29 dezembro, 2017


Oraçao


Senhor Jesus, a tua vida escondida, e confundida com a da gente comum, é para nós um exemplo de simplicidade e de pobreza. Como qualquer primogénito do teu povo, quiseste ser apresentado ao templo e oferecido a Deus, para cumprires a Lei. Fizeste-te reconhecer como Salvador universal por Simeão, um homem justo e aberto à novidade do Espírito. É aos simples e aos humildes que Te costumas revelar, e não aos sábios e orgulhosos.

Nós Te pedimos que, apesar da nossa miséria e da nossa incapacidade em nos darmos conta da passagem do teu Espírito na nossa vida, nos dês a graça de Te reconhecermos como nossa luz e como luz do mundo.

Nós Te louvamos e bendizemos, com o velho Simeão, pela realização das tuas promessas. Ajuda-nos a viver tudo quanto nos ensinaste, especialmente o amor fraterno. E que toda a nossa vida seja oblação ao Pai, em favor da humanidade, pela qual Tu próprio Te ofereceste. Amém.

Fonte: Dehonianos

Dom Helder, patrono brasileiro dos direitos humanos



Dom Helder, patrono brasileiro dos direitos humanos

Ícone da resistência contra a ditadura militar, falecido em 1999, Dom Helder foi um dos expoentes católicos daquela época na luta em benefício de melhores condições de vida para os mais pobres.

Cristiane Murray – Cidade do Vaticano

Dom Helder Câmara é Patrono Brasileiro dos Direitos Humanos. A Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados aprovou por unanimidade, quarta-feira (27/12), o Projeto de Lei 7230/14 e o texto foi publicado no Diário Oficial da União. A matéria segue agora para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, em caráter conclusivo.

Motivação

O patrono de determinada categoria ou ramo da ciência e do conhecimento é aquele cuja atuação serve de paradigma e inspiração a seus pares.

Ícone da resistência contra a ditadura militar enquanto arcebispo de Olinda e Recife, falecido em 1999, Dom Helder foi um dos expoentes católicos daquela época que lutou em benefício de melhores condições de vida para os mais pobres.  

Trajetória

Na  década de 50, fundou obras sociais como a Cruzada São Sebastião, cujo objetivo era atender aos moradores das favelas, e o Banco da Providência, que organizava doações e microcrédito para as famílias de baixa renda.

Dom Helder exerceu ainda funções na Secretaria de Educação do Rio de Janeiro e no Conselho Nacional de Educação. Foi também um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e por sua trajetória, reconhecida internacionalmente, foi o único brasileiro cotado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz.

Em seus mais de 20 livros publicados – boa parte traduzida para outros idiomas –, Dom Helder defendeu ainda o seu ideal de “não-violência” e a necessidade de profundas reformas por um Brasil menos desigual. 

Pagou um alto preço por sua atuação em favor dos pobres 

O combate às violações de direitos humanos custou ao arcebispo uma perda pessoal: em 1969, o assessor de Dom Hélder, o Padre Henrique, foi preso e torturado até a morte pelos militares.

O local onde Dom Helder passou os últimos anos de vida, nos fundos da Igreja de Nossa Senhora da Assunção das Fronteiras, no Recife, foi transformado em museu. No Memorial Dom Helder Câmara, estão expostos objetos como livros, quadros, roupas e móveis de uso pessoal do arcebispo. 

O processo de beatificação de Dom Helder começou em maio de 2015 e se encontra na fase diocesana, na qual uma série de documentos, escritos de sua autoria e apanhados históricos são analisados.  Em seguida, tramita para o Vaticano, onde será nomeado um relator. 

Fonte: Vatican News

28 dezembro, 2017

Oração


"Senhor Jesus, que por nós Te fizeste homem, que por nós morreste e ressuscitaste, Tu és o nosso único advogado junto do Pai quando pecamos e nos afastamos de Ti. Muitas vezes quebramos a Aliança contigo, e outras tantas a restabeleceste, sem Te cansar, manifestando a riqueza da tua bondade e do teu perdão. Não deixes de ser o nosso defensor. Sê também o defensor da nossa humanidade que massacra tantos inocentes, crianças, jovens, adultos e idosos, homens e mulheres.

Tu, que experimentaste a situação dos refugiados, tem compaixão dos milhões de homens e mulheres que, ainda nos nossos dias, têm que abandonar as suas terras, os seus países, para escaparam às diferentes formas de perseguição, às guerras, aos massacres, aos genocídios.

Pela tua Incarnação, pela tua Morte e Ressurreição, concede ao nosso mundo a graça de encontrar o caminho da justiça e da paz. Amém."

Fonte: Dehonianos

Salmo - Sl 123(124),2-3.4-5.7b-8 (R. 7a)


R. Nossa alma como um pássaro escapou
do laço que lhe armara o caçador.

2Se o Senhor não estivesse ao nosso lado, *
quando os homens investiram contra nós, 
3com certeza nos teriam devorado *
no furor de sua ira contra nós.R.


4Então as águas nos teriam submergido, *
a correnteza nos teria arrastado,
5e então, por sobre nós teriam passado *
essas águas sempre mais impetuosas.R.

7bO laço arrebentou-se de repente, *
e assim nós conseguimos libertar-nos.
8O nosso auxílio está no nome do Senhor, *
do Senhor que fez o céu e fez a terra!R.

