25 janeiro, 2022

Romaria dos Mártires da Caminhada "Tudo pelo Reino"

"convoca as Comunidades Eclesiais de Base, as Pastorais Sociais, os Movimentos Populares, as Organizações Sociais e Entidades que trabalham na defesa da vida, e todas as pessoas comprometidas com as Causas da Vida, para juntas e juntos, em mutirão, construir esta bonita celebração memorial: a nossa Romaria dos Mártires da Caminhada.”

“...Eu peço a vocês que não esqueçam os pobres, não esqueçam a opção pelos pobres. Os pobres se concretizam nos povos indígenas, no povo negro, na mulher marginalizada, nos sem terra, nos prisioneiros, e nos muitos filhos e filhas de Deus proibidos de viver com dignidade e liberdade. Não esqueçam o sangue dos mártires. Tem gente, dentro da própria Igreja, que diz que não vale mais a pena lembrar dos mártires. No dia que não valer mais a pena, a gente pode fechar o Novo testamento, porque Jesus foi um mártir... Não percam a Esperança, não desanimem, pois isso é pecado, é heresia. Podem nos tirar tudo, menos a Esperança!” (Pedro Casaldáliga)


Segue:

Carta convocando todas as romeiras e romeiros da Caminhada a se prepararem para este grande momento de fortalecimento das Lutas e Esperanças do Povo.

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Romaria dos Mártires da Caminhada
"Tudo pelo Reino"


O Reino de Deus é Paz e Justiça.
Romanos 14,17


Aos sonhadores e sonhadoras, Lutadores e lutadoras do Povo.

A Igreja de São Félix do Araguaia, ao celebrar os seus cinquenta anos de caminhada a serviço da vida, já está em peregrinação a caminho de Ribeirão Cascalheira onde, nos dias 16 e 17 de julho de 2022, faremos memória dos 46 anos do martírio do padre João Bosco Penido Burnier. Também nesta Romaria vamos fazer memória do bispo Pedro Casaldáliga. Na Romaria de 2011, ele nos deixou esse testemunho:

Essa é, provavelmente, minha última romaria com os pés no chão. A outra já estaria contando estrelas no seio do Pai.... Eu peço a vocês que não esqueçam os pobres, não esqueçam a opção pelos pobres. Os pobres se concretizam nos povos indígenas, no povo negro, na mulher marginalizada, nos sem terra, nos prisioneiros, e nos muitos filhos e filhas de Deus proibidos de viver com dignidade e liberdade. Não esqueçam o sangue dos mártires. Tem gente, dentro da própria Igreja, que diz que não vale mais a pena lembrar dos mártires. No dia que não valer mais a pena, a gente pode fechar o Novo testamento, porque Jesus foi um mártir... Não percam a Esperança, não desanimem, pois isso é pecado, é heresia. Podem nos tirar tudo, menos a Esperança!

Na mesma ocasião, faremos memória das e dos mártires da Covid-19, encantadas e encantados pelo Reino da Vida, vítimas da pandemia, deste governo de morte, assassino, genocida. Em tempo de luto e lutas, precisamos, cada vez mais, esperançar.

Esta grande Festa Pascal é um acontecimento de toda a Igreja de São Félix do Araguaia, de todas as Igrejas e de todas as pessoas que querem manter viva a memória daqueles e daquelas que deram e vêm dando suas vidas pelas Causas do Reino: causa da Casa Comum, da terra e dos direitos humanos.

Causa dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, guardiões de nossas matas, rios, florestas. Causas dos camponeses/as, juventudes, crianças, adolescentes, mulheres, população em situação de rua, LGBTQIA+. Nossas Causas valem mais que as nossas Vidas (Pedro Casaldáliga). Bem-aventurados/as os/as que são perseguidos/as por causa da justiça, porque deles/delas é o Reino do Céu (Cf. Mt 5,10).

O tema desta Romaria será: “TUDO PELO REINO”. Esse tema nasceu de conversas com o bispo

Pedro. No final da Romaria de 2016, numa roda de conversa, perguntamos a ele: “E o tema da próxima Romaria?” Criou-se um silêncio. Pedro nos olhou e disse: “Chegando em São Félix, vou pensar”. O silêncio continuou e em seguida ele disse: “Tudo pelo Reino!” Depois de alguns dias, fomos até São Félix do Araguaia e retomamos a conversa sobre o tema da Romaria, e Pedro disse: “Tudo pelo Reino! Tudo, tudo pelo Reino.”

Com este espírito de romeiros/as, preparando-nos para a Romaria; como peregrinos/as,

testemunhas do Reino, a Prelazia de São Félix do Araguaia convoca as Comunidades Eclesiais de Base, as Pastorais Sociais, os Movimentos Populares, as Organizações Sociais e Entidades que trabalham na defesa da vida, e todas as pessoas comprometidas com as Causas da Vida, para juntas e juntos, em mutirão, construir esta bonita celebração memorial: a nossa Romaria dos Mártires da Caminhada.

A Romaria já está acontecendo no coração e na vida das nossas comunidades, do Brasil, da Nossa América e do mundo. Com os/as nossos/as mártires, testemunhas fiéis, nós todos e todas também devemos dar esse testemunho no dia a dia, sendo coerentes com a nossa fé, assumindo as causas da vida, as causas pelas quais tantos irmãos e irmãs regaram este chão com o próprio sangue para que tivéssemos um mundo mais humano: a sociedade do bem-viver, bem-conviver, bem-cuidar e amar a nossa casa comum.

Esperamos você. Beijos no coração!
Equipe de Coordenação da Romaria

24 janeiro, 2022

Momento Muito Nosso - CEBs Arquidiocese de Maringá

Mensagem do Papa Francisco - Para o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais

Escutar com o ouvido do coração


Queridos irmãos e irmãs!

No ano passado, refletimos sobre a necessidade de «ir e ver» para descobrir a realidade e poder narrá-la a partir da experiência dos acontecimentos e do encontro com as pessoas. Continuando nesta linha, quero agora fixar a atenção noutro verbo, «escutar», que é decisivo na gramática da comunicação e condição para um autêntico diálogo.

Com efeito, estamos a perder a capacidade de ouvir a pessoa que temos à nossa frente, tanto na teia normal das relações quotidianas como nos debates sobre os assuntos mais importantes da convivência civil. Ao mesmo tempo, a escuta está a experimentar um novo e importante desenvolvimento em campo comunicativo e informativo, através das várias ofertas de podcast e chat audio, confirmando que a escuta continua essencial para a comunicação humana.

A um médico ilustre, habituado a cuidar das feridas da alma, foi-lhe perguntada qual era a maior necessidade dos seres humanos. Respondeu: «O desejo ilimitado de ser ouvidos». Apesar de frequentemente oculto, é um desejo que interpela toda a pessoa chamada a ser educadora, formadora, ou que desempenhe de algum modo o papel de comunicador: os pais e os professores, os pastores e os agentes pastorais, os operadores da informação e quantos prestam um serviço social ou político.

Escutar com o ouvido do coração

A partir das páginas bíblicas aprendemos que a escuta não significa apenas uma perceção acústica, mas está essencialmente ligada à relação dialogal entre Deus e a humanidade. O «shema’ Israel – escuta, Israel» (Dt 6, 4) – as palavras iniciais do primeiro mandamento do Decálogo – é continuamente lembrado na Bíblia, a ponto de São Paulo afirmar que «a fé vem da escuta» (Rm 10, 17). De facto, a iniciativa é de Deus, que nos fala, e a ela correspondemos escutando-O; e mesmo este escutar fundamentalmente provém da sua graça, como acontece com o recém-nascido que responde ao olhar e à voz da mãe e do pai. Entre os cinco sentidos, parece que Deus privilegie precisamente o ouvido, talvez por ser menos invasivo, mais discreto do que a vista, deixando consequentemente mais livre o ser humano.

