25 maio, 2020

Vendo alguém passando frio ligar para o telefone: 44 99103-5661.


Vendo alguém passando frio ligar para o telefone:

 44 99103-5661.

Ajude a aquecer pessoas em situação de rua nesses dias mais frios.

A equipe de Assistência Social da cidade de Maringá intensificou o serviço de acolhimento e reforçou os protocolos de encaminhamento aos abrigos para melhor abordagem.

Aquelas e Aqueles que não querem sair das ruas recebem cobertores e agasalhos.
Vamos ajudar.

Saiba mais:

Prece


Rezemos juntos "Deus de amor, mostrai-nos o nosso lugar neste mundo como instrumentos do vosso carinho por todos os seres desta terra, porque nem um deles sequer é esquecido por Vós. (Papa Francisco)


“Eu fui um ‘bot”: as confissões de um agente dedicado a mentir no Twitter

Ex-funcionário de uma agência explica como funciona a sofisticada máquina das armadilhas na rede social



“Coordenei uma equipe de trolls formada por 10 pessoas. Mas há equipes maiores no setor”, diz um community manager que durante boa parte da última década atuou em uma agência internacional que vendia serviços de amplificação artificial de mensagens no Twitter. “Trabalhei em projetos em cinco países, entre eles a Espanha. Existe uma demanda para contratos desse tipo que não é anunciada nas Páginas Amarelas”, diz.

Com esta experiência, ele agora quer revelar como funciona esse negócio obscuro capaz de influenciar a opinião pública. Há algumas semanas, começou a contar detalhes em uma conta do Twitter chamada ironicamente @thebotruso (“o robô russo”). O EL PAÍS, que comprovou seu papel na agência em questão, trocou dúzias de mensagens com @thebotruso sobre como são preparadas a executadas atualmente as célebres campanhas de bots e trolls a serviço de empresas, partidos políticos ou clubes esportivos. O ex-funcionário mantém o anonimato porque um contrato de confidencialidade o impede de revelar o conteúdo específico e os clientes de seu antigo trabalho.

Leia a íntegra da matéria publicado por EL PÍS AQUI

Crise da pandemia no Brasil está mais profunda por causa de Bolsonaro, diz Jeffrey Sachs


Gerardo LissardyDa BBC News Mundo em Nova York

quando Jeffrey Sachs publicou em 2005 seu livro O Fim da Pobreza, alguns o consideraram muito otimista por crer ser possível erradicar a indigência da face da Terra.

Mas agora, no meio de uma das piores pandemias e crises econômicas globais em várias décadas, o otimismo desse renomado especialista em desenvolvimento sustentável da Universidade de Columbia (EUA) e da ONU é difícil de perceber.

"Esta pandemia é extraordinariamente grave", disse Sachs em uma entrevista exclusiva à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

"Ela vai empurrar centenas de milhões de pessoas para a pobreza."



Para ele, agora provavelmente "está perdido" o objetivo de eliminar a pobreza extrema global até 2030, estabelecida nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que ele próprio estimulou.

Sachs, que tem sido apontado por diferentes publicações como um dos líderes ou economistas mais influentes do mundo, critica a resposta do presidente dos EUA, Donald Trump, à crise da covid-19 e o que vê como uma tentativa de criar uma Guerra Fria com a China.

Mas também critica as políticas de presidentes latino-americanos, como o mexicano Andrés Manuel López Obrador ou o brasileiro Jair Bolsonaro, considera provável que a Argentina descumpra o pagamento de sua dívida e descreve "o pior cenário que veremos na região em muito tempo".

Leia AQUI a íntegra da entrevista da BBC News

Transmidiatizar as narrativas da vida e do Evangelho

“Transmidiatizar” a Boa Nova envolve uma ação de partilha ativa, criativa e expansiva dessa mensagem com outras pessoas, “em todas as épocas, com todas as linguagens, por todos os meios”, como diz Francisco. Com isso, realiza-se também uma reconstrução colaborativa e participativa do universo narrativo-existencial do Evangelho, a partir da realidade de vida dessas pessoas, em seus tempos e lugares específicos.

