24 agosto, 2018

Um lindo e abençoado final de semana a todas e a todos!



Uma coisa é você achar que está no caminho certo, outra é achar que seu caminho é o único.
(Paulo Coelho)

A eleição mais perigosa do século


Milhões de brasileiras e de brasileiros serão chamados a transformar sua história através do voto nos níveis nacional e estadual.

"Perigosa porque a mesma maioria do eleitorado que apoia Lula - composta por pequenos assalariados, agricultores familiares, trabalhadores informais, estudantes pobres, moradores da periferia - corre o risco de perder direitos conquistados há décadas. É o que já está ocorrendo agora." 


O artigo é de Ayrton Centeno, publicado no site Brasil de Fato, em 22 de Agosto de 2018.

Essa eleição será estranha porque o seu principal personagem e o líder de todas as pesquisas está preso numa cela de Curitiba. Perigosa porque a mesma maioria do eleitorado que apoia Lula - composta por pequenos assalariados, agricultores familiares, trabalhadores informais, estudantes pobres, moradores da periferia - corre o risco de perder direitos conquistados há décadas. É o que já está ocorrendo agora.

Candidatos do campo conservador, como Geraldo Alckmin, que tem 40% do horário eleitoral, prometem, por exemplo, extinguir o Ministério do Trabalho, Jair Bolsonaro ataca o regime de cotas e ambos defendem as reformas de Michel Temer e as privatizações. A vitória de qualquer um deles significará o prosseguimento da agenda do golpe e mais perdas para o mundo do trabalho.

“É preciso conversar com o povo, esclarecer”, propõe o jornalista e profissional de marketing político, Paulo Cézar da Rosa.  Mas ele tem uma visão otimista da cena política. "As pesquisas têm mostrado que os setores de menor renda estão compreendendo o que está acontecendo. E nos de maior renda, muitos que apoiaram o golpe, já estão se dando conta de que foram enganados”, avalia. E prossegue: “Começam a perceber que existem dois projetos de Brasil e que é preciso ver de que lado está o candidato. Não é uma tarefa simples, mas precisa ser feita”.

Trabalhismo x conservadorismo

Para Rosa, o pleito de 2018 não pode ser entendido como “normal”. Mesmo assim, sustenta que, no plano federal, algo se manterá inalterável: a velha polarização entre PT e PSDB. É o que também assinala o cientista político Benedito Tadeu César. “Vai se repetir aquilo que já acontecia no passado, quando se confrontavam o trabalhismo de Getúlio-Jango-Brizola e o conservadorismo de Carlos Lacerda e da UDN”. A partir de 1989, o trabalhismo passou a ser encarnado pelo PT e seus aliados, inclusive o PDT, enquanto a dupla PSDB & DEM incorporou o lacerdismo. De um lado, a proposta de desenvolvimento autônomo; do outro, o neoliberalismo dependente.

Tanto César quanto Rosa não acreditam no fôlego de Jair Bolsonaro. “Vai estacionar, talvez cair”, diz César. Nos últimos dias, Rosa percebeu um fenômeno: “Vi Lula crescendo e a direita com medo de que qualquer candidato que venha a substituí-lo ganhe a eleição. Por isso este movimento de reforço do Alckmin e esvaziamento do Bolsonaro”.

César enfatiza que, apesar da candidatura de Henrique Meirelles, do MDB, gestada para defender o governo federal, Alckmin não conseguirá se descolar de Temer e seu governo, o mais impopular da história do país. “Além disso, nunca ninguém se elegeu presidente com uma plataforma de privatização e de retirada de direitos. O próprio FHC, quando candidato, nunca disse que ia privatizar”, repara.

Ao citar Alckmin, Rosa trata-o como “uma operação internacional”. Tais ações - argumenta - são do tipo “jurídico-político-midiáticas” e com os Estados Unidos sempre por trás. “O  lavajatismo - continua -  insere-se nisso. É uma operação de guerra não convencional -  híbrida - infinitamente mais barata do que aquela do Oriente Médio. Após a primeira fase, necessitam proteger o processo através de ‘novos políticos’ alinhados com a agenda”. É onde entra o candidato tucano.  “O PSDB e não o MDB, como alguns pensam, é o partido do golpe. O Alckmin agora vai entrar de “chefe das operações”, dizendo que o gerente que eles botaram - o Temer - não deu conta do recado”, acredita. “E, aqui no Rio Grande, o Eduardo Leite vai dizer a mesma coisa do Sartori”, prevê.

