28 janeiro, 2020

"Que nosso luto seja verbo, transformando nossa dor em luta… Nós vamos continuar lutando. Até quando? Até sempre"


“..., quando completa-se um ano do crime da mineradora Vale, em Brumadinho, somos convidados a fazer o que a sirene não fez: o grito e o barulho da denúncia de um modelo predatório de mineração, que coloca o lucro acima da vida“.

Confira a reflexão da jovem Marina Oliveira lida durante a 1ª Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho.



1ª Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho
25 de janeiro de 2020

25 de janeiro de 2019, 12h28. A sirene não tocou. 272 pessoas foram soterradas vivas. 11 pessoas ainda não foram encontradas. Dezenas de casas e hortas destruídas. O rio Paraopeba, a fauna e a flora, cruelmente devastados. Eles privatizam os lucros e socializam os sofrimentos. Hoje, quando completa-se um ano do crime da mineradora Vale, em Brumadinho, somos convidados a fazer o que a sirene não fez: o grito e o barulho da denúncia de um modelo predatório de mineração, que coloca o lucro acima da vida.

Somos convidados a entregar nossos abraços e prestar nossa solidariedade a todas as pessoas atingidas pelo rompimento da barragem. Mais do que isso: somos convidados a reconhecer que as vítimas deste crime são mártires. Mártires que tiveram suas vidas arrancadas pelos interesses financeiros dos poderosos, misturando seu sangue na lama tóxica do descaso e da ganância. Em memória deles, confirmamos nosso compromisso e responsabilidade em garantir que a luta por justiça seja feita.

Mariana não bastou. Também tivemos que ser sacrificados. Que o nosso grito de denúncia sirva para salvar muitas outras vidas em cidades vizinhas, que correm o mesmo risco que nós: Barão de Cocais, Macacos, Congonhas e muitas outras. Que nosso luto seja verbo, transformando nossa dor em luta. Que as nossas lágrimas alimentem as nascentes que eles secam. Tenhamos coragem para assumir o lado certo da história: o lado da vida, das águas, da terra e dos povos, numa ecologia integral.

Sejamos todos pressurosos no anúncio de uma conversão ecológica, assumindo a firme resistência profética porque desistir não é opção. Caiamos do cavalo, assim como o apóstolo Paulo caiu, para enxergar, com clareza, o Evangelho do amor, a melhor herança que recebemos de Jesus. Tiremos as vendas de nossos olhos – aquelas que nos impedem de sermos irmãos e irmãs que lutam pela igualdade social e pelo cuidado de nossa Casa Comum. Não nos acomodemos. Não naturalizemos o que nos violenta, oprime e mata.

Olhemos ao nosso redor. Nós somos os sobreviventes. Nós somos o povo de Deus, comprometido com a luta de um mundo mais justo, democrático, igualitário e menos desigual. As 272 vítimas assassinadas não falam mais. Por isso, a responsabilidade de gritar não é delas porque elas já deram tudo: a vida. A responsabilidade é nossa e o futuro é agora. Nós vamos continuar lutando. Até quando? Até sempre.

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Marina Oliveira, possui graduação em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2018). Estudante do curso de Educação Social, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Relações Internacionais da PUC-Minas. Atua como articuladora social em mediação de conflitos junto às comunidades atingidas pelo crime da Vale S. A. em Brumadinho, pela Arquidiocese de Belo Horizonte. Experiência em competências interculturais para resolução de conflitos, internacionalização do ensino superior e cooperação acadêmica internacional. Experiência de estágio internacional na Assessoria de Relações Internacionais da Universidade do Porto (Portugal) em 2017 e na UNESCO/Comitê do Programa de Informação para todos (Moscou/Rússia) em 2016.

Fonte:  Observatório da Evangelização

A Vocação de Catequista na Iniciação à Vida Cristã


“Quem é o catequista? É aquele que guarda e alimenta a memória de Deus; guarda-a em si mesmo e sabe despertá-la nos outros. É belo isto: fazer memória de Deus”.




A inspiração catecumenal restaurada pelo Concílio Vaticano II retoma a ênfase na dimensão comunitária da fé. Na comunidade, as pessoas eram acolhidas, ouvidas em suas necessidades e acompanhadas durante o itinerário de sua formação na fé em Cristo. “Eram assíduos em escutar o ensinamento dos apóstolos, na solidariedade, na fração do pão e nas orações” (At 2,4). Assim, a comunidade era entendida como a primeira catequista.

Ao longo do tempo, por várias razões eclesiológicas e pastorais, a comunidade (lugar dos membros iniciados nos sacramentos) perdeu sua vocação genuína de lugar de educação da fé. O aumento do número de batizados, a expansão do cristianismo nos países vizinhos e a descoberta do Novo Mundo, fizeram a comunidade cristã crescer em escala mundial.


Durante a expansão da fé cristã, a Igreja reconhece a importância significativa do catequista, enquanto pessoa que dá testemunho do seguimento de Jesus Cristo e coloca-se à disposição para acompanhar a caminhada de educação da fé dos membros da comunidade, motivando para a adesão convicta à proposta do Evangelho.

