24 junho, 2020

Hoje choro pela vida tirada de meu primo Leandro pela Covid-19

Leandro pertencia a Paróquia São Mateus Apóstolo, cidade de Maringá – Pr. Seus pais graças a Deus recuperam da Covid-19, Leandro não conseguiu, mais uma vida tirada pelo coronavírus.

Que bom que não seja verdade, mas percebo que o isolamento tem levado ao distanciamento, a incapacidade de sentir a dor do outro, ao distanciamento do outro, o papa Francisco esses dias escreveu "Deus nos criou para a comunhão, para a fraternidade, e agora, mais do que nunca, mostrou-se ilusória a pretensão de focar tudo sobre si mesmo".

Ilusória, mas muitos as/os envolvidos por essa pretensão de si mesmo, fortalecido pelo uso das redes sociais, num mundo que supervaloriza o status e as aparências.

Nós lideranças leigas e ordenadas precisamos ficar atentos, quando distanciamos da base (CEBs, Paróquias, Arq/Dioceses), deixamos de pastorear. Quando o apóstolo Pedro diz “pastoreai o rebanho de Deus” (1Pedro 5.2), ele tem tudo isso em mente. Um pastor do povo de Deus é responsável por cuidar dele.

É preciso refletir, como nós lideranças leigas e ordenadas estamos nos comportando e agindo nesse período marcado por angustias, dores, desesperanças e isolamento. Como nós estamos usando nossas redes sociais particulares e de nossas CEBs, Paróquias e Arq/Dioceses.

A frase do papa Francisco “a pretensão de focar tudo sobre si mesmo” é ampla, vário sentidos, social, econômico, político e pastoral. Quando focamos em nós mesmo, deixamos de pastorear, distanciamos da base a ponto de não ver o sofrimento de quem devemos cuidar.

Distanciar da base, do rebanho é perigoso, focar em outra direção pode levar a perder o gosto ou ao distanciamento da missão de cuidar das ovelhas. Em nossas paróquias, na Rua da CEBs onde moramos, a dores e sofrimentos e nós estamos sabendo, estamos sendo solidários, ou estamos distante, usando o nosso tempo focado em outra direção.

Não podemos nos distanciar da base porque ela nos provoca, leva a compartilhar sentimentos, de entender e comprometer com o que outro sente, nos faz mais humano. Temos as redes sociais particular e as redes sociais das CEB, Paróquia e das Arq/Dioceses, como elas estão sendo usadas por nós lideranças, precisamos nos organizar para que essas redes sociais sejam usando com o nosso povo, principalmente com nossas lideranças, para levar a não distanciar da base e comprometer-se com elas, porque é preciso cuidar do rebanho que esta ferido, machucado, é preciso aproximar, sorrir e também chorar junto.

Tenho conversado com o padre Genivaldo sobre a necessidade do uso das redes sócias para esse objetivo. Temos as redes sociais da CEBs de Maringá, a paróquia onde ele é pároco também tem suas redes sociais. Ele esta pensando sobre, vamos nos organizar. Deixemos ser guiados pelo Espírito Santo, fiquemos atentos porque para o Espírito Santo agir precisamos nos abrir a Ele.

O nosso Deus que é todo amor acolhe em seus braços o Leandro e tantos outr@s que fizeram sua passagem tendo suas vidas tiradas pelo Covid-19 e esse nosso Deus que caminha sempre conosco dê força aos familiares e amigos.

23 junho, 2020

Prece


Rezemos juntos, para que o nosso Deus nos de a graça de não termos medo, de sermos fortes com voz profética diante dos desafios da via, mesmo se não formos compreendidos, mas o nosso Deus nos ama e nos protege sempre, e não tenhamos dúvidas que a profecia é dom de Deus, a palavra profética se revela a todas e a todos que tem coração humilde.


Restituição para Base

"Santidade, temos medo de sermos tentados pela inércia, mas pensamos que talvez V.S. espere de nós, pessoas de fé que tanto receberam dos carismas da Igreja pós-conciliar, uma disponibilidade de restituir com nosso testemunho o sinal do que recebemos ao longo dos anos, também da Comunidade de Bose. Pedimos para conhecer como demonstrá-lo, recebendo plena luz sobre os objetivos e propósitos de uma intervenção, não usual, por parte da Igreja", escrevem vários autores ao Papa Francisco, em carta publicada por Settimana News, 22-06-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a carta.

Sua Santidade, Papa Francisco,

Conhecendo Vossa atenção pastoral e o carinho que O une ao seu rebanho, escrevemos porque recorremos a V.S. por um motivo que consideramos muito importante.

O motivo é a situação em que se encontram hoje muitas pessoas de fé que há décadas frequentam a Comunidade de Bose como local de reflexão, oração, formação, levando depois seu testemunho e seu empenho até as paróquias e os lugares onde vivem e trabalham. Um grande número de pessoas que, não apenas na Itália, estão passando por um grande sofrimento, desconforto e perplexidade nos últimos dias, devido às notícias vindas da Comunidade após o decreto singular da Santa Sé de 13 de maio. Muitos outros crentes, que só ouviram falar de Bose, estão neste momento expressando sua preocupação na mídia, temendo serem deixados "no meio do nevoeiro" com relação às suas perguntas, tendo que confiar em notícias contraditórias que também podem causar muito dano.

Também nós, que estamos escrevendo, um grupo pequeno, mas talvez representativo, acompanhamos com apreensão as notícias destes dias, oramos nos dias de Pentecostes ao Espírito, para que a Comunidade, com o apoio adequado, pudesse mostrar gestos exemplares de misericórdia; agora estamos desorientados porque não entendemos a prorrogação desse silêncio em relação ao que foi decidido. Não, não é curiosidade, Santo Padre, nem queremos cair na tentação de "eu sou de Paulo, eu de Apolo e eu de Cefas", pelo contrário: precisamos de transparência para dar testemunho de unidade, de participação plena no sofrimento de todas as pessoas envolvidas, para entender a perspectiva da Igreja, que hoje interveio com propósitos que não conhecemos e, não estando informados, não entendemos.

Estamos cientes das precauções necessárias de discrição sobre as vivências e as relações, mas não entendemos por que justamente as pessoas envolvidas não possam conhecer as razões das decisões, enquanto nós precisamos entender em que contexto vivemos a nossa fé, quais são os obstáculos que nós também teremos agora que enfrentar. De fato, não conseguimos intuir para que direção a Comunidade será acompanhada e de que formas diferentes ela poderá continuar a expressar, sem as pessoas que constituem suas históricas raízes, plena continuidade em relação ao esforço de radicalidade evangélica e de diálogo ecumênico.

De nossa parte, para sermos fiéis ao dever de testemunhar a Verdade como essencial vocação batismal, pensamos que não poderíamos nos permitir sermos meros espectadores. Depois de refletir, orar pela comunidade, pelas pessoas envolvidas, pelas hierarquias eclesiásticas, por nós mesmos, ora acreditamos que devemos pedir o dom da confiança de sermos considerados cristãos sempre em caminho, mas já adultos o suficiente para conseguir entender a complexidade da situação.