A opinião é de Moisés Sbardelotto, jornalista e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Seu livro mais recente é "Comunicar a fé: por quê? Para quê? Com quem?" (Ed. Vozes, 2020).




Eis o artigo.

“O ser humano é um ser narrador.” Esse fato embasa a reflexão proposta pelo Papa Francisco em sua mensagem para o 54º Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado neste domingo, 24 de maio, intitulada “‘Para que possas contar e fixar na memória’ (Ex 10, 2). A vida faz-se história”.

No texto, Francisco convida principalmente a contar “boas histórias”, um convite desafiador “no meio da confusão das vozes e mensagens que nos rodeiam”. E é um desafio ainda maior para a Igreja hoje, chamada a comunicar a Boa Nova por excelência “pelo mundo inteiro” e “a toda a criatura” (cf. Mc 16,15). Mas o ambiente comunicacional contemporâneo também apresenta algumas potencialidades que podem contribuir nesse sentido.
O húmus da narração

A “narratividade original” do ser humano, resgatada por Francisco, reforça a ideia de que, assim como somos seres que pensam (Homo sapiens) e seres que fazem (Homo faber), somos mais ainda seres que contam, relatam, narram aos outros aquilo que pensam e aquilo que fazem (Homo fabulator). Essa humana narratividade se expressa desde os primórdios da espécie, passando por toda a história oral, escrita, audiovisual e digital, “em forma de conto, de romances, de filmes, de canções, de notícias”, como exemplifica o papa.

As histórias e as narrativas são também alimento e vestuário do ser humano. “Desde a infância, temos fome de histórias, assim como temos fome de alimento”, diz Francisco. E, assim como o ser humano precisa de vestes “para cobrir a própria vulnerabilidade”, ele também precisa se “revestir” de histórias.

E não é por acaso que a própria palavra “texto” vem do latim “textum”, ou seja, teia, tecido. “Tecendo” os fios das nossas relações, vamos compondo o tecido da nossa própria vida. Por isso, o ser humano “é um ser em realização”, afirma o papa, porque “descobre-se e enriquece-se nas tramas dos seus dias”. 

A narratividade, portanto, é constitutiva do nosso húmus, da nossa humanidade, e revela “o entrelaçamento dos fios pelos quais estamos unidos uns aos outros”. Fazemos parte de um “tecido vivo”, diz Francisco, em que “as histórias influenciam a nossa vida, mesmo sem termos consciência disso”, e os relatos “moldam as nossas convicções e os nossos comportamentos, podem ajudar-nos a entender e a dizer quem somos”.
Narrativas conectadas e narradores autonomizados

Nos últimos anos, com o processo de digitalização, a narração de fatos e histórias vem ganhando desdobramentos significativos. Em culturas cada vez mais digitais, essas práticas se complexificam ainda mais. Os meios tecnológicos de acesso, produção, distribuição e consumo de sentido hoje (às vezes em um único aparelho físico, como o smartphone) estão ao alcance da imensa maioria da população. A “tecelagem dos fios” relacionais e simbólicos ocorre, cada vez mais, na trama das “redes de redes” sociais e tecnológicas, em um processo crescente de conectivização. Pessoas, textos, imagens, sons, vídeos tornam-se potencialmente “conectáveis” à distância de um clique (ou de um toque na tela).

A internet, pela sua facilidade de acesso e de uso, e pela expansão do alcance e da abrangência das interações sociais, possibilita, assim, que as pessoas “comuns” comuniquem uma “palavra pública” – especialmente aquelas que historicamente não tinham acesso aos artefatos tecnológicos industriais ou empresariais de comunicação. O ambiente digital torna-se um espaço de autonomia, para além do controle das instituições sociais, políticas ou econômicas que, ao longo da história, monopolizaram o processo de produção da informação.