A educação da fé diante de novos desafios
Hoje, no contexto da Iniciação à Vida Cristã de inspiração catecumenal, a educação da fé encontra-se diante de novos desafios e pede posturas diferentes dos educadores da fé. Desta forma, como identificar a vocação de catequista que responda à urgência da ação evangelizadora? Como podemos crescer juntos na educação da fé de adultos, jovens, adolescentes e crianças?

A inspiração para nossas respostas pode partir da declaração do papa Francisco, por ocasião do Ano da Fé, durante a Jornada dos Catequistas, quando afirmou: “Quem é o catequista? É aquele que guarda e alimenta a memória de Deus; guarda-a em si mesmo e sabe despertá-la nos outros. É belo isto: fazer memória de Deus”.

À luz da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, podemos entender que a educação da fé na inspiração catecumenal dá-se por meio de uma catequese querigmática e mistagógica. Eis aí uma chave de leitura para compreendermos a vocação de catequista no contexto da iniciação à vida cristã de inspiração catecumenal.

Catequista que faz memória de Deus

A fé é fruto de memória, de recordações de fatos e vivências que ficaram marcadas pela experiência com Deus. O Documento Catequese Renovada segue explicando: “O catequista dedica-se de modo específico ao serviço da Palavra, tornando-se porta-voz da experiência cristã de toda a comunidade. O catequista é, de certo modo, o intérprete da Igreja junto os catequizandos. Ele lê e ensina a ler os sinais da fé” (CR 145).

Fazer memória e educar a fé é ajudar a identificar, na correria dos tempos atuais, os lugares, os momentos e as iniciativas de Deus que continuam a visitar cada pessoa, despertando-as para a experiência de fé.

Catequista que vive o querigma

O querigma é o anúncio do Mistério Pascal, conteúdo central da fé: Jesus Cristo, filho de Deus, viveu entre os homens e mulheres de seu tempo, padeceu, morreu e ressuscitou (cf. At 10,37-43).

Ser catequista tendo o querigma como conteúdo central da fé significa: anunciar o amor livre e salvífico de Deus; acolher a pessoa e sua liberdade de escolha pela fé; propor a vida e a mensagem do Evangelho antes de qualquer pregação doutrinal ou obrigação moral; abrir-se à proximidade e ao diálogo; e compreender-se como instrumento da paciência de Deus que não condena, mas quer a misericórdia (cf. EG 165).

Catequista mistagogo

A inspiração catecumenal depende em qualidade da experiência mistagógica. Isto é, da experiência com o mistério divino, com aquele amor que se antecipa, que acolhe a humanidade em todas as fragilidades. O catequista mistagogo compreende que cada pessoa cresce progressivamente na experiência divina e valoriza os sinais e símbolos litúrgicos da iniciação cristã (cf. EG 166).

A vocação de catequista mistagogo não se aprende em livros, cursos e teorias. O catequista mistagogo deixa-se configurar pelo Mistério Pascal e faz da própria vida um percurso de experiência e testemunho deste mistério. Ou seja, a vida cotidiana é o lugar de manifestação da fé, onde é possível contemplar o mistério divino e transformar as realidades para que este mesmo mistério seja vivido por seus interlocutores.

Como mencionamos acima, a Igreja é rica em sua história, em suas iniciativas e em suas metodologias eclesiais, conforme a necessidade de cada época. O contexto atual, derivado da renovação conciliar, exige dos formadores de catequistas e das pessoas que estão no exercício das coordenações uma postura de curiosidade e coragem. Curiosidade para aprender, para deixar-se envolver pelo novo, pela mística catecumenal. E coragem para inovar, para ressignificar as estruturas e os métodos.

A formação de catequistas

Para contribuir com a formação de catequistas nesta primavera da inspiração catecumenal, dispomos de diversas produções literárias, dos conceitos e orientações da Doutrina e da interação entre Liturgia e Catequese. Além disso, a formação de catequistas depende em muito do apoio e da integração das lideranças e agentes de pastoral de nossas comunidades.

Concluindo, algumas exigências podem ser apontadas para a animação da vocação de catequista no contexto da inspiração catecumenal. A primeira delas é dar lugar à alegria que brota do Evangelho. Alegrar-se com a presença de Deus que nos visita em Jesus de Nazaré. Isto significa: centralidade da Palavra de Deus na catequese. Em segundo lugar, a exigência dos pequenos grupos, onde a sensibilidade e o afeto dão novo sabor à liturgia (momento de fazer memória em comunidade). E ainda, a exigência da martyria, que significa a prática da caridade, dedicando a vida aos menos favorecidos, às pessoas com menos oportunidades e às realidades que precisam da novidade da ressurreição. É a vivência da caridade que deixa as marcas da fé confessada.

Somos catequistas do novo dia, da vida nova!

Ariél Philippi Machado é Teólogo e Especialista em Catequese – Iniciação à Vida Cristã

*Texto publicado originalmente no site Catequese do Brasil, revisado pelo autor para a publicação no site Catequistas Brasil.

Fonte: site do catequista