19 julho, 2019

Para refletir


O Índice de Pobreza Multidimensional global de 2019 e o aumento da fome no mundo

O conceito tradicional de pobreza precisa ser atualizado e ampliado. Definir os domicílios como ricos ou pobres apenas com base na renda é uma simplificação excessiva.  


"Em termos intergeracionais, uma em cada três crianças ao redor do mundo é multidimensionalmente pobre, em comparação com um em cada seis adultos. Isso significa que quase metade das pessoas que vive em pobreza multidimensional – 663 milhões – são crianças, e as crianças mais novas carregam a maior carga da miséria e também da fome e da desnutrição", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 17-07-2019.

Eis o artigo.



Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Oxford Poverty and Human Development Initiative (OPHI) lançaram na semana passada o relatório sobre o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) global de 2019, mostrando que o conceito tradicional de pobreza precisa ser atualizado e ampliado. Definir os domicílios como ricos ou pobres apenas com base na renda é uma simplificação excessiva.
Índice de Pobreza Multidimensional global de 2019 fornece informações detalhadas para que os formuladores de políticas possam traçar planos para combater a pobreza de forma mais efetiva, pois os pobres não estão uniformemente espalhadas por um país e nem se encontram apenas nos locais de baixa renda.
IPM global de 2019 traça um quadro detalhado da pobreza para 101 países e 1.119 regiões subnacionais, cobrindo 76% da população global e indo além de medidas simples baseadas na renda para observar como as pessoas vivenciam a pobreza todos os dias.
Os dados mostram que mais de dois terços das pessoas multidimensionalmente pobres – 886 milhões de pessoas – vivem em países de renda média, sendo 94 milhões em países da parte superior do grupo de renda média (upper-middle-income) e 792 milhões em países da parte de baixo do grupo de países de renda média (lower-middle-income). Outros 440 milhões vivem em países de baixa renda, conforme o gráfico acima.
Segundo divulgação da agência ONU, os resultados mostram ainda que as crianças sofrem mais intensamente com a pobreza do que os adultos e estão mais propensas à privação em todos os 10 indicadores do IPM, com a falta de elementos essenciais como água potávelsaneamentonutrição adequada ou educação primária.
Em termos intergeracionais, uma em cada três crianças ao redor do mundo é multidimensionalmente pobre, em comparação com um em cada seis adultos. Isso significa que quase metade das pessoas que vive em pobreza multidimensional – 663 milhões – são crianças, e as crianças mais novas carregam a maior carga da misériae também da fome e da desnutrição.
A nova edição do relatório anual “O estado da segurança alimentar e da nutrição no mundo”, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), divulgado no dia 15 de julho de 2019, mostra que houve aumento global da insegurança alimentar.
O número de pessoas em todo o mundo não tiveram acesso suficiente a alimentos, em 2005, foi de 947,2 milhões (representando 14,5% do total populacional) e este número caiu para 785,4 milhões (10,6%) em 2015, conforme mostra o gráfico abaixo. Porém, a subnutrição subiu nos últimos três anos e atingiu 821,6 milhões de pessoas (10,8% do total) em 2018. Isto mostra que existe um grande desafio para se alcançar a meta 2 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que prevê fome zero até 2030.


pobreza e a subnutrição acontecem com mais intensidade nos países onde as taxas de fecundidade estão acima do nível de reposição, pois existe uma relação direta entre o maior número de filhos e as carências de renda e acesso à alimentação. A maior incidência e o maior aumento da subnutrição ocorreu exatamente na África Subsaariana (onde a fecundidade é mais alta), que tinha uma taxa de subnutrição de 24,3% em 2005, caiu para 20,9% em 2015 e subiu para 22,8% em 2018.
O surpreendente é que estes dados sobre o agravamento da pobreza e da fomeacontecem em um momento em que existe recuperação e crescimento da economia internacional.
Uma possível recessão no início da década de 2020 e o agravamento das consequências das mudanças climáticas podem aumentar, ainda mais, a insegurança alimentar e o número de pobres no mundo nos próximos anos e décadas.

Referências:

ALVES, JED. Alta fecundidade, fome e biodiversidade, Ecodebate, 17/04/2013

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Fonte: IHU



Pobreza Multidimensional

Quase 7,8 milhões de pessoas, 3,8% da população brasileira em situação de pobreza, privados no acesso a saúde, educação, água e saneamento, eletricidade e padrões de habitação adequados. 


Em 2015, 3,8% da população brasileira, o equivalente a quase 7,8 milhões de pessoas, vivia em situação de pobreza multidimensional — isto é, sofria privações no acesso a saúdeeducaçãoágua e saneamentoeletricidade e padrões de habitação adequados. A estimativa foi divulgada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em seu mais recente relatório sobre as múltiplas faces da miséria.
A reportagem é publicada por ONU Brasil, 8-07-2019.
Divulgado neste mês (11), o Índice de Pobreza Multidimensional (IPMGlobal 2019 avalia as formas como indivíduos têm condições de vida básicas negadas por causa da miséria. O levantamento analisa o cenário de 101 países, cobrindo 76% da população global. A proposta da pesquisa é superar o viés unidimensional — que adota critérios únicos, como a renda per capita, por exemplo — nas discussões sobre pobreza.
Quanto mais próximo do zero está o IPM, menor é a pobreza multidimensional de uma nação. A taxa expressa o nível de privação vivido por uma sociedade. Para calcular o índice, o PNUD utiliza dez indicadores, divididos em três categorias. Sob a classificação ‘Saúde’, a agência mede a nutrição e a mortalidade infantil. No quesito ‘Educação’, são avaliados os anos de escolaridade e a frequência escolar. Em ‘Padrões de vida’, o organismo investiga dados sobre a disponibilidade de combustível ou energia para cozinhar alimentossaneamentoágua potáveleletricidademoradia e recursos.
O índice brasileiro foi estimado em 0,016 — o mesmo da China. À frente do Brasil, na América Latina, estão Trinidad e Tobago (0,002), Santa Lucia (0,007), Guiana(0,014) e República Dominicana (0,015).
Para que uma pessoa seja considerada “multidimensionalmente pobre”, ela precisa ter privações em pelo menos um terço dos indicadores — no caso da mortalidade infantil, o que é avaliado é a ausência de uma baixa mortalidade de crianças. Quando privações são observadas em mais da metade dos indicadores, o indivíduo vive em pobreza multidimensional severa.
No Brasil, em 2015, 3,8% da população estava em condição de miséria multidimensional. Desse contingente de brasileiros, em torno de um quarto — 0,9% da população total — foi classificado como em situação de pobreza multidimensional severa.
De acordo com a pesquisa, a mortalidade infantil é o indicador que tem mais influência sobre a taxa do Brasil, respondendo por 49,8% do valor que estima as privações da população. Em seguida, vêm os anos de escolaridade (19,8%) e o acesso a saneamento (11,9%).
Para calcular o índice brasileiro, o PNUD utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) anual de 2015.

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Fonte: IHU