Santidade, temos medo de sermos tentados pela inércia, mas pensamos que talvez V.S. espere de nós, pessoas de fé que tanto receberam dos carismas da Igreja pós-conciliar, uma disponibilidade de restituir com nosso testemunho o sinal do que recebemos ao longo dos anos, também da Comunidade de Bose. Pedimos para conhecer como demonstrá-lo, recebendo plena luz sobre os objetivos e propósitos de uma intervenção, não usual, por parte da Igreja.

Estamos confiantes, Papa Francisco, de que Sua preocupação com todas as formas de sofrimento e sua incansável missão de parrésia farão com que compreenda plenamente nosso sofrido pedido. Oramos por V.S., como muitas vezes nos pede, para que possa sempre continuar nesse caminho, que abriu tantos corações e doado tantos momentos de autêntica Esperança.

Com respeitoso afeto.

Fonte: IHU

21 junho, 2020

Pai Nosso dos Mártires


Pai Nosso dos Mártires

Pai nosso, dos pobres marginalizados
Pai nosso, dos mártires, dos torturados
Teu nome é santificado naqueles que morrem defendendo a vida
Teu nome é glorificado, quando a justiça é nossa medida
Teu reino é de liberdade, de fraternidade, paz e comunhão
Maldita toda a violência que devora a vida pela repressão

Queremos fazer tua vontade, és o verdadeiro Deus libertador
Não vamos seguir as doutrinas corrompidas pelo poder opressor
Pedimos-te o pão da vida, o pão da segurança, o pão das multidões
O pão que traz humanidade, que constrói o homem em vez de canhões
Perdoa-nos quando por medo ficamos calados diante da morte
Perdoa e destrói os reinos em que a corrupção é a lei mais forte
Protege-nos da crueldade, do esquadrão da morte, dos prevalecidos
Pai nosso revolucionário, parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos
Pai nosso, revolucionário, parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos

Pai nosso, dos pobres marginalizados
Pai nosso, dos mártires, dos torturados

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Zé Vicente, cantor, poeta, músico, compositor.

19 junho, 2020

A MORTE NÃO PEDE LICENÇA - Celso Pinto Carias (“mendigo de Deus”)

"Que possamos, quando o vírus não mais nos assustar, abraçar as pessoas e dizer que a vida não se consume pelo ter, que a vida de todos os seres humanos e do planeta dependerá de nossa capacidade de encontrar um VIVER capaz de harmonizar todas as dimensões da vida." 

A MORTE NÃO PEDE LICENÇA 
Celso Pinto Carias (“mendigo de Deus”) 

Esta semana tive notícia de três mortes bem dramáticas. Um presbítero meu colega na PUC-Rio, que conhecia há anos, Pe. Marcos, 52 anos, levado pela COVID; uma criança, 7 anos, afilhada de um amigo, Larissa; e Caio, jovem de 28 anos, filho de um casal amigo. A criança fez um transplante que não deu certo, e o jovem estava à espera de um. 

Meu pai morreu aos 54 depois da quinta operação de hérnia, minha mãe aos 62 por um infarto dentro de um ônibus, e minha irmã mais nova aos 46. Uma amiga, com pouco mais de 40 anos, Rosangela, depois de ir a uma missão na África, morreu de malária, pois a identificação aqui no Rio do tipo de malária demorou. 

Finalmente, a COVID-19 já deixou enlutada quase 50 mil famílias. Muitas vidas poderiam ter sido salvas se não fosse este desgoverno geral em suas várias instâncias. 

A morte sempre envolve muitos sentimentos. E, em muitos casos, dependendo da situação, tais sentimentos podem causar muito sofrimento. Quando o pai de Caio me ligou fiquei muito triste, pois não tinha muito que dizer para o meu amigo. 

O que tudo isso pode nos ensinar? São Francisco de Assis chamava a morte de irmã. Esta pandemia, por exemplo, pode mostrar para nós que uma sociedade com alto grau de empatia com o outro é capaz de superar muita dificuldade. É capaz até de vivenciar a morte como uma dor que deixa a marca profunda da saudade, mas que não nos impede de continuar buscando o real sentido da vida. E por isso, podemos olhar para ela e chamar de irmã. 

Porém, podemos passar pela pandemia continuando a construir uma sociedade que se isola da compaixão, e não da proteção, ou que pensa no sapato que deve comprar no shopping ou quinquilharias na Rua Uruguaiana no Centro do Rio, como substitutos do viver, como drogas que dão satisfação momentaneamente, e por isso, quando a morte chega, olhar para ela com grande medo. Uma sociedade assim está fadada a encontrar a morte como um terror, como uma experiência de individualismo tão grande que causará mais sofrimento ainda, que nenhum remédio é capaz de curar. 

Penso que nossas orações não devem implorar por não morrer, pois todos e todas morremos. Mas deve implorar por aprender a morrer. Ouvi muita dor na voz do meu amigo, mas ouvi algo muito edificante também: “quem sabe não seja o melhor, são anos de internações e sofrimentos”. 

Senhor, que possamos aprender a morrer. Que possamos estar do lado dos que sofrem com uma esperança que aponta para a plenitude da vida que começa aqui e agora em cada gesto de amor. Que possamos, quando o vírus não mais nos assustar, abraçar as pessoas e dizer que a vida não se consume pelo ter, que a vida de todos os seres humanos e do planeta dependerá de nossa capacidade de encontrar um VIVER capaz de harmonizar todas as dimensões da vida. E assim, poderemos olhar para a morte como parte de nosso processo existencial e poder abraça-la como irmã. 

16 junho, 2020

O Perigo!

O Perigo! 

No mês de março, percebi e interpretei como preocupante certo exagero, assim sendo a necessidade de equilíbrio e ousadia para não cair na mesmice, mesmo com toda a boa intenção diante do isolamento social e as igrejas fechadas. O ser humano é frágil. 

Refletindo a liturgia que estamos celebrando agora no tempo comum, iluminado pelo Evangelho de Mateus, a preocupação aumenta e toma outra direção, o perigo. 

Jesus nos apresenta para onde se deve ir o rumo da missão, não é ir distante, ir para longe e sim no ver, escutar e preocupar-se com às pessoas que estão por perto e que precisam de um olhar amigo, de uma palavra amiga, precisam de apoio, precisam de solidariedade, precisam de amor e carinho. 

Dar continuidade a missão de Jesus fazendo-se perto das pessoas doentes, d@s idosos, d@s que se encontram à margem da sociedade de maneira simples e despojada, isso mesmo de maneira simples e despojada, sem muitos artifícios porque esse pode levar a aproximar-se de um determinado grupo afastando-se dos que mais a missão precisa levá-lo. 

A busca do poder de comunicação via redes sociais é perigoso, um caminho que não havendo equilíbrio pode levar a perder-se a meta. Num mundo que supervaloriza o status e as aparências há perigo de deixar-se envolver pela fama nas redes sociais. Para não perder a fama o acontecido nesses dias que para manter ou expandir sua rede de comunicação padres prometem conteúdo favorável ao governo na pandemia do novo coranavírus. 

É nas redes sociais que também a Igreja Católica, padres e lideranças leigas vem se comunicando, a meta, continuar presente com as/os paroquian@s, chegar até a base, as CEBs, enfim, continuar cuidando de quem está sobre seus cuidados. O perigo é perder a meta, é preciso ficar atento e cuidar-se para não deixar-se seduzir pelos encantos de estar na mídia, aí se perde a meta, distância da comunidade, prevalece "eu", como quero estar na mídia, quem eu quero que esteja comigo, quantos vou atingir, perigoso. 