Trata-se de uma autonomização que aponta, justamente, para a “mutação nas condições de acesso dos atores individuais à discursividade midiática, produzindo transformações inéditas nas condições de circulação”, como já afirmava Eliseo Verón (1935-2014), professor da Universidade de Buenos Aires. Autonomamente, qualquer pessoa hoje pode decidir os conteúdos que quer comunicar e os interagentes com os quais quer se comunicar, com um simples toque de dedo na tela de seu celular. Com a comunicação digital, “é o homem comum, sem qualquer visibilidade corporativa, que dá à ambiência da comunicação e da informação generalizadas o estatuto de nova esfera existencial”, segundo Muniz Sodré, professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil.

Contudo, em meio a essa facilidade da comunicação atual, em que qualquer pessoa pode se comunicar potencialmente com o mundo, vai se constituindo nos últimos anos uma verdadeira “desordem informacional”, como já apontava um relatório do Conselho da Europa em 2017, um fenômeno em que a falsidade e a nocividade se alimentam reciprocamente. Ou, nas recentes palavras da Organização Mundial da Saúde, trata-se de uma verdadeira “infodemia”, diante das inúmeras falsidades, boatos e mentiras compartilhadas, por exemplo, durante a pandemia do coronavírus, produzindo uma grande desinformação médica e sanitária. Como se não bastassem as fake news, já analisadas e denunciadas por Francisco em sua mensagem de 2018, tudo isso alcança hoje “níveis exponenciais”, como no caso das deepfakes, mencionadas pelo papa na mensagem deste ano.

Nesses processos, quase não nos damos conta da quantidade de “fofocas e intrigas”, “violência e falsidade”, “histórias destrutivas e provocatórias, que corroem e rompem os fios frágeis da convivência”, “informações não verificadas”, discursos banais e falsamente persuasivos”, “proclamações de ódio”, como aponta Francisco, que consumimos a todo instante na nossa dieta midiática cotidiana.

Junto a isso soma-se a “guerra de narrativas” que marca o jogo político-midiático contemporâneo. A verdade dos fatos – ou mesmo apenas a sua veracidade – não tem mais valor algum: interessa apenas a “minha” versão, a “minha” opinião. “Minha versão é melhor do que a sua! Minha mentira é maior do que a sua!” Fenômeno que, por exemplo no Brasil, produziu a situação cada vez mais bizarra e surreal, infelizmente, em que o país se encontra do ponto de vista político, desfiando e rasgando crescentemente o tecido social.

Diante de todo esse fenômeno de “falsificação cada vez mais sofisticada”, Francisco destaca quatro antídotos principais: sabedoria, coragem, paciência e discernimento. São eles que permitem “receber e criar relatos belos, verdadeiros e bons” e rejeitar os falsos e malvados. Com eles, é possível redescobrir “histórias que tragam à luz a verdade daquilo que somos” e, por sua vez, contar “histórias que edifiquem, e não as que destruam; histórias que ajudem a reencontrar as raízes e a força para avançar juntos”.
A conectividade digital e as narrativas transmídia

Em meio a tais luzes e sombras do cenário atual, surgem também novas experiências narrativas. Hoje, fala-se de “narrativas transmídia”, ou seja, narrativas que são construídas utilizando-se os recursos e as potencialidades das várias mídias. Estas se articulam para contar uma mesma história, que, ao mesmo tempo, se desdobra em diversas histórias paralelas, seja por meio de livros, filmes, jogos, histórias em quadrinhos, vídeos, sites, blogs, redes sociais digitais, aplicativos etc. 

Trata-se de um processo em que “cada meio [mídia] dá uma contribuição à construção do mundo narrativo; evidentemente, as contribuições de cada meio ou plataforma de comunicação diferem entre si (...) As narrativas transmídia não são simplesmente uma adaptação de uma linguagem a outra”, como afirma Carlos Scolari, professor de Comunicação da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, em seu livro “Narrativas transmedia: Cuando todos los medios cuentan” (p. 24, trad. livre). Cada meio acionado é chamado a fazer aquilo que pode fazer de melhor para ajudar a contar uma “boa história”, que é aquela “capaz de transcender os limites do espaço e do tempo” e que, mesmo à distância de séculos, “continua sendo atual, porque alimenta a vida”, como afirma Francisco na mensagem.