Disputa no Rio Grande do Sul

César considera a disputa gaúcha mais nebulosa do que a nacional. Salienta que o fato de José Ivo Sartori controlar a máquina governamental, ter bastante visibilidade e do MDB estar presente em todos os municípios pode favorecê-lo numa campanha curta. Aliás, o tempo escasso para afirmar novos candidatos deve beneficiar as figuras mais conhecidas. No passado, os gaúchos apostaram na novidade, o que aconteceu com Germano Rigotto em 2002 e mesmo Sartori em 2014. “Agora, o Eduardo Leite vai tentar ocupar este lugar do ‘novo’, mas terá inúmeros problemas para fazer isso…”, entende Rosa.   

Após o linchamento midiático da classe política, há um grande temor do avanço da abstenção em 2018. “Vamos ter muita abstenção e votos brancos e nulos”, admite Rosa. Mas acha que, para a esquerda, o pior já passou. “Em 2016, o eleitor de esquerda não foi votar e o PT perdeu sete milhões de votos. Não perdeu para outros partidos, mas para a abstenção, a desilusão. De lá para cá, muita coisa mudou. Agora serão os eleitores da direita e da centro-direita que terão dificuldade”, imagina.

Olho vivo, eleitor!

Com 35 partidos legalizados, o Brasil complica e muito a vida dos eleitores.  Além dessa sopa de letrinhas, é preciso escolher entre milhares de candidatos a deputado federal e estadual, senador, governador e presidente. Não é fácil, ainda mais quando nem tudo é o que parece ser. O novo pode representar o velho e aquilo que se apresenta como avançado pode ser muito mais atrasado do que se pensa.

Na hora do voto, é preciso atentar, por exemplo, para duas armadilhas: o candidato que vive trocando de partido e o partido que troca de nome. No primeiro caso, a responsabilidade é da legislação eleitoral. Tolerante com a infidelidade partidária, permite que o eleito carregue seu mandato para outra agremiação e desta para uma terceira sem maiores problemas, desconsiderando sigla e eleitor.

No caso dos partidos, o exemplo mais emblemático é o do PP, o Partido Progressista que, apesar da denominação, pertence ao campo conservador.  Já foi Arena, mudou para PDS, virou PPR, depois PPB e converteu-se em PP. Enquanto Arena, foi quem sustentou a ditadura de 1964.

Geralmente, a mudança se dá pelo desgaste do nome anterior. Funciona assim: filme queimado, nome trocado. Filho também da Arena e irmão gêmeo do PP, o DEM antes era PFL. Apesar de batizado como “Democratas”,  se formou na base civil da ditadura quando era Arena.

O Patriota, nanico que tem candidato à presidência, é o mesmo PEN, o antigo Partido Ecológico Nacional. Mudou sua graça para abrigar Jair Bolsonaro. Abandonou também a causa ambiental e adotou as bandeiras anti-aborto, pela liberação de armas de fogo e pela redução da maioridade penal. Mas Bolsonaro não veio.

Se o PEN mudou para Patriota, o PTN transformou-se em Podemos. De novo, o nome mais esconde do que revela. A inspiração veio do Podemos espanhol, sigla de esquerda. Mas o Podemos brasileiro coloca-se à direita do jogo político. Seu candidato à presidência é o senador Álvaro Dias, ex-PSDB. No Rio, sua cara é a do ex-jogador Romário. Um e outro votaram pelo impeachment de Dilma Rousseff. Ambos, portanto, são responsáveis pela situação atual do país.

Também o PMDB alterou o nome.  Sob Temer e após o golpe que ajudou a desfechar em 2016, tornou-se novamente MDB, nome que recebeu como uma das duas agremiações políticas consentidas pelo regime militar, quando era proibido usar o termo “partido”.

Estreando nas eleições presidenciais, o Partido Novo é, na verdade, um representante do velho liberalismo do século 19. Afirma-se como “de direita” e contra as cotas nas universidades. Defende a privatização da Petrobras e do Banco do Brasil e a “flexibilização” do porte de armas de fogo.  