27 dezembro, 2017

“O neoliberalismo é uma perversão da economia dominante”. Artigo de Dani Rodrick

“Os neoliberais certamente não estão errados quando argumentam que esses ideais preciosos são mais propensos a ser alcançados em uma economia vibrante, forte e em expansão. No entanto, eles se enganam quando pensam que existe uma receita única e universal para melhorar o desempenho econômico, à qual eles teriam acesso. O erro fatal do neoliberalismo é que ele se engana sobre o que é a economia em si. Este deve ser rejeitado em seus próprios termos pela simples e boa razão de que é uma economia ruim”. A reflexão é de Dani Rodrik, professor de economia política internacional naEscola de Governo John F. Kennedy na Universidade de Harvard, em artigo publicado por Alternatives Économiques, 12-12-2017. A tradução é de André Langer.


Eis o artigo.

Mesmo os críticos mais contumazes reconhecem: é difícil definir o neoliberalismo. Em geral, este termo sugere uma preferência pelos mercados e não pelo Estado, pelos incentivos econômicos, em vez das normas culturais, e pelas empresas privadas em detrimento da ação coletiva. De Augusto Pinochet a Margaret Thatcher ou Ronald Reagan, dos democratas estadunidenses ao novo Partido Trabalhista britânico, da abertura econômica chinesa até a reforma do Estado-providência na Suécia, a palavra tem sido usada para descrever uma grande variedade de situações.

Assim, a palavra “neoliberalismo” é usada como um coringa que qualifica qualquer coisa relativa à desregulamentação, à liberalização, à privatização ou à austeridade fiscal. Hoje, ele é rotineiramente difamado e equiparado a todas as ideias e práticas que contribuíram para o aumento da insegurança econômica e das desigualdades, o que nos levou à perda de nossos valores e de nossos ideais políticos e, finalmente, precipitou o surgimento de movimentos populistas.

Onde estão os neoliberais?

Aparentemente, nós vivemos na era do neoliberalismo. Mas quem são, no final das contas, os seguidores e os disseminadores dessa corrente de pensamento – os próprios neoliberais? Curiosamente, teríamos que voltar quase ao início dos anos 1980 para encontrar alguém que tenha abraçado explicitamente o neoliberalismo. Em 1982, Charles Peters – que durante muitos anos dirigiu a revista política Washington Monthly – publicou um “Manifesto Neoliberal”, que constitui ainda hoje, passados 35 anos, uma leitura interessante, pois o neoliberalismo que ele descreve tem pouca semelhança com o alvo de escárnio de hoje. De acordo com Peters, os políticos que encarnam o movimento neoliberal não seriam semelhantes a Thatcher ou Reagan, mas liberais – no sentido estadunidense da palavra – que, após se decepcionarem com os sindicatos e a onipresença dos governos centrais, abandonaram seus preconceitos contra os mercados.

O uso do termo “neoliberal” explodiu na década de 1990, quando foi associado a dois fenômenos, nenhum dos quais foi mencionado no artigo de Peters. O primeiro deles é a desregulamentação financeira, que culminaria na crise financeira de 2008 e na ainda atormentada fragilidade da zona do euro. O segundo fenômeno é a mundialização econômica, que se acelerou graças à livre circulação de capitais e a um novo e mais ambicioso tipo de acordos comerciais. A financeirização e a globalização tornaram-se as manifestações mais visíveis do neoliberalismo no mundo de hoje.

Entre ciência e ideologia

O fato de que o neoliberalismo é um conceito escorregadio e maleável e que não dispõe de um lobby explícito de defensores, não significa que seja insignificante ou irreal. Quem pode, com efeito, contestar que o mundo não experimentou uma mudança decisiva em relação aos mercados desde a década de 1980? Ou o fato de que os políticos de centro-esquerda – os democratas nos Estados Unidos, os socialistas e os social-democratas na Europa – abraçaram com entusiasmo alguns dos credos centrais do thatcherismo ou do reaganismo, como a desregulamentação, a privatização, a liberalização financeira ou a iniciativa privada? Grande parte das nossas discussões políticas contemporâneas está imbuída de princípios baseados no conceito de homo œconomicus, um ser humano perfeitamente racional que procura maximizar o interesse próprio e que constitui um elemento central de muitas teorias econômicas.

Mas a elasticidade do termo “neoliberalismo” também significa que as críticas que são direcionadas a essa corrente econômica erram muitas vezes o alvo. Não há nada de errado nos mercados, na iniciativa ou na empresa privada quando esses princípios são aplicados adequadamente. As conquistas econômicas mais importantes do nosso tempo também resultaram do uso judicioso desses últimos. E ao esquivar o neoliberalismo, corremos o risco de privar-nos de algumas de suas ideias úteis.

O verdadeiro problema é que a economia mainstream cai muito facilmente na ideologia, restringindo as escolhas que parece oferecer-nos e fornecendo soluções de “cortador de biscoitos”. Uma compreensão adequada dos fenômenos econômicos que fundamentam o neoliberalismo nos permitiria identificar a ideologia e rejeitá-la quando se disfarçasse de ciência econômica. Finalmente – e isso certamente é o mais importante –, isso nos ajudaria a enriquecer a imaginação institucional que precisamos desesperadamente para reconstruir o capitalismo do século XXI.

Experiência de pensamento

Nós pensamos, de modo geral, o neoliberalismo como a soma de princípios chaves da ciência econômica dominante. Para poder estudar estes princípios sem ideologia, considere uma experiência de pensamento.