Estar nas redes sociais também requer tempo e dedicação. Como será após coronavírus se muitos estiverem muito seduzidos? A internet transforma algumas interações sociais em puramente virtuais. Papa francisco diz que é preciso ter "o cheiro das ovelhas " para isso tem que estar no meio, olhar nos olhos, tocar, abraçar, caminhar junto. Achar o equilíbrio no uso de redes sociais, desafios do após coronavírus e atual também. 

Os medicos cubanos estão sendo indicados para o PREMIO NOBEL DA PAZ deste ano.


Os medicos cubanos estão sendo indicados para o PREMIO NOBEL DA PAZ deste ano.

Dispensa argumentos sobre a importância desse reconhecimento. As brigadas de médicos de Cuba já foram em missões humanitárias em praticamente todos os países do hemisfério sul. Milhares deles deixaram seu país, suas famílias, suas comodidades e partiram.

E foram sobretudo em acontecimentos de trágicos, como terremotos no Haiti, a eclosão da EBOLA na Africa(aonde ninguém queria ir e la perderam dois medicos). E até na Europa para ajudar países no combate ao COVID-19.

Estiveram aqui no Brasil, com mais de 14 mil médicos/as, nos ajudando a ir dar atenção em comunidades interioranas, povos indígenas, quilombolas, assentamentos do sem-terra, favelas, lugares em que nenhum médico brasileiro queria ir.

Por isso, pedimos que cada militante se empenhe, assine a petição e passe na sua rede.

Os médicos cubanos são o símbolo da solidariedade internacional entre todos os povos, valor fundamental para reconstruirmos a civilização no post-crise do covid e do capitalismo, que só se norteia pelo lucro.

Agradecemos. Seu empenho
Coletivo das relações internacionais e setor de saude do MST
São paulo, 15 de junho de 2020


Para adherir a la petición ir a: https://www.cubanobel.org/firma_la_peticion

Fotos y videos de los médicos también están disponibles.

Para más información ir a:https://www.cubanobel.org/

Fotografías de libre uso para medios de comunicación: https://www.cubanobel.org/gallery

E ainda, vídeo de 55 minutos sobre a expereincia dos medicos cubanos na africa, no atendimento da ebola: https://youtu.be/y0otZCsFtrI

13 junho, 2020

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA O IV DIA MUNDIAL DOS POBRES

«Estende a tua mão ao pobre» (Sir 7, 32)



MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO 
PARA O IV DIA MUNDIAL DOS POBRES


XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM
(15 DE NOVEMBRO DE 2020)

«Estende a tua mão ao pobre» (Sir 7, 32)

«Estende a tua mão ao pobre» (Sir 7, 32): a sabedoria antiga dispôs estas palavras como um código sacro que se deve seguir na vida. Hoje ressoam com toda a densidade do seu significado para nos ajudar, também a nós, a concentrar o olhar no essencial e superar as barreiras da indiferença. A pobreza assume sempre rostos diferentes, que exigem atenção a cada condição particular: em cada uma destas, podemos encontrar o Senhor Jesus, que revelou estar presente nos seus irmãos mais frágeis (cf. Mt 25, 40).

1. Tomemos nas mãos o Ben-Sirá, um dos livros do Antigo Testamento. Nele encontramos as palavras dum mestre da sabedoria que viveu cerca de duzentos anos antes de Cristo. Andava à procura da sabedoria que torna os homens melhores e capazes de perscrutar profundamente as vicissitudes da vida. E fê-lo num período de dura prova para o povo de Israel, um tempo de dor, luto e miséria por causa da dominação de potências estrangeiras. Sendo um homem de grande fé, enraizado nas tradições dos pais, o seu primeiro pensamento foi dirigir-se a Deus para Lhe pedir o dom da sabedoria. E o Senhor não lhe deixou faltar a sua ajuda.

Desde as primeiras páginas do livro, Ben-Sirá propõe os seus conselhos sobre muitas situações concretas da vida, sendo a pobreza uma delas. Insiste que, na contrariedade, é preciso ter confiança em Deus: «Não te perturbes no tempo do infortúnio. Conserva-te unido a Ele e não te separes, para teres bom êxito no teu momento derradeiro. Aceita tudo o que te acontecer e tem paciência nas vicissitudes da tua humilhação, porque no fogo se prova o ouro, e os eleitos de Deus no cadinho da humilhação. Nas doenças e na pobreza, confia n’Ele. Confia em Deus e Ele te salvará, endireita os teus caminhos e espera n’Ele. Vós que temeis o Senhor, esperai na sua misericórdia, e não vos afasteis, para não cairdes» (2, 2-7).

2. Página a página, descobrimos um precioso compêndio de sugestões sobre o modo de agir à luz duma relação íntima com Deus, criador e amante da criação, justo e providente para com todos os seus filhos. Mas, a constante referência a Deus não impede de olhar para o homem concreto; pelo contrário, as duas realidades estão intimamente conexas.

Demonstra-o claramente o texto donde se tirou o título desta Mensagem (cf. 7, 29-36). São inseparáveis a oração a Deus e a solidariedade com os pobres e os enfermos. Para celebrar um culto agradável ao Senhor, é preciso reconhecer que toda a pessoa, mesmo a mais indigente e desprezada, traz gravada em si mesma a imagem de Deus. De tal consciência deriva o dom da bênção divina, atraída pela generosidade praticada para com os pobres. Por isso, o tempo que se deve dedicar à oração não pode tornar-se jamais um álibi para descuidar o próximo em dificuldade. É verdade o contrário: a bênção do Senhor desce sobre nós e a oração alcança o seu objetivo, quando são acompanhadas pelo serviço dos pobres.

3. Como permanece atual, também para nós, este ensinamento! Na realidade, a Palavra de Deus ultrapassa o espaço, o tempo, as religiões e as culturas. A generosidade que apoia o vulnerável, consola o aflito, mitiga os sofrimentos, devolve dignidade a quem dela está privado, é condição para uma vida plenamente humana. A opção de prestar atenção aos pobres, às suas muitas e variadas carências, não pode ser condicionada pelo tempo disponível ou por interesses privados, nem por projetos pastorais ou sociais desencarnados. Não se pode sufocar a força da graça de Deus pela tendência narcisista de se colocar sempre a si mesmo no primeiro lugar.

Manter o olhar voltado para o pobre é difícil, mas tão necessário para imprimir a justa direção à nossa vida pessoal e social. Não se trata de gastar muitas palavras, mas antes de comprometer concretamente a vida, impelidos pela caridade divina. Todos os anos, com o Dia Mundial dos Pobres, volto a esta realidade fundamental para a vida da Igreja, porque os pobres estão e sempre estarão connosco (cf. Jo 12, 8) para nos ajudar a acolher a companhia de Cristo na existência do dia a dia.