Dos 35 partidos que vão disputar a preferência dos brasileiros, o mais jovem é outra evidência de como as aparências podem enganar. O PMB, Partido da Mulher Brasileira, teve uma bancada de 20 deputados federais. Nela, havia apenas duas mulheres. Afirma-se como antifeminista e anti-aborto. A sigla das mulheres chegou a lançar candidatura ao governo gaúcho em 2018, mas desistiu. Concorreria com um homem…

Mulheres são maioria no eleitorado, mas pouco mais de 10% no Congresso

As mulheres são maioria entre os eleitores brasileiros, somando 77.337.918 cidadãs aptas a votar, o que significa 52,5% do eleitorado. No entanto, a representação feminina é pouco superior a 10% das cadeiras do Congresso. Os homens são 69.901.035, ou seja, 47,5% do total. Mas ocupam mais de 90% das vagas do Senado e da Câmara de Deputados. Os dados são do TSE, o Tribunal Superior Eleitoral.

A diferença a favor das mulheres é de 7.436.883, número superior à soma de todo o eleitorado de nove capitais, a saber Belo Horizonte, Salvador, Curitiba, Florianópólis, Aracaju, Teresina, João Pessoa, Palmas e Maceió.

O maior contingente de mulheres está situado na faixa entre 45 e 59 anos. São 18,7 milhões. Logo depois, vem a faixa entre 25 e 34 anos com 16,1 milhões, seguindo-se as eleitoras com idade entre 35 e 44 anos, com 15,8 milhões. O eleitorado masculino também é mais concentrado nessas três faixas.

Quase quatro milhões e meio de eleitores votarão pela primeira vez nas eleições do dia 7 de outubro, quando serão eleitos, além dos cargos de presidente e vice-presidente da República, deputados federais, estaduais ou distritais, dois senadores por estado e os governadores dos 26 estados, mais o Distrito Federal. Houve um crescimento de 3,14% em comparação às eleições de 2014.

Nos segmentos sem obrigação de votar, a faixa de 16 a 18 anos registrou queda de 14,5% do eleitorado na comparação com 2014. Entre os eleitores acima de 70 anos, ao contrário, ocorreu um aumento de 11,1% em relação às eleições presidenciais anteriores. Hoje, representam um contingente de 12,1 milhões de cidadãos aptos a votar.

A maior parte do eleitorado possui ensino fundamental incompleto. Representam 25,8% dos eleitores. Ou seja, 38 milhões de cidadãos. Outros 33,6 milhões, ou 22,7%, concluíram o ensino médio. Com ensino superior são 13,5 milhões ou 9,1%. E seis milhões de eleitores – 4,4% – são analfabetos.

Uma inovação de 2018 refere-se à condição dos transexuais e travestis. Pela primeira vez, eles poderão usar o nome social para a identificação no processo eleitoral. A norma foi aprovada pelo TSE no dia 1º de março deste ano e, desde então, 6.280 pessoas fizeram a escolha de se registrarem ou atualizarem seus dados para ter acesso a esse direito.

Homilia do Papa Francisco - Santa Missa para os Migrantes (6 de julho de 2018)



Homilia do Papa Francisco - Santa Missa para os Migrantes (6 de julho de 2018)

«Ouvi isto, vós que esmagais o pobre e fazeis perecer os desfavorecidos da terra (…). Eis que vêm dias em que lançarei fome sobre o país, (...) fome de ouvir as palavras do Senhor» (Am 8, 4.11).

A advertência do profeta Amós revela-se ainda hoje de veemente atualidade. Quantos pobres são hoje esmagados! Quantos desfavorecidos são feitos perecer! Todos eles são vítimas daquela cultura do descarte que repetidamente foi denunciada. E, entre eles, não posso deixar de incluir os migrantes e os refugiados, que continuam a bater às portas das nações que gozam de maior bem-estar.

Recordando as vítimas dos naufrágios há cinco anos, durante a minha visita a Lampedusa, fiz-me eco deste perene apelo à responsabilidade humana: «“Onde está o teu irmão? A voz do seu sangue clama até Mim”, diz o Senhor Deus. Esta não é uma pergunta posta a outrem; é uma pergunta posta a mim, a ti, a cada um de nós» [Insegnamenti I(2013)-vol. 2, 23]. Infelizmente, apesar de generosas, as respostas a este apelo não foram suficientes e hoje choramos milhares de mortos.

