito fratersororal e no jeito de viver das CEBs, que caminham com Jesus de Nazaré, que encontramos inspiração para lhes escrever esta carta, com os melhores votos de feliz missão e em plena e fraterna comunhão como Igreja Sinodal, na qual, insiste o papa Francisco, “é preciso escutar com o ouvido do coração”. As CEBs querem escutar a voz do Pastor, mas também querem ser ouvidas!

Ao mesmo tempo em que somos gratos ao nosso papa Francisco pelo apoio manifestado: “Quero estar próximo a vocês neste 15º Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base. Sigam trabalhando, vão adiante, não se esqueçam: Igreja em saída”, que está acontecendo nesses dias 18 a 22 de julho, aqui na Diocese de Rondonópolis-Guiratinga/MT, com o tema: “CEBs: Igreja em saída na busca de vida plena para todos e todas” e lema: “Vejam! Eu vou criar um novo céu e uma nova terra” (Is 65,17ss), queremos expressar a nossa surpresa e também a nossa tristeza, diante do fato que, nas últimas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil, a CNBB não sentiu a necessidade de nos chamar pelo nome – CEBs – para seguirmos as indicações dos nossos Pastores. As CEBs estão vivas e presentes em inúmeras Dioceses do Brasil, continuando a oferecer a sua contribuição para dar vida a uma Igreja em saída para as periferias, uma Igreja sinodal e missionária.

As CEBs nasceram sob a inspiração das primeiras comunidades cristãs, animadas pelo sopro do Espírito Santo de Deus, como um jeito simples de ser Igreja de Jesus a partir da renovação da Igreja pelo Concílio Vaticano II (1962-1965). Foram incentivadas pelas Conferências Episcopais de Medellín (1968), como “célula inicial de estruturação eclesial e centro de evangelização“ (cf. 15,10), permitindo que o povo tenha maior conhecimento da Palavra de Deus, compromisso social em nome do Evangelho, surgimento de novos ministérios leigos e educação dos adultos na fé (cf. DAp 178), Puebla (1979), confirmadas por Santo Domingo (1992) e reanimadas por Aparecida (2007), que diz: “Queremos decididamente reafirmar e dar novo impulso à vida e missão profética e santificadora das CEBs” (n. 179). A 1ª Assembleia Eclesial Latino-americana e caribenha reafirmou a confiança na caminhada das CEBs no Continente: “As pequenas comunidades eclesiais ou de base, são a expressão de uma Igreja que quer assumir mais fortemente a opção pelos pobres. É importante revitalizar as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), como um jeito de ser Igreja onde se vive a sinodalidade, espaço de inclusão da diversidade e de superação do clericalismo“ (cf. 316 e 317).

Os bispos da grande área missionária de nossa querida Amazônia, reunidos em Santarém, para celebrar os 50 anos do documento de Santarém, reafirmaram sua esperança na caminhada das CEBs, dizendo: “Ressaltamos a importância das Comunidades Eclesiais de Base, que constituem uma dinâmica muito própria da Igreja em nossas dioceses e prelazias. Reconhecemos nelas a força missionária de nossa ação evangelizadora e o sujeito eclesial da missão neste chão. Elas estão intrinsecamente implicadas no anúncio e na vivência da fé, na presença profética que torna evidente o Reino de Deus, no cuidado da casa comum” (n.º 42).

Por tudo isso, reafirmamos com o magistério que as CEBs são uma forte expressão da sinodalidade tão sonhada pela nossa Igreja! Não podemos negar que a profecia das CEBs foi inspiradora e parteira de tantos serviços, pastorais sociais e mãe de tantos Mártires e Profetas da caminhada de nossa Igreja na América Latina.

Compreendemos que a missionariedade, já é da natureza das CEBs. Não se pode conceber uma Comunidade Eclesial de Base que não seja missionária. E isso é visível desde a recepção criativa do Vaticano II no continente latino-americano e caribenho, pois as CEBs buscaram nos documentos do Concílio, orientações para sua ação evangelizadora e missionária: a) Uma espiritualidade bíblica (Dei Verbum); b) Ação transformadora no mundo (Gaudium et Spes); c) Coordenação partilhada na perspectiva da colegialidade e da sinodalidade (Lumen Gentium); d) Celebração dominical animada pela comunidade (Sacrosanctum Concilium); e) Uma igreja aberta à missão (Ad gentes) f) Abertura ao diálogo ecumênico e inter-religioso (Unitatis Redintegratio, Dignitatis Humanae e Nostra Aetate).