Suponhamos que um economista bem conhecido e muito respeitado desembarca pela primeira vez em um país, sobre o qual não sabe nada. Ele é convocado para participar de um encontro com os líderes políticos do país em questão. “Nosso país está com sérios problemas”, disseram-lhe então. “A economia está estagnada, o investimento é baixo e não há perspectivas de crescimento à vista”. Os líderes se voltam para ele, cheios de esperança: “Diga-nos qual é o caminho para que a nossa economia volte a crescer”.

O economista reconhece sua ignorância e explica que seu pouco conhecimento sobre a economia do país o impede de fazer qualquer recomendação. Ele precisaria estudar a história da economia, analisar dados estatísticos e viajar pelo país antes de poder dizer qualquer coisa.

Mas seus anfitriões insistem: “Nós entendemos sua reticência, e gostaríamos que tivesse tido tempo para tudo isso”, dizem eles. “Mas a economia não é uma ciência, e você não é um dos seus praticantes mais proeminentes? Mesmo que você não conheça muito bem a nossa economia, certamente há algumas teorias gerais e algumas diretrizes que nos ajudariam a orientar as nossas políticas econômicas e as reformas que queremos implementar”.

O economista encontra-se num impasse. Por um lado, ele não quer imitar esses gurus econômicos que há muito criticou por venderem seus conselhos políticos favoritos. Mas ele se sente desafiado por esta questão. Existem verdades universais na economia? Ele pode dizer algo válido (e possivelmente útil)?

Que princípios?

Então ele começa a sua exposição. A eficiência com que os recursos de uma economia são alocados é um determinante crucial do desempenho dessa economia, diz ele. A eficiência exige, por sua vez, alinhar os incentivos domésticos e das empresas com os custos e os benefícios sociais. Os incentivos aos empresários, investidores e produtores são particularmente importantes para o crescimento econômico. O crescimento precisa de um sistema bem-sucedido de direitos de propriedade e execução de contratos capaz de garantir que os investidores mantenham os retornos de seus investimentos. Finalmente, a economia deve estar aberta a ideias e inovações do resto do mundo.

Mas um período de instabilidade macroeconômica pode descarrilar a economia, prossegue o nosso economista visitante. Os governos devem, portanto, conduzir uma política monetária rigorosa, o que significa restringir o crescimento da liquidez ao aumento da procura monetária nominal até um nível razoável de inflação. Eles devem garantir a sustentabilidade das finanças públicas, de modo que a dívida pública não exceda a renda nacional. E devem realizar uma regulamentação prudencial dos bancos e outras instituições financeiras para evitar que o sistema financeiro como um todo se aproxime de riscos excessivos.

Na sequência, o economista aborda um tema que lhe é caro: “A economia não se restringe apenas à eficiência e ao crescimento”, acrescenta. Os princípios econômicos também incluem questões de política social e de equidade. A economia tem, certamente, pouco a dizer sobre o nível de redistribuição que uma sociedade deve buscar. Mas defende que a base tributária deve ser a mais ampla possível e que os programas sociais devem ser concebidos de forma a não encorajar os trabalhadores a abandonarem o mercado de trabalho.

No momento em que o economista termina sua apresentação, parece que ele estabeleceu uma verdadeira agenda neoliberal. Um ouvinte crítico, da plateia, reconhecerá uma série de “palavras-chave”: eficiência, incentivos, direitos de propriedade, política monetária saudável, prudência fiscal e financeira. No entanto, os princípios universais que o economista acabou de descrever são muito vagamente definidos: eles presumem uma economia capitalista – em que as decisões de investimento são feitas por agentes e corporações privadas – mas não muito além disso. Na realidade, eles admitem – e até mesmo requerem – uma incrível variedade de arranjos institucionais.

Então, o economista acabou de fazer uma análise neoliberal? Nós nos enganaríamos acreditando nisso; nosso erro consistiria em associar cada termo abstrato – incentivos, direitos de propriedade, política monetária sólida – com uma contrapartida institucional predeterminada. E nisso reside a reivindicação central e o principal erro do neoliberalismo: a crença de que os princípios econômicos de primeira ordem correspondem a um único conjunto de políticas, próximo de uma agenda ao estilo de Thatcher ou de Reagan.

Tomemos os direitos de propriedade. Eles são importantes porque permitem a distribuição dos retornos sobre os investimentos. Um sistema ideal conferiria os direitos de propriedade àqueles que fariam o melhor uso possível de seus ativos, e ofereceria, ao contrário, uma proteção contra aqueles que correm o risco de se apropriar de todos os benefícios. Assim, os direitos de propriedade são benéficos quando protegem os inovadores de passageiros clandestinos, mas são prejudiciais quando os protegem da concorrência. Dependendo do contexto, um regime jurídico que fornece os incentivos adequados pode ser bastante diferente do regime padrão de direitos de propriedade privada ao estilo estadunidense.

“Neoliberalismo” ao estilo chinês?

Isso pode parecer um parêntese semântico sem nenhum interesse prático. Mas o espetacular sucesso econômico da China deve-se em grande parte ao seu processo institucional que desafia toda a ortodoxia. A China voltou-se para os mercados, mas não copiou as práticas ocidentais de direitos de propriedade. As reformas realizadas no país produziram incentivos baseados no mercado através de uma série de novos arranjos institucionais mais adaptados ao contexto local.