A aclamação de hoje ao Evangelho contém este convite de Jesus: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos» (Mt 11, 28). O Senhor promete descanso e libertação a todos os oprimidos do mundo, mas precisa de nós para tornar eficaz a sua promessa. Precisa dos nossos olhos para ver as necessidades dos irmãos e irmãs. Precisa das nossas mãos para socorrê-los. Precisa da nossa voz para denunciar as injustiças cometidas no silêncio – por vezes cúmplice – de muitos. Na realidade, deveria falar de muitos silêncios: o silêncio do sentido comum, o silêncio do «fez-se sempre sempre assim», o silêncio do «nós» sempre contraposto ao «vós». Sobretudo o Senhor precisa do nosso coração para manifestar o amor misericordioso de Deus pelos últimos, os rejeitados, os abandonados, os marginalizados.

No Evangelho de hoje, Mateus narra o dia mais importante da sua vida: aquele em que foi chamado pelo Senhor. O Evangelista recorda claramente a censura de Jesus aos fariseus, com tendência fácil a murmurar: «Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício» (9, 13). É uma acusação direta à hipocrisia estéril de quem não quer «sujar as mãos», como o sacerdote e o levita na parábola do Bom Samaritano. Trata-se duma tentação muito presente também nos nossos dias, que se traduz num fechamento a quantos têm direito, como nós, à segurança e a uma condição de vida digna, e que constrói muros, reais ou imaginários, em vez de pontes.

Perante os desafios migratórios da atualidade, a única resposta sensata é a solidariedade e a misericórdia; uma resposta que não faz demasiados cálculos, mas exige uma divisão equitativa das responsabilidades, uma avaliação honesta e sincera das alternativas e uma gestão prudente. Política justa é aquela que se coloca ao serviço da pessoa, de todas as pessoas interessadas; que prevê soluções idóneas a garantir a segurança, o respeito pelos direitos e a dignidade de todos; que sabe olhar para o bem do seu país tendo em conta o dos outros países, num mundo cada vez mais interligado. É para um mundo assim, que olham os jovens.

O Salmista indicou-nos a atitude justa que, em consciência, se deve assumir diante de Deus: «Escolhi o caminho da fidelidade e decidi-me pelos vossos juízos» (Sal 118/119, 30). Um compromisso de fidelidade e de juízo reto que esperamos realizar juntamente com os governantes da terra e as pessoas de boa vontade. Por isso, acompanhamos atentamente o trabalho da comunidade internacional para dar resposta aos desafios colocados pelas migrações atuais, harmonizando sabiamente solidariedade e subsidiariedade e identificando recursos e responsabilidades.

Desejo concluir com algumas palavras dirigidas particularmente aos fiéis que vieram da Espanha.

Quis celebrar o quinto aniversário da minha visita a Lampedusa convosco, que representais os socorristas e os resgatados no Mar Mediterrâneo. Aos primeiros, quero expressar a minha gratidão por encarnarem hoje a parábola do Bom Samaritano, que parou para salvar a vida daquele pobre homem espancado pelos ladrões, sem lhe perguntar pela sua proveniência, pelos motivos da sua viagem ou pelos seus documentos: simplesmente decidiu cuidar dele e salvar a sua vida. Aos resgatados, quero reiterar a minha solidariedade e encorajamento, pois conheço bem as tragédias de que estais a fugir. Peço-vos que continueis a ser testemunhas da esperança num mundo cada vez mais preocupado com o próprio presente, com reduzida visão de futuro e relutante a partilhar, e que elaboreis conjuntamente, no respeito pela cultura e as leis do país de acolhimento, o caminho da integração.

Peço ao Espírito Santo que ilumine a nossa mente e inflame o nosso coração para superarmos todos os medos e inquietações e nos transformarmos em instrumentos dóceis do amor misericordioso do Pai, prontos a dar a nossa vida pelos irmãos e irmãs, tal como fez o Senhor Jesus Cristo por cada um de nós.

Oração


"Senhor, derrama sobre nós o teu Espírito, para que não permaneçamos ossos ressequidos, corpos sem vida na sociedade, na comunidade, na família. A superficialidade, a banalidade, o frenesim, que tantas vezes nos caracterizam, apenas escondem o vazio que nos preenche. Manda o teu Espírito, para que não desfaleçamos no tédio, na frieza, nas relações estéreis, entre as ruínas de ideologias desmoronadas, e entre os farrapos dos nossos sonhos desfeitos. Viestes para nos dar a vida, e dá-la em abundância. De Ti a esperamos! Amém."

Fonte: Dehonianos