15 maio, 2019

Bolsonaro chama manifestantes contra cortes na educação de 'idiotas úteis' e 'massa de manobra


''São uns idiotas úteis que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhon", disse o presidente em visita a Dallas; estudantes e professores protestam nesta quarta contra cortes na educação básica e no ensino superior.


O presidente Jair Bolsonaro (PSL) chamou de “idiotas úteis” e “massa de manobra” manifestantes que organizam uma série de protestos contra os cortes do governo na educação básica e no ensino superior nesta quarta-feira, 15. O presidente classificou os protestos como algo “natural” e disse que “a maioria ali (na manifestação) é militante”.   

“Se você perguntar a fórmula da água, não sabe, não sabe nada. São uns idiotas úteis que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo das universidades federais”, disse Bolsonaro ao chegar em Dallas, nos Estados Unidos. Ele foi recebido por apoiadores ao chegar no hotel onde se hospedará na cidade americana.

Em capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Salvador, os atos contra os bloqueios do Ministério da Educação (MEC) começaram pela manhã, embora a maior parte esteja marcada para o período da tarde. Além das manifestações, algumas universidades e escolas cancelaram as aulas.

O presidente disse ainda que não gostaria que houvesse cortes na educação e disse que não teve saída.  “Na verdade não existe corte, o que houve é um problema que a gente pegou o Brasil destruído economicamente, com baixa nas arrecadações, afetando a previsão de quem fez o orçamento e se não tiver esse contingenciamento eu simplesmente entro contra a lei de responsabilidade fiscal”, afirmou o presidente. “Mas eu gostaria que nada fosse contigenciado, em especial na educação."  

Ao menos 75 universidades e institutos federais do País convocaram protestos em resposta ao bloqueio de 30% dos orçamentos determinado pelo Ministério da Educação (MEC).

O presidente falou que a educação no Brasil “está deixando muito a desejar”. “ A garotada, com 15 anos de idade, na oitava série, 70% não sabe uma regra de três simples. Qual o futuro destas pessoas?“, disse o presidente, culpando o governo do PT por não ter dado “qualificação” a parte dos desempregados do País. 

Bolsonaro visita Dallas em uma agenda improvisada e organizada às pressas pelo governo depois de o presidente desistir de ir à cidade de Nova York. Ele participaria do prêmio de “personalidade do ano” concedido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos na noite de ontem, mas a homenagem foi alvo de boicotes e críticas do próprio prefeito da cidade, Bill de Blasio. 

No Texas, Bolsonaro deve se encontrar com o ex-presidente George W. Bush e participar de um almoço com empresários, onde receberá formalmente o prêmio que não foi buscar em Nova York.  “Estamos sendo muito bem recebidos aqui e o objetivo nosso da viagem será alcançado: aprofundar cada vez mais os laços de amizade e também de cooperação comercial com esse país que eu sempre amei desde a minha infância”, disse Bolsonaro, ao chegar nos Estados Unidos. 

Um dos apoiadores do presidente gritou “arruma o Brasil que a gente volta”. A ele, Bolsonaro respondeu que o País está “bastante desarrumado”, mas que iria “arrumar”.

Fonte: Beatriz Bulla, O Estado de S.Paulo - 15 de maio de 2019


Dia Nacional de Greve na Educação


Nessa quarta-feira, 15 de maio de 2019professores, educadores e estudantes do ensino federal, estadual e municipal, da educação básica ao ensino superiorde todo o país vão se manifestar contra a Reforma da Previdência e contra os cortes nas áreas de ciência, tecnologia e educação no Dia Nacional de Greve na Educação
A notícia foi publicada pelo portal Campanha Nacional pelo Direito à Educação, 14-05-2019.
Organizados por sindicatos, coletivos de educadores e por estudantes, os atos públicos acontecerão nos 26 Estados e no Distrito Federal, desde o início do dia, s 7h. Haverá atos públicos, audiências e aulas públicas, além de debates para marcar o posicionamento da sociedade civil contra os atos recentes do Ministério da Educação, como corte de gastosmilitarização das escolas