A escuta corresponde ao estilo humilde de Deus. Ela permite a Deus revelar-Se como Aquele que, falando, cria o homem à sua imagem e, ouvindo-o, reconhece-o como seu interlocutor. Deus ama o homem: por isso lhe dirige a Palavra, por isso «inclina o ouvido» para o escutar.

O homem, ao contrário, tende a fugir da relação, a virar as costas e «fechar os ouvidos» para não ter de escutar. Esta recusa de ouvir acaba muitas vezes por se transformar em agressividade sobre o outro, como aconteceu com os ouvintes do diácono Estêvão que, tapando os ouvidos, atiraram-se todos juntos contra ele (cf. At 7, 57).

Assim temos, por um lado, Deus que sempre Se revela comunicando-Se livremente, e, por outro, o homem, a quem é pedido para sintonizar-se, colocar-se à escuta. O Senhor chama explicitamente o homem a uma aliança de amor, para que possa tornar-se plenamente aquilo que é: imagem e semelhança de Deus na sua capacidade de ouvir, acolher, dar espaço ao outro. No fundo, a escuta é uma dimensão do amor.

Por isso Jesus convida os seus discípulos a verificar a qualidade da sua escuta. «Vede, pois, como ouvis» (Lc 8, 18): faz-lhes esta exortação depois de ter contado a parábola do semeador, sugerindo assim que não basta ouvir, é preciso fazê-lo bem. Só quem acolhe a Palavra com o coração «bom e virtuoso» e A guarda fielmente é que produz frutos de vida e salvação (cf. Lc 8, 15). Só prestando atenção a quem ouvimos, àquilo que ouvimos e ao modo como ouvimos é que podemos crescer na arte de comunicar, cujo cerne não é uma teoria nem uma técnica, mas a «capacidade do coração que torna possível a proximidade» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 171).

Ouvidos, temo-los todos; mas muitas vezes mesmo quem possui um ouvido perfeito, não consegue escutar o outro. Pois existe uma surdez interior, pior do que a física. De facto, a escuta não tem a ver apenas com o sentido do ouvido, mas com a pessoa toda. A verdadeira sede da escuta é o coração. O rei Salomão, apesar de ainda muito jovem, demonstrou-se sábio ao pedir ao Senhor que lhe concedesse «um coração que escuta» ( 1 Rs 3, 9). E Santo Agostinho convidava a escutar com o coração ( corde audire), a acolher as palavras, não exteriormente nos ouvidos, mas espiritualmente nos corações: «Não tenhais o coração nos ouvidos, mas os ouvidos no coração» [1]. E São Francisco de Assis exortava os seus irmãos a «inclinar o ouvido do coração» [2].

Por isso, a primeira escuta a reaver quando se procura uma comunicação verdadeira é a escuta de si mesmo, das próprias exigências mais autênticas, inscritas no íntimo de cada pessoa. E não se pode recomeçar senão escutando aquilo que nos torna únicos na criação: o desejo de estar em relação com os outros e com o Outro. Não fomos feitos para viver como átomos, mas juntos.

A escuta como condição da boa comunicação

Há um uso do ouvido que não é verdadeira escuta, mas o contrário: o espionar. De facto, uma tentação sempre presente, mas que neste tempo da social web parece mais assanhada, é a de procurar saber e espiar, instrumentalizando os outros para os nossos interesses. Ao contrário, aquilo que torna boa e plenamente humana a comunicação é precisamente a escuta de quem está à nossa frente, face a face, a escuta do outro abeirando-nos dele com abertura leal, confiante e honesta.

Esta falta de escuta, que tantas vezes experimentamos na vida quotidiana, é real também, infelizmente, na vida pública, onde com frequência, em vez de escutar, «se fala pelos cotovelos». Isto é sintoma de que se procura mais o consenso do que a verdade e o bem; presta-se mais atenção à audience do que à escuta. Ao invés, a boa comunicação não procura prender a atenção do público com a piada foleira visando ridicularizar o interlocutor, mas presta atenção às razões do outro e procura fazer compreender a complexidade da realidade. É triste quando surgem, mesmo na Igreja, partidos ideológicos, desaparecendo a escuta para dar lugar a estéreis contraposições.

Na realidade, em muitos diálogos, efetivamente não comunicamos; estamos simplesmente à espera que o outro acabe de falar para impor o nosso ponto de vista. Nestas situações, como observa o filósofo Abraham Kaplan [3], o diálogo não passa de duólogo, ou seja um monólogo a duas vozes. Ao contrário, na verdadeira comunicação, o eu e o tu encontram-se ambos «em saída», tendendo um para o outro.

Portanto, a escuta é o primeiro e indispensável ingrediente do diálogo e da boa comunicação. Não se comunica se primeiro não se escutou, nem se faz bom jornalismo sem a capacidade de escutar. Para fornecer uma informação sólida, equilibrada e completa, é necessário ter escutado prolongadamente. Para narrar um acontecimento ou descrever uma realidade numa reportagem, é essencial ter sabido escutar, prontos mesmo a mudar de ideia, a modificar as próprias hipóteses iniciais.

Com efeito, só se sairmos do monólogo é que se pode chegar àquela concordância de vozes que é garantia duma verdadeira comunicação. Ouvir várias fontes, «não parar na primeira locanda» – como ensinam os especialistas do oficio – garante credibilidade e seriedade à informação que transmitimos. Escutar várias vozes, ouvir-se – inclusive na Igreja – entre irmãos e irmãs, permite-nos exercitar a arte do discernimento, que se apresenta sempre como a capacidade de se orientar numa sinfonia de vozes.

Entretanto para quê enfrentar este esforço da escuta? Um grande diplomata da Santa Sé, o cardeal Agostinho Casaroli, falava de «martírio da paciência», necessário para escutar e fazer-se escutar nas negociações com os interlocutores mais difíceis a fim de se obter o maior bem possível em condições de liberdade limitada. Mas, mesmo em situações menos difíceis, a escuta requer sempre a virtude da paciência, juntamente com a capacidade de se deixar surpreender pela verdade – mesmo que fosse apenas um fragmento de verdade – na pessoa que estamos a escutar. Só o espanto permite o conhecimento. Penso na curiosidade infinita da criança que olha para o mundo em redor com os olhos arregalados. Escutar com este estado de espírito – o espanto da criança na consciência dum adulto – é sempre um enriquecimento, pois haverá sempre qualquer coisa, por mínima que seja, que poderei aprender do outro e fazer frutificar na minha vida.

A capacidade de escutar a sociedade é ainda mais preciosa neste tempo ferido pela longa pandemia. A grande desconfiança que anteriormente se foi acumulando relativamente à «informação oficial», causou também uma espécie de «info-demia» dentro da qual é cada vez mais difícil tornar credível e transparente o mundo da informação. É preciso inclinar o ouvido e escutar em profundidade, sobretudo o mal-estar social agravado pelo abrandamento ou cessação de muitas atividades económicas.