Sinal disso são, por exemplo, fenômenos do entretenimento como as sagas Star Wars, Matrix, Harry Potter, Walking Dead, entre outras, cujas narrativas não se restringem a uma única linguagem nem a uma única mídia, mas, justamente, “transpassam” as fronteiras midiáticas, “transmidiatizam-se”, desdobrando-se de formas inovadoras em cada mídia. Assim, a própria ideia de narrativa se desvincula cada vez mais de uma certa “matriz escritural”, reinventando-se nas diversas linguagens e potencialidades abertas pela digitalização e pela conectivização. 

Do ponto de vista religioso, podemos dizer que a própria Bíblia é um dos maiores exemplos de “narrativa transmídia” em toda a história. Primeiro, a Escritura é multimídia: trata-se de um “livro de livros”, com diversos gêneros literários. Como diz Francisco, “a Sagrada Escritura é uma História de histórias. Quantas vivências, povos, pessoas nos apresenta!”. Mas é também transmídia, ao ser uma mesma “história da salvação” desdobrada em incontáveis leituras, releituras, lugares, tempos, contextos etc. ao longo da história.

Portanto, a Bíblia não é apenas uma “coleção de textos”, mas sim um grande e complexo “tecido de textos”, um magistral intertexto, que, ao longo da história, se “transmidiatizou” em novos textos, códices, livros, panfletos, mosaicos, afrescos, pinturas, esculturas, vitrais, construções arquitetônicas, teatros, cantos, músicas, fotografias, filmes, programas de TV e de rádio, sites, aplicativos... em uma circulação incomensurável de sentidos construídos a incontáveis mãos de inúmeros homens e mulheres de diversas épocas e regiões.
Participação e colaboração

Além disso, o principal diferencial das narrativas transmídia é que elas dão “espaço e voz” ao leitor/espectador para que possa participar criativa e colaborativamente do desdobramento e expansão de sentidos em torno da história. Esse processo envolve uma “estratégia narrativa que, além de expandir os mundos de ficção em diferentes meios e plataformas, também dá importância à participação dos fãs nessa expansão”, como afirma Scolari.

Se a sociedade é formada por diferentes “públicos”, cada um com seus gostos e interesses, as narrativas transmídia podem favorecer com que uma mesma história seja “desfrutada” pelos mais diversos públicos, nas suas linguagens e nos meios que mais favoreçam a sua experiência comunicacional. Isso é potencializado pela circulação comunicacional em rede, por meio de uma grande complexidade de interações igualmente transmidiáticas. Mas, mais importante em tudo isso é que os leitores e espectadores também colaboram para a expansão e o desdobramento criativo dos enredos, das histórias e dos universos narrativos, a partir de suas próprias reconstruções de sentido publicizadas em rede.

O mesmo ocorre com o texto bíblico. A rede inter e multitextual da Bíblia só ganha sentido a partir da leitura, meditação, oração e contemplação pessoal e comunitária. A experiência interpretativa dessas pessoas concretas, ao ser compartilhada com outros, “reescreve” o texto bíblico e seu universo de sentido em novos tempos e lugares, ampliando-o e complexificando-o

O problema da comunicação contemporânea, muitas vezes, é justamente uma forma de narração que se crê autônoma e independente, autocentrada e autossuficiente, “narcísica”. A outra pessoa – o leitor/espectador – não é sequer levada em consideração, é mero objeto apassivado e meio coisificado para alcançar determinados fins (econômicos, principalmente). Ou, no pior dos casos, é narrativamente assassinada, simbolicamente aniquilada em nome de tais fins, como no caso dos discursos de ódio.
Jesus, narrador transmídia avant la lettre

Para superar isso, Francisco apresenta como exemplo o “Narrador por excelência”, Jesus. Nele, “o Deus da vida comunica-se contando a vida”, diz o papa, seja por meio das conversas pessoais em torno da mesa ou a caminho para outra localidade, seja por meio dos discursos na montanha, à margem do lago ou no meio da multidão. Nas parábolas de Jesus, narrações breves, tiradas da vida cotidiana, afirma o papa, “a vida faz-se história, e depois, para o ouvinte, a história faz-se vida: essa narração entra na vida de quem a escuta e a transforma”.

