18 fevereiro, 2020

Livro a Autoridade da verdade


Na postagem à baixo a carta de José I. G. Faus ao papa Francisco.

E aqui a indicação de um amigo do livro desse brilhante teólogo o livro a Autoridade da verdade.

Irmão Francisco. Carta de González Faus ao Papa sobre “Querida Amazônia”

"Em tua cúria romana, irmão Francisco, há uma legião de presbíteros que vivem em celibato e não tem praticamente trabalho ministerial algum. Seria tão absurdo enviar todos esses padres da Cúria a regiões perdidas do BrasilPeruChade ou Tehuantepec, para que aqueles cristãos pudessem ver cumprido seu direito a celebrar a eucaristia?. A cúria romana poderia ficar ocupada por leigos fieis, (“viri probati” também), casados e pais de famílias. Porque nenhuma lei eclesiástica exige o celibato para trabalhar em escritório, nem por importante ou sagrado seja o escritório. Seriam alguns excelentes “burocratas cristãos” (nessa expressão resignada e bem-humorada de um irmão nosso jesuíta, que passou toda sua vida como secretário)".
A pergunta é de José Ignácio González Faus, espanhol, teólogo e jesuíta, em carta aberta ao papa Francisco sobre os críticos do Sínodo Pan-Amazônico, publicada por Religión Digital, 17-02-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Concluindo a carta, o teólogo escreve: "E voltando ao que é sério: todos cremos estar buscando aqui a vontade de Deus. Por que então não colocar toda a Igreja em estado de oração para pedir o que queria Santo Inácio: “que conheçamos e cumpramos a Sua santa vontade”? Quando pedimos isso na oração, está comprovado que essa petição sim que é escutada"

Eis a carta.

Nem sequer sei se lerás esta carta. O estilo epistolar tornou-se para mim um gênero literário: porque imaginar um interlocutor me ajuda a se expressar.
Em qualquer caso, quis comentar um pouco tua recente decisão sobre a ordenação presbiteral de homens casados, a propósito do Sínodo da Amazônia. Mais que uma negativa, trata-se de uma não-decisão: não abriu a porta, porém tampouco a trancou. Suponho que por temor de um cisma nesta Igreja onde há um setor que não se cansa de te colocar travas nas rodas e que se viu ajudada esta vez por todo esse clamor midiático que dava a impressão de que isso era a única coisa que importava no tema da Amazônia. E também por todos aqueles aos quais já se referia Engels, em uma célebre carta sobre o socialismo nascente, onde dizia que enquanto aparece uma empresa nova, todos os frustrados recorrem a ela para usá-la em benefício próprio e não em favor dos destinatários dessa empresa.
Por todas essas razões tento te compreender. Posso presumir ademais de ter escrito algumas páginas de elogio ao celibato, reconhecendo também o enorme perigo de perseguição e concluindo que somente poderá dar um bom testemunho sobre o celibato aquele que humildemente se atreva a confessar que seu celibato lhe ensinou a amar.
A partir desta postura quis contribuir com algumas reflexões com a pretensão – tão estranha hoje – de que não valham pela autoridade das quais as disse (que neste caso é nula), mas sim pela verdade do que dizem.
1. Há uma frase do Evangelho que creio levar gravada na alma e são aquelas duras palavras de Jesus: “Hipócritas! Quebrantais a vontade de Deus porque vos apegais às tradições dos homens” (Mc 7, 6-8). Quando era jovem, e gostava mais de provocar, escrevi que essas palavras deveriam estar escritas na fachada de São Pedro do Vaticano, no lugar daquela “tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja”...
Pois bem, quando releio essas palavras de Jesus, duas coisas me parecem evidentes: é vontade de Deus que todos os cristãos (também os da Amazônia) possam celebrar a eucaristia. O encargo aquele: “fazei isso em memória de mim” (Lc 22, 19) vale para todos os cristãos, sejam corubos ou piripkuras ou romanos. Por outro lado, a lei do celibato não é um mandato divino, mas sim uma tradição humana: venerável, mas uma tradição humana.
2. Também penso no conselho que te deu um bispo brasileiro quando te confiou o ministério de Pedro: “Não te esqueça dos pobres”. E vale agora o argumento que outras vezes se deram das posições mais conservadoras: lembrar-se dos pobres não é somente lembrar-se de seus direitos humanos pisoteados, mas também de que possam receber a Cristo. Se a norma do celibato é distinta no mundo dos pobres do que é em nosso mundo rico, não parecerá isso uma aplicação daquele celebérrimo discurso do bispo Bossuet sobre a eminente dignidade dos pobres na Igreja? Ali dizia o famosos orador: “no mundo os primeiros são os ricos, na Igreja os primeiros são os pobres; no mundo os favores e privilégios são para os ricos, enquanto que na Igreja de Jesus Cristo as graças e bênçãos são para os pobres”...
Estamos muito longe disso, infelizmente. Porém ao menos não viria mal que algum gesto bem sonoro nos recordasse.
3. E senão, em plano um pouco mais esquisito e bem-humorado, resta outra solução para que aqueles pobres não fiquem privados da eucaristia. Em tua cúria romana, irmão Francisco, há uma legião de presbíteros que vivem em celibato e não tem praticamente trabalho ministerial algum. Inclusive vários deles são bispos sem igreja, contra a proibição expressa do Concílio da Caledônia (já no 451). Tenta-se eludir essa proibição assinalando a uma Igreja inexistente. A qual parece uma verdadeira hipocrisia, que já Bento XVI quis eliminar, porém a cúria não permitiu.
Pois bem: seria tão absurdo enviar todos esses padres da Cúria a regiões perdidas do BrasilPeruChade ou Tehuantepec, para que aqueles cristãos pudessem ver cumprido seu direito de celebrar a eucaristia? A cúria romana poderia ficar ocupada por leigos fieis, (“viri probati” também), casados e pais de famílias. Porque nenhuma lei eclesiástica exige o celibato para trabalhar em escritório, nem por importante ou sagrado seja o escritório. Seriam alguns excelentes “burocratas cristãos” (nessa expressão resignada e bem-humorada de um irmão nosso jesuíta, que passou toda sua vida como secretário).
Parece tudo isso um disparate? Talvez sim. Porém o melhor é que onde há problemas extremos há de se buscar soluções extremas, e onde as coisas estão mal repartidas há que se procurar reparti-las bem. Em qualquer caso poderia ser uma excelente ocasião para que homens como o cardeal Sarah ou o cardeal Müller demonstrassem o sentido ministerial do celibato.
4. E voltando ao que é sério: todos cremos estar buscando aqui a vontade de Deus. Por que então não colocar toda a Igreja em estado de oração para pedir o que queria Santo Inácio: “que conheçamos e cumpramos a Sua santa vontade”? Quando pedimos isso na oração, está comprovado que essa petição sim que é escutada.
Um abraço bem fraterno e bem reverente, por virtual que seja.
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Fonte: IHU

