11 agosto, 2020

A tristeza, no a-Deus de Pedro, é fecunda, queima, interpela e compromete - Edward Guimarães


Pedro Casaldáliga - este dom preciso de Deus, profeta da opção pelos pobres e da justiça do Reino - testemunhou e anunciou com a totalidade de sua vida e com profunda coerência evangélica, a VIDA NOVA de quem foi libertado pela graça em Jesus de Nazaré, para amar e servir, desde os mais pequeninos e marginalizados. 

Talvez por isso, Pedro, como os demais homens e mulheres que foram profetas na história, foi muito amado e odiado. 

Pedro foi amado pelas vítimas, pobres, vulneráveis, excluídos e marginalizados, pelos que seguem Jesus e acolhem o seu Evangelho e pelos que assumem a centralidade do amor e da justiça. Ele foi também muito odiado e ameaçado, como inimigo, pelos que defendem o latifúndio, a acumulação, a dominação dos indígenas, dos negros e dos empobrecidos e que defendem, aristocraticamente, com unhas e dentes, os privilégios de sua classe ou de casta. 

Estes rotulavam Pedro como bispo vermelho, socialista, comunista, marxista, subversivo e revolucionário. Aqueles reconheciam nele o companheiro de caminhada, o Evangelho vivo, o poeta da espiritualidade e santidade do Reino, o comunitarista fraterno-sororal da justiça e da igualdade. 

Pedro influenciou toda uma geração de cristãos e de pessoas de boa vontade, comprometida com a dignidade da vida, com a opção pelos pobres e marginalizados, com os direitos humanos, com a igual cidadania para todos, com a partilha e a justiça social, com o Estado Democrático de Direito e concretizador das políticas públicas desde os que mais precisam. 

Tomara que agora, como Jesus Ressuscitado, Pedro continue a influenciar as novas gerações na construção do Reino da fraternidade-sororidade e da justiça social.

Louvo muito a Deus pela graça de ter conhecido, em meados dos anos 80, o testemunho vivo e a pessoa de Pedro, este sacramento vivo da práxis libertadora de Jesus, da espiritualidade do seguimento e da fraternidade-sororidade do Reino. 

Por ter conhecido Pedro e seus muitos companheiros e companheiras de luta e caminhada na Igreja dos pobres e nas pastorais sociais, na Igreja católica, evangélica e pentecostal, mas também os muitos "desigrejados", apaixonados pelo seguimento do Profeta da Galileia e a justiça do Reino, nos movimentos populares, e por ter comungado, na Palavra e na Eucaristia, das lutas dos pobres contra a pobreza, dos seus fracassos e vitórias, há 34 anos fiz também a opção pelos pobres e oprimidos, assumi a mesma aliança de cuidar e defender a dignidade da vida. Aliança simbolizada no anel de Tucum, mas renovada em cada experiência de partilha e de luta em defesa da vida e da casa comum.

Louvado seja Deus porque Pedro Casaldáliga vive, plenificado na Trindade de Amor e Justiça, em cada um de nós! 

Pedro, sua vida valeu a pena e o seu legado continuará vivo e estaremos juntos na luta até que se realize a utopia da Terra sem males que, agora, você já participa com tantos outros irmãos e irmãs em Deus, na glória do justo!
Amém

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Edward Guimarães, é Belo Horizonte, Teólogo leigo e assessor das CEBs.