02 agosto, 2023

#CEBs - Mensagem às Comunidades



Mensagem às Comunidades


CEBs: Igreja em saída, na busca da vida plena para todos e todas!
“Vejam! Eu vou criar Novo Céu e uma Nova Terra” (Is 65,17ss)


Queridas irmãs e irmãos da caminhada, reunidos/as em Rondonópolis, Mato Grosso para a celebração do 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base, nós, os mil e quinhentos participantes, tivemos a sensação exata de que éramos representantes de um coletivo muito maior, formado pelas milhares CEBs espalhadas por todo o país. Desta forma, você estava presente também, apesar da distância.

A alegria foi a grande marca do encontro, pois, nos olhávamos como verdadeiros e verdadeiras sobreviventes da pandemia e dos seis anos de desgoverno que nos afligiu. Guiamo-nos pelo método ver-julgar-agir, de 18 a 22 de julho, e de modo fiel aos gritos e desafios de todas e todos vocês, fizemos uma maravilhosa ciranda inclusiva.

O rosto das CEBs neste 15º Intereclesial revelou a identidade das comunidades com seus mais variados membros: cristãos leigos e leigas, pessoas LGBTQIAP+, diáconos e padres, religiosos e religiosas, bispos católicos e representantes de outras Igrejas, irmãs de caminhada. A força da juventude e das irmãs e irmãos pretos e indígenas, nos fizeram sentir o calor do testemunho, da resistência e da resiliência. Um rosto latino-americano, com expressões de todas as regiões do Brasil e de outros países.

Vimos que a desigualdade social é fruto de um sistema capitalista neoliberal, político e financeiro, de natureza excludente e concentrador de renda. Em decorrência dele, constatamos uma triste realidade, como: a imensa fila de desempregados e desempregadas, de trabalhadores e trabalhadoras informais, muitos/as em trabalhos análogos à escravidão; a fome, a educação e a saúde sucateadas, a falta de saneamento básico, o desmatamento e incêndios criminosos afetando os diversos biomas, a poluição das águas, do ar e da terra, destruindo a vida do planeta e das pessoas, o uso desregulado de agrotóxicos, o avanço do agronegócio e da mineração, o tráfico de entorpecentes e de pessoas, a questão urbana dominada pela violência, a presença de forças paramilitares, o armamento insano, o racismo estrutural e o alto índice de violência contra as mulheres e de feminicídios, o sistema carcerário injusto clamando pelo desencarceramento, a migração forçada e o sofrimento dos migrantes e refugiados, a criminalização dos movimentos sociais; o acesso seletivo dos meios tecnológicos, os constantes ataques aos direitos já conquistados por meio de leis que passam pelo Congresso Nacional, a exemplo de Projetos de Lei sem discussão ampla com a sociedade, a Reforma da CLT e da Previdência, e o marco temporal.

Olhando para o interno da Igreja, por um lado, as CEBs se ressentem pela falta de apoio de parte significativa do clero e, por outro, sentem-se fortalecidas pelo carinho e atenção do Papa Francisco, com suas atitudes e documentos, e por um grupo de bispos, padres, religiosas e religiosos que caminham juntos, na trilha da Igreja Povo de Deus. Constatamos ainda, que há nas CEBs, grande esperança no processo sinodal em curso, fomentando um imenso sonho de comunhão e participação em todos os âmbitos eclesiais, por uma Igreja toda ministerial, superando o clericalismo.

À luz do horizonte de um novo céu e nova terra, que a Palavra de Deus nos traz, discernimos às margens do rio da esperança, por meio dos mitos geradores de vida nova e do rito que faz a utopia ganhar sonoridade aos ouvidos dos sonhadores e sonhadoras da caminhada. Novo céu e nova terra são horizontes dos sonhos, mas também se constituem no princípio articulador das mais diversas utopias que apontam para a grande utopia do Reino, realizado em Jesus e antecipado na vida das CEBs.

As CEBs, qual mulher grávida, continuam gerando o novo, recriando os caminhos de libertação, sob o impulso do verbo sair, que funciona como um fio condutor de toda a nossa existência. De Gênesis a Apocalipses, a caminhada do povo de Deus se deu sob a inspiração da Divina Ruah, fomentando um permanente sair. Do ventre da mulher ao ventre da pachamama, saímos sempre em busca da vida plena.

O AGIR nos enviou para cuidar. Cuidar para não perdermos o entusiasmo, para não banalizarmos a missão, para que as CEBs sempre tenham o coração ardendo pela Palavra e os pés firmes na caminhada do povo periférico. Cuidar dos grupos bíblicos de reflexão como sementes de novas comunidades. Cuidar da memória martirial e profética, das estruturas de comunhão e participação, do protagonismo das mulheres e das juventudes, da vida plena dos povos originários, da aliança e parceria com os movimentos populares, da força da sinodalidade que está na comunidade e dos processos de formação permanente. E em tudo, valorizar a força dos pobres nas iniciativas comunitárias e não deixar que nos roubem as comunidades!

