31 julho, 2020

Agosto – Mês Vocacional

Agosto – Mês Vocacional
Por Dom Carlos Romulo

Dias atrás, alguém me perguntava: Por que, na Igreja, o mês de agosto é chamado o mês vocacional? Me interessei pelo tema o procurei descobrir a partir de quando se escolheu o mês de agosto, como mês vocacional.

A tomada de consciência da importância do chamado, da resposta vocacional, vem de longe. Que tenha se tornado um tema de reflexão eclesial, remonta o Concílio Vaticano II (1962-1965). E que se torne uma temática para toda a Igreja do Brasil, inclusive escolhendo um mês, como mês vocacional, vem da decisão da 19ª Assembleia dos Bispos do Brasil, em 1981. Aliás, também a partir daquela Assembleia se decidiu também, pela realização de um Ano Vocacional, que foi 1983.

Sobre o Ano Vocacional de 1983, quero relatar um particular. Foi na realização de Ano Vocacional, e nas programações que a Diocese de Pelotas, realizou durante aquele ano, é que passei a refletir sobre a minha vocação. Posso dizer que, o meu encontro pessoal com Deus se dá ao procurar responder ao chamado: Senhor, que queres de mim?

Bom, continuando sobre o mês vocacional, alguns elementos importantes que devem ser destacados.

O Concílio Vaticano II despertou na consciência eclesial o ‘chamado universal a santidade’. Todos os batizados são chamados a amadurecer no seguimento de Cristo e a configurar suas vidas a partir de uma opção vocacional. Portanto, não existem vocações superiores, como um destino, mas encontros profundos e personalizados com Deus, em que cada pessoa batizada procura responder comprometendo a sua vida numa opção vocacional.

No mês de agosto, se procura, em primeiro lugar, despertar a consciência vocacional, de que todos são chamados. Se todos são chamados, se procura também celebrar as diversas formas de responder ao Chamado de Deus. Por isso, a comunidade eclesial reza e agradece pela vocação sacerdotal, pela vocação à vida familiar, à vocação à vida consagrada, e a vocação a vida laical. Desta forma, se procura destacar todas as formas de se viver, em primeiro lugar a vocação batismal, configurando-a em formas específicas de consagração, ministério e serviço.

A oração pelas vocações é feita em nossas comunidades ao longo de todo o ano. No mês de agosto, somos chamados a uma tomada de consciência, como Igreja e como batizados, sobre a beleza do chamado e a riqueza de respostas generosas, que nos colocam no caminho da santidade.

Agradeçamos ao Senhor: pelo dom da vida e do ministério de todos os diáconos, padres e bispos; pela família que nos gerou e pelo testemunho de tantas famílias; pela gratuidade do Senhor ao enriquecer a Igreja com a beleza da Vida Religiosa; e pela riqueza do testemunho e pela variedade de carismas e serviços vividos pelos leigos e leigas, na comunidade e na sociedade.

Deus vos abençoe e vos guarde sempre!


Rezemos Juntos

Rezemos juntos, 

“É Jesus esse pão de igualdade, viemos pra comungar, com a luta sofrida do povo que quer ter voz, ter vez, lugar, comungar é tornar-se um perigo viemos pra incomodar...” 

Pelas vozes proféticas, para que nunca se calem e pelo apoio à Carta ao Povo de Deus que apresenta críticas ao governo de Jair Bolsonaro, críticas essas fundamentadas, que no primeiro momento assinada por 152 bispos, depois por outros mais.

“Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Às vezes, sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor. Mas Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros” (EG 56 e 270).

Mais de mil padres assinam carta de apoio à Carta ao Povo de Deus dos bispos, “uma leitura lúcida e corajosa da realidade atual”

30 Julho 2020

Uma carta de agradecimento e apoio à Carta ao Povo de Deus assinada no primeiro momento por 152 bispos, depois tem se somado mais bispos, com 1.058 assinaturas de padres e diáconos, acaba de ser lançada nesta quinta-feira, 30 de julho. Os padres que assinam definem a Carta ao Povo de Deus como um documento profético, “oferecendo ao Povo de Deus luzes para o discernimento dos sinais nestes tempos tão difíceis da história do nosso País”.

A informação é de Luis Miguel Modino.

“O documento é uma leitura lúcida e corajosa da realidade atual à luz da fé”, segundo os signatários, que em consonância com a carta dos bispos gritam por mudanças necessárias, afirmando “que os que nos governam têm o dever de agir em favor de toda a população, de maneira especial, os mais pobres”, uma atitude que não está sendo assumida pelo atual governo. Por isso, os padres se dizem “profundamente indignados com ações do Presidente da República em desfavor e com desdém para com a vida”.

Diante disso, os padres aceitam o convite dos bispos para cuidar da vida, para cuidar deste País enfermo! Ao mesmo tempo mostram sua solidariedade “com todas as famílias que perderam alguém por essa doença que ceifa vidas e aterroriza a todos”, consequência da falta de políticas de combate do governo, que não tem um Ministro da Saúde.

Finalmente, eles reafirmam “com alegria, ânimo e esperança a fidelidade à missão a nós confiada e apoiamos os bispos signatários da Carta ao Povo de Deus e em sintonia com a CNBB em sua missão de testemunhar e fortalecer a colegialidade”.


Eis a carta.

"Caminhamos na estrada de Jesus"
Carta de padres em apoio e adesão aos bispos signatários da Carta ao Povo de Deus

“Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Às vezes, sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor. Mas Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros” (EG 56 e 270).

Nós, “Padres da Caminhada”, “Padres contra o Facismo”, diáconos permanentes e tantos outros padres irmãos, empenhados em diversas partes do Brasil a serviço do Evangelho e do Reino de Deus, manifestamos nosso agradecimento e apoio aos bispos pela Carta ao Povo de Deus. Afirmamos que ela representa nossos pensamentos e sentimentos.