4. O encontro com uma pessoa em condições de pobreza não cessa de nos provocar e questionar. Como podemos contribuir para eliminar ou pelo menos aliviar a sua marginalização e o seu sofrimento? Como podemos ajudá-la na sua pobreza espiritual? A comunidade cristã é chamada a coenvolver-se nesta experiência de partilha, ciente de que não é lícito delegá-la a outros. E, para servir de apoio aos pobres, é fundamental viver pessoalmente a pobreza evangélica. Não podemos sentir-nos tranquilos, quando um membro da família humana é relegado para a retaguarda, reduzindo-se a uma sombra. O clamor silencioso de tantos pobres deve encontrar o povo de Deus na vanguarda, sempre e em toda parte, para lhes dar voz, defendê-los e solidarizar-se com eles face a tanta hipocrisia e tantas promessas não cumpridas, e para os convidar a participar na vida da comunidade.

É verdade que a Igreja não tem soluções globais a propor, mas oferece, com a graça de Cristo, o seu testemunho e gestos de partilha. Além disso, sente-se obrigada a apresentar os pedidos de quantos não têm o necessário para viver. Lembrar a todos o grande valor do bem comum é, para o povo cristão, um compromisso vital, que se concretiza na tentativa de não esquecer nenhum daqueles cuja humanidade é violada nas suas necessidades fundamentais.

5. Estender a mão leva a descobrir, antes de tudo a quem o faz, que dentro de nós existe a capacidade de realizar gestos que dão sentido à vida. Quantas mãos estendidas se veem todos os dias! Infelizmente, sucede sempre com maior frequência que a pressa faz cair num turbilhão de indiferença, a tal ponto que se deixa de reconhecer todo o bem que se realiza diariamente no silêncio e com grande generosidade. Assim, só quando acontecem factos que transtornam o curso da nossa vida é que os olhos se tornam capazes de vislumbrar a bondade dos santos «ao pé da porta», «daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus» (Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 7), mas dos quais ninguém fala. As más notícias abundam de tal modo nas páginas dos jornais, nos sites da internet e nos visores da televisão, que faz pensar que o mal reine soberano. Mas não é assim. Certamente não faltam a malvadez e a violência, a prepotência e a corrupção, mas a vida está tecida por atos de respeito e generosidade que não só compensam o mal, mas impelem a ultrapassá-lo permanecendo cheios de esperança.

6. Estender a mão é um sinal: um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor. Nestes meses, em que o mundo inteiro foi dominado por um vírus que trouxe dor e morte, desconforto e perplexidade, pudemos ver tantas mãos estendidas! A mão estendida do médico que se preocupa de cada paciente, procurando encontrar o remédio certo. A mão estendida da enfermeira e do enfermeiro que permanece, muito para além dos seus horários de trabalho, a cuidar dos doentes. A mão estendida de quem trabalha na administração e providencia os meios para salvar o maior número possível de vidas. A mão estendida do farmacêutico exposto a inúmeros pedidos num arriscado contacto com as pessoas. A mão estendida do sacerdote que, com o coração partido, continua a abençoar. A mão estendida do voluntário que socorre quem mora na rua e a quantos, embora possuindo um teto, não têm nada para comer. A mão estendida de homens e mulheres que trabalham para prestar serviços essenciais e segurança. E poderíamos enumerar ainda outras mãos estendidas, até compor uma ladainha de obras de bem. Todas estas mãos desafiaram o contágio e o medo, a fim de dar apoio e consolação.

7. Esta pandemia chegou de improviso e apanhou-nos impreparados, deixando uma grande sensação de desorientamento e impotência. Mas, a mão estendida ao pobre não chegou de improviso. Antes, dá testemunho de como nos preparamos para reconhecer o pobre a fim de o apoiar no tempo da necessidade. Não nos improvisamos instrumentos de misericórdia. Requer-se um treino diário, que parte da consciência de quanto nós próprios, em primeiro lugar, precisamos duma mão estendida em nosso favor.

Este período que estamos a viver colocou em crise muitas certezas. Sentimo-nos mais pobres e mais vulneráveis, porque experimentamos a sensação da limitação e a restrição da liberdade. A perda do emprego, dos afetos mais queridos, como a falta das relações interpessoais habituais, abriu subitamente horizontes que já não estávamos acostumados a observar. As nossas riquezas espirituais e materiais foram postas em questão e descobrimo-nos amedrontados. Fechados no silêncio das nossas casas, descobrimos como é importante a simplicidade e o manter os olhos fixos no essencial. Amadureceu em nós a exigência duma nova fraternidade, capaz de ajuda recíproca e estima mútua. Este é um tempo favorável para «voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo (...). Vivemos já muito tempo na degradação moral, baldando-nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade (...). Uma tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por colocar-nos uns contra os outros na defesa dos próprios interesses, provoca o despertar de novas formas de violência e crueldade e impede o desenvolvimento duma verdadeira cultura do cuidado do meio ambiente» (Francisco, Carta enc. Laudato si’, 229). Enfim, as graves crises económicas, financeiras e políticas não cessarão enquanto permitirmos que permaneça em letargo a responsabilidade que cada um deve sentir para com o próximo e toda a pessoa.

8. «Estende a mão ao pobre» é, pois, um convite à responsabilidade, sob forma de empenho direto, de quem se sente parte do mesmo destino. É um encorajamento a assumir os pesos dos mais vulneráveis, como recorda São Paulo: «Pelo amor, fazei-vos servos uns dos outros. É que toda a Lei se cumpre plenamente nesta única palavra: ama o teu próximo como a ti mesmo. (...) Carregai as cargas uns dos outros» (Gal 5, 13-14; 6, 2). O Apóstolo ensina que a liberdade que nos foi dada com a morte e ressurreição de Jesus Cristo é, para cada um de nós, uma responsabilidade para colocar-se ao serviço dos outros, sobretudo dos mais frágeis. Não se trata duma exortação facultativa, mas duma condição da autenticidade da fé que professamos.

E aqui volta o livro de Ben-Sirá em nossa ajuda: sugere ações concretas para apoiar os mais vulneráveis e usa também algumas imagens sugestivas. Primeiro, toma em consideração a debilidade de quantos estão tristes: «Não fujas dos que choram» (7, 34). O período da pandemia constrangeu-nos a um isolamento forçado, impedindo-nos até de poder consolar e estar junto de amigos e conhecidos atribulados com a perda dos seus entes queridos. E, depois, afirma o autor sagrado: «Não sejas preguiçoso em visitar um doente» (7, 35). Experimentamos a impossibilidade de estar junto de quem sofre e, ao mesmo tempo, tomamos consciência da fragilidade da nossa existência. Enfim, a Palavra de Deus nunca nos deixa tranquilos e continua a estimular-nos para o bem.

9. «Estende a mão ao pobre» faz ressaltar, por contraste, a atitude de quantos conservam as mãos nos bolsos e não se deixam comover pela pobreza, da qual frequentemente são cúmplices também eles. A indiferença e o cinismo são o seu alimento diário. Que diferença relativamente às mãos generosas que acima descrevemos! Com efeito, existem mãos estendidas para premer rapidamente o teclado dum computador e deslocar somas de dinheiro duma parte do mundo para outra, decretando a riqueza de restritas oligarquias e a miséria de multidões ou a falência de nações inteiras. Há mãos estendidas a acumular dinheiro com a venda de armas que outras mãos, incluindo mãos de crianças, utilizarão para semear morte e pobreza. Existem mãos estendidas que, na sombra, trocam doses de morte para se enriquecer e viver no luxo e num efémero desregramento. Existem mãos estendidas que às escondidas trocam favores ilegais para um lucro fácil e corruto. E há também mãos estendidas que, numa hipócrita respeitabilidade, estabelecem leis que eles mesmos não observam.

