08 agosto, 2020

Cemitério do Sertão

Cemitério do Sertão

Para descansar
eu quero só
está cruz de pau
estes sete palmos 
e a Ressurreição!

Mas para viver
eu já quero ter
a parte que me cabe
no latifúndio seu:
que a terra não é sua,
seu doutor Ninguém!
A terra é de todos
porque é de Deus!

Para descansar...

Mas para viver,
terra eu quero ter.
Com Incra ou sem Incra,
com lei ou sei lei.
Que outra Lei mais alta
já a Terra nos deu 
a todos os pobres 
sem voz e sem vez;
que os filhos da gente são gente também!

Para descansar....

Mas para viver
terra exijo ter.
Dinheiro e arame
não nos vão deter.
Mil facões zangados
cortam pra valer.
Dois mil braços juntos
cercam terra e céu.

Para descansar...

Mas para viver,
terra e liberdade
eu preciso ter.
E não peço esmola
nem compro o que é meu.
A Sudam e o diabo
podem se vender:
gente não se vende,
nem se compra Deus!

Pedro Casaldáliga, Águas do Tempo

Morre dom Pedro Casaldáliga, o "bispo do povo"

 

Aos Pais com Carinho