Ao invés de passar diretamente da propriedade estatal para a propriedade privada, por exemplo, o que teria sido limitado em todos os casos pela fraqueza das instituições, o país passou a se apoiar sobre formas mistas de propriedade. Isso provou fornecer aos empresários direitos de propriedade mais eficazes. O Township and Village Enterprises (Programa de Empresas de Municípios e de Aldeias), que liderou o crescimento chinês na década de 1980, era de propriedade coletiva e controlado pelos governos locais. Embora essas empresas pertencessem ao Estado, os empresários receberam a proteção contra o risco de expropriação de que precisavam. Os governos locais estavam diretamente interessados nos lucros das empresas e, portanto, não tinham motivos para matar essas galinhas de ovos de ouro.

China usou uma variedade dessas inovações; cada uma traduzindo os princípios econômicos de primeira classe para arranjos institucionais incomuns. As reformas chinesas ajudaram a proteger o setor público chinês da concorrência global ao estabelecer zonas em que as empresas estrangeiras poderiam seguir regras diferentes do resto da economia. Em vista desses desvios dos padrões ortodoxos, qualificar as reformas chinesas como neoliberais – como alguns críticos estão inclinados a fazer – distorce a realidade em vez de esclarecê-la. Se nós quiséssemos chamar isso de neoliberalismo, certamente deveríamos ser mais indulgentes com as ideias que subjazem à mais espetacular redução da pobreza na história.

Alguns podem retorquir dizendo que as inovações institucionais chinesas são puramente transitórias: o país, talvez, tenha que convergir para um modelo de instituições ocidentais para apoiar o seu crescimento econômico. Mas essa maneira de pensar negligencia a diversidade dos arranjos capitalistas que ainda prevalecem nas economias avançadas, apesar da relativa homogeneidade de nossos discursos políticos.

Um roteiro vazio

O que são, afinal, as instituições ocidentais? O peso do setor público varia muito nos países da OCDE, de um terço do PIB na Coreia do Sul para quase 60% na Finlândia. Na Islândia, 86% dos trabalhadores são membros de uma organização sindical, em comparação com apenas 16% na Suíça. Nos Estados Unidos, as empresas podem demitir trabalhadores quase à vontade, enquanto a legislação trabalhista francesa sempre impôs aos empregadores várias etapas preliminares. Os mercados de ações representam hoje quase uma vez e meia o PIB dos Estados Unidos, ao passo que na Alemanha, sua importância é três vezes menor, cerca de 50% do PIB.

A ideia de que qualquer um desses modelos de tributação, de direito do trabalho ou de organização financeira pode ser intrinsecamente superior aos demais é desmentida pela alternância de períodos de prosperidade e recessão experimentados por essas economias desenvolvidas em décadas recentes. Os Estados Unidos passaram por vários períodos de turbulências em que suas instituições econômicas foram julgadas inferiores às da AlemanhaJapãoChina e hoje, provavelmente, da Alemanha novamente. Certamente, níveis comparáveis de riqueza e produtividade podem ser alcançados através de modelos muito diferentes de capitalismo. Poderíamos até dar um passo adiante: todos esses modelos ainda estão longe de esgotar o campo do que poderia ser possível e desejável no futuro.

O economista em visita da nossa experiência de pensamento conhece todos esses exemplos, ele sabe que os princípios que enunciou precisam ser alimentados por soluções institucionais antes de se tornarem operacionais. Direitos de propriedade? Sim, mas como? Política monetária sólida? Sim, mas como? Talvez seja mais fácil criticar esta lista de princípios por seu vazio do que denunciá-la como um programa neoliberal.

Mesmo assim, esses princípios não são inteiramente desprovidos de conteúdo. A Chinae, de um modo geral, todos os países que conseguiram se desenvolver rapidamente, demonstram a utilidade desses princípios uma vez adaptados ao contexto local. Por outro lado, muitas economias se voltaram contra os líderes políticos que tentaram violar esses princípios. Não precisamos ir muito longe – basta olhar para os nossos regimes populistas da América Latina ou para os regimes comunistas da Europa Orientalpara apreciar a relevância de uma política monetária sólida, de uma sustentabilidade fiscal e de incentivos privados.

Certamente, a economia não pode ser reduzida a uma lista de princípios abstratos, em grande parte do senso comum. Grande parte do trabalho dos economistas consiste em desenvolver modelos estilizados de como funcionam as economias reais e, em seguida, confrontar esses modelos com a realidade. Os economistas, portanto, tendem a descrever seu trabalho como um aperfeiçoamento progressivo de sua compreensão do mundo: seus modelos devem se tornar cada vez mais eficientes à medida que são testados e revisados. Na realidade, os progressos na economia acontecem de forma diferente.

Um modelo, mas qual modelo?

Os economistas estudam uma realidade social que é totalmente diferente do universo físico dos cientistas naturais. Ela é inteiramente criada pelo homem, altamente maleável e opera de acordo com regras que variam ao longo do tempo e do espaço. A economia não avança, portanto, pela escolha do modelo certo ou da teoria certa para responder às questões que se podem fazer, mas melhorando a nossa compreensão da diversidade de relações causais. O neoliberalismo e seus remédios habituais – sempre mais mercados, sempre menos Estado – são de fato uma perversão da economia dominante. Os bons economistas sabem que a resposta correta para qualquer questão em economia é: “depende”.