E assim, com a esperança do verbo esperançar, dispostos e dispostas a seguir nossa caminhada como CEBs – Igreja em saída para as periferias, partimos de Rondonópolis, certos de que, Jesus de Nazaré, a multidão de testemunhas, e os Mártires da Caminhada, seguirão animando e conduzindo as CEBs para as Galileias periféricas das terras mato-grossenses ao Estado do Espírito Santo, onde seremos acolhidos por nossa Senhora da Penha.


Rondonópolis, 22 de julho de 2023.

15º Intereclesial das CEBs


#Mensagem das Comunidades Eclesiais de Base do Brasil (CEBs) aos Bispos do Brasil – CNBB

 




Mensagem das Comunidades Eclesiais de Base do Brasil (CEBs) aos Bispos do Brasil – CNBB


As ovelhas escutam a sua voz, ele (o pastor) chama cada 
uma pelo nome e as leva para fora” (Jo 10,3)


É com espírito fratersororal e no jeito de viver das CEBs, que caminham com Jesus de Nazaré, que encontramos inspiração para lhes escrever esta carta, com os melhores votos de feliz missão e em plena e fraterna comunhão como Igreja Sinodal, na qual, insiste o papa Francisco, “é preciso escutar com o ouvido do coração”. As CEBs querem escutar a voz do Pastor, mas também querem ser ouvidas!

Ao mesmo tempo em que somos gratos ao nosso papa Francisco pelo apoio manifestado: “Quero estar próximo a vocês neste 15º Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base. Sigam trabalhando, vão adiante, não se esqueçam: Igreja em saída”, que está acontecendo nesses dias 18 a 22 de julho, aqui na Diocese de Rondonópolis-Guiratinga/MT, com o tema: “CEBs: Igreja em saída na busca de vida plena para todos e todas” e lema: “Vejam! Eu vou criar um novo céu e uma nova terra” (Is 65,17ss), queremos expressar a nossa surpresa e também a nossa tristeza, diante do fato que, nas últimas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil, a CNBB não sentiu a necessidade de nos chamar pelo nome – CEBs – para seguirmos as indicações dos nossos Pastores. As CEBs estão vivas e presentes em inúmeras Dioceses do Brasil, continuando a oferecer a sua contribuição para dar vida a uma Igreja em saída para as periferias, uma Igreja sinodal e missionária.

As CEBs nasceram sob a inspiração das primeiras comunidades cristãs, animadas pelo sopro do Espírito Santo de Deus, como um jeito simples de ser Igreja de Jesus a partir da renovação da Igreja pelo Concílio Vaticano II (1962-1965). Foram incentivadas pelas Conferências Episcopais de Medellín (1968), como “célula inicial de estruturação eclesial e centro de evangelização“ (cf. 15,10), permitindo que o povo tenha maior conhecimento da Palavra de Deus, compromisso social em nome do Evangelho, surgimento de novos ministérios leigos e educação dos adultos na fé (cf. DAp 178), Puebla (1979), confirmadas por Santo Domingo (1992) e reanimadas por Aparecida (2007), que diz: “Queremos decididamente reafirmar e dar novo impulso à vida e missão profética e santificadora das CEBs” (n. 179). A 1ª Assembleia Eclesial Latino-americana e caribenha reafirmou a confiança na caminhada das CEBs no Continente: “As pequenas comunidades eclesiais ou de base, são a expressão de uma Igreja que quer assumir mais fortemente a opção pelos pobres. É importante revitalizar as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), como um jeito de ser Igreja onde se vive a sinodalidade, espaço de inclusão da diversidade e de superação do clericalismo“ (cf. 316 e 317).

Os bispos da grande área missionária de nossa querida Amazônia, reunidos em Santarém, para celebrar os 50 anos do documento de Santarém, reafirmaram sua esperança na caminhada das CEBs, dizendo: “Ressaltamos a importância das Comunidades Eclesiais de Base, que constituem uma dinâmica muito própria da Igreja em nossas dioceses e prelazias. Reconhecemos nelas a força missionária de nossa ação evangelizadora e o sujeito eclesial da missão neste chão. Elas estão intrinsecamente implicadas no anúncio e na vivência da fé, na presença profética que torna evidente o Reino de Deus, no cuidado da casa comum” (n.º 42).

Por tudo isso, reafirmamos com o magistério que as CEBs são uma forte expressão da sinodalidade tão sonhada pela nossa Igreja! Não podemos negar que a profecia das CEBs foi inspiradora e parteira de tantos serviços, pastorais sociais e mãe de tantos Mártires e Profetas da caminhada de nossa Igreja na América Latina.

Compreendemos que a missionariedade, já é da natureza das CEBs. Não se pode conceber uma Comunidade Eclesial de Base que não seja missionária. E isso é visível desde a recepção criativa do Vaticano II no continente latino-americano e caribenho, pois as CEBs buscaram nos documentos do Concílio, orientações para sua ação evangelizadora e missionária: a) Uma espiritualidade bíblica (Dei Verbum); b) Ação transformadora no mundo (Gaudium et Spes); c) Coordenação partilhada na perspectiva da colegialidade e da sinodalidade (Lumen Gentium); d) Celebração dominical animada pela comunidade (Sacrosanctum Concilium); e) Uma igreja aberta à missão (Ad gentes) f) Abertura ao diálogo ecumênico e inter-religioso (Unitatis Redintegratio, Dignitatis Humanae e Nostra Aetate).