A própria realidade das migrações forçadas é uma problemática complexa, e ninguém tem pronta a receita para a resolver. Repito que, para superar os preconceitos acerca dos migrantes e amolecer a dureza dos nossos corações, seria preciso tentar ouvir as suas histórias. Dar um nome e uma história a cada um deles. Há muitos bons jornalistas que já o fazem; e muitos outros gostariam de o fazer, se pudessem. Encorajemo-los! Escutemos estas histórias! Depois cada qual será livre para sustentar as políticas de migração que considerar mais apropriadas para o próprio país. Mas então teremos diante dos olhos, não números nem invasores perigosos, mas rostos e histórias de pessoas concretas, olhares, expetativas, sofrimentos de homens e mulheres para ouvir.

Escutar-se na Igreja

Também na Igreja há grande necessidade de escutar e de nos escutarmos. É o dom mais precioso e profícuo que podemos oferecer uns aos outros. Nós, cristãos, esquecemo-nos de que o serviço da escuta nos foi confiado por Aquele que é o ouvinte por excelência e em cuja obra somos chamados a participar. «Devemos escutar através do ouvido de Deus, se queremos poder falar através da sua Palavra» [4]. Assim nos lembra o teólogo protestante Dietrich Bonhöffer que o primeiro serviço na comunhão que devemos aos outros é prestar-lhes ouvidos. Quem não sabe escutar o irmão, bem depressa deixará de ser capaz de escutar o próprio Deus [5].

Na ação pastoral, a obra mais importante é o «apostolado do ouvido». Devemos escutar, antes de falar, como exorta o apóstolo Tiago: «cada um seja pronto para ouvir, lento para falar» (1, 19). Oferecer gratuitamente um pouco do próprio tempo para escutar as pessoas é o primeiro gesto de caridade.

Recentemente deu-se início a um processo sinodal. Rezemos para que seja uma grande ocasião de escuta recíproca. Com efeito, a comunhão não é o resultado de estratégias e programas, mas edifica-se na escuta mútua entre irmãos e irmãs. Como num coro, a unidade requer, não a uniformidade, a monotonia, mas a pluralidade e variedade das vozes, a polifonia. Ao mesmo tempo, cada voz do coro canta escutando as outras vozes na sua relação com a harmonia do conjunto. Esta harmonia é concebida pelo compositor, mas a sua realização depende da sinfonia de todas e cada uma das vozes.

Cientes de participar numa comunhão que nos precede e inclui, possamos descobrir uma Igreja sinfónica, na qual cada um é capaz de cantar com a própria voz, acolhendo como dom as dos outros, para manifestar a harmonia do conjunto que o Espírito Santo compõe.

Roma, São João de Latrão, na Memória de São Francisco de Sales, 24 de janeiro de 2022.


Francisco

[1] «Nolite habere cor in auribus, sed aures in corde» ( Sermo 380, 1: Nova Biblioteca Agostiniana 34, 568).

[2] Carta à Ordem inteira: Fontes Franciscanas, 216.

[3] Cf. «The life of dialogue» , in J. D. Roslansky (ed.), Communication. A discussion at the Nobel Conference (North-Holland Publishing Company – Amesterdão 1969), 89-108.

[4] D. Bonhöfffer, La vita comune (Queriniana – Bréscia 2017), 76.

[5] Cf. ibid., 75.


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Fonte: A Santa Sé

22 janeiro, 2022

Uma provocação: A provocação vem do nosso Papa Francisco

"Peçamos ao Senhor a força de desligar a televisão e abrir a Bíblia, de desligar o celular e abrir o Evangelho. Far-nos-á sentir próximo o Senhor e infundirá coragem no caminho da vida."

Fonte: twitter do Papa

Pela primeira vez, o ministério do Leitorado e do Acolitado será confiado também a leigos e leigas.


Domingo da Palavra de Deus: ministério do Leitorado e Acolitado confiado a leigos e leigas

Com a Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio “Aperuit illis”, o Papa Francisco instituiu em 30 setembro 2019 o Domingo da Palavra de Deus, a ser celebrado no III Domingo do Tempo Comum, dia em que a Igreja celebra a memória litúrgica de São Jerônimo.




Em 23 de janeiro de 2022 será celebrado o terceiro Domingo da Palavra de Deus. Durante a celebração presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro, com início às 9h30, horário local, se sucederão alguns momentos muito significativos. Pela primeira vez, o ministério do Leitorado e do Acolitado será confiado também a leigos e leigas.

Na celebração, o Santo Padre realizará o rito pelo qual o ministério de catequista será conferido a fiéis leigos, mulheres e homens. Cada um desses dois ministérios é conferido por meio de um rito, preparado pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, apresentado pela primeira vez.

Os candidatos serão convocados antes da homilia, chamados pelo nome e apresentados à Igreja. Após a homilia, queles que terão acesso ao ministério do Leitorado recebem a Bíblia, a Palavra de Deus que são chamados a anunciar.

Aos catequistas, por outro lado, é confiada uma cruz, reprodução da cruz pastoral usada primeiro por São Paulo VI e mais tarde por São João Paulo II, para recordar o caráter missionário do serviço que se preparam para administrar.

Representando o Povo de Deus, receberão o ministério do Leitorado alguns fiéis leigos provenientes da Coreia do Sul, Paquistão, Gana e de várias partes da Itália.

Para receber o ministério de catequista, estarão presentes dois leigos provenientes do Vicariato Apostólico de Yurimaguas (Peru), na Amazônia; dois fiéis do Brasil que já estão envolvidos na formação de catequistas; uma mulher proveniente de Kumasi, Gana; o presidente do Centro de Oratórios Romanos, fundado pelo catequista Arnaldo Canepa - que dedicou mais de quarenta anos de sua existência à fundação e direção de Oratórios para jovens, o primeiro dos quais em 1945 - e um leigo e uma leiga de Łódź e Madrid, respectivamente.

Por motivos relacionados às dificuldades de deslocamento provocadas pelas restrições sanitárias atualmente em vigor, não será possível a presença dos dois fiéis da República Democrática do Congo e de Uganda.

21 janeiro, 2022

Elza Soares- Lama (1973)

 

"Um dia descobri que cantava...

O meu filho mais velho, João Carlos, estava morrendo e eu já tinha perdido 2 filhos e não queria perder mais um. 

Eu não tinha dinheiro pra cuidar do meu filho e ouvi no rádio que o programa do Ary Barroso de calouros, o Nota 5, estava com o prêmio acumulado. 

Não sei como, mas eu sabia que ia buscar esse prêmio! 

Fiz a inscrição e me avisaram que eu precisava ir bonita. Mas eu não tinha roupa nem sapatos, não tinha nada! 

Então, eu peguei uma roupa da minha mãe, que pesava 60kg e vesti, só que eu pesava 32kg, já viu ne? 

Ajustei com alfinetes. Tudo bem que agora é moda ne? Hoje até a Madonna usa, mas essa moda aí fui eu que comecei viu? Alfinetes na roupa é muito meu, é coisa de Elza! 

No pé coloquei uma sandália que a gente chamava de “mamãe tô na merda”, e fui! 

Quando me chamaram, levantei e entrei no palco do auditório. O auditório tava lotado, todo mundo começou a rir alto debochando de mim Seu Ary me chamou e perguntou: 

- O que você veio fazer aqui
Eu vim Cantar!

- Me diz uma coisa, de que planeta você veio?
Do mesmo planeta seu Seu Ary.

- E qual é o meu planeta?
PLANETA FOME!!! 

Alí, todo mundo que estava rindo viu que a coisa era séria e sentaram bem quietinhos. 

Cantei a música Lama. 

O Gongo não soou e eu ganhei, levei o prêmio e meu filho está vivo até hoje, graças a Deus!