Um aumento do salário mínimo é prejudicial ao emprego? Sim, se o mercado de trabalho é competitivo e os empregadores não têm controle sobre os salários que devem pagar para atrais os trabalhadores; mas não o contrário. A liberalização do comércio incentiva o crescimento econômico? Sim, se melhorar a rentabilidade das indústrias onde a maior parte da inovação e investimento ocorre; mas não o contrário. Um aumento nas despesas públicas melhora o emprego? Sim, se não há tensões na economia e os salários não aumentam; mas não o contrário. Uma situação de monopólio afeta a inovação? Sim e não: dependendo de uma série de condições do mercado.

Na economia, os novos modelos raramente suplantam os antigos. Os modelos do mercado concorrencial que remontam a Adam Smith foram modificados ao longo do tempo pela inclusão – mais ou menos cronologicamente – de questões de monopólio, de externalidades, de economias de escala, de incompletudes e de assimetria de informações, de comportamento irracional dos agentes e muitos outros aspectos do mundo real. No entanto, os modelos antigos permaneceram úteis. Para entender o funcionamento dos mercados, é necessário visualizá-los através de diferentes prismas em diferentes momentos.

Um bom economista é um bom cartógrafo

Talvez a analogia mais apropriada para essa situação seja encontrada nos mapas. Assim como os modelos econômicos, os mapas são representações altamente estilizadas da realidade. Eles são úteis precisamente porque abstraem muitos detalhes do mundo real que poderiam dificultar a compreensão. Mapas em grande escala realistas seriam artefatos irremediavelmente impraticáveis, como descreveu Jorge Luis Borges em uma breve história que continua a ser a melhor e mais sucinta explicação do método científico. Mas essa abstração também implica que precisamos de mapas diferentes dependendo das nossas necessidades de viagem. Se, por exemplo, eu ando de bicicleta, preciso de um mapa que indica as trilhas para bicicletas. Se eu decido ir a pé, escolho um mapa que mostra as trilhas para caminhadas. Se uma nova linha de metrô for construída, eu certamente preciso de um novo mapa do metrô, sem precisar descartar todos os mapas antigos que eu tenho.

Os economistas são excelentes na elaboração de mapas, mas não são bons o suficiente para escolher o que é o mais adequado para a tarefa em questão. Quando são confrontados com questões de política econômica – como aquelas a que o economista que visita esse país desconhecido teve que enfrentar –, muitos economistas recorrem a modelos de referência que privilegiam o “laissez-faire”. As respostas automáticas e a arrogância substituem a riqueza das discussões que podem ocorrer em um seminário. John Maynard Keynes definiu a economia como “a ciência que pensa em termos de modelos combinada com a arte de escolher os modelos relevantes para o mundo contemporâneo”. Os economistas normalmente têm dificuldades com a parte “artística” da disciplina.

Eu também ilustrei isso com uma parábola: um jornalista telefona para um professor de economia para perguntar-lhe se, do seu ponto de vista, o livre comércio é uma coisa boa. O professor responde com entusiasmo a ele afirmativamente. Fazendo-se passar por estudante, o jornalista participa, em seguida, do seminário de economia internacional ministrado pelo mesmo professor em uma universidade. Ele faz a mesma pergunta: “O livre comércio é benéfico?” Desta vez, o professor parece envergonhado: “O que você quer dizer com ‘benéfico’? E benéfico para quem?”, pergunta-lhe.

O professor mergulha, então, em uma exaustiva explicação, para finalmente concluir com um balanço muito mais matizado: “Se a longa lista de premissas que eu acabo de fazer for satisfatória e assumindo que podemos tributar os beneficiários para compensar os perdedores, então o livre comércio pode potencialmente melhorar o bem-estar de todos”. Se estiver bem humorado, o professor pode até acrescentar que o impacto do livre comércio sobre o crescimento a longo prazo de uma economia não é fácil de determinar e que depende também de uma série de condições.

Os guardiões das joias

O professor que o jornalista descobriu durante este seminário é, portanto, bem diferente daquele com quem ele pôde conversar por telefone. No primeiro encontro, ele estava muito confiante e não tinha reservas sobre a política a ser adotada. Só haveria um modelo a ter em conta, pelo menos no debate público; uma única resposta correta, independentemente do contexto. Curiosamente, o professor acredita que os conhecimentos que ele transmite aos seus alunos não são adequados – são inclusive perigosos – para o público em geral. Por quê?

Os fundamentos de tal comportamento estão profundamente ancorados na sociologia e na cultura da profissão de economista. Mas uma das principais razões reside na ânsia deste último de apresentar as joias da coroa da profissão como sendo irrepreensíveis – a eficiência dos mercados, a mão invisível, as vantagens comparativas – para protegê-las dos ataques de bárbaros guiados pelo seu interesse pessoal, nomeadamente os protecionistas. Infelizmente, esses economistas tendem a ignorar os bárbaros do lado contrário: os financistas e as multinacionais, cujos motivos não são mais puros e que estão tão prontos quanto os protecionistas para sequestrar essas ideias para seu próprio benefício.

Por conseguinte, a contribuição dos economistas para o debate público é, muitas vezes, tendenciosa em uma direção: a favor de mais comércio, mais finanças e menos governo. É por esta razão que os economistas desenvolveram uma reputação de defensores incondicionais do neoliberalismo, mesmo que a economia dominante esteja longe de ser um hino à glória do laissez-faire. Os economistas que dão rédeas soltas ao seu entusiasmo pelos mercados liberalizados não estão sendo de fato muito fiéis à sua própria disciplina.

