06 maio, 2020

O caminho!



O caminho!

Qual é o caminho? Como conhecer o caminho? Para onde nos leva o caminho? Quais as consequências ao assumir o caminho?

Vejam “No princípio já existia a Palavra e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus…… a Palavra se fez homem e armou sua tenda entre nós” (João 1,1.14). É lindo, faz queimar o coração. Para realizar o Projeto de Deus Jesus monta sua tenda no meio das mulheres e dos homens, se faz próximo e mostra o caminho.

Para conhecer e assumir o caminho é preciso confiança “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também.” (Jo 14,1). Confiança e por-se a caminho, mesmo sem saber para onde nos leva “E para onde eu vou, vós conheceis o caminho” (Jo 14,4). É por isso que, à pergunta de Tomé: “Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14,5)

O caminho não está traçado antecipadamente, Deus nos fez livre e nos quer livres. É caminhando que se descobre o caminho. Todas e todos estão a caminho.  Cada qual no seu tempo, com seu passo, com sua história, suas dúvidas, com seus medos e questionamentos.

Qual o caminho a final, “Jesus responde: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,5). O caminho nos leva ao Pai, mas como ir ao Pai, essa a pergunta de Filipe “Disse Felipe: 'Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!' Jesus respondeu:
'Ha tanto tempo estou convosco, e não me conheces, Felipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que tu dizes: `Mostra-nos o Pai'? Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo, mas é o Pai, que, permanecendo em mim, realiza as suas obras.” (Jo 14,8-10).

Jesus é o caminho “...'Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida....” (Jo 14,6), seu testemunho, seu jeito amoroso de aproximar, caminhar, acolher, mostrar o caminho, comprometer e amar. Sua vida é o itinerário que devemos percorrer. O caminho de Jesus é um estar a serviço da vida numa total doação a toda humanidade, em defesa da criação.

As consequências ao assumir o “caminho”, a vida de Jesus é a resposta, tudo que fez e o que sofreu por ter assumido o Projeto do Pai. Como Ele, somos chamados a transformar o mundo sendo a presença do Ressuscitado. “Aquele que acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai” (Jo 14,12).

A Igreja, eu, você, todas e todos devem propor esse caminho com nossas histórias, nossas dificuldades, medos e realidade.  Ninguém pode levantar muros que dificultam ou impedem alguém a fazer o caminho, é preciso construir pontes para facilitar o acesso ao caminho, se preciso for, fazer o caminho junto para que quem tiver dificuldade consiga avançar. Não tenhamos medo, Jesus é o caminho, a segurança, a luz e o amor.

(Eu, Lucimar Moreira Bueno)

Pandemia e Pós Pandemia: Dez Pontos para Reflexão


CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

PANDEMIA E PÓS PANDEMIA: DEZ PONTOS PARA REFLEXÃO

“Eis que eu estou convosco todos os dias” (Mt 28,20)

Equipe de Análise de Conjuntura Eclesial Dom Paulo Cezar Costa, Coordenador

“Eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20). Estas palavras de Jesus, dirigidas aos discípulos, dão-nos a certeza de que não estamos sozinhos diante dos problemas, desilusões, sofrimentos, crises, pandemias etc. Ele caminha conosco. Estamos vivendo um tempo difícil da Pandemia do Novo Coronavírus (COVID-19), em que parece custoso ver a presença do Senhor junto a nós. Papa Francisco, na Praça de São Pedro vazia, expressou bem: “Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos”. Mas, a narrativa dos discípulos de Emaús, nos dá a certeza de que nas noites escuras da vida e da história, o Senhor permanece conosco, Ele caminha conosco (Lc 24, 13-35).

Este tempo grave de Pandemia fechou as portas de nossas igrejas, mas a Igreja não está fechada, ela continua alimentando seus filhos e filhas através da oração, da Palavra, das celebrações transmitidas pelas TVs Católicas, rádios e mídias sociais, continua assistindo aos pobres e mais necessitados pela caridade e criando redes de solidariedade. Não sabemos até quando esta crise durará, talvez, em muitas regiões, ainda que não tenha chegado o pico, porém, já se começa a ver sinais de possíveis superações. É preciso, vivermos com responsabilidade este momento, incentivando o nosso povo ao cuidado com a própria vida e com a vida do próximo, como nos exortou a Campanha da Fraternidade: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34). É importante, também, começarmos a refletir sobre este processo de volta e do pós-pandemia. Propomos, no desejo de ajudar, alguns elementos para a nossa reflexão:

1. Este tempo de Pandemia nos fez estar presentes nas casas e na vida das pessoas de uma forma nova: por meio das mídias sociais. Já as usávamos como meio de comunicação, de evangelização, de missão e de solidariedade. Este tempo acelerou o processo de uso das mídias sociais para reuniões, trabalhos, aulas, missas etc., tudo on-line. Descobrimos uma nova forma de nos fazermos presentes nas casas, nas famílias e na vida das pessoas. E as pessoas descobriram este novo modo de presença, de participação na vida da comunidade. Este caminho deve continuar a ser trilhado: quantas lives, inclusive com transmissão de celebrações, terços, orações etc. A PASCOM (Pastoral da Comunicação) tornou-se uma pastoral fundamental na vida das Dioceses, Paróquias e Comunidades. É um passo que foi dado e que não poderá retroceder. Porém, nossas celebrações, voltarão a ser presenciais. Jesus, com seus gestos e palavras, com sua morte e ressurreição, convocou a assembleia do Novo Israel, a Igreja. A Igreja, desde o Novo Testamento, reúne-se em assembleia litúrgica, a cada domingo, para celebrara memória da morte e ressurreição do Senhor, a Eucaristia. A própria assembleia reunida é sinal da presença do ressuscitado (Mt 18,20).É encontrando-se com o irmão de fé, cantando, rezando, celebrando, ouvindo a Palavra de Deus e se alimentando da Eucaristia que se mantém o coração aquecido, no amor do Senhor, e que se renova a disposição de ser dom na vida da sociedade. Não há oposição entre a assembleia litúrgica presencial e a transmissão virtual, pois existe uma absoluta primazia do presencial. Trata-se de uma forma de continuar atingindo tantas pessoas que ainda não se despertaram para a importância de viver e partilhar a fé em comunidade, e que, vendo a vivacidade da comunidade cristã, poderão ser atraídas para esta. Por isso, o uso das mídias sociais deverá continuar a ser um grande elemento da presença da Igreja, de evangelização, demissão, de oração com o nosso povo, de promoção da caridade e solidariedade. Este caminho exigirá maior investimento nas PASCOM, na aquisição de materiais e de formação de pessoas especializadas.

2. A vida moderna é marcada por uma grande agitação que envolve toda a pessoa: preocupações, corre-corre para o trabalho, tantos afazeres que o ser humano não tem tempo para parar. A sociedade tornou-se sociedade do operar, do transformar, do consumir etc. A pós-modernidade conjuga dois aspectos muito fortes da vida: a racionalidade e o sentimental. A influência da razão faz com que tudo pareça bem previsível, tudo deve estar sobre o acirrado controle racional. De um momento para outro, deparamo-nos confinados e isolados em nossas casas. Esta Pandemia nos colocou diante do imprevisível e impensável. De um momento para o outro, sentimos que tudo fugiu do nosso controle: desde a realidade econômica, até o emprego, a saúde, a liberdade etc. A vida humana se manifestou em sua fragilidade e contingência. Sentimo-nos ameaçados naquilo que nos é mais precioso: a vida humana. Neste tempo e campo, podem aflorar doenças psicológicas, distúrbios, desequilíbrios afetivos e emocionais. Neste cenário, a Igreja deve estar preparada para se manifestar como uma mãe que cura feridas, que apresenta o remédio da consolação e da esperança. A oferta de tantas propostas, que fazem parte do rico patrimônio espiritual da Igreja, como aconselhamento, espiritualidade, métodos de oração, podem ajudar na saúde física e no equilíbrio espiritual das pessoas. É preciso, neste tempo, conduzir as pessoas a um sentido mais profundo da existência, a um retorno às raízes, que se encontram no mistério eterno do amor de Deus (1Jo 4,8.16). Neste caminho, pode-se incentivar o ministério da escuta, também, a ajuda de profissionais como psicólogos (as), que em nossas comunidades, por meio do trabalho voluntário, possam ajudar e atender, principalmente os mais pobres. Tenhamos sempre presente o que nos pede o Papa Francisco: “Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos”1.