De lá pra cá, sempre levo comigo um Alfinete." (Elza Soares)

A Covid faz bem

A pandemia não foi uma derrota para todos. Para alguns (poucos) foi um maná dourado. O valor patrimonial de Jeff Bezos aumentou em US$ 81,5 bilhões desde março de 2020. A Oxfam calculou que apenas esse aumento na riqueza seria suficiente para vacinar com três doses toda a população mundial.



O comentário é de Tonio Dell'Olio, presidente da Pro Civitate Christiana, publicado por Mosaico di Pace, 19-01-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

Este é um dos dados que podem ser consultados no relatório que a Oxfam todos os anos divulga às vésperas do megaencontro exclusivíssimo de Davos. E se somarmos a riqueza dos 10 super ricos do mundo, descobrimos que eles aumentaram no mesmo período em 821 bilhões de dólares sua riqueza. Ou seja, 15.000 dólares a mais por segundo, 1,3 bilhão por dia. São 10 pessoas que possuem uma riqueza "seis vezes maior que o patrimônio dos 40% mais pobres da população mundial, composta por 3,1 bilhões de pessoas", observou Gabriela Bucher, diretora da Oxfam International.

Em suma, haveria o suficiente para levar os governos nacionais e as instituições internacionais a adotarem medidas idôneas para redistribuir a riqueza e garantir que ela não aumente nos bolsos dos ricos enquanto a imensa maioria de pobres vive (ou morre) na miséria. Chama-se justiça.

Fonte: IHU

18 janeiro, 2022

Camponeses se formam em Direito da Terra no estado do Pará

Turma teve 48 estudantes de quatro estados brasileiros

Cerimônia de colação de grau aconteceu no estacionamento do Campus I da Unifesspa em Marabá. Foto: Reprodução

Por Reynaldo Costa
Da Página do MST - 14 de janeiro de 2022


Sábado, 08 de janeiro de 2022, foi um dia histórico no Pará. Um dos estados com mais elevados índices de violações aos direitos humanos e de violência contra camponeses realizou a formatura da primeira turma de Direito da Terra, uma graduação especial em direito para os povos do campo e de territórios tradicionais.

A turma que teve início em 2016 formou 42 alunos, filhos e filhas de assentados da reforma agrária, além de quilombolas, ribeirinhos, e de comunidades tradicionais de quatro estados (Pará, Maranhão, Tocantins e Mato Grosso). O Curso foi o primeiro desta área de formação oferecido pela Unifesspa – Universidade Federal do Sul e do Sudeste do Pará, instituição que já tem tradição em cursos especiais para educação do campo.

A cerimônia de colação de grau aconteceu no estacionamento do Campus I da Unifesspa em Marabá, unidade onde o curso se realizou. Respeitando todas as normas sanitárias, familiares e apoiadores acompanharam o evento que contou com uma mesa de formatura onde estiveram presentes membros da reitoria da Unifesspa e do Instituto de Estudos em Direito e Sociedade (IEDS).

Participaram da cerimônia também representantes dos movimentos sociais como a Comissão da Pastoral da Terra (CPT), Movimento dos Atingidos por Barragens (Mab), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares (Fetag), Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf) e Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Jorge Ribeiro, Coordenador do Curso de Direito da Universidade, afirma que o Curso de Direito da Terra da Unifesspa traz a concepção do direito crítico, direito emancipatório da justiça social, dos direitos humanos e todas as implicações que possam materializar no trabalho do jurista. Ele fala sobre a expectativa com os formados: “Nós esperamos que estes formados venham atuar no campo dos Direitos Humanos, dos direitos sócio ambientais, no direito agrário, na perspectiva que o projeto do Curso teoricamente já traz”.

Ayala Ferreira, do Setor de Direitos Humanos do MST, destaca que a turma faz parte de um sonho e de uma luta constante dos povos do campo, das águas e das florestas pelo acesso ao ensino superior. “O Direito à educação no Brasil ainda é um privilégio, e ter setores populares ingressando na universidade ainda é um sonho. A turma do Direito da Terra se soma a essa luta de universalizar o acesso à educação superior para qualquer área do conhecimento”.

Ayala ainda acrescenta sobre as metas e objetivos desta turma. “Objetivo é qualificar a atuação técnica destes sujeitos nas suas comunidades, onde aparecem demandas diversas em todos os setores e atuar como defensores do direitos das comunidades camponesas e também com demais setores pobres da sociedade”.

O Curso de Direito da Terra da Unifesspa formou pessoas como Thaiane Araujo, do município de Tucumã-PA, hoje do Movimento dos Atingidos por Barragens. Ela atuou vários anos na Pastoral da Terra na região do Auto Xingú no Pará, e passou pelas mesmas dificuldades que todos os povos da região tem de acessar o ensino superior.

Primeira da família, tanto da linhagem do pai quanto da mãe a cursar uma graduação, Thaiane fala que o Curso fortaleceu suas convicções junto as lutas dos trabalhadores. “O curso aprimorou minhas convicções e me ajudou a conhecer outras demandas, passei a defender os atingidos por barragens, a universidade pública, o Sistema Único de Saúde- SUS, as estatais, coisas que até então eram superficiais para mim”. E conclui reafirmando a luta: “O curso fortalece minha vida militante e da minha família que também luta, e é uma conquista do povo de onde venho”.

Turma Frei Henri

A turma de Direito da Terra que se formou no Pará tem o nome de “Frei Henri Burin des Roziers” uma homenagem à história permanente de luta do religioso na defesa e promoção dos direitos humanos, na defesa dos trabalhadores e de trabalhadoras rurais. Frei Henri atuou como advogado na Comissão Pastoral da Terra, na região do Bico do Papagaio no Tocantins e nas regiões sul e sudeste do Pará, desde a década 1980.

O Curso de Direito da Terra da Unifesspa foi o primeiro da Região Norte e o sexto já realizado no país. Duas turmas foram formadas em Goiás, outras duas no estado da Bahia e uma no Paraná. Segundo o professor Jorge Ribeiro, a Unifesspa vai manter o desafio de continuidade desse modelo de Curso de Direto e já está em andamento um projeto em parceria com o Governo do Pará para a segunda turma do Direito da Terra através do programa “Forma Pará”, que tem o objetivo de estender a formação superior para o interior do estado em municípios onde não há polos universitários.

*Editado por Fernanda Alcântara

A ajuda do Papa às Filipinas e aos migrantes na fronteira com a Belarus

Francisco enviou uma contribuição inicial de 100 mil euros à Igreja no país asiático para aliviar as consequências do tufão Rai e uma quantia semelhante à da Cáritas Polônia para o socorro a pessoas bloqueadas na fronteira com a Belarus

Por um lado, a catástrofe ambiental que atingiu o coração das Filipinas - pelo menos 400 mortos, dezenas de desaparecidos e 8 milhões de pessoas afetadas em 11 regiões, de acordo com os números da ONU. Por outro lado, o que tem sido chamado de "a fronteira da vergonha", entre a Belarus e a Polônia onde se encontram bloqueados há meses migrantes que continuam morrendo sem que nem mesmo a mídia informe sobre sua tragédia. Em solidariedade o Papa decidiu enviar como ajuda humanitária 100 mil euros a cada uma das situações de emergência.

Situação nas Filipinas depois da passagem do Tufão Rai (AFP or licensors)


Alessandro De Carolis – Vatican News


Por um lado, a catástrofe ambiental que atingiu o coração das Filipinas - pelo menos 400 mortos, dezenas de desaparecidos e 8 milhões de pessoas afetadas em 11 regiões, de acordo com os números da ONU. Por outro lado, o que tem sido chamado de "a fronteira da vergonha", entre a Belarus e a Polônia onde se encontram bloqueados há meses migrantes que continuam morrendo sem que nem mesmo a mídia informe sobre sua tragédia. Em solidariedade o Papa decidiu enviar como ajuda humanitária 100 mil euros a cada uma das situações de emergência.