Repensando a mundialização

Como, então, podemos pensar na mundialização se quisermos liberá-la das garras das práticas neoliberais? Devemos começar pela compreensão do potencial positivo dos mercados globalizados. O acesso aos mercados internacionais de bens, de tecnologias e de capital tem desempenhado um papel importante em praticamente todos os milagres econômicos do nosso tempo. A China é o lembrete mais recente e poderoso desta verdade histórica; mas não é o único caso. Antes da China, milagres semelhantes ocorreram na Coreia do SulTaiwanJapão e vários países não-asiáticos, como as Ilhas Maurício. Todos esses países abraçaram a mundialização em vez de virarem as costas para ela, e eles se beneficiaram generosamente.

Os defensores da ordem econômica existente sempre acabam invocando esses exemplos quando a mundialização é questionada. O que eles esquecem de dizer, no entanto, é que a maioria desses países se juntou à economia mundial violando restrições neoliberais. A Coreia do Sul e Taiwan, por exemplo, subsidiaram fortemente seus exportadores, respectivamente, através do sistema financeiro e concedendo-lhes vantagens fiscais. E, em geral, todos esses países levantaram a maior parte de suas barreiras à importação muito depois do seu crescimento econômico ter decolado.

Mas nenhum – com a única exceção do Chile de Pinochet na década de 1980 – seguiu a recomendação neoliberal de uma rápida abertura às importações. A experiência neoliberal do Chile produziu a pior crise econômica da América Latina. Embora as circunstâncias sejam diferentes de país para país, em todos os casos os governos desempenharam um papel ativo na reestruturação de suas economias e protegendo-as de um ambiente externo altamente volátil. As políticas industriais, as restrições aos fluxos de capital e os controles cambiais – tudo proibido pela cartilha neoliberal – tornaram-se comuns.

Por outro lado, os países que se limitaram ao modelo de mundialização neoliberal ficaram muito desapontados. O México fornece um exemplo particularmente triste. Após uma série de crises macroeconômicas em meados da década de 1990, o Méxicoadotou políticas macroeconômicas ortodoxas, liberalizou fortemente a sua economia, desregulou o seu sistema financeiro, reduziu drasticamente suas barreiras à importação e assinou o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA). Essas políticas permitiram alguma estabilidade macroeconômica e um aumento significativo no comércio externo e no investimento interno. Mas, onde mais importa – a produtividade geral e o crescimento econômico –, o experimento foi um fracasso. Desde que o México empreendeu essas reformas, sua produtividade geral estagnou e sua economia tem sido contraproducente, mesmo diante dos padrões relativamente pouco exigentes da América Latina.

Não existe um plano único

Estes resultados não são surpreendentes do ponto de vista de uma abordagem econômica lógica. No entanto, há ainda uma outra manifestação da necessidade de que as políticas econômicas sejam ajustadas às deficiências enfrentadas por cada mercado e adaptadas às especificidades nacionais de cada país. Não existe nenhum plano que seja adequado para todos os lugares e de maneira indiferente.

Como atesta o Manifesto de Peters (1982), a definição de neoliberalismo evoluiu consideravelmente ao longo do tempo, ao mesmo tempo em que a conotação do termo tornou-se cada vez mais radical em sua relação com a desregulamentação, a financeirização ou a mundialização. Mas há um fio comum que liga as diferentes versões do neoliberalismo: a importância atribuída ao crescimento econômico. Em 1982, Petersescreveu que essa ênfase era justificada por causa do papel vital que o crescimento desempenha na consecução de todos os nossos objetivos sociais e políticos – comunidade, democracia e prosperidade. O empreendedorismo, o investimento privado e a remoção de todos os obstáculos (como por exemplo, uma excessiva regulamentação) que impedem o caminho são todos instrumentos necessários para o crescimento econômico. Se um manifesto neoliberal semelhante fosse escrito hoje, provavelmente avançaria no mesmo ponto.

No entanto, os críticos do neoliberalismo muitas vezes apontam que essa ênfase no crescimento degrada e sacrifica outros importantes valores sociais e políticos, como a igualdade, a inclusão social, a deliberação democrática ou a justiça. Valores cuja realização é, no entanto, essencial e que, em certos contextos, são mais importantes do que os outros. No entanto, nem sempre podem ser alcançados por meio de políticas econômicas tecnocráticas; a política tem um papel central a desempenhar.

Os neoliberais certamente não estão errados quando argumentam que esses ideais preciosos são mais propensos a ser alcançados em uma economia vibrante, forte e em expansão. No entanto, eles se enganam quando pensam que existe uma receita única e universal para melhorar o desempenho econômico, à qual eles teriam acesso. O erro fatal do neoliberalismo é que ele se engana sobre o que é a economia em si. Este deve ser rejeitado em seus próprios termos pela simples e boa razão de que é uma economia ruim.

Fonte: IHU

Para Refletir


“Comovidos pelo jubiloso dom, Menino pequenino de Belém, pedimo-Vos que o vosso choro nos desperte da nossa indiferença, abra os olhos perante quem sofre.”