3. Depois de um tempo de crise, em que se experimenta a contingência da vida, emerge a questão do sentido da vida. Nesta busca de sentido aflora a procura pelo elemento religioso. É possível que haja um despertar da busca religiosa. A Pandemia pode assim, ser um elemento despertador da dimensão religiosa, da busca de Deus e precisamos estar atentos a isso. A imagem dos gregos que querem ver Jesus (Jo 12, 21) nos ajuda nesta reflexão: O coração de todo ser humano traz este desejo profundo de “ver” Jesus. Nesta passagem, o verbo “ver” expressa todo o desejo e abertura que há no ser humano para a face de Deus, toda inquietação que o coração humano traz na busca de sentido. Nas situações de doença, no falimento diante da morte, nas situações limites da vida, coloca-se sempre o problema do sentido da existência, da totalidade de sentido da vida em si, mas sobretudo da vida humana. Em cada ser humano há uma busca de sentido, há um projeto de sentido da vida2. O conceito de sentido expressa o projeto de totalidade da nossa vida, que não pode encontrar o “seu ser-total” sem o mundo no qual está situada. Somente na experiência de sentido, e por meio desta, o ser humano chega ao “ser-total” e à salvação da própria existência. O sentido experimentado e realizado seria então a salvação do ser humano3. A religião deve ser portadora de sentido e de esperança à existência humana. É preciso que “a luz da fé”4 ilumine os caminhos a serem trilhados no pós-pandemia. A Igreja deve estar preparada para acolher as pessoas fragilizadas não como uma alfândega cheia de exigências e fardos pesados5, mas como uma mãe misericordiosa conduzindo as pessoas ao encontro com a pessoa de Jesus Cristo e integrando-as na comunidade de fé. Deve-se perceber que a experiência de finitude e impotência poderá auxiliar a revermos nossa condição humana dependente de Deus. Como cristãos, precisamos destacar o sentido de seguir o Crucificado que ressuscitou. Rever o lugar da Cruz em nossa experiência eclesial poderá purificar toda tentação de reduzir a fé cristã aos interesses de segurança e sucesso. Os santos místicos nos recordam que “tudo passa e só Deus basta”, mas é preciso aceitar as noites escuras sem perder a esperança.

 4. Em meio a esta pandemia, houve a redescoberta da “Igreja doméstica”6, este belo conceito de São Paulo VI. A família reaprendeu a estar junta, a rezar unida, a compartilhar a vida, a existência etc. Papa Francisco propôs para o mês de maio de 2020 a oração do terço. Que bonito seria, se a família, unida e reunida, pudesse rezar o terço. Aqui sim, teríamos o exercício genuíno da função sacerdotal batismal do pai e da mãe de família, que, com este simples e lindo gesto, estariam animando e alimentando a oração e a vida espiritual de sua família, de sua “Igreja doméstica”. Nesta valorização da Igreja doméstica, As Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2019-2023 podem impulsionar o valor das Comunidades Eclesiais Missionárias e da Igreja Doméstica em tempos de revisão de ação pastoral pós-pandemia. Contemporaneamente, este é um período e momento em que dramas humanos afloraram e se explodiram, inclusive levando a um crescimento do número de separações de matrimônios, aumento da violência familiar que vitima as mulheres, crianças e idosos. Também esta realidade exigirá a presença da Igreja, como uma mãe misericordiosa, para ajudar a sarar feridas e corações machucados (Is 61,1). O Ano da misericórdia, pedagogicamente, nos fez encontrar com o amor misericordioso de Deus e impeliu a Igreja a ser mãe misericordiosa. “A arquitrave que suporta a vida da Igreja é a misericórdia. Toda a sua ação pastoral deveria estar envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido de misericórdia. [...] É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança”7.