Em Jesus, portanto, temos um narrador transmídia primordial, pois, como afirma Francisco, o Evangelho “pede ao leitor que participe da mesma fé para partilhar a mesma vida. (...) Deus se entreteceu pessoalmente na nossa humanidade, dando-nos assim uma nova forma de tecer as nossas histórias”. Estabelece-se um tecido relacional entre Jesus, a sua narrativa e o leitor/ouvinte, que não para por aí, mas pede para se entrelaçar com outros fios relacionais. “Por obra do Espírito Santo – diz o papa –, cada história, até mesmo a mais esquecida, até mesmo aquela que parece escrita nas linhas mais tortas pode tornar-se inspirada, pode renascer como uma obra-prima, tornando-se um apêndice do Evangelho.”

Nesse sentido, “transmidiatizar” o Evangelho, por um lado, significa dar origem a “uma particular forma narrativa que se expande através de diferentes sistemas de significação (verbal, icônico, audiovisual, interativo etc.) e meios (cinema, histórias em quadrinhos, televisão, videogames, teatro etc.)”, como afirma Scolari. Ao longo da história, a Igreja soube fazer isso com grande originalidade, mas hoje é preciso ser ainda mais “ousados e criativos” (Evangelii gaudium, n. 33). Para isso, é preciso seguir um duplo “fio da meada”: primeiro, a pessoa de Jesus, eixo em torno do qual gira não apenas o Evangelho; e, em segundo lugar, o “universo narrativo-existencial” onde Jesus se encarna: “A sua história leva à perfeição o amor de Deus pelo ser humano e, ao mesmo tempo, a história de amor do ser humano por Deus”, afirma Francisco. A partir desses dois fios narrativo-existenciais entrelaçados, é possível se entregar à “liberdade incontrolável da Palavra, que é eficaz a seu modo e sob formas tão variadas que muitas vezes nos escapam, superando as nossas previsões e quebrando os nossos esquemas” (EG, n. 22).

Por outro lado, e principalmente, “transmidiatizar” a Boa Nova envolve uma ação de partilha ativa, criativa e expansiva dessa mensagem com outras pessoas, “em todas as épocas, com todas as linguagens, por todos os meios”, como afirma o papa na mensagem. Com isso, realiza-se também uma reconstrução colaborativa e participativa do universo narrativo-existencial do Evangelho, a partir da realidade de vida dessas pessoas, em seus tempos e lugares específicos. 

Toda pessoa que ouve, vê, lê, recebe o Evangelho, portanto, é chamada a “transmidiatizar” essa Boa Nova em sua vida e em sua comunicação, prolongando-a e expandindo-a no aqui-agora da história. Afinal, a verdadeira narrativa cristã – transmídia ou não – é aquela que, segundo Francisco, “cheira a Evangelho e dá testemunho do Amor que transforma a vida”.

Fonte: IHU

Mensagem para o 54º Dia Mundial das Comunicações Sociais

“Celebra-se (...) o Dia Mundial das Comunicações Sociais, dedicado este ano ao tema da narração. Que este evento nos estimule a contar e compartilhar histórias construtivas que nos ajudem a entender que somos todos parte de uma história maior do que nós mesmos e que podemos olhar para o futuro com esperança se realmente nos preocuparmos uns com os outros, como irmãos”


« “Para que possas contar e fixar na memória” (Ex 10, 2).

A vida faz-se história »

Desejo dedicar a Mensagem deste ano ao tema da narração, pois, para não nos perdermos, penso que precisamos de respirar a verdade das histórias boas: histórias que edifiquem, e não as que destruam; histórias que ajudem a reencontrar as raízes e a força para prosseguirmos juntos. Na confusão das vozes e mensagens que nos rodeiam, temos necessidade duma narração humana, que nos fale de nós mesmos e da beleza que nos habita; uma narração que saiba olhar o mundo e os acontecimentos com ternura, conte a nossa participação num tecido vivo, revele o entrançado dos fios pelos quais estamos ligados uns aos outros.