Sob pretexto de desburocratizar indústria, Bolsonaro pode elevar índice de acidentes

Presidente quer reduzir normas de segurança no trabalho; país registrou 4,5 milhões de acidentes de trabalho em 7 anos




O presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou que o governo federal vai realizar mudanças nas Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde no Trabalho à partir de junho. A informação foi divulgada na última segunda-feira (13) pela rede social do presidente sob a justificativa de que as leis estariam defasadas e travando o desenvolvimento da indústria. O objetivo do governo é desburocratizar o setor e, com isso, aumentar a produtividade.
Para repercutir o anúncio do presidente e suas possíveis consequências, o Brasil de Fato conversou com o supervisor do Núcleo de Políticas Públicas do Dieese, Nelson Karam, considerado um especialista na área. Segundo ele, o discurso de que as normas regulamentadoras estão desatualizadas e brecam a indústria é equivocado.
"O primeiro esclarecimento é que isso já vem sendo feito, então não é que essas normas ficaram paradas no tempo. Elas são renovadas, atualizadas, adaptadas continuamente. Em segundo lugar, essa mudança nas normas passam sempre por um olhar tripartite, uma comissão composta por representações de governos, trabalhadores e empresários, que sentam, pactuam e discutem as características dessas normas, as modificações que necessitam ser feitas. Então, não é uma obra de governo fazer essa atualização. A menos que o governo queira quebrar uma regra na concessão dessas normas".  
O especialista aponta que o governo tem trabalhado na ideia de que uma regulação traz dificuldade para as empresas produzirem e eleva os custos de produção. Porém, em um país onde os acidentes de trabalho tem números alarmantes, a flexibilização das Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde trazem como principal consequência a fragilização do trabalhador e aumento da precarização do trabalho. Nos últimos sete anos, foram registrados 4,5 milhões, dos quais 16,9 mil foram fatais.
Além disso, o próprio Estado também sofre as consequências de um ambiente de trabalho inseguro, na dimensão da saúde pública com atendimento dos acidentados pelo SUS e pensões pelo INSS. 
Karam também explica que ambientes de trabalho mais seguros significam a possibilidade de produção com mais eficiência e produtividade. 
"O que nos preocupa neste momento é que, ao que tudo indica, a intenção do atual governo ao rever essas normas não vai na linha de proteger o trabalho, a produtividade das empresas. Ao contrário, o governo sinaliza e olha pra essas normas unicamente como uma barreira de custo para as empresas".
Recentemente, o Brasil assistiu a casos onde a diminuição dos custos empresariais se deu justamente nos setores de segurança, como é o caso do crime da Vale em Brumadinho (MG), onde mais de 200 funcionários foram soterrados pela lama do rompimento da barragem da mineradora. O caso é considerado o maior acidente de trabalho do Brasil. 
Karam também dá como exemplo de acidentes trabalhistas o uso do amianto no Brasil, produto químico altamente cancerígeno e proibido em diversos países por causar morte dos trabalhadores que manipulam o material. Além disso, ele cita a liberação do uso de agrotóxicos já banidos internacionalmente por causar malefícios à saúde dos trabalhadores do campo. 
Para ele, a melhor saída para a retomada da produtividade industrial está longe de ser “simplificar” as normas de segurança. Ele aponta que a manutenção é necessária para acompanhar as mudanças do mercado e das formas de trabalho, mas que é preciso debate. 
“As normas regulamentadoras tem que caminhar para incorporar essa nova dimensão do trabalho, então tem que ser continuamente atualizadas. Agora simplesmente em uma canetada querer burocratizar um único sentido de reduzir custos para empresa e expor o trabalhador não é a direção correta nem mais adequada para um país que busca caminhar para retomada do crescimento”, finaliza. 

Fonte:Luciana Console - Brasil de Fato | São Paulo (SP),15 de Maio de 2019