 5. Todos estamos sofrendo com esta Pandemia, mas os que mais sofrem são os pobres: aumento do número das pessoas em situação de miséria, perda de emprego, vagas de emprego diminuindo com a quebra de empresas, ausência de condições para precaver-se contra o contágio etc. A Igreja, mãe que sempre busca atender os pobres, necessitados e vulneráveis continuará a ser interpelada no seu cuidado pelos últimos da nossa sociedade. A solidariedade é fundamental neste contexto. São João Paulo II dizia que a solidariedade “Não é um sentimento de vaga compaixão ou de ternura superficial pelos males de tantas pessoas próximas ou distantes; pelo contrário, é a firme e perseverante determinação de trabalhar para o bem comum, isto é, para o bem de todos e de cada um, a fim de que todos sejam verdadeiramente responsáveis por todos”8.Neste caminho, é preciso envolver todos os atores da vida de uma sociedade: poderes públicos, mundo empresarial, meios de comunicação, instituições educacionais, ONGs, cada cidadão. É preciso, de imediato, assistir aos pobres, pois quem tem fome não pode esperar. Porém, parece-nos que neste momento é preciso algo mais, é necessário colocar nossas estruturas a serviço e criar parcerias que possam ajudar as pessoas a serem sujeitas da própria história. Junto com o SEBRAE, ou outras instituições, é preciso apoiar pequenos cursos que ajudem as pessoas a criarem seu negócio, a serem um pouco mais profissionais naquilo que já estão fazendo ou que poderão vir a construir. É preciso apontar caminhos e dar meios para que as pessoas possam ser sujeitos da própria história. Nesta grande crise que abateu a todos, é preciso ir além dos discursos, além do assistencialismo, pois “o pensamento social da Igreja é primariamente positivo e construtivo, orienta uma ação transformadora e, nesse sentido, não deixa de ser sinal de esperança que brota do coração amoroso de Jesus Cristo”9.

 6. Em realidades onde tantas pessoas perderam a vida e não tiveram sequer as justas cerimônias de despedida, onde os familiares foram impedidos de chorar junto a seus entes queridos, a Igreja não pode perder de vista que é direito das pessoas chorarem e fazerem a última despedida antes de sepultar seus corpos. Sabemos o quão importante e significativo é o Ritual das Exéquias. Primeiro, pela própria concretude da morte: aquela pessoa querida terminou sua jornada, e a família, quando realiza seu funeral, encerra concretamente este capítulo de uma dolorosa história. Segundo, o pertencimento social: quando os amigos e outros membros da família expressam as suas condolências, as pessoas enlutadas se sentem confortadas e pertencentes a um grupo social no qual construíram sua história ao longo de gerações. Acrescenta-se que no momento do velório conta-se as histórias do falecido(a), resgata-se seu legado, reconstrói-se a memória da pessoa e o quanto ela foi amada e importante. A partir disso, os familiares vão elaborando o luto e confortando a dor da perda, que será sempre irreparável. Desta forma, os ritos fazem com que a morte seja um processo no percurso da vida, ainda que doloroso. A ausência destes rituais tem um impacto muito negativo e sofrido, emocional e afetivamente falando. A falta deste momento de despedida, como estamos vendo durante a Pandemia do Novo Coronavírus, causa uma lacuna na vida de pessoas e famílias inteiras, com sentimento de vazio e impotência. A pessoa tem o direito da Cerimônia de Exéquias, que ajuda no processo de superação do luto. Aqui, o caminho da justa criatividade acompanhada pela responsabilidade, deve ajudar.

7. É importante que, neste processo de abertura, mantenhamos o cuidado e o respeito pela vida humana, que caracteriza a doutrina da Igreja e que norteiam nossos pronunciamentos e atitudes neste tempo da Pandemia do Novo Coronavírus. Devemos dar atenção às orientações emanadas pela Organização Mundial da Saúde, às normas dos Estados e dos Municípios. A Igreja deve sentir-se sujeito das normas justas emanadas pela autoridade civil, principalmente se visam preservar e promover a vida humana. Ocorreram intervenções indevidas de agentes do Estado em celebrações. Deve-se afirmar a liberdade da Igreja de exercer livremente a sua missão e como bem afirmou o Concílio Vaticano II: “o direito a esse exercício não pode ser impedido, desde que guarde a justa ordem pública”10.Se em algum momento, por imprudência ou excesso de zelo de representantes de alguma das partes, acontecerem conflitos ou exorbitância na competência, o caminho de solução passa sempre pelo diálogo. Em última instância, a justiça existe para garantir as liberdades individuais e a justiça nas relações. Não podemos nos esquecer que a vida humana é um imperativo para os discípulos e discípulas de Jesus Cristo, que veio “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

8. O amor fraterno deve, neste momento histórico, fazer a diferença na nossa vida e caminhada de nossas comunidades. Também a Igreja, na sua caminhada, já sente as consequências da crise na vida de cada um e na vida econômica que está se abatendo sobre o mundo. É tempo de manifestarmos concretamente o nosso amor através da ajuda entre paróquias que têm melhores condições econômicas e aquelas menos favorecidas, entre irmãos que têm condições melhores e irmãos que têm condições piores. O livro dos Atos dos Apóstolos, que estamos lendo neste Tempo Pascal, indica-nos o caminho: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum” (At 4,32.2,42).