1. Tecer histórias

O homem é um ente narrador. Desde pequenos, temos fome de histórias, como a temos de alimento. Sejam elas em forma de fábula, romance, filme, canção, ou simples notícia, influenciam a nossa vida, mesmo sem termos consciência disso. Muitas vezes, decidimos aquilo que é justo ou errado com base nos personagens e histórias assimiladas. As narrativas marcam-nos, plasmam as nossas convicções e comportamentos, podem ajudar-nos a compreender e dizer quem somos.

O homem não só é o único ser que precisa de vestuário para cobrir a própria vulnerabilidade (cf. Gn 3, 21), mas também o único que tem necessidade de narrar-se a si mesmo, «revestir-se» de histórias para guardar a própria vida. Não tecemos apenas roupa, mas também histórias: de facto, servimo-nos da capacidade humana de «tecer» quer para os tecidos, quer para os textos. As histórias de todos os tempos têm um «tear» comum: a estrutura prevê «heróis» – mesmo do dia-a-dia – que, para encalçar um sonho, enfrentam situações difíceis, combatem o mal movidos por uma força que os torna corajosos, a força do amor. Mergulhando dentro das histórias, podemos voltar a encontrar razões heroicas para enfrentar os desafios da vida.

O homem é um ente narrador, porque em devir: descobre-se e enriquece-se com as tramas dos seus dias. Mas, desde o início, a nossa narração está ameaçada: na história, serpeja o mal.

2. Nem todas as histórias são boas

«Se comeres, tornar-te-ás como Deus» (cf. Gn 3, 4): esta tentação da serpente introduz, na trama da história, um nó difícil de desfazer. «Se possuíres…, tornar-te-ás…, conseguirás…»: sussurra ainda hoje a quem se utiliza do chamado storytelling para fins instrumentais. Quantas histórias nos narcotizam, convencendo-nos de que, para ser felizes, precisamos continuamente de ter, possuir, consumir. Quase não nos damos conta de quão ávidos nos tornamos de bisbilhotices e intrigas, de quanta violência e falsidade consumimos. Frequentemente, nos «teares» da comunicação, em vez de narrações construtivas, que solidificam os laços sociais e o tecido cultural, produzem-se histórias devastadoras e provocatórias, que corroem e rompem os fios frágeis da convivência. Quando se misturam informações não verificadas, repetem discursos banais e falsamentepersuasivos, percutem com proclamações de ódio, está-se, não a tecer a história humana, mas a despojar o homem da sua dignidade.

Mas, enquanto as histórias utilizadas para proveito próprio ou ao serviço do poder têm vida curta, uma história boa é capaz de transpor os confins do espaço e do tempo: à distância de séculos, permanece atual, porque nutre a vida.

Numa época em que se revela cada vez mais sofisticada a falsificação, atingindo níveis exponenciais (o deepfake), precisamos de sapiência para patrocinar e criar narrações belas, verdadeiras e boas. Necessitamos de coragem para rejeitar as falsas e depravadas. Precisamos de paciência e discernimento para descobrirmos histórias que nos ajudem a não perder o fio, no meio das inúmeras lacerações de hoje; histórias que tragam à luz a verdade daquilo que somos, mesmo na heroicidade oculta do dia a dia.

3. A História das histórias

A Sagrada Escritura é uma História de histórias. Quantas vicissitudes, povos, pessoas nos apresenta! Desde o início, mostra-nos um Deus que é simultaneamente criador e narrador: de facto, pronuncia a sua Palavra e as coisas existem (cf. Gn 1). Deus, através deste seu narrar, chama à vida as coisas e, no apogeu, cria o homem e a mulher como seus livres interlocutores, geradores de história juntamente com Ele. Temos um Salmo onde a criatura se conta ao Criador: «Tu modelaste as entranhas do meu ser e teceste-me no seio de minha mãe. Dou-Te graças por me teres feito uma maravilha estupenda (…). Quando os meus ossos estavam a ser formados, e eu, em segredo, me desenvolvia, recamado nas profundezas da terra, nada disso Te era oculto» (Sal 139/138, 13-15). Não nascemos perfeitos, mas necessitamos de ser constantemente «tecidos» e «recamados». A vida foi-nos dada como convite a continuar a tecer a «maravilha estupenda» que somos.