Neste cenário, «os excluídos continuam a esperar. Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe» (Francisco, Exort. ap Evangelii gaudium, 54). Não poderemos ser felizes enquanto estas mãos que semeiam morte não forem transformadas em instrumentos de justiça e paz para o mundo inteiro.

10. «Em todas as tuas obras, lembra-te do teu fim» (Sir 7, 36): tal é a frase com que Ben-Sirá conclui a sua reflexão. O texto presta-se a uma dupla interpretação. A primeira destaca que precisamos de ter sempre presente o fim da nossa existência. A lembrança do nosso destino comum pode ajudar a conduzir uma vida sob o signo da atenção a quem é mais pobre e não teve as mesmas possibilidades que nós. Mas existe também uma segunda interpretação, que evidencia principalmente a finalidade, o objetivo para o qual tende cada um. É a finalidade da nossa vida que exige um projeto a realizar e um caminho a percorrer sem se cansar. Pois bem! O objetivo de cada ação nossa só pode ser o amor: tal é o objetivo para onde caminhamos, e nada deve distrair-nos dele. Este amor é partilha, dedicação e serviço, mas começa pela descoberta de que primeiro fomos nós amados e despertados para o amor. Esta finalidade aparece no momento em que a criança se cruza com o sorriso da mãe, sentindo-se amada pelo próprio facto de existir. De igual modo um sorriso que partilhamos com o pobre é fonte de amor e permite viver na alegria. Possa então a mão estendida enriquecer-se sempre com o sorriso de quem não faz pesar a sua presença nem a ajuda que presta, mas alegra-se apenas em viver o estilo dos discípulos de Cristo.

Neste caminho de encontro diário com os pobres, acompanha-nos a Mãe de Deus que é, mais do que qualquer outra, a Mãe dos pobres. A Virgem Maria conhece de perto as dificuldades e os sofrimentos de quantos estão marginalizados, porque Ela mesma Se viu a dar à luz o Filho de Deus num estábulo. Devido à ameaça de Herodes, fugiu, juntamente com José, seu esposo, e o Menino Jesus, para outro país e, durante alguns anos, a Sagrada Família conheceu a condição de refugiados. Possa a oração à Mãe dos pobres acomunar estes seus filhos prediletos e quantos os servem em nome de Cristo. E a oração transforme a mão estendida num abraço de partilha e reconhecida fraternidade.

Roma, em São João de Latrão, na Memória litúrgica de Santo António, 13 de junho de 2020.

Francisco

11 junho, 2020

A Eucaristia é o “amor enlouquecido de Deus pela humanidade” (Santo Afonso). .


A Eucaristia é o “amor enlouquecido de Deus pela humanidade” (Santo Afonso). 

Somos peregrinas e peregrinos em procissão para a casa do Pai. Jesus, o pão da vida não quer que esqueçamos a procissão que nos leva até aos mais pobres e excluídos, onde a dor e sofrimento encontram-se nas casas, nos prédios, nos hospitais, nos presídios, nas ruas e pelos becos e favelas. 

O Cristo Eucarístico nos quer eucarísticos, pão da vida atentos às situações de não respeito a vida, as raças e etnias, às desigualdades sociais, às migrações em massa, a corrupção. 

A Eucaristia o verdadeiro alimento leva-nos a denunciar todas as situações indignas da mulher e do homem por causa da injustiça, do racismo, da corrupção e da exploração.

Festa de Corpus Christi

10 junho, 2020

"O caminho seria adotar o princípio de subsidiariedade das mídias católicas de base (CEBs, Paróquias e Dioceses)"

Por Pe. Genivaldo Ubinge

Há muito tempo que, no meu contato com meios de comunicação católicos realmente diocesanos, sendo a diocesaneidade a mais concreta forma de pertença eclesial, tenho a impressão que as grandes mídias católicas de amplitude nacional não favorecem a fecundidade da comunicação das comunidades cristãs católicas, antes a sufocam.

Penso que teria um caminho para que fossem mais apoio e não obstáculo para o crescimento da comunicação das comunidades católicas. O caminho seria adotar o princípio de subsidiariedade das mídias católicas de base (CEBs, Paróquias e Dioceses). Neste princípio, o protagonismo da Evangelização/comunicação católica é das comunidades que formam a base da Igreja, que são as primeiras responsáveis pelo anúncio do Reino de Deus num território. Assim, os organismos, associações, (carismáticos ou institucionais) estariam a serviço deste protagonismo das comunidades católicas de base. Para isto, porém, a "grande potência" das mídias católicas de alcance nacional ou internacional precisam estar numa comunhão efetiva com as conferências episcopais, e não apenas ligadas a estas por meio de algum "bispo amigo". Mas ai tocamos um outro problema: os Bispos realmente acreditam na colegialidade, numa colegialidade naquilo que realmente importa? Tantos canais católicos de amplitude nacional e bispos indo contra a nota do organismo do colegiado episcopal em defesa da presença destes padres na conferência do presidente, talvez ajude a responder esta questão.

Este artigo de Moisés Sbardelotto ajuda a refletir no que importa.

O artigo que Genivaldo menciona - A “inutilidade” das mídias católicas" esta na postagem abaixo.

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Pe. Genivaldo Ubinge, assessor das CEBs na Arquidiocese de Maringá