9. Não podemos nos esquecer da saúde física e psicológica dos nossos amados presbíteros. O estarmos celebrando sem a presença física do nosso povo, igualmente reclusos em suas casas, os problemas financeiros que começam a afetar a vida das paróquias, podem afetar também a saúde física e psicológica dos nossos presbíteros. É importante, neste momento, que ofereçamos suporte humano e psíquico aos nossos presbíteros e que, se preciso for, indiquemos psicólogos (as) que possam ajudá-los no equilíbrio emocional.

10. Nós, cristãos católicos, não devemos entrar no falso dilema entre escolha da preservação da vida ou da economia. As oposições podem manifestar visões parciais da realidade. Papa Francisco nos relembra que “a unidade prevalece sobre o conflito”11.A preservação da vida e o cuidado da economia não estão em contraposição. O cuidado da vida sempre levará em consideração o cuidado da economia, pois a centralidade deve ser da pessoa humana, não do lucro.

Enfim, a Igreja deve ser portadora da grande Esperança que nasce da fé, tanto para o nosso amado povo como para a vida da sociedade inteira. Cristo Morto e Ressuscitado é a grande razão da nossa esperança, e “devemos estar sempre prontos a dar razão dela a todo aquele que no-la pedir” (1Pd 3,15). Como nos pede o Papa Francisco: “não deixemos que nos roubem a esperança!”12. O anúncio de Jesus Cristo tem que ser portador de Esperança. A Esperança Cristã se fundamenta na memória de Cristo. A ressurreição de Cristo nos diz que Ele não se encontra mais entre os mortos, e que, portanto, a força deste mundo mortal foi rompida13. O cristianismo primitivo fundava sua fé não sobre uma reconstrução científica do Jesus histórico, mas na escuta da viva proclamação do Senhor morto e ressuscitado. Este foi o grande anúncio daquele primeiro dia da semana: Ressuscitou, não está mais aqui! A ressurreição de Cristo nos dá a certeza de que a história é história de vida e de ressurreição. Ele está conosco (Mt 28,20), não estamos sozinhos na história e na batalha cotidiana da vida.

 Estas indicações querem, simplesmente, ajudar a nossa reflexão neste momento difícil da história.

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11Papa Francisco, EvangeliiGaudium, 226-230.
12 Papa Francisco, EvangeliiGaudium, 86.
13 J. MOLTMANN, “Ressurreição - fundamento, força e meta de nossa Esperança”, 112.

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Fim da quarentena do coronavírus: o que são as 'bolhas sociais', estratégia para o fim do isolamento adotada pela Nova Zelândia e outros países


A expansão da bolha social permite que mais pessoas sejam incorporadas ao núcleo familiar, que devem manter esse relacionamento de forma exclusiva.

Com a extensão da quarentena em muitos países que estão em isolamento há semanas, e com a falta de clareza sobre como sair dela sem aumentar drasticamente os casos de covid-19, o ânimo das pessoas está se desgastando.

Publicada por BBC News, a reportagem é de Laura Plitt em 05-05-2020.

Além do golpe econômico que representa para aqueles que dependem do trabalho diário fora de casa para sua subsistência ou do caos para mães e pais que precisam fazer malabarismos para trabalhar em casa e cuidar de seus filhos, muitos sofrem o impacto da solidão e da falta de contato físico.

Por esse motivo, uma das estratégias que alguns governos estão avaliando para sair desse impasse é criar ou expandir as chamadas "bolhas sociais".

O termo começou a ganhar destaque depois que a Nova Zelândia, um dos países de maior sucesso na luta contra a pandemia, anunciou a diminuição de seu nível de alarme de 4 para 3.

Embora continue a valer a recomendação de ficar em casa e evitar interações sociais o máximo possível, as novas regras que entraram em vigor na semana passada autorizam a população a expandir seu círculo de contatos.

"As pessoas devem continuar dentro da bolha de sua casa, mas podem expandi-la para se reconectar com sua família ou para trazer cuidadores ou ajudar pessoas isoladas", diz o governo em seu site, "desde que todos vivam na mesma cidade".

O contato entre esse grupo de pessoas deve ser exclusivo: ou seja, as pessoas que fazem parte dessa bolha não podem fazer parte de outra.