Filipinas, ajuda imediata

Francisco confiou ao Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral a tarefa de mandar entregar o valor nas Filipinas, com a colaboração da nunciatura apostólica local. Os destinatários serão – segundo um comunicado do dicastério do Vaticano - as "dioceses mais afetadas pela calamidade" e a contribuição, destinada a "obras de assistência" nesta fase de emergência, pretende ser "uma expressão imediata do sentimento de proximidade espiritual e de encorajamento paterno do Santo Padre em relação às pessoas e territórios afetados", já expressa no Angelus de 19 de dezembro passado. A contribuição, deve-se notar, é "parte da ajuda que está sendo ativada em toda a Igreja Católica e que envolve, além de várias Conferências Episcopais, numerosas organizações de caridade".

Na “terra de ninguém"

A mesma decisão, por parte do Papa, diz respeito à longa emergência de migrantes na “terra de ninguém”, o trecho de terra que separa a Belarus da Polônia, onde se encontram pessoas sobretudo sem direitos e, portanto, um "paraíso" para todos os tipos de tráfico, a começar pelo tráfico humano. No local estão há cinco meses milhares de migrantes tentando entrar na Europa. Para aliviar a situação, Francisco destinou 100 mil euros apoiando assim a Cáritas Polonesa em seu trabalho de assistência em um cenário, diz a nota, no qual persiste uma "situação de conflito que se prolonga há mais de 10 anos".

14 janeiro, 2022

CF 2022 - Tema: Fraternidade e Educação

CF 2022
Tema: Fraternidade e Educação
Lema: Fala com sabedoria, ensina com amor (cf.Pr 31,26)



1. Quaresma é tempo favorável para a conversão do coração. Converter-se é também sair do individualismo, romper com a indiferença, vivendo a solidariedade em diálogo e como compromisso de amor. Coração transformado pelos exercícios espirituais que nos conduzem à celebração da Páscoa de Jesus Cristo. Um convite à transformação interior que tem incidências concretas no cotidiano.

2. Desde 1964, a Igreja no Brasil promove a Campanha da Fraternidade como um dos modos de viver a espiritualidade quaresmal. Uma Campanha que contribui para uma mudança de vida profunda que nos leva, não somente a pedir a Deus perdão por nossos pecados, mas a unir forças na construção de uma sociedade que corresponda à mensagem do Evangelho (cf. Mc 1,15).

3. A Campanha da Fraternidade tem como grande objetivo despertar a solidariedade dos fiéis em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos de solução à luz do Evangelho. A cada ano é escolhido um tema, que define a realidade concreta a ser transformada, e um lema, que explicita em que direção se busca a transformação. O Evangelho possui uma irrenunciável incidência social. “Deus está interessado no bem-estar completo do homem, e por isso também no desenvolvimento da comunidade na qual o homem participa de muitos modos”.²

4. A Campanha da Fraternidade é realizada no tempo quaresmal, porém, não se reduz a ele. Celebrando o amor redentor, a Páscoa de Jesus Cristo deve nos levar, já nesta vida, a passar de um mundo não fraterno, marcado pelo pecado, nas suas expressões de injustiças, omissões e opressões, para uma sociedade de irmãos. Em 2022, os bispos do Brasil nos fazem um convite de singular importância: à luz da fé, queremos refletir sobre a educação em nosso país, convictos de que ela é indispensável para a construção de um mundo mais justo e fraterno.

5. A realidade da educação nos interpela e exige profunda conversão de todos. Verdadeira mudança de mentalidade, reorientação da vida, revisão das atitudes e busca de um caminho que promova o desenvolvimento pessoal integral, a formação para a vida fraterna e para a cidadania. Refletir e atuar a favor da educação é uma forma de viver a penitência quaresmal. É reconhecer que algo pode e deve mudar neste cenário e, principalmente, em nossas relações.

6. Somos convidados a ver a realidade da educação em diversos âmbitos, iluminá-la com a Palavra de Deus, encontrando e redescobrindo meios eficazes que favoreçam processos mais adequados e criativos a fim de que ninguém seja excluído de um caminho educativo integral que humanize, promova a vida e estabeleça relações de proximidade, justiça e paz. A educação é um indispensável serviço à vida. Ela nos ajuda a crescer na vivência do amor, do cuidado e da fraternidade.

7. Em 2022, pela terceira vez, a educação volta a ocupar as reflexões da Campanha da Fraternidade, agora, impulsionada pelo Pacto Educativo Global. Na carta de convocação, bem como no Instrumento de trabalho, o Papa Francisco apresenta alguns elementos constitutivos de uma educação humanizada que contribua na formação de pessoas abertas, integradas e interligadas, que também sejam capazes de cuidar da casa comum já que “a educação será ineficaz e os seus esforços estéreis se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza”.³

8. Em um tempo marcado pela pandemia da Covid-19 e por diversos conflitos, distanciamentos e polarizações, é preciso reaprender a amar, a perdoar, a cuidar, a curar, a dialogar e a servir a todos. Educar é construir a verdadeira fraternidade alicerçada na justiça e na paz. Isto será possível à medida em que Cristo, que nos liberta do egoísmo, for tudo em todos (1Cor 15,22).

9. “É necessária a contribuição de todos e cada vez mais urgente um coral de difusão da cultura da paz e uma comum educação para a paz, sobretudo das novas gerações. (...) O bem da paz é tão grande, escrevia Santo Agostinho, que também nos acontecimentos inseridos no porvir deste mundo, habitualmente nada se ouve de mais agradável, nada se deseja de mais atraente e, enfim, nada se alcança de mais belo”.⁴

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2 DoCat, n. 26.

DOCAT Doutrina Social da Igreja em linguagem jovem

3 FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si’ sobre o cuidado da Casa Comum.
(Documentos Pontifícios, 22). Brasília: Edições CNBB, 2016, n. 215.

4 BENTO XVI. Mensagem aos participantes do seminário internacional
organizado pelo Pontifício Conselho Justiça e Paz. 10/4/2008.

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Fonte: Texto Base

13 janeiro, 2022

Velhas Árvores - Olavo Bilac


Velhas Árvores - Olavo Bilac


Olha estas velhas árvores, — mais belas,
Do que as árvores mais moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas . . .

O homem, a fera e o inseto à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E alegria das aves tagarelas . . .

Não choremos jamais a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,

Na glória da alegria e da bondade
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

11 janeiro, 2022

Campanha da Fraternidade - CF 2022

CF 2022
Tema: Fraternidade e Educação
Lema: Fala com sabedoria, ensina com amor (cf.Pr 31,26)



Educar é um ato eminentemente humano. Somos renovados quando aprendemos mais a respeito da vida e seu sentido, quando nos ensinam novos conhecimentos e quando, percebemos que em nós existe a profunda sede de aprender e ensinar.

Educar é também uma ação divina. A Bíblia nos mostra a história de um Deus que educa seu povo, caminhando com ele, compreendendo suas fragilidades, respeitando suas etapas e alertando diante dos erros. Quando contemplamos as ações e palavras de Jesus, encontramos um caminhar educativo. Sua presença atenciosa junto às pessoas, a relação entre os milagres e a conversão, o uso de exemplos recolhidos do cotidiano, tudo, enfim, nos apresenta Jesus como o grande educador.