Neste sentido, a Bíblia é a grande história de amor entre Deus e a humanidade. No centro, está Jesus: a sua história leva à perfeição o amor de Deus pelo homem e, ao mesmo tempo, a história de amor do homem por Deus. Assim, o homem será chamado, de geração em geração, a contar e fixar na memória os episódios mais significativos desta História de histórias: os episódios capazes de comunicar o sentido daquilo que aconteceu.

O título desta Mensagem é tirado do livro do Êxodo, narrativa bíblica fundamental que nos faz ver Deus a intervir na história do seu povo. Com efeito, quando os filhos de Israel, escravizados, clamam por Ele, Deus ouve e recorda-Se: «Deus recordou-Se da sua aliança com Abraão, Isaac e Jacob. Deus viu os filhos de Israel e reconheceu-os» (Ex 2, 24-25). Da memória de Deus brota a libertação da opressão, que se verifica através de sinais e prodígios. E aqui o Senhor dá a Moisés o sentido de todos estes sinais: «Para que possas contar e fixar na memória do teu filho e do filho do teu filho (…) os meus sinais que Eu realizei no meio deles. E vós conhecereis que Eu sou o Senhor» (Ex 10, 2). A experiência do Êxodo ensina-nos que o conhecimento de Deus se transmite sobretudo contando, de geração em geração, como Ele continua a tornar-Se presente. O Deus da vida comunica-Se, narrando a vida.

O próprio Jesus falava de Deus, não com discursos abstratos, mas com as parábolas, breves narrativas tiradas da vida de todos os dias. Aqui a vida faz-se história e depois, para o ouvinte, a história faz-se vida: tal narração entra na vida de quem a escuta e transforma-a.

Também os Evangelhos – não por acaso – são narrações. Enquanto nos informam acerca de Jesus, «performam-nos»[1] à imagem de Jesus, configuram-nos a Ele: o Evangelho pede ao leitor que participe da mesma fé para partilhar da mesma vida. O Evangelho de João diz-nos que o Narrador por excelência – o Verbo, a Palavra – fez-Se narração: «O Filho unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem O contou» (1, 18). Usei o termo «contou», porque o original exeghésato tanto se pode traduzir «revelou» como «contou». Deus teceu-Se pessoalmente com a nossa humanidade, dando-nos assim uma nova maneira de tecer as nossas histórias.

4. Uma história que se renova

A história de Cristo não é um património do passado; é a nossa história, sempre atual. Mostra-nos que Deus tomou a peito o homem, a nossa carne, a nossa história, a ponto de Se fazer homem, carne e história. E diz-nos também que não existem histórias humanas insignificantes ou pequenas. Depois que Deus Se fez história, toda a história humana é, de certo modo, história divina. Na história de cada homem, o Pai revê a história do seu Filho descido à terra. Cada história humana tem uma dignidade incancelável. Por isso, a humanidade merece narrações que estejam à sua altura, àquela altura vertiginosa e fascinante a que Jesus a elevou.