Consideramos um documento profético de uma parcela significativa dos Bispos da Igreja Católica no Brasil, “em profunda comunhão com o Papa Francisco e seu magistério e em comunhão plena com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil”, oferecendo ao Povo de Deus luzes para o discernimento dos sinais nestes tempos tão difíceis da história do nosso País.

O documento é uma leitura lúcida e corajosa da realidade atual à luz da fé. É a confirmação da missão e do desafio permanente para a Igreja: tornar o Reino de Deus presente no mundo, anunciando esperança e denunciando tudo o que está destruindo a esperança de uma vida melhor para o povo. É como uma grande tempestade que se abate sobre o nosso País. Os bispos alertam para o perigo de que “a causa dessa tempestade é a combinação de uma crise de saúde sem precedentes, com um avassalador colapso da economia e com a tensão que se abate sobre os fundamentos da República”, principalmente impulsionado pelo Presidente.

Sentimo-nos também interpelados por essa realidade a darmos nossa palavra de presbíteros comprometidos no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Evangelho ilumina nossa caminhada e vamos aprofundando nosso compromisso na Igreja, sinal e instrumento do Reino, a serviço da vida e da esperança. Cada vez mais vemos a vida do povo sendo ameaçada e seus sofrimentos, principalmente dos pobres, vulneráveis e minorias. Tal realidade faz com que nossos corações ardam, nossos braços lutem e nossa voz grite pelas mudanças necessárias. Como recordam os Bispos, nós não somos motivados por “interesses político-partidários, econômicos, ideológicos ou de qualquer outra natureza. Nosso único interesse é o Reino de Deus”.

Os bispos muito bem expressaram em sua carta, recordando o Santo Padre, o Papa Francisco, que “a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal com Deus. A nossa reposta de amor não deveria ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos necessitados […], uma série de ações destinadas apenas a tranquilizar a própria consciência. A proposta é o Reino de Deus […] (Lc 4,43 e Mt 6,33) (EG. 180)”.

Sabemos que os que nos governam têm o dever de agir em favor de toda a população, de maneira especial, os mais pobres. Não tem sido esse o projeto do atual Governo, que “não coloca no centro a pessoa humana e o bem de todos, mas a defesa intransigente dos interesses de uma “economia que mata” (Alegria do Evangelho, 53), centrada no mercado e no lucro a qualquer preço”. Por isso, também estamos profundamente indignados com ações do Presidente da República em desfavor e com desdém para com a vida de seres humanos e também com a da “nossa irmã, a Mãe Terra”, e tantas ações que vão contra a vida do povo e a soberania do Brasil.

É urgente a reconstrução das relações sociais, pois “este cenário de perigosos impasses, que colocam nosso País à prova, exige de suas instituições, líderes e organizações civis muito mais diálogo do que discursos ideológicos fechados. [...] Essa realidade não comporta indiferença.”. A CNBB tem se pronunciado de forma contundente em momentos recentes; em posicionamento do dia 30 de abril, manifestou perplexidade e indignação com descaso no combate ao novo coronavírus e por eventos atentatórios à ordem constitucional.

Em outro momento, os 67 bispos da Amazônia publicaram outro documento, expressando imensa preocupação e exigindo maior atenção e cuidado do poder público em relação à Amazônia e aos povos originários. Na carta aberta ao Congresso Nacional do dia 13 de julho de 2020 a CNBB denunciou os 16 vetos do Presidente da República ao Plano Emergencial para Enfrentamento à Covid-19 nos Territórios Indígenas, comunidades quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais (PL nº PL 1142/2020, agora Lei nº 14.021) dizendo: “Esses vetos são eticamente injustificáveis e desumanos pois negam direitos e garantias fundamentais à vida dos povos tradicionais”. Outras Comissões da CNBB assumiram decididamente o lado dos povos tradicionais do Brasil “duplamente vulneráveis: ao contágio do coronavírus e à constante ameaça de expulsão de seus territórios”.

Nesse tempo de “tempestade perfeita”, a voz do Espírito ressoa em posicionamentos corajosos da Igreja, que renova a cada dia seu compromisso “na construção de uma sociedade estruturalmente justa, fraterna e solidária”, como indicam os bispos em sua carta.

Reafirmamos nosso compromisso na defesa e no cuidado com a vida. Ao convite dos bispos queremos dar nosso sim! “Somos convocados a apresentar propostas e pactos objetivos, com vistas à superação dos grandes desafios, em favor da vida, principalmente dos segmentos mais vulneráveis e excluídos, nesta sociedade estruturalmente desigual, injusta e violenta.” Queremos nos empenhar para cuidar deste País enfermo!

Nós nos solidarizamos com todas as famílias que perderam alguém por essa doença que ceifa vidas e aterroriza a todos. Próximos de atingir 100 mil mortos nesta pandemia, é inadmissível que não haja neste governo um Ministro da Saúde, que possa conduzir as políticas de combate ao novo coronavírus.

Conclamamos todos os cristãos e cristãs, as igrejas e comunidades, e todas as pessoas de boa vontade para que renovem, junto com os bispos, a opção pelo Evangelho e pela promoção da vida, espalhando as sementes do Reino de Deus.

Nós, “Padres da Caminhada”, “Padres contra o Fascismo”, diáconos permanentes e tantos outros padres irmãos, reafirmamos com alegria, ânimo e esperança a fidelidade à missão a nós confiada e apoiamos os bispos signatários da Carta ao Povo de Deus e em sintonia com a CNBB em sua missão de testemunhar e fortalecer a colegialidade.

29 de julho de 2020
Festa de Santa Marta