É, pois, com essa certeza que a Campanha da Fraternidade de 2022 nos convida a refletir sobre a indispensável relação entre fraternidade e educação. Já tendo, por duas vezes, se debruçado sobre essa relação (1982 e 1998), a realidade de nossos dias fez com que o tema educação recebesse destaque, dentre os vários sugeridos, e fosse escolhido para mais uma Campanha da Fraternidade.

De fato, o mundo e nele o Brasil estão diante de um desafio: redescobrir caminhos para uma reconstrução que não é parcial, mas global; que não atinge somente alguns aspectos, mas que deve chegar às raízes do modo como pessoas e povos compreendem e organizam a totalidade da vida. O mundo de nosso tempo precisa encontrar caminhos para se reconstruir, ouvindo os clamores dos vulneráveis em uma casa comum cada vez mais vulnerabilizada. Por isso, pergunta-nos o Papa Francisco: “O que acontece quando não há a fraternidade conscientemente cultivada, quando não há uma vontade política de fraternidade, traduzida em uma educação para a fraternidade, o diálogo, a descoberta da reciprocidade e o enriquecimento mútuo como valores?”.

Trata-se, portanto, de uma Campanha da Fraternidade em forte linha de continuidade com os temas que nos vêm sendo propostos pelo menos desde 2018, quando éramos convidados a encontrar caminhos para a superação da violência. Esses caminhos passam por políticas públicas (CF 2019), fundados na ética do cuidado (CF 2020), em profunda atitude de diálogo (CFE 2021). Nada disso poderá, entretanto, ocorrer se não se considerar a importância da educação: educarmo-nos para o cuidado dialogal, nas relações interpessoais, e para o compromisso socioambiental; educarmo-nos para a redescoberta das motivações mais profundas ao próprio ato de educar.

Essa é a razão pela qual, em 2022, mais do que abordar um ou outro aspecto específico da problemática educacional, a Campanha da Fraternidade nos convoca a refletir sobre os fundamentos do ato de educar. Ao longo da caminhada quaresmal, em que a conversão se faz meta primeira, recebemos o convite para buscar os motivos de nossas escolhas em todas as ações e, por certo, naquelas que dizem respeito mais diretamente ao mundo da educação.

Essa opção não implica o distanciamento das questões mais concretas e urgentes no campo educacional. Há, de fato, inúmeros passos a serem dados, escolhas a serem feitas, com ratificação ou ajustamentos de rumo. Cada uma dessas concretizações, porém, exige o discernimento dos motivos pelos quais são realizadas, fazendo, assim, emergir uma Campanha da Fraternidade que nos leva a alargar o horizonte de nossa compreensão a respeito da educação, entendida não apenas como ato escolar, como transmissão de conteúdos ou preparação técnica para o mundo do trabalho. Estes, sem dúvida, são aspectos importantes, porém não os únicos. A Campanha da Fraternidade nos adverte que mais importante e urgente é a pergunta pelos motivos, pela abrangência e pelas metas de qualquer processo educativo.

No texto bíblico referência para a CF 2022, Jesus Cristo, o grande educador, está no templo. A ele foram levadas algumas mazelas do mundo: uma mulher flagrada em adultério, um adúltero que se esconde, ardilosos utilizadores da lei e pedras como instrumentos de morte. Jesus não se encontra em uma sala de aula ou em atitude que demonstre ensino convencional. No entanto, mostra que educar é contribuir para a superação do pecado, preservando a vida, atingindo as consciências e transformando relações.

Em face a tudo isso, a Campanha da Fraternidade nos recorda que educar não é um ato isolado. É encontro no qual todos são educadores e educandos. É tarefa da própria pessoa, da família, da escola, da Igreja e de toda a sociedade. Afinal, como nos ensina o conhecido provérbio de origem africana, “é preciso uma aldeia para se educar uma criança”.

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Fonte: Texto base CF 2022

06 janeiro, 2022

4 dados que mostram por que Brasil é um dos países mais desiguais do mundo

Mensagem de sua Santidade Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões de 2022

'oxalá todos nós sejamos na Igreja o que já somos em virtude do Batismo: profetas, testemunhas, missionários do Senhor! Com a força do Espírito Santo e até aos extremos confins da terra'



Mensagem de sua Santidade Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões de 2022
[23 de outubro de 2022]

«Sereis minhas testemunhas» (At 1, 8)

Queridos irmãos e irmãs!

Estas palavras encontram-se no último colóquio de Jesus ressuscitado com os seus discípulos, antes de subir ao Céu, como se descreve nos Atos dos Apóstolos: «Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo» (1, 8). E constituem também o tema do Dia Mundial das Missões de 2022, que, como sempre, nos ajuda a viver o facto de a Igreja ser, por sua natureza, missionária. Neste ano, o citado Dia proporciona-nos a ocasião de comemorar algumas efemérides relevantes para a vida e missão da Igreja: a fundação, há 400 anos, da Congregação de Propaganda Fide – hoje designada Congregação para a Evangelização dos Povos – e, há 200 anos, da «Obra da Propagação da Fé; esta, juntamente com a Obra da Santa Infância e a Obra de São Pedro Apóstolo, há 100 anos foram reconhecidas como «Pontifícias».

Detenhamo-nos nestas três expressões-chave que resumem os três alicerces da vida e da missão dos discípulos: «Sereis minhas testemunhas», «até aos confins do mundo» e «recebereis a força do Espírito Santo».

1. «Sereis minhas testemunhas» – A chamada de todos os cristãos a testemunhar Cristo

É o ponto central, o coração do ensinamento de Jesus aos discípulos em ordem à sua missão no mundo. Todos os discípulos serão testemunhas de Jesus, graças ao Espírito Santo que vão receber: será a graça a constituí-los como tais, por todo o lado aonde forem, onde quer que estejam. Tal como Cristo é o primeiro enviado, ou seja, missionário do Pai (cf. Jo 20, 21) e, enquanto tal, a sua «Testemunha fiel» (Ap 1, 5), assim também todo o cristão é chamado a ser missionário e testemunha de Cristo. E a Igreja, comunidade dos discípulos de Cristo, não tem outra missão senão a de evangelizar o mundo, dando testemunho de Cristo. A identidade da Igreja é evangelizar.

Uma releitura de conjunto mais aprofundada esclarece-nos alguns aspetos sempre atuais da missão confiada por Cristo aos discípulos: «Sereis minhas testemunhas». A forma plural destaca o caráter comunitário-eclesial da chamada missionária dos discípulos. Todo o batizado é chamado à missão na Igreja e por mandato da Igreja: por isso a missão realiza-se em conjunto, não individualmente: em comunhão com a comunidade eclesial e não por iniciativa própria. E ainda que alguém, numa situação muito particular, leve avante a missão evangelizadora sozinho, realiza-a e deve realizá-la sempre em comunhão com a Igreja que o enviou. Como ensina São Paulo VI, na Exortação apostólica Evangelii nuntiandi (um documento de que muito gosto), «evangelizar não é, para quem quer que seja, um ato individual e isolado, mas profundamente eclesial. Assim, quando o mais obscuro dos pregadores, dos catequistas ou dos pastores, no rincão mais remoto, prega o Evangelho, reúne a sua pequena comunidade ou administra um Sacramento, mesmo sozinho, ele perfaz um ato de Igreja e o seu gesto está certamente conexo, por relações institucionais, como também por vínculos invisíveis e por raízes recônditas da ordem da graça, à atividade evangelizadora de toda a Igreja» (n.º 60). Com efeito, não foi por acaso que o Senhor Jesus mandou os seus discípulos em missão dois a dois; o testemunho prestado pelos cristãos a Cristo tem caráter sobretudo comunitário. Daí a importância essencial da presença duma comunidade, mesmo pequena, na realização da missão.