Papa Francisco

Oração


"Senhor Jesus Cristo, que revelaste a João, teu discípulo amado, os misteriosos segredos da Palavra, dá-nos também a nós, hoje, e a toda a Igreja, uma nova inteligência espiritual das Escrituras. Assim poderemos iluminar, cada vez mais, a nossa vida espiritual, e aprender a tua ciência sublime.

Concede à Igreja pastores sábios e santos, capazes de colher o sentido espiritual e profundo das Escrituras e introduzir o povo de Deus na tua intimidade. Assim todos poderemos conhecer o teu Coração, o teu pensamento, a profundidade do teu Espírito e o modo como conduzes a história da Igreja.

Por intercessão do teu discípulo amado, faz-nos experimentar o amor do teu Coração, e torna-nos assíduos e delicados no teu serviço. Sempre, e em toda a parte, queremos, como S. João, realizar a tua vontade sobre nós. Ajuda-nos!"

Fonte: Dehonianos

25 dezembro, 2017

22 dezembro, 2017

Um feliz e abençoado Natal a todas e a todos!


Natal: Horários das Missas na Catedral de Maringá

A Santa Missa do Natal do Senhor, na Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Glória em Maringá, será celebrada às 19h30, domingo (24).

No domingo (24) haverá outras três celebrações na Catedral, por ocasião do 4° domingo do Advento: missas às 7h30, 9h30 e 12h.

No dia de Natal (25) serão celebradas duas missas: às 9h30 e 18h30.

Os horários das missas nas demais paróquias da Arquidiocese de Maringá podem ser consultados em cada comunidade paroquial.


Programação de Natal no Vaticano

Domingo (24), às 21h30, Missa da Solenidade do Natal na Basílica de São Pedro.

Segunda-feira (25) Festa do Natal: às 12 horas o Papa dirige da sacada central da Basílica de São Pedro sua mensagem de Natal ao mundo e concede a Bênção Urbi et Orbi.

No domingo 31 de dezembro, às 17 horas, o Papa preside na Basílica de São Pedro as Primeiras Vésperas, com a exposição do Santíssimo Sacramento, o tradicional canto do Te Deum em agradecimento pelo ano que termina e a bênção eucarística.

Na segunda-feira, 1º de janeiro de 2018, às 10 horas, o Papa preside a Santa Missa na Basílica de São Pedro na Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus e no 51º Dia Mundial da Paz sobre o tema “Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz”.

Por fim no sábado, 6 de janeiro, Solenidade da Epifania, o Papa preside a celebração da Santa Missa às 10 horas na Basílica de São Pedro.

Todas as cerimônias serão transmitidas pela Rádio Vaticano, com comentários em português (No fuso horário atual, o Vaticano tem 3 horas a mais em relação ao horário de Brasília).

Fonte: site da Arquidiocese de Maringá

Oração

"Senhor, nosso Deus, que pusestes nos lábios de Ana e de Maria a oração de louvor e de acção de graças, e que fizestes germinar nos seus corações a alegria, fruto da tua visita amorosa e paterna, dá-nos a graça de, também nós, descobrirmos e praticarmos na oração as atitudes de louvor e de reconhecimento pelas maravilhas que gratuitamente fizeste e continuas a fazer em nós e à nossa volta, na Igreja e no mundo.


Queres que vivamos na alegria, pela experiência do teu amor de Pai misericordioso e fiel. Ajuda-nos a dispormos, pelo silêncio e pela solidão, para acolhermos essa experiência, a única capaz de transformar a nossa vida, de nos pôr generosamente ao serviço do teu projecto de salvação, ao serviço de quem precisa de nós, de escrevermos o nosso próprio Magnificat. Na oração de louvor e de acção de graças, dar-nos-emos conta de que as riquezas que nos confias são mais importantes e mais numerosas do que as nossas carências, e que os dons que pões nas nossas mãos, e nas dos nossos irmãos, são sinal de cuidas de nós com amor de Pai. Amém."


Fonte: Dehonianos

Isso faz bem para a alma... lindo e emocionante

21 dezembro, 2017

Jesus, grande alegria!


“O nascimento de Jesus é anunciado como uma ‘grande alegria’, causada pela descoberta de que Deus nos ama e através do nascimento de Jesus se aproximou de nós para nos salvar. Somos amados por Deus. Que coisa maravilhosa! Quando estamos tristes, quando parece que tudo dá errado, quando um amigo ou uma amiga nos desilude, ou quando nos desiludimos a nós mesmos, pensemos: ‘Deus me ama’, ‘Deus não me abandona’. O nosso Pai é sempre fiel e sempre nos quer bem, acompanha os nossos passos e vem ao nosso encontro quando nos distanciamos. Por isso, no coração do cristão existe sempre alegria.”

Papa Francisco

Oração


"Senhor Jesus, que por nosso amor, assumiste carne humana no seio virginal de Maria, e, por amor, Te fazes nosso alimento e companheiro de jornada na Eucaristia, dá-nos de graça de Te acolhermos agradecidos e exultarmos de santa alegria. Concede-nos também a graça de, como Maria que e levou ao encontro de Isabel e de João, também nós Te levemos a todos quantos encontrarmos nos caminhos da nossa vida.

Faz-nos escutar a tua voz, e concede-nos a graça de Te respondermos na oração. Sobretudo, faz com que nos deixemos envolver na acção poderosa do Espírito que reza em nós. Assim, renovados interiormente, exultantes de alegria e cheios de generosidade, saberemos dar-te, e dar-nos contigo, aos irmãos, especialmente aos mais pobres e desprotegidos." Amém.