A “inutilidade” das mídias católicas

reunião entre Bolsonaro e lideranças de mídias católicas explicitou um modelo de negócios desviante e desvirtuado, que alimenta um círculo vicioso: se evangelizar é preciso, para evangelizar é preciso de dinheiro; para supostamente “evangelizar” massivamente por meio de um gigantesco aparato de telecomunicação, é preciso de muito dinheiro; para arrecadar muito dinheiro, é preciso recorrer a todos os meios possíveis.
A opinião é de Moisés Sbardelotto, jornalista e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos. Seu livro mais recente é "Comunicar a fé: por quê? Para quê? Com quem?" (Ed. Vozes, 2020).
Eis o artigo.
videoconferência entre o presidente Jair Bolsonaro e padres e leigos que controlam boa parte do sistema de comunicação midiática católica, noticiada pelo jornal O Estado de São Paulo no último sábado, 6 de junho, expôs um forte viés político-econômico, evidenciado especialmente nas falas citadas na reportagem e audíveis na gravação da reunião. Não é difícil perceber a “barganha” – reiterada e nada sutil –, denunciada pela nota conjunta da CNBB, da Signis Brasil e da Rede Católica de Rádio.
Mas, antes que o leitor e a leitora tirem conclusões precipitadas sobre o título deste texto, façamos uma breve reflexão sobre o conteúdo do vídeo noticiado e sobre a reportagem do Estadão.
A reunião começa tendo como foco a “defesa da vida e da família”, nas palavras do parlamentar que inicia as falas. É chocante o contrassenso – para dizer o mínimo – das supostas “lideranças católicas” ali presentes em debater tais questões justamente com o atual presidente da República, que, em plena pandemia, vem praticando uma verdadeira necropolítica antivida e antifamília. A suposta postura “antiaborto” do presidente é apenas uma grande cortina de fumaça diante do escandaloso “aborto social” de tantas pessoas entregues inermes ao coronavírus, sob o pretexto de que “a economia não pode parar”.
Mas o ponto em questão aqui não é Bolsonaro, que só piora o contexto. É a postura das mídias católicas.
Durante a reunião, ouviram-se afirmações como a de um padre que disse: “Nós somos uma potência”, referindo-se a tais mídias. “Nós somos a maioria”, complementou um deputado ligado à bancada autointitulada “católica”. Um empresário orgulhou-se de que sua empresa de comunicação católica seria a “quarta maior rede de TV digital do país”.
Evidencia-se aí aquilo que o Papa Francisco denuncia na Evangelii gaudium como “autocomplacência egocêntrica” e “funcionalismo empresarial”, no qual “o principal beneficiário não é o povo de Deus, mas sim a Igreja como organização” (EG 95). Profeticamente, Francisco já dizia na mesma exortação apostólica: “Nesse contexto, alimenta-se a vanglória daqueles que se contentam com ter algum poder e preferem ser generais de exércitos derrotados” (EG 96).
Diante da “derrota” que os levou justamente a pedir favores governamentais, o escambo negociado pelos empresários das TVs com o presidente envolveu – nas palavras de algumas daquelas lideranças – “mídia positiva”, comunicação “daquilo de bom que o governo pode estar realizando e fazendo pelo nosso povo” e de apoio explícito ao governo.
“Nós queremos estar juntos”, disse um dos padres presentes na reunião. Outro clérigo afirmou: “Sentimos saudade do senhor (...) desejaria tê-lo mais próximo”. Um dos deputados falou que o presidente “pode contar 100% nas matérias pertinentes em apoio ao governo”. Um empresário completou: “Bolsonaro é uma grande esperança”. Lisonjas e bajulações que envergonham qualquer cristão que segue Aquele que disse que é preciso “dar a César o que é de César” – e não elogiar César por ser César.
Em troca, essas lideranças pediram “mais investimentos”, mais “veiculações publicitárias governamentais”, acesso ou renovação facilitados de outorgas e tecnologias, e até ajuda na liberação de passaporte brasileiro a um dos padres estrangeiros presentes.
Como não chamar isso de “barganha”, como definiu a nota conjunta da CNBB, da Signis Brasil e da RCR? Que outro termo podemos utilizar para definir tais apelos?
Para quem assistiu ao vídeo, não houve maldade, nem distorção, nem vício, nem desfiguração na reportagem de Felipe Frazão. Julgar o atraso na publicação da matéria (no dia 6 de junho, embora a reunião tenha ocorrido no dia 21 de maio) como algo encomendado ou valorizar o silêncio de outros jornais a esse respeito é contraproducente e não diminui em nada a gravidade daquilo que se pode assistir e ouvir na gravação.
Se há uma “economia que mata” (cf. EG 53), essa reunião explicitou também um modelo de negócios desviante e desvirtuado, que, neste caso, mata a própria Igreja, em um círculo vicioso: se evangelizar é preciso, para evangelizar é preciso de dinheiro; para supostamente “evangelizar” massivamente por meio de um gigantesco aparato de telecomunicação, é preciso de muito dinheiro; para arrecadar muito dinheiro, é preciso recorrer a todos os meios possíveis.
Em tudo isso, vêm à tona as limitações que certos setores da Igreja têm na “relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós”, como denuncia Francisco. “Criamos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro (...) Por detrás desta atitude, escondem-se a rejeição da ética e a recusa de Deus” (EG 55, 57). E o papa afirma ainda: “O dinheiro deve servir, e não governar!” (EG 58).
Quando essa “economia que mata” se infiltra no âmbito eclesial, confunde-se a ação evangelizadora com práticas de um “mercado de bens religiosos”, de “concorrência religiosa”, de “marketing religioso”.
Diante de tudo isso, é preciso recordar, reconhecer e reafirmar a “inutilidade” das mídias católicas. Ou, melhor, a sua tríplice “inutilidade”: do ponto de vista econômico-financeiro, informacional e também da evangelização.

“Inutilidade” econômico-financeira

Ao contrário do que a reunião tornou evidente, a comunicação midiática católica não deveria aceitar o “domínio do dinheiro” sobre a evangelização, muito menos ter o lucro como foco principal. É preciso de dinheiro para evangelizar, mas a evangelização não deve depender exclusivamente do dinheiro. Se o dinheiro “impede” que se evangelize, não se entendeu bem o que significa evangelização.
O filósofo italiano Nuccio Ordine, em seu livro-manifesto “A utilidade do inútil” (Ed. Zahar) critica a concepção segundo a qual todas as coisas que não trazem lucro são consideradas inúteis. Pelo contrário, o autor defende a ideia de utilidade em relação ao valor essencial das coisas, que está “completamente desvinculado de qualquer fim utilitarista”.
No mesmo sentido, a comunicação midiática católica também deveria explicitar claramente a sua “natureza gratuita e livre de interesses, distante de qualquer vínculo prático e comercial”, nas palavras de Ordine. Seria uma bela demonstração de estar no mundo da indústria da informação sem ser desse mundo (cf. Jo 17,16).
Gratia gratis data: a Graça é dada de graça. A comunicação dessa graça, portanto, não pode ser considerada um “produto”, porque não deve demandar qualquer tipo de troca ou retorno. O amor de Deus é desinteressado, é dado “de maneira unilateral, isto é, sem pedir nada em troca”, afirmou Francisco na mensagem ao 1º Dia Mundial dos Pobres, em 2017.
A evangelização, reafirma Francisco, “tem o seu fundamento último na iniciativa livre e gratuita de Deus” (EG 111) e deve ser “dirigida gratuitamente”, principalmente aos pobres, como “destinatários privilegiados do Evangelho” (EG 48). Se acolhemos a Graça “de graça”, somos convidados a comunicá-la também de graça, como diz Jesus (Mateus 10, 8), sem interesses – “inutilmente”, do ponto de vista econômico-financeiro.
Segundo Ordine, a lógica do lucro solapa as bases das instituições. Embora muitas delas – como as redes midiáticas católicas – sejam fonte de receitas extraordinárias, sua existência não deveria estar subordinada aos ganhos imediatos ou aos benefícios comerciais. Diante de uma “economia da exclusão e da desigualdade social” e da “cultura do descartável” (EG 53), a comunicação midiática católica deveria ser um exemplo público da “utilidade do inútil”, ou seja, o contraponto a uma “utilidade dominante que, em nome de um interesse exclusivamente econômico, está progressivamente matando [...] o horizonte civil [e eclesial] que deveria inspirar toda atividade humana”, como afirma o filósofo italiano.
A comunicação midiática católica teria que evidenciar “a importância vital dos valores que não se podem pesar ou medir com instrumentos calibrados para avaliar a quantitas e não a qualitas. E, ao mesmo tempo, reivindicar o caráter fundamental daqueles investimentos que não trazem retorno imediato e muito menos financeiro”, segundo Ordine.
Por se situar em um universo que não apenas depende do mundo econômico, mas também o gera e o alimenta – como o universo da indústria da informação – a comunicação midiática católica deveria ser o mais imponente e evidente “obstáculo ao delírio da onipotência do dinheiro e do utilitarismo”, como afirma o filósofo italiano.
Parafraseando o autor, é possível dizer: é bem verdade que tudo se pode comprar, até “mídia positiva”, apoio político e passaportes. Mas não a coerência com o Evangelho. O preço a ser pago por isso é de outra natureza, que, em Jesus, não foi o sucesso nem a fama, mas sim o fracasso e o escárnio; não foi a imortalidade idolátrica, mas sim a morte, e morte de cruz.
Por isso, as mídias católicas deveriam reconhecer a sua “inutilidade” do ponto de vista econômico-financeiro e evidenciar a sua “não busca” daquilo que é útil, do lucro, do dinheiro fácil. Sua “utilidade” é de outro tipo. Afirma Ordine: “No mundo em que vivemos, dominado pelo homo œconomicus, certamente não é fácil compreender a utilidade do inútil e a inutilidade do útil (quantas mercadorias desnecessárias são consideradas úteis e indispensáveis?)”. Isso também vale para o universo religioso.
Mas a comunicação católica tem custos, alguém poderá objetar. Sim, é verdade. E justamente aquela reunião expõe uma necessidade premente de repensar com “ousadia e criatividade” (cf. EG 33) os modelos de financiamento e de autossustentabilidade financeira das mídias católicas. Como afirmou o teólogo Cesar Kuzma, “se não mudarmos esta estrutura, este modo de entender a Igreja, fatos como este irão se repetir, bem como outros escândalos. O Evangelho se serve da estrutura, mas não pode servir a esta”.
Portanto, se não servem para lucrar, para que servem as mídias católicas? Se não servem ao dinheiro, a quem servem?