Em segundo lugar, é pedido aos discípulos para construírem a sua vida pessoal em chave de missão: são enviados por Jesus ao mundo não só para fazer a missão, mas também e sobretudo para viver a missão que lhes foi confiada; não só para dar testemunho, mas também e sobretudo para ser testemunhas de Cristo. Assim o diz, com palavras verdadeiramente comoventes, o apóstolo Paulo: «Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso corpo» (2 Cor 4, 10). A essência da missão é testemunhar Cristo, isto é, a sua vida, paixão, morte e ressurreição por amor do Pai e da humanidade. Não foi por acaso que os Apóstolos foram procurar o substituto de Judas entre aqueles que tinham sido, como eles, testemunhas da ressurreição (cf. At 1, 22). É Cristo, e Cristo ressuscitado, Aquele que devemos testemunhar e cuja vida devemos partilhar. Os missionários de Cristo não são enviados para comunicar-se a si mesmos, mostrar as suas qualidades e capacidades persuasivas ou os seus dotes de gestão. Em vez disso, têm a honra sublime de oferecer Cristo, por palavras e ações, anunciando a todos a Boa Nova da sua salvação com alegria e ousadia, como os primeiros apóstolos.

Por isso, em última análise, a verdadeira testemunha é o «mártir», aquele que dá a vida por Cristo, retribuindo o dom que Ele nos fez de Si mesmo. «A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-Lo cada vez mais» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 264).

Enfim, a propósito do testemunho cristão, permanece sempre válida esta observação de São Paulo VI: «O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres (…) ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas» (Evangelii nuntiandi, 41). Por conseguinte é fundamental, para a transmissão da fé, o testemunho de vida evangélica dos cristãos. Por outro lado, continua igualmente necessária a tarefa de anunciar a pessoa de Jesus e a sua mensagem. De facto, o mesmo Paulo VI continua mais adiante: «Sim! A pregação, a proclamação verbal duma mensagem, permanece sempre como algo indispensável. (...) A palavra continua a ser sempre atual, sobretudo quando ela for portadora da força divina. É por este motivo que permanece também com atualidade o axioma de São Paulo: “A fé vem da pregação” (Rom 10, 17). É a Palavra ouvida que leva a acreditar» (Ibid., 42).

Por isso, na evangelização, caminham juntos o exemplo de vida cristã e o anúncio de Cristo. Um serve ao outro. São os dois pulmões com que deve respirar cada comunidade para ser missionária. Este testemunho completo, coerente e jubiloso de Cristo será seguramente a força de atração para o crescimento da Igreja também no terceiro milénio. Assim, exorto todos a retomarem a coragem, a ousadia, aquela parresia dos primeiros cristãos, para testemunhar Cristo, com palavras e obras, em todos os ambientes da vida.

2. «Até aos confins do mundo» – A atualidade perene duma missão de evangelização universal

Ao exortar os discípulos a serem as suas testemunhas, o Senhor ressuscitado anuncia aonde são enviados: «Em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo» (At 1, 8). Aqui emerge muito claramente o caráter universal da missão dos discípulos. Coloca-se em destaque o movimento geográfico «centrífugo», quase em círculos concêntricos, desde Jerusalém – considerada pela tradição judaica como centro do mundo – à Judeia e Samaria, e até aos extremos «confins do mundo». Não são enviados para fazer proselitismo, mas para anunciar; o cristão não faz proselitismo. Os Atos dos Apóstolos narram-nos este movimento missionário: o mesmo dá-nos uma imagem muito bela da Igreja «em saída» para cumprir a sua vocação de testemunhar Cristo Senhor, orientada pela Providência divina através das circunstâncias concretas da vida. Com efeito, os primeiros cristãos foram perseguidos em Jerusalém e, por isso, dispersaram-se pela Judeia e a Samaria, testemunhando Cristo por toda a parte (cf. At 8, 1.4).

Algo semelhante acontece ainda no nosso tempo. Por causa de perseguições religiosas e situações de guerra e violência, muitos cristãos veem-se constrangidos a fugir da sua terra para outros países. Estamos agradecidos a estes irmãos e irmãs que não se fecham na tribulação, mas testemunham Cristo e o amor de Deus nos países que os acolhem. A isto mesmo os exortava São Paulo VI, ao considerar a «responsabilidade que se origina para os migrantes nos países que os recebem» (Evangelii nuntiandi, 21). Com efeito, experimentamos cada vez mais como a presença dos fiéis de várias nacionalidades enriquece o rosto das paróquias, tornando-as mais universais, mais católicas. Consequentemente, o cuidado pastoral dos migrantes é uma atividade missionária que não deve ser descurada, pois poderá ajudar também os fiéis locais a redescobrir a alegria da fé cristã que receberam.

A indicação «até aos confins do mundo» deverá interpelar os discípulos de Jesus de cada tempo, impelindo-os sempre a ir mais além dos lugares habituais para levar o testemunho d’Ele. Hoje, apesar de todas as facilidades resultantes dos progressos modernos, ainda existem áreas geográficas aonde não chegaram os missionários testemunhas de Cristo com a Boa Nova do seu amor. Por outro lado, não existe qualquer realidade humana que seja alheia à atenção dos discípulos de Cristo, na sua missão. A Igreja de Cristo sempre esteve, está e estará «em saída» rumo aos novos horizontes geográficos, sociais, existenciais, rumo aos lugares e situações humanos «de confim», para dar testemunho de Cristo e do seu amor a todos os homens e mulheres de cada povo, cultura, estado social. Neste sentido, a missão será sempre também missio ad gentes, como nos ensinou o Concílio Vaticano II (veja-se, por exemplo, o Decreto Ad Gentes, sobre a atividade missionária da Igreja, 07/XII/1965), porque a Igreja terá sempre de ir mais longe, mais além das próprias fronteiras, para testemunhar a todos o amor de Cristo. A propósito, quero lembrar e agradecer aos inúmeros missionários que gastaram a vida para «ir mais além», encarnando a caridade de Cristo por tantos irmãos e irmãs que encontraram.

3. «Recebereis a força do Espírito Santo – Deixar-se sempre fortalecer e guiar pelo Espírito

Ao anunciar aos discípulos a missão de serem suas testemunhas, Cristo ressuscitado prometeu também a graça para uma tão grande responsabilidade: «Recebereis a força do Espírito Santo e sereis minhas testemunhas» (At 1, 8). Com efeito, segundo a narração dos Atos, foi precisamente a seguir à descida do Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus que teve lugar a primeira ação de testemunhar Cristo, morto e ressuscitado, com um anúncio querigmático: o chamado discurso missionário de São Pedro aos habitantes de Jerusalém. Assim começa a era da evangelização do mundo por parte dos discípulos de Jesus, que antes apareciam fracos, medrosos, fechados. O Espírito Santo fortaleceu-os, deu-lhes coragem e sabedoria para testemunhar Cristo diante de todos.