Clipe Oficial do Hino da Campanha da Fraternidade 2020







Hino da Campanha da Fraternidade 2020 - CNBB

Deus de amor e de ternura, contemplamos
Este mundo tão bonito que nos deste
Desse dom, fonte da vida, recordamos
Cuidadores, guardiões tu nos fizeste

Peregrinos, aprendemos nesta estrada
O que o bom samaritano ensinou
Ao passar por uma vida ameaçada
Ele a viu, compadeceu-se e cuidou

Toda vida é um presente e é sagrada
Seja humana, vegetal ou animal
É pra sempre ser cuidada e respeitada
Desde o início até seu termo natural

Peregrinos, aprendemos nesta estrada
O que o bom samaritano ensinou
Ao passar por uma vida ameaçada
Ele a viu, compadeceu-se e cuidou

Tua glória é o homem vivo, Deus da vida
Ver felizes os teus filhos, tuas filhas
É a justiça para todos, sem medida
É formarmos, no amor, bela Família

Peregrinos, aprendemos nesta estrada
O que o bom samaritano ensinou
Ao passar por uma vida ameaçada
Ele a viu, compadeceu-se e cuidou

Mata a vida o vírus torpe da ganância
Da violência, da mentira e da ambição
Mas também o preconceito, a intolerância
O caminho é a justiça e conversão

Peregrinos, aprendemos nesta estrada
O que o bom samaritano ensinou
Ao passar por uma vida ameaçada
Ele a viu, compadeceu-se e cuidou

Peregrinos, aprendemos nesta estrada
O que o bom samaritano ensinou
Ao passar por uma vida ameaçada
Ele a viu, compadeceu-se e cuidou

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Letra: padre José Antônio de Oliveira
Música: Gilson Celerino