Então, qual a motivação para as Diretrizes não mais nomearem as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e sim, Comunidades Eclesiais Missionárias (CEMs)? Não será importante responsabilizar e valorizar a fé e o compromisso de tantos irmãos e irmãs nesta caminhada eclesial? É justo não apoiar e não estimular as tantas comunidades eclesiais de base que continuam na sua missão com a Igreja e para o bem da Igreja? Que lugar ocupam as CEBs no coração da CNBB?

Sentimo-nos contemplados, amparados e abençoados pelo Documento de Aparecida: nossa Espiritualidade sempre encarnada e enraizada no Evangelho de Jesus, sua Palavra viva, nos ilumina noite e dia. Por isso, reafirmando que as CEBs são missionárias como toda Igreja deve ser e com sentimento de pertença, solicitamos a reinclusão das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, nas próximas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.

O trem das CEBs não pode parar de percorrer até o fim, os trilhos da vida do povo mais pobre e sofrido, como dom do Espírito de Deus e esperança dos pequenos. Continuaremos fiéis no caminho do discipulado de Jesus de Nazaré, carregando com alegria nos ombros, a nossa história e as nossas esperanças: “A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão” (Sl 84,11). Como Igreja Sinodal, reafirmamos nossa opção preferencial pelos pobres, através do testemunho profético e martirial, em fidelidade à nossa identidade, inspirada na Trindade Santa. Agradecemos o apoio de nossos Bispos acompanhantes e os demais das Dioceses e Prelazias de nosso Brasil.

Fratersororalmente em Jesus de Nazaré, na proteção de nossa Mãe Aparecida!

15º Intereclesial das CEBs do Brasil

Rondonópolis, 22 de julho de 2023.

#Carta das CEBs do Brasil ao Papa Francisco




Carta das CEBs do Brasil ao Papa Francisco


Rondonópolis/MT, 22 de julho de 2023.


CEBs: Igreja em Saída, na busca da vida plena para todos e todas
“Vejam! Eu vou criar novo céu e uma nova terra!” (Is. 65, 17ss)


Amado Papa Francisco,


Dos dias 18 a 22 de julho, as Comunidades Eclesiais de Base do Brasil (CEBs), como é do seu conhecimento, estiveram reunidas para a realização do 15º Intereclesial na Diocese de Rondonópolis-Guiratinga / MT.

Sentimos sua forte presença de pastor orientando-nos para sermos uma Igreja em Saída em todos os momentos. Sua mensagem pessoal foi muito importante para nos dar forças.

Sentimo-nos qual pequeno rebanho de batizados, chamado a ser uma Igreja Samaritana e a testemunhar ao mundo uma Comunidade de irmãos e irmãs que caminha sacramentalmente unida em direção à Vida Plena.

Sentimo-nos caminhando na força do nome “Francisco” que se coloca como pobre ao lado dos pobres. Sentimo-nos como Madalena, celebrada em oração nestes dias, que pergunta: “Onde está o meu Senhor?”, com a força do crucificado-ressuscitado que nos indica o caminho: “Vai ter com os meus irmãos” (Jo.10, 1.11-18).

Assim sendo, de forma singela, estamos expressando nossa gratidão por estar “presente” entre nós: a nos encorajar no Caminho, mas juntos e juntas; a nos convidar a retomar a sinodalidade, tão essencial para nossa Igreja. Sim, sentimos nestes dias como João Crisóstomo nos indicou: “Igreja e Sínodo são sinônimos”. Cristãos leigos e leigas, religiosos e religiosas, bispos, diáconos e presbíteros, lado a lado buscando o mesmo caminho.

Repetimos com insistência: queremos ser uma Igreja de irmãos e irmãs. Desejamos que nossas comunidades sejam espaço de acolhimento das dores e sofrimentos do mundo, sobretudo dos mais pobres. Desejamos que nossa Igreja não tenha medo de se enlamear diante da necessidade profética de interpelar um mundo cuja economia mata, e se comprometa com uma economia cujo centro seja a vida. Desejamos Francisco, que seu apelo pela paz mundial seja ouvido.

Agradecemos imensamente a Deus por sua presença eclesial, Papa Francisco. Por sua presença amorosa e solidária que aponta a profundidade em acreditar que a busca pela salvação começa aqui e agora. A vida no céu começa com a vida na terra. Portanto, enquanto tivermos forças, vamos continuar buscando, apocalipticamente, um novo céu e uma terra.

Sinta-se abraçado por nós. Possamos celebrar em outubro de 2024 a sinodalidade que é constitutiva da Igreja, na forma, no estilo, na estrutura e na vivência. Neste tempo da graça, possamos ser impelidos, em ritmo processual, em direção a uma Igreja que caminha verdadeiramente, de forma sinodal.

Fraternalmente, em Cristo Jesus e com as benções da Mãe Aparecida!

Participantes do 15º Intereclesial das CEBs do Brasil