"Essa abordagem é uma maneira de aumentar o contato social e minimizar o risco de transmissão da doença, pois, se ocorrer uma infecção, ela permanece na bolha e não será transmitida a outras pessoas", explica Stefan Flasche, professor associado da London School of Hygiene and Tropical Medicine.

"É uma maneira eficiente de relaxar as restrições que, em princípio, são viáveis em quase todas as situações em que o número de infecções não está mais aumentando", diz ele.

Na opinião dele, é uma ferramenta importante para lidar com a situação, enquanto a busca por uma vacina continua, "embora cada país deva priorizar quais medidas precisam ser flexibilizadas com mais urgência".

Não mais que 10
Embora a proposta implementada na Nova Zelândia não defina um número de indivíduos por unidade (embora obviamente a ideia de uma bolha é exatamente que seja pequena), outros governos que avaliam a possibilidade de incorporar essa estratégia estabelecem um limite de 10 pessoas.

O governo britânico disse estar considerando relaxar as medidas de isolamento social permitindo as "bolhas sociais"; a ideia seria permitir a combinação de um grupo familiar com dois ou três outros grupos, também exclusivamente.

A ideia também está sendo considerada, entre outros, por Escócia, Canadá e Bélgica.

Para Per Block, co-autor de um estudo liderado pela Universidade de Oxford sobre estratégias baseadas na reestruturação de nossas relações sociais para achatar a curva da covid-19 após a quarentena, as vantagens desse modelo são evidentes.

"Quanto mais rigorosa a quarentena, maior o custo para a vida social e o bem-estar psicológico das pessoas", disse o pesquisador à BBC Mundo. "Há uma enorme diferença entre encontrar algumas pessoas ou ficar sozinho em casa, especialmente para pessoas que são psicologicamente vulneráveis, ou que estão em uma situação insegura, ou que precisam de contato físico para o seu bem-estar mental".

Brian Dow, vice-diretor executivo da Rethink Mental Illnes, ONG britânica comprometida com a promoção dos direitos das pessoas afetadas por problemas de saúde mental, acredita que essa política será benéfica desde que seja bem administrada.

"Isso permitiria que as pessoas diminuíssem a ansiedade que estavam sentindo por ficarem presas em suas casas", disse ela à BBC. "As pessoas têm sido muito criativas (em termos de socialização), mas francamente o que precisam agora é apena um abraço."

Como montar sua bolha
Mas como uma família ou um grupo que compartilha uma casa monta sua bolha sem muita complicação e dor de cabeça — aceitando alguns, rejeitando outros e deixando todos na casa satisfeitos?

"É uma tarefa delicada, porque você precisa fazer um contrato social com outras pessoas que estão na sua bolha e garantir que todos fiquem dentro dela — e isso se baseie na confiança", diz Block.

Também há muitos outros fatores a serem considerados, como as diferentes gerações que vivem juntas sob o mesmo teto.

"Se dependesse de mim e de minha parceira, certamente estaríamos OK nos comunicando digitalmente com nossos amigos, mas temos uma filha de quatro anos e a situação dela é pior, porque ela sente falta da interação física com seus amigos porque não consegue se comunicar digitalmente", diz Flasche.

"Portanto, você precisa considerar com cuidado quem na casa precisa mais expandir sua bolha pessoal e criar uma unidade de acordo com quem realmente precisa."

Outra coisa importante, diz Block, é criar uma bolha com um grupo geograficamente próximo (como vizinhos que são amigos e com uma estrutura familiar semelhante), para que "em caso de contágio, você possa limitar a distância de propagação da doença".

Do que dependerá o sucesso dessa estratégia?
A resposta é simples, segundo os entrevistados: que as pessoas cumpram as regras.

Não é para sempre, mas se trata de "uma solução intermediária entre agora e talvez daqui a um ano em que voltaremos a interagir normalmente", diz Block.

"Eu vejo isso como uma oportunidade para a sociedade", diz Lasche.

Se as pessoas seguem as regras e limitam seus contatos o máximo possível, essa pode ser uma estratégia viável e sustentável que torna a quarentena mais tolerável a longo prazo", afirma ele.

"Se não cumprirmos os regulamentos e estabelecermos mais contatos, a doença se espalhará e teremos que voltar a um isolamento mais severo. É por isso que é do interesse de todos que esse não seja o caso", acrescenta.

A Nova Zelândia, onde a estratégia da bolha social já está em andamento, reavaliará em 11 de maio sobre como avançar.