“Inutilidade” informacional

As mídias católicas, por meio de sua produção de informações, como bens públicos concedidos pelo Estado, são chamadas a servir à construção do bem comum e da convivência civil e democrática.
Do ponto de vista do que a lei brasileira exige de uma mídia massiva, particularmente do rádio e da televisão, existem alguns princípios demandados pela própria Constituição Federal. São eles:
I - Preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II - Promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III - Regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV - Respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família (art. 221).

Fazer isso é o mínimo que se espera de uma rádio ou de um canal de TV no Brasil. Por isso, é preciso reconhecer também a “inutilidade” das mídias católicas do ponto de vista informacional. Pois, se um canal católico consegue cumprir tais princípios, não fez nada mais do que sua obrigação legal perante a Constituição. Como diz o Evangelho de Lucas: “Quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’” (Lc 17,10).
Quando não o fazem ou, pior, quando fazem o contrário disso, as mídias católicas estão descumprindo a própria lei. Comparando tais princípios constitucionais com a grade de programação de certos canais católicos, sua conformidade à legislação fica em questão. Muitas vezes, a programação é praticamente toda confessional, quando não proselitista. Mas o anúncio do Evangelho e a confissão da fé cristã são algo bem diferente de qualquer “proselitismo político ou cultural, psicológico ou religioso”, como afirmou Francisco em sua mensagem às Pontifícias Obras Missionárias, em maio deste ano.
Há, além disso, uma questão de política comunicacional. Basta olhar para o número de canais católicos de TV aberta que temos no país: AparecidaCanção NovaEvangelizarHorizonteImaculadaNazaréPai EternoRede VidaSéculo 21. Algo incomparável com qualquer outro país de maioria católica do mundo. Trata-se de um aparato comunicacional muito dispendioso, que, muitas vezes, gera uma concorrência financeira e religiosa desnecessária. Como justificativa para isso, afirma-se que, se a Igreja não “ocupar” tais espaços, eles serão ocupados por outros grupos religiosos, e o catolicismo perderá fiéis e visibilidade. Mas os objetivos da comunicação católica seriam apenas arrebanhar adeptos e visibilizar o catolicismo?
Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil lembra ainda que rádio e TV são “um bem público entregue temporariamente a determinados beneficiários que devem prestar contas de seus atos” (DCIB 196). Então, o que a atual estrutura de comunicação diz sobre a própria Igreja? O que diz também sobre a sua relação com o Estado e a sociedade brasileiros? A Igreja defende que “compete aos grupos midiáticos agir com independência, quer em relação aos Governos e partidos políticos, quer em relação aos anunciantes” (DCIB 204). A reunião explicitou outro modo de ação.
Como defendem tanto a nota conjunta da CNBBSignis Brasil e RCR quanto a nota da Província dos Jesuítas do Brasil, divulgadas após a reportagem do sábado, a Igreja busca estabelecer com o Estado “relações institucionais (...) pautadas pelos valores do Evangelho e nos valores democráticos, republicanos, éticos e morais”. Portanto, em nome de tais valores, em favor da própria democracia, da pluralidade cultural e da liberdade religiosa, como evitar uma possível concentração de poder midiático nas mãos de grupos ligados ao catolicismo?
Quanto a isso, a Igreja tem em suas mãos uma forma de contribuir ativamente com a democratização da comunicação no Brasil, mediante um maior investimento nas diversas mídias descentralizadas, de nível paroquial ou diocesano. Elas são um grande exemplo de comunicação popular e alternativa, uma comunicação em que “o povo é seu protagonista”, feita “pelo povo, a partir dele e para ele” (DCIB, n. 147).
Diante dessa realidade, a pergunta retorna com ainda mais força: se as mídias católicas não fazem nada mais do que sua obrigação legal, para que mais elas servem? Ou, pior, se não fazem sequer isso, para que servem? A quem servem?