Então, qual a motivação para as Diretrizes não mais nomearem as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e sim, Comunidades Eclesiais Missionárias (CEMs)? Não será importante responsabilizar e valorizar a fé e o compromisso de tantos irmãos e irmãs nesta caminhada eclesial? É justo não apoiar e não estimular as tantas comunidades eclesiais de base que continuam na sua missão com a Igreja e para o bem da Igreja? Que lugar ocupam as CEBs no coração da CNBB?

Sentimo-nos contemplados, amparados e abençoados pelo Documento de Aparecida: nossa Espiritualidade sempre encarnada e enraizada no Evangelho de Jesus, sua Palavra viva, nos ilumina noite e dia. Por isso, reafirmando que as CEBs são missionárias como toda Igreja deve ser e com sentimento de pertença, solicitamos a reinclusão das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, nas próximas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.

O trem das CEBs não pode parar de percorrer até o fim, os trilhos da vida do povo mais pobre e sofrido, como dom do Espírito de Deus e esperança dos pequenos. Continuaremos fiéis no caminho do discipulado de Jesus de Nazaré, carregando com alegria nos ombros, a nossa história e as nossas esperanças: “A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão” (Sl 84,11). Como Igreja Sinodal, reafirmamos nossa opção preferencial pelos pobres, através do testemunho profético e martirial, em fidelidade à nossa identidade, inspirada na Trindade Santa. Agradecemos o apoio de nossos Bispos acompanhantes e os demais das Dioceses e Prelazias de nosso Brasil.

Fratersororalmente em Jesus de Nazaré, na proteção de nossa Mãe Aparecida!

15º Intereclesial das CEBs do Brasil

Rondonópolis, 22 de julho de 2023.

#Carta das CEBs do Brasil ao Papa Francisco




Carta das CEBs do Brasil ao Papa Francisco


Rondonópolis/MT, 22 de julho de 2023.


CEBs: Igreja em Saída, na busca da vida plena para todos e todas
“Vejam! Eu vou criar novo céu e uma nova terra!” (Is. 65, 17ss)


Amado Papa Francisco,


Dos dias 18 a 22 de julho, as Comunidades Eclesiais de Base do Brasil (CEBs), como é do seu conhecimento, estiveram reunidas para a realização do 15º Intereclesial na Diocese de Rondonópolis-Guiratinga / MT.

Sentimos sua forte presença de pastor orientando-nos para sermos uma Igreja em Saída em todos os momentos. Sua mensagem pessoal foi muito importante para nos dar forças.

Sentimo-nos qual pequeno rebanho de batizados, chamado a ser uma Igreja Samaritana e a testemunhar ao mundo uma Comunidade de irmãos e irmãs que caminha sacramentalmente unida em direção à Vida Plena.

Sentimo-nos caminhando na força do nome “Francisco” que se coloca como pobre ao lado dos pobres. Sentimo-nos como Madalena, celebrada em oração nestes dias, que pergunta: “Onde está o meu Senhor?”, com a força do crucificado-ressuscitado que nos indica o caminho: “Vai ter com os meus irmãos” (Jo.10, 1.11-18).

Assim sendo, de forma singela, estamos expressando nossa gratidão por estar “presente” entre nós: a nos encorajar no Caminho, mas juntos e juntas; a nos convidar a retomar a sinodalidade, tão essencial para nossa Igreja. Sim, sentimos nestes dias como João Crisóstomo nos indicou: “Igreja e Sínodo são sinônimos”. Cristãos leigos e leigas, religiosos e religiosas, bispos, diáconos e presbíteros, lado a lado buscando o mesmo caminho.

Repetimos com insistência: queremos ser uma Igreja de irmãos e irmãs. Desejamos que nossas comunidades sejam espaço de acolhimento das dores e sofrimentos do mundo, sobretudo dos mais pobres. Desejamos que nossa Igreja não tenha medo de se enlamear diante da necessidade profética de interpelar um mundo cuja economia mata, e se comprometa com uma economia cujo centro seja a vida. Desejamos Francisco, que seu apelo pela paz mundial seja ouvido.

Agradecemos imensamente a Deus por sua presença eclesial, Papa Francisco. Por sua presença amorosa e solidária que aponta a profundidade em acreditar que a busca pela salvação começa aqui e agora. A vida no céu começa com a vida na terra. Portanto, enquanto tivermos forças, vamos continuar buscando, apocalipticamente, um novo céu e uma terra.

Sinta-se abraçado por nós. Possamos celebrar em outubro de 2024 a sinodalidade que é constitutiva da Igreja, na forma, no estilo, na estrutura e na vivência. Neste tempo da graça, possamos ser impelidos, em ritmo processual, em direção a uma Igreja que caminha verdadeiramente, de forma sinodal.

Fraternalmente, em Cristo Jesus e com as benções da Mãe Aparecida!

Participantes do 15º Intereclesial das CEBs do Brasil