Como «ninguém pode dizer: “Jesus é Senhor” senão pelo Espírito Santo» (1 Cor 12, 3), também nenhum cristão poderá dar testemunho pleno e genuíno de Cristo Senhor sem a inspiração e a ajuda do Espírito. Por isso cada discípulo missionário de Cristo é chamado a reconhecer a importância fundamental da ação do Espírito, a viver com Ele no dia a dia e a receber constantemente força e inspiração d'Ele. Mais, precisamente quando nos sentirmos cansados, desmotivados, perdidos, lembremo-nos de recorrer ao Espírito Santo na oração (esta – permiti-me destacá-lo mais uma vez – tem um papel fundamental na vida missionária), para nos deixarmos restaurar e fortalecer por Ele, fonte divina inesgotável de novas energias e da alegria de partilhar com os outros a vida de Cristo. «Receber a alegria do Espírito é uma graça; e é a única força que podemos ter para pregar o Evangelho, confessar a fé no Senhor» (Francisco, Mensagem às Pontifícias Obras Missionárias, 21/V/2020). Assim, o Espírito é o verdadeiro protagonista da missão: é Ele que dá a palavra certa no momento justo e sob a devida forma.

É à luz da ação do Espírito Santo que queremos ler também os aniversários missionários deste 2022. A instituição da Sacra Congregação de Propaganda Fide, em 1622, foi motivada pelo desejo de promover o mandato missionário nos novos territórios. Uma intuição providencial! A Congregação revelou-se crucial para tornar a missão evangelizadora da Igreja verdadeiramente tal, isto é, independente das ingerências dos poderes do mundo, a fim de constituir aquelas Igrejas locais que hoje mostram tanto vigor. Esperamos que, à semelhança dos últimos quatro séculos, a Congregação, com a luz e a força do Espírito, continue e intensifique o seu trabalho de coordenar, organizar e animar as atividades missionárias da Igreja.

O mesmo Espírito, que guia a Igreja universal, inspira também homens e mulheres simples para missões extraordinárias. E foi assim que uma jovem francesa, Pauline Jaricot, há exatamente 200 anos fundou a Associação para a Propagação da Fé; celebra-se a sua beatificação neste ano jubilar. Embora em condições precárias, ela acolheu a inspiração de Deus para pôr em movimento uma rede de oração e coleta para os missionários, de modo que os fiéis pudessem participar ativamente na missão «até aos confins do mundo». Desta ideia genial, nasceu o Dia Mundial das Missões, que celebramos todos os anos, e cuja coleta em todas as comunidades se destina ao Fundo universal com que o Papa sustenta a atividade missionária.

Neste contexto, recordo também o Bispo francês Charles de Forbin-Janson, que iniciou a Obra da Santa Infância para promover a missão entre as crianças sob o lema «As crianças evangelizam as crianças, as crianças rezam pelas crianças, as crianças ajudam as crianças de todo o mundo»; e lembro ainda a senhora Jeanne Bigard, que deu vida à Obra de São Pedro Apóstolo, para apoio dos seminaristas e sacerdotes em terras de missão. Estas três obras missionárias foram reconhecidas como «pontifícias», precisamente há cem anos. E foi também sob a inspiração e guia do Espírito Santo que o Beato Paolo Manna, nascido há 150 anos, fundou a atual Pontifícia União Missionária a fim de sensibilizar e animar para a missão os sacerdotes, os religiosos e as religiosas e todo o povo de Deus. Desta última Obra, fez parte o próprio Paulo VI, que lhe conferiu o reconhecimento pontifício. Menciono estas quatro Obras Missionárias Pontifícias pelos seus grandes méritos históricos e também para vos convidar a alegrar-vos com elas, neste ano especial, pelas atividades desenvolvidas em apoio da missão evangelizadora na Igreja universal e nas Igrejas locais. Espero que as Igrejas locais possam encontrar nestas Obras um instrumento seguro para alimentar o espírito missionário no Povo de Deus.

Queridos irmãos e irmãs, continuo a sonhar com uma Igreja toda missionária e uma nova estação da ação missionária das comunidades cristãs. E repito o desejo de Moisés para o povo de Deus em caminho: «Quem dera que todo o povo do Senhor profetizasse» (Nm 11, 29). Sim, oxalá todos nós sejamos na Igreja o que já somos em virtude do Batismo: profetas, testemunhas, missionários do Senhor! Com a força do Espírito Santo e até aos extremos confins da terra. Maria, Rainha das Missões, rogai por nós!


Roma, São João de Latrão, na Solenidade da Epifania do Senhor, 6 de janeiro de 2022.

Franciscus

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Fonte: site A Santa Sé

04 janeiro, 2022

“Vocês é que têm de lhes dar de comer.”

Um pequeno texto que escrevo para reflexão de nossas Comunidades Eclesiais de Base.

“Vocês é que têm de lhes dar de comer.” 

A grande multidão perdida como ovelha sem pastor, deixa de ser uma multidão perdida, a partir do momento em que Jesus os organiza, forma comunidades. O grande milagre, todas e todos são saciado no ato da partilha. Isso é lindo.

Ao Conselho Pastoral das Comunidades (CPCs) cabe fomentar seu protagonismo e ousadia. Estar atento a sua realidade loca e responder à luz do Evangelho. Daí vem seu protagonismo: da responsabilidade amorosa pelo cuidado das pessoas e o anúncio do evangelho.

A frase dita por Jesus aos discípulos hoje Ele diz aos CPCs: “Vocês é que têm de lhes dar de comer. ” 

É preciso o protagonismo e ousadia dos CPCs pela denúncia e pelo anúncio. Denuncia de toda estrutura injusta e Anúncio do Evangelho – as maravilhas de Deus, anúncio de um jeito novo de ser e de viver.

As CEBs precisam ser a casa da Palavra, do Pão, da Caridade e da Ação Missionária. Estar com as portas abertas para acolher, acolher sem julgamento e portas abertas para ir ao encontro, principalmente dos que mais precisam.

O CPC precisa fomentar as CEB para que seja lugar do olhar, do abraço e do afeto, sem discriminar, vencendo os preconceitos para olhar o outro, sentir suas alegrias e angústia e juntos buscar resposta. 

Sair, ir ao encontro das famílias, para sentir quanto que elas são humanas, sentir sua fragilidade, ser uma porta de esperança "ir ao encontro das famílias, com atenção especial e ternura de quem coloca uma ovelha ferida no colo" ( DGAE). Isso é muito profundo.

Em torno do plano de Deus, para realizar seu plano Ele conta coma as famílias. O Evangelho de Mateus e Lucas relata a genealogia de Jesus, história de geração a geração até chegar a Jesus.  

Ao resgatar a genealogia de Jesus, percebemos famílias com marcas doloridas, problemas e conflitos, famílias muita humana, com ideal de amor, mas também com situações difíceis e desafiadoras.  E nem por isso Deus desistiu delas, com elas forma o povo de Israel.

As CEBs como sendo a Igreja mais perto das famílias precisam continuar sendo o canal de esperança para recuperar as famílias que precisam ser recuperadas, ser o sustento para manter aquelas que estão bem. 

O CPC precisa descobrir as famílias que mais precisam aproximar e acolher e para isso o caminho é ver quem está mais perto, a família que está mais perto dessa família para responsabilizar-se com ela. Mas não só perto, esta família que pode ser o braço amigo da CEB a outra família deve estar aberto para Deus conduzir. 

O primeiro responsável é quem está mais perto e consciente da tarefa. As CEBs precisam criar mecanismo, meios para encorajar as pessoas a estar a serviço da família que mais perto dela geograficamente esta e Deus da os meios e a força. Encorajar as pessoas não baseado em cobranças, afirmar e motivar que podemos fazer, Deus vai ajudar, vamos conseguir.  

Retornar as fontes, reafirmar as CEBs e fomentar o protagonismo e ousadia do CPC é preciso.