“Inutilidade” na evangelização

Uma resposta para a pergunta anterior – talvez a central e definidora do caráter “católico” de uma mídia – seja a evangelização, a comunicação da Boa Nova.
Como já disse Paulo VI, “a Igreja se sentiria culpada diante do seu Senhor, se não adotasse esses poderosos meios [de comunicação social], que a inteligência humana torna cada dia mais aperfeiçoados” (Evangelii nuntiandi, EN 45). Mas ela os adota para “propagar e firmar o Reino de Deus”, como afirma um dos principais documentos sobre a comunicação católica, o decreto conciliar Inter mirifica, emitido a pedido do Concílio Vaticano II (n. 2). Esse é o seu sentido primordialmente católico.
Entretanto, as estratégias do “mercado comunicacional religioso”, pelo contrário, muitas vezes acabam manifestando aquilo que o Papa Francisco chama de “mundanismo espiritual”, que, mesmo com “aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja”, buscam, no fundo, “a glória humana e o bem-estar pessoal”, empresarial ou institucional (EG 93). Ou seja, “uma maneira sutil de procurar ‘os próprios interesses, não os interesses de Jesus Cristo’”.
O anúncio de Cristo, porém, “não é nem proselitismo, nem publicidade, nem marketing”, como disse Francisco em uma missa matinal na Casa Santa Marta em novembro de 2018. Evangelizar, segundo Paulo VI, é, acima de tudo, “testemunhar, de maneira simples e direta, o Deus revelado por Jesus Cristo, no Espírito Santo” (EN 26). 
Se e quando colaboram com essa ação evangelizadora, as mídias católicas são novamente “servas inúteis” de Deus e da Igreja. Não fazem nada mais do que o que a sua vocação pede. A força, o dinamismo, a criatividade, a inspiração evangelizadores não são “autocriação” dos próprios comunicadores, mas sim dom de Deus. “O diálogo da salvação foi aberto espontaneamente por iniciativa divina”, e nós somos meros “prolongadores”, como afirmava Paulo VI. Mas, para que efetivamente ajudemos nessa comunicação, e não a atrapalhemos ou a obstaculizemos, “o nosso diálogo deve ser sem limites nem cálculos” (Ecclesiam suam, n. 42).
“Se a nossa partilha do Evangelho é capaz de dar bons frutos – afirmou Bento XVI –, em última análise é pela força que a própria Palavra de Deus tem de tocar os corações, e não tanto por qualquer esforço nosso. A confiança no poder da ação de Deus deve ser sempre superior a toda e qualquer segurança que possamos colocar na utilização dos recursos humanos” (Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2013). Portanto, a comunicação cristã não é uma heroica tarefa pessoal, mas sim “obra de Deus”, reitera Francisco (EG 12).
Porém, muitas vezes, as mídias católicas reforçam uma suposta centralidade da vida da Igreja na pessoa do padre, como empresário de sucesso e estrela midiática, alimentando aquele clericalismo tão denunciado por Francisco. Isso fica explícito em vários programas de rádio e TV. Foi evidenciado na reunião com o presidente. E foi reiterado também em uma nota posterior à reunião, divulgada por uma das redes católicas, em que se afirma que “o Padre tem a obrigação sacerdotal de mostrar o caminho de Deus a todos”. Supõe-se que, sem “o Padre”, os leigos não teriam a capacidade de encontrar tal caminho por conta própria.
Soma-se a isso a constante promoção de devocionalismos e ritualismos em certos programas católicos, que geralmente têm como fim a busca de “milagres”, sejam eles em termos de benefícios pessoais ou econômicos. Para isso, é prática recorrente a venda de penduricalhos da fé, anunciados quase como amuletos. Fomentam-se, assim, “crenças fatalistas ou supersticiosas” (EG 69), que se afastam muito da “autêntica espiritualidade popular” (EG 124), deturpando e prejudicando a ação evangelizadora da Igreja como um todo.
Em nome da humildade cristã, portanto, é bom reconhecer – sem medo e buscando tirar daí todas as consequências – a “inutilidade” das mídias católicas também em relação à evangelização. Elas não são essenciais à ação evangelizadora. Pode-se dizer que elas também não são mais opcionais em um mundo cada vez mais midiatizado, mas, mesmo sem elas, a Palavra de Deus tem a força para chegar aos confins do universo, mediante a pequenez e a singeleza do testemunho cristão.
Paulo VI, ao falar das vias de evangelização, já afirmava:
“Acima de tudo, sem repetir tudo o já recordamos anteriormente, é bom sublinhar isto: para a Igreja, o testemunho de uma vida autenticamente cristã, entregue nas mãos de Deus, em uma comunhão que nada deve interromper, mas igualmente doada ao próximo com um zelo sem limites, é o primeiro meio de evangelização. (...) É, portanto, mediante a sua conduta, mediante a sua vida, que a Igreja há de, acima de tudo, evangelizar o mundo; ou seja, mediante o seu testemunho vivido de fidelidade ao Senhor Jesus, de pobreza e de desapego, de liberdade diante dos poderes deste mundo; em uma palavra, de santidade” (EN 41).
O que se viu naquela reunião foi algo bem diferente disso. E, para além das lideranças presentes, é toda a comunicação católica que sai manchada desse episódio. O eufemismo de que as mídias lá presentes eram apenas de “inspiração católica” não minimiza o estrago. As explicações e justificativas que foram publicadas após a reportagem do Estadão foram recebidas quase que apenas internamente, nos ambientes intraeclesiais. Do ponto de vista da opinião pública, foi a Igreja como um todo que “barganhou”. Foram postas em xeque a sua coerência e a sua confiabilidade públicas, não apenas da instituição e da sua hierarquia, nem somente de setores dela.
Só resta esperar, com esperança, que tais grupos midiáticos católicos reconheçam a sua “inutilidade”, revejam as suas práticas e alianças, cumpram o seu papel constitucional e democrático, e contribuam com – e não atrapalhem – a ação evangelizadora da Igreja, que é “tornar o Reino de Deus presente no mundo” (EG 176). Ou seja, fazer com que a vida social aqui no Brasil, já no ano do Senhor de 2020, seja “um espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos” (EG 180). Essa é a sua “utilidade”. Para isso, é preciso que os comunicadores e comunicadoras católicos sejam coerentes e honrados perante Aquele a quem dizem seguir, em sentido oposto ao contratestemunho que vimos e ouvimos naquela infeliz reunião.

Prece


Rezemos juntos “Nestes momentos de dor, as pessoas fazem tantas coisas boas, mas não faltam também idéias para aproveitar do momento para si, para o próprio lucro. Rezemos Juntos para que o Senhor dê a todos nós uma consciência reta, transparente.” (papa Francisco)

O Papa: trabalho infantil, fenômeno que priva meninos e meninas de sua infância


Na Audiência Geral desta quarta-feira, Francisco fez "um apelo às instituições para que façam todos os esforços para proteger os menores, preenchendo as lacunas econômicas e sociais que estão na base da dinâmica distorcida em que eles infelizmente estão envolvidos".
Mariangela Jaguraba - Vatican News

Na Audiência Geral desta quarta-feira (10/06), o Papa Francisco fez um apelo contra o trabalho infantil. Recordou que na próxima sexta-feira, 12 de junho, celebra-se o Dia Mundial contra a Exploração do Trabalho Infantil, “fenômeno que priva meninos e meninas de sua infância e põe em risco seu desenvolvimento integral”, e chamou a atenção para a situação das crianças nesse tempo marcado pelo coronavírus.

Na atual situação de emergência sanitária, em vários países, muitas crianças e adolescentes são obrigados a trabalhar em empregos inadequados à sua idade para ajudar suas famílias em condições de extrema pobreza. Em muitos casos, essas são formas de escravidão e reclusão, resultando em sofrimentos físico e psicológico. Todos somos responsáveis ​​por isso. Faço um apelo às instituições para que façam todos os esforços para proteger os menores, preenchendo as lacunas econômicas e sociais que estão na base da dinâmica distorcida em que eles infelizmente estão envolvidos. As crianças são o futuro da família humana: todos temos a tarefa de promover seu crescimento, saúde e serenidade!

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o trabalho infantil envolve 150 milhões de crianças de 5 a 14 anos. O Dia Mundial contra a Exploração do Trabalho Infantil foi instituído pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2002, a fim de conscientizar a sociedade, trabalhadores, empregadores e governos do mundo todo contra o trabalho infantil.

De acordo com a OIT, antes da difusão da Covid-19, quase 100 milhões de crianças tinham sido resgatadas do trabalho infantil até 2016. Isso fez com que o número de crianças nessa situação caísse de 246 milhões, no ano 2000, para 152 milhões, em 2016, segundo a última estimativa global divulgada.

O trabalho infantil é proibido no Brasil, mas atinge pelo menos 2 milhões e 400 mil crianças de 5 a 17 anos, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua 2016, do IBGE.

Fonte: Vatican News, por Mariangela Jaguraba