Vós «sois uma carta de Cristo – escrevia São Paulo aos Coríntios –, confiada ao nosso ministério, escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações» (2 Cor 3, 3). O Espírito Santo, o amor de Deus, escreve em nós. E, escrevendo dentro de nós, fixa em nós o bem, recorda-no-lo. De facto, re-cordar significa levar ao coração, «escrever» no coração. Por obra do Espírito Santo, cada história, mesmo a mais esquecida, mesmo aquela que parece escrita em linhas mais tortas, pode tornar-se inspirada, pode renascer como obra-prima, tornando-se um apêndice de Evangelho. Assim as Confissões de Agostinho, o Relato do Peregrino de Inácio, a História de uma alma de Teresinha do Menino Jesus, os Noivos prometidos (Promessi sposi) de Alexandre Manzoni, os Irmãos Karamazov de Fiódor Dostoevskij… e inumeráveis outras histórias, que têm representado admiravelmente o encontro entre a liberdade de Deus e a do homem. Cada um de nós conhece várias histórias que perfumam de Evangelho: testemunham o Amor que transforma a vida. Estas histórias pedem para ser partilhadas, contadas, feitas viver em todos os tempos, com todas as linguagens, por todos os meios.

5. Uma história que nos renova

Em cada grande história, entra em jogo a nossa história. Ao mesmo tempo que lemos a Escritura, as histórias dos Santos e outros textos que souberam ler a alma do homem e trazer à luz a sua beleza, o Espírito Santo fica livre para escrever no nosso coração, renovando em nós a memória daquilo que somos aos olhos de Deus. Quando fazemos memória do amor que nos criou e salvou, quando metemos amor nas nossas histórias diárias, quando tecemos de misericórdia as tramas dos nossos dias, nesse momento estamos a mudar de página. Já não ficamos atados a lamentos e tristezas, ligados a uma memória doente que nos aprisiona o coração, mas, abrindo-nos aos outros, abrimo-nos à própria visão do Narrador. Nunca é inútil narrar a Deus a nossa história: ainda que permaneça inalterada a crónica dos factos, mudam o sentido e a perspetiva. Narrarmo-nos ao Senhor é entrar no seu olhar de amor compassivo por nós e pelos outros. A Ele podemos narrar as histórias que vivemos, levar as pessoas, confiar situações. Com Ele, podemos recompor o tecido da vida, cosendo as ruturas e os rasgões. Quanto nós, todos, precisamos disso!

Com o olhar do Narrador – o único que tem o ponto de vista final –, aproximamo-nos depois dos protagonistas, dos nossos irmãos e irmãs, atores juntamente connosco da história de hoje. Sim, porque ninguém é mero figurante no palco do mundo; a história de cada um está aberta a possibilidades de mudança. Mesmo quando narramos o mal, podemos aprender a deixar o espaço à redenção; podemos reconhecer, no meio do mal, também o dinamismo do bem e dar-lhe espaço.

Por isso, não se trata de seguir as lógicas do storytelling, nem de fazer ou fazer-se publicidade, mas de fazer memória daquilo que somos aos olhos de Deus, testemunhar aquilo que o Espírito escreve nos corações, revelar a cada um que a sua história contém maravilhas estupendas. Para o conseguirmos fazer, confiemo-nos a uma Mulher que teceu a humanidade de Deus no seio e – diz o Evangelho – teceu conjuntamente tudo o que Lhe acontecia. De facto, a Virgem Maria tudo guardou, meditando-o no seu coração (cf. Lc 2, 19). Peçamos-Lhe ajuda a Ela, que soube desatar os nós da vida com a força suave do amor:

Ó Maria, mulher e mãe, Vós tecestes no seio a Palavra divina, Vós narrastes com a vossa vida as magníficas obras de Deus. Ouvi as nossas histórias, guardai-as no vosso coração e fazei vossas também as histórias que ninguém quer escutar. Ensinai-nos a reconhecer o fio bom que guia a história. Olhai o cúmulo de nós em que se emaranhou a nossa vida, paralisando a nossa memória. Pelas vossas mãos delicadas, todos os nós podem ser desatados. Mulher do Espírito, Mãe da confiança, inspirai-nos também a nós. Ajudai-nos a construir histórias de paz, histórias de futuro. E indicai-nos o caminho para as percorrermos juntos.

Roma, em São João de Latrão, na Memória de São Francisco de Sales, 24 de janeiro de 2020. 

[Franciscus]

[1] Cf. Bento XVI, Carta enc. Spe salvi (30/XI/2007), 2: «A mensagem cristã não era só "informativa", mas "performativa". Significa isto que o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera factos e muda a vida».