Fonte: Dehonianos

20 dezembro, 2017

“Mamãe, neste Natal quero de presente mais tempo para brincarmos juntos”

mãe me contou que ao ouvir o filho teve um sobressalto de ternura e frustração ao mesmo tempo.

A crônica é de Juan Arias, jornalista, publicada por El País, 19-12-2017.

Eis o texto.

Ygor é um menino de nove anos, de uma das milhões de famílias da classe C em que o pai ficou desempregado. O pequeno deve ter escutado os pais comentarem que não iriam poder comprar-lhe nada neste Natal. O fato é que se aproximou da mãe e lhe disse: “Mamãe, não quero presente de Natal, só quero que me dedique mais tempo para brincarmos juntos”. A mãe me contou que ao ouvir o filho teve um sobressalto de ternura e frustração ao mesmo tempo. “De ternura porque entendi que sou mais importante que tudo para ele, e de frustração porque meu filho estava se queixando de que lhe dedicava pouco tempo.”
Hoje existem milhares de tratados de pedagogia para tentar conhecer a alma dos pequenos e, apesar de tudo, sempre há em um lugar do coração deles algo que não conseguimos penetrar. Um professor da minha faculdade de psicologia nos dizia que conhecer o coração de uma criança “é mais difícil que o teorema da relatividade”.
Ele tinha razão. E o pior é que podemos cair na tentação de querer interpretar, sem ouvi-los, o que eles preferirem. Não nos damos conta que decidimos muitas vezes em função da nossa conveniência. Os enchemos, por exemplo, de brinquedos para que “se distraiam sozinhos”. Entenda-se: “para que nos deixem em paz”. Assim, quando ligamos a televisão para eles ou os deixamos usar o celular “para que fiquem quietos” assistindo a um jogo ou um filme. Isso sem perguntar se é o que eles mais querem.
Lembro-me agora que esse mesmo menino que agora pediu mais tempo à mãe para brincar com ela, quando tinha cerca de quatro anos, o deixavam às vezes na casa da avó para que a mãe pudesse trabalhar. Para que não atrapalhasse muito levavam uma cesta grande cheia de brinquedos que eram esparramados no terraço para que se entretivesse. Cheguei um dia de repente e encontrei o menino, ao lado de sua montanha de brinquedos, distraído com uma colher velha brincando com água e terra. Quando me viu, pediu que brincasse com ele de “amassar o pão”. Tive de buscar outra colher e continuar sua brincadeira. Diante do monte de brinquedos, ele preferiu inventar um, simples e barato.
A história do pequeno me fez dar um salto a minha infância, passada com meus dois irmãos na penúria e na pobreza posteriores à Guerra Civil Espanhola. Naquela época, os meninos acreditavam que eram os Reis Magos que nos traziam os presentes em seus camelos. O dia de Reis era o único dia do ano em que recebíamos um presente, a propósito, muito pequeno. Para a minha irmã, uma bonequinha de pano feita por alguma tia habilidosa. Para nós, os dois meninos, uma bola de tênis e às vezes um carrinho de corda que conseguia percorrer alguns metros. E para os três um pacote de balas que nós partíamos para que parecessem mais.
Tento lembrar-me se éramos mais infelizes do que as crianças de hoje que recebem presentes durante todo o ano. Acredito que aquela espera de um ano pelo presente dos Reis compensava com felicidade o vazio de um ano sem nada. E lembro-me, acima de tudo, algo relacionado com a história de Ygor e sua mãe, que ao brinquedo prefere mais tempo para brincar com ela. Meu pai tinha o hábito de sair muito cedo para passear no campo e, como professor da escola primária da cidadezinha, voltava na hora de abrir a escola. Eu nunca lhe disse, mas meu sonho era ir um dia passear na companhia dele.
Quando já tinha completado nove anos, ele me chamou, solene, e disse: “Juan, você já é grande e tem de saber um segredo: os Reis Magos não existem, são os pais que colocam os presentes, por isso neste ano você vai nos ajudar a preparar os presentes de Reis para os seus irmãos. Você não vai ganhar nada, mas eu vou te dar um presente diferente: a partir de amanhã eu vou te acordar para que você me acompanhe no passeio pelo campo”. Juro que foi o maior presente que recebi na vida. Ele não precisou me acordar. Quando se aproximou da minha cama, quase ao amanhecer, eu já estava com os olhos bem abertos. Saímos juntos. Senti-me maior de repente. Meu pai me levou a um riacho onde os pássaros iam beber naquela hora. Passeou comigo pela horta em um pedaço que nós, os pobres, alugávamos do latifundiário da cidadezinha para plantar.
Ali, com ele, aprendi a distinguir uma planta de grão-de-bico de uma de feijão, as espigas de trigo das ervas daninhas que cresciam juntas. Ele me ensinou a delícia de arrancar um tomate maduro e comê-lo ali mesmo, sem sal nem nada. Ou a distinguir em uma figueira os figos mais doces: “São aqueles que foram picados pelos pássaros”, explicou, porque eles só gostam dos bem maduros.
Voltei para casa e não sabia como explicar a todos — minha mãe, minha tia, meus irmãos — a alegria que me inundava por ter podido ir “passear com o meu pai”. Brinquedos? Para quê?
Fonte: IHU