21 novembro, 2019

Dom Anuar Battisti - Carta ao Povo de Deus da Arquidiocese de Maringá



Carta ao Povo de Deus da Arquidiocese de Maringá

Maringá, 20 de novembro de 2019

Depois de 15 anos como Arcebispo desta Arquidiocese de Maringá, o Santo Padre, o Papa Francisco, aceitou o meu pedido de renúncia, por motivos de saúde.

Aos 10 anos de idade entrei para o seminário e minha vida sempre foi dedicada à Igreja. Sou muito feliz em ter feito esta escolha. Nunca me queixei do cansaço que as atividades inerentes ao episcopado provocam.

Sempre procurei fazer o melhor, mesmo em meio às adversidades. Além de pastorear por seis anos a Igreja de Toledo e 15 em Maringá, servi por oito anos a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil na Comissão de Ministérios Ordenados e Vida Consagrada, como também por oito anos, não consecutivos, servi a Igreja na América latina, através do Departamento de Ministérios e Vocações do Conselho Episcopal latino-americano, com sede em Bogotá.

Como Arcebispo de Maringá tive a graça de ordenar 45 diáconos permanentes, 37 padres e três bispos do clero de Maringá. Tudo isso fruto de uma Igreja organizada que herdei dos meus antecessores, Dom Jaime Luiz Coelho, Dom Murilo Krieger e Dom João Braz de Aviz.

Pela primeira vez na história desta Igreja, neste ano e no próximo serão ordenados oito novos padres. Um número expressivo que mostra a força da oração pelas vocações na nossa Igreja.

Esta Igreja particular tem características especiais. O Censo de 2010, divulgado em 2011, nos revelou que Maringá teve um aumento de 14% no número de católicos.

Tenho inúmeros motivos para dizer que a Arquidiocese de Maringá é especial. As nossas pastorais, movimentos e organismos são de uma organização exemplar.

Trabalhamos muito.

Nestes 15 anos crismei mais de cinquenta e duas mil pessoas. Criamos sete paróquias:

Paróquia Nossa Senhora do Rosário; paróquia Santo Expedito; paróquia Imaculada Conceição em Uniflor; paróquia Santa Paulina; paróquia Santa Teresa de Jesus, em Marialva; paróquia Santa Clara e paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, em Mandaguaçu.

Diversas obras foram feitas, como a reforma do centro de Formação Bom Pastor; reforma do auditório São João Paulo II; reforma da capela do Seminário Arquidiocesano; criação da casa do padre idoso, que tem acolhido os nossos queridos sacerdotes. Retomamos a administração do Albergue Santa Luiza de Marillac. Enfim, muitas obras físicas e espirituais, todas feitas sob a ação e força do Espírito de Deus.

Chiara Lubich disse certa vez que “a caneta não sabe o que deverá escrever, o pincel não sabe o que deverá pintar e o cinzel não sabe o que deverá esculpir. Quando Deus toma em suas mãos uma criatura, para fazer surgir uma obra Sua na Igreja, a pessoa escolhida não sabe o que deverá fazer. É um instrumento”.

Foi isso que Deus fez comigo. Eu não tinha capacidade nenhuma de ser padre, bispo. Mas Deus quis. Foi Ele que me fez o que eu sou. Só tenho gratidão por tanta coisa realizada.

Olhando para o passado, pergunto: Como fiz tudo isso? Só tenho resposta se eu projetar o meu olhar para Jesus.

Diante desta bela história, reconheço que chegou o momento de deixar o governo da Arquidiocese de Maringá. Nos últimos meses meu corpo físico já tem dado sinais de esgotamento, e a orientação médica é para diminuir o ritmo de vida, por isso pedi ao Santo Padre a renúncia ao governo da Arquidiocese, passando a ser Arcebispo Emérito. Deixo o lugar para outro com mais disposição, capaz de governar esta Igreja particular com o vigor necessário.

Talvez poucas pessoas saibam, mas antes de eu vir para Maringá, ainda em Toledo, em 2002, sofri um derrame cerebral. As sequelas foram quase que imperceptíveis. Consegui me recuperar do processo cirúrgico, mas a recomendação médica era que eu deveria evitar sobrecarga de trabalho e estresse. O que não aconteceu, porque em 2004 fui nomeado Arcebispo nessa bela e querida Maringá.

No ano passado, fui submetido a uma angioplastia e também à retirada da vesícula. Nas últimas semanas, comecei a ter vários apagões, momentos em que chego a perder a consciência em alguns compromissos, inclusive nas celebrações.

Não foi fácil tomar essa decisão, mas é o melhor para mim e para a Igreja.
Lembro aqui o Papa Bento XVI que, ao renunciar o ministério de Bispo de Roma, disse: “verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos”.

A partir de hoje, não respondo mais pelo governo desta Arquidiocese. Tudo agora passa a ser de responsabilidade do Administrador Apostólico, meu irmão no episcopado, Dom João Mamede, Bispo de Umuarama, pertencente a nossa Província Eclesiástica. De agora em diante Maringá é “sede vacante”, até que o Santo Padre nomeie o novo Arcebispo de Maringá.

Estarei sempre em oração para que este período de transição seja iluminado pela força renovadora do Espírito Santo de Deus.
Nesta vida ninguém perde nada. Ou se ganha ou aprende. Aprendi que o poder e o governo da Igreja não é tudo, pois a essência do episcopado é amar e servir. Isso vai continuar sendo o meu único programa de vida.

Continuarei servindo a Igreja, ministrando os sacramentos, sendo presença de pai que ama, vive, sente e caminha com o Povo de Deus. Ninguém pode impedir de amar.

Fica aqui meu carinho, amor, respeito, gratidão a todos vocês.

Lembrem-se: Deus é misericórdia, Deus é amor. Somos chamados a celebrar a misericórdia. Sem misericórdia não se constrói nada.

Como diz o Papa Francisco “não podemos esquecer que cada um traz consigo a riqueza e o peso da sua própria história, que nos distingue de qualquer outra pessoa. A nossa vida, com as suas alegrias e os seus sofrimentos, é algo único e irrepetível que se desenrola sob o olhar misericordioso de Deus” (Misericórdia et misera, 14).

Rezem por mim. Eu sempre rezarei por vocês.
Por intercessão de Nossa Senhora da Glória, padroeira da Arquidiocese de Maringá, Deus Pai vos abençoe sempre!

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá.