14 novembro, 2018

Proclamação da República

 

As Aventuras de Pi: a imaginação como mecanismo de defesa

A imaginação pode ser um recurso muito útil para lidar com situações difíceis.  Se não tivesse usado esse mecanismo de defesa, é muito provável que Pi tivesse enlouquecido.


‘As Aventuras de Pi’ é um romance de Yann Martel sobre Pi, um jovem que deve enfrentar uma situação de vida ou morte. Pi só consegue sobreviver graças à sua imaginação.

Os desafios que ele enfrenta ao longo da história testam a sua fé e a sua moral. Na história, Pi é um jovem que desenvolveu um profundo sentimento moral. Desde a infância, ele tenta encontrar a verdade através da fé em diferentes religiões. Pi foi cristão, hindu e muçulmano. A sua fé lhe permitiu desenvolver uma profunda empatia e respeito por todos os seres vivos.

Em ‘As Aventuras de Pi’, o protagonista se encontra em uma situação de risco. Pi deve escolher entre morrer desidratado e com fome, ou viver traindo os seus valores. Assim, ele decide escolher a vida, apesar da sua fé.

Quando é resgatado, os investigadores exigem que ele descreva os eventos da sua travessia pelo oceano. Então, Pi descreve uma sequência extraordinária de fatos. Descreveu como ele se viu em uma pequena jangada no meio do mar, juntamente com quatro animais: um orangotango, uma zebra, uma hiena e um tigre de bengala. No entanto, esta história é difícil de acreditar.

Dessa forma, as autoridades que o interrogam pressionam Pi para que ele descreva o que realmente aconteceu. Assim, Pi conta uma história muito mais realista, mas muito mais sinistra. Os animais são a contraparte imaginária de quatro personagens humanos.

Foi a atitude desses humanos que levou Pi a identificá-los com os animais. Pi usou a sua imaginação como um mecanismo de defesa diante dos horrores presenciados por ele. Isso permitiu que mantivesse o seu senso moral enquanto estava parado no meio do oceano.

A imaginação como mecanismo de defesa

A imaginação é uma habilidade muito poderosa. Ela permite que as nossas mentes se desenvolvam além dos eventos que acontecem conosco no dia a dia. Ao estabelecer a teoria de que os animais funcionam como um mecanismo de defesa, é a sua imaginação que permite que ele sobreviva.

Jonathan Durden explica que um argumento muito forte a favor da imaginação como um mecanismo de defesa é a quantidade de paralelismos entre as histórias de Pi. São as semelhanças entre animais e humanos nas duas histórias que levam à nossa teoria.

Os personagens humanos na história de Pi são a sua mãe, um jovem marinheiro, o cozinheiro do navio e o próprio Pi. A mãe de Pi é representada pelo orangotango. O cozinheiro é a hiena selvagem, enquanto o marinheiro é representado pela zebra. O alter ego criado pela imaginação de Pi para si mesmo é o tigre de Bengala.

É possível que, em uma situação de estresse, como um naufrágio, uma pessoa use a sua imaginação para proteger a sua sanidade. No caso de Pi, a sua imaginação permitiu que ele identificasse as pessoas do barco como animais. Isso se deveu, em parte, à experiência de Pi em cuidar de animais no zoológico da sua família. Ele entendia os seus comportamentos e podia justificá-los como reações instintivas.

A figura do tigre é um ótimo exemplo dessa situação. Pi tinha grandes conhecimentos em zoologia. No entanto, é improvável que ele tivesse conseguido adestrá-lo em apenas alguns dias e em tais circunstâncias.

Dessa forma, o tigre deve ser uma projeção da imaginação de Pi. A criação desse animal foi a razão pela qual ele conseguiu sobreviver por tanto tempo. Através do tigre, Pi foi capaz de realizar ações que seriam incompreensíveis para ele como humano, mas perfeitamente razoáveis dentro do comportamento de um tigre.

A imaginação é a escolha certa?

No final do romance, Pi faz a pergunta mais importante da sua história. É a pergunta que explicaria por que ele insistiu em se refugiar na sua imaginação.

“Se isso não faz nenhuma diferença para você, e você não pode provar uma ou a outra história, diga-me: qual delas você prefere? Qual é melhor, a história com os animais ou a história com as pessoas?”
-As Aventuras de Pi-

Essa pergunta parece ser uma alegoria para a fé na religião e a própria vida de Pi. Quando ele faz a pergunta, parece que sabe que a história dos animais é produto da sua imaginação. No entanto, ele também parece saber que a sua imaginação não é uma qualidade negativa. Pi sabe que isso lhe permitiu sobreviver aos desafios que poderiam facilmente tê-lo matado.

Conclusão de ‘As Aventuras de Pi’

Pi compreendeu que, embora a história dos humanos seja verdadeira, vê-la através dos animais o ajudou a entender melhor a situação. Ao mesmo tempo, ao entendê-la através dos animais, ele também pôde perceber a sua própria humanidade.

Se não tivesse usado esse mecanismo de defesa, é muito provável que Pi tivesse enlouquecido. A imaginação pode ser um recurso muito útil para lidar com situações difíceis. Então, nós o convidamos a assistir ou ler ‘As Aventuras de Pi’.

“Se eu ainda sentia vontade de viver, foi graças a Richard Parker (o tigre de bengala). Ele me impediu de pensar muito em minha família e minhas circunstâncias trágicas. Ele me forçou a continuar vivendo. Eu o odiei por isso, mas ao mesmo tempo, agradeci. Eu o agradeço. É a pura verdade: sem Richard Parker, hoje eu não estaria vivo para contar a minha história”.
– As Aventuras de Pi –

Fonte: A Mente é Maravilhosa

“Quando tiver que escolher entre estar certo e ser gentil, escolha ser gentil”

Escolher ser gentil a estar certo é ter a capacidade de ser tolerante com a diversidade de pensamento, vivências e escolhas. É conseguir colocar a doçura, o amor e a compreensão à frente da intransigência, teimosia e tirania. É acreditar que você não precisa convencer ninguém de nada, que não é necessário fazer longos discursos acerca de seu ponto de vista, nem deixar de “seguir” alguém só porque ele não pensa igual a você.  


Texto de Fabíola Simões publicado em A Soma de Todos Afetos.  

“Quando tiver que escolher entre estar certo e ser gentil, escolha ser gentil”  

Temos vivido tempos de discussões acaloradas nas redes sociais, nos grupos de whatsapp e até em mesas de bar por causa de divergências políticas, sociais e religiosas. Na maioria das vezes, opto pelo silêncio e tenho preferência por outros assuntos, mais leves, mais bem-humorados ou que acrescentem algo bom à minha vida.

De repente todo mundo virou “pai e mãe” de um partido, de uma religião, de um grupo social. De uma hora para outra, vestimos a camisa de um político, de uma ideologia, e nos comportamos como defensores leais e fiéis de uma ordem. Divulgamos vídeos editados, muitas vezes repletos de informações falsas, perdemos horas à frente do celular vasculhando documentos que comprovem nossa teoria, nos impacientamos e até brigamos com quem ousa pensar diferente de nós. Amigos, colegas de trabalho, familiares e até cônjuges se separam em nome do tal “amor à causa”.

Muitas vezes, aqueles que não participam das discussões e preferem se calar ou mudar de assunto são considerados “em cima do muro”, omissos e sem opinião. Porém, estar calado ou preferir se abster de dar seu parecer não é sinônimo de falta de personalidade ou convicção. Algumas pessoas preferem guardar sua energia para coisas mais importantes. Ou se resguardam de desgastes desnecessários. Ou, ainda, não acreditam que “vencer” uma argumentação as tornará pessoas melhores. E, finalmente, preferem ser gentis a estarem com a razão.

Foi no livro de R. J. Palacio que me deparei com uma das frases que mais gosto atualmente: “Quando tiver que escolher entre estar certo e ser gentil, escolha ser gentil”.Pois a vida já é tão complicada por si só, já são tantos sustos, perdas, falhas e desafios que enfrentamos dia a dia, que não deveria sobrar energia para embates desnecessários, com o único objetivo de provar o quanto estamos certos e cheios de verdade em nossos posicionamentos. Se usássemos essa energia e esse tempo praticando a gentileza, tentando tornar o dia de alguém mais suave ou doce, guardando nossa explosão de argumentos e certezas para nós mesmos e não tentando convencer ninguém de nada, certamente teríamos um mundo melhor, bem mais fácil de habitar.

É impressionante notar como as pessoas perdem a compostura ao defender seu ponto de vista, nem sempre perfeito e verdadeiro, mas fruto de sua formação e vivência até o momento. É impressionante perceber que as pessoas não entendem que aquilo que é melhor para elas nem sempre será bom para o outro, e por isso não precisam tentar vender aquilo que escolheram para si, porque quiseram. É impressionante ver como as pessoas deturpam os reais ensinamentos do amor, preferindo discutir, muitas vezes ofendendo, ou mesmo segregando, em nome de uma “missão de cura” de alguém.

Escolher ser gentil a ter razão não nos torna omissos. Omisso é quem é negligente, quem falta com a presença ou a palavra em momentos decisivos, quem deixa de fazer o bem podendo fazê-lo. Preferir ser gentil a estar certo é ter a capacidade de ser tolerante com as divergências, com os pontos de vista diferentes, com a diversidade de pensamento, vivências e escolhas. É conseguir colocar a doçura, o amor e a compreensão à frente da intransigência, teimosia e tirania. É acreditar que você não precisa convencer ninguém de nada, que não é necessário fazer longos discursos ou palestras acerca de seu ponto de vista, nem deixar de “seguir” alguém só porque ele pensa diferente de você.


Ao escolher ser gentil, você deixa a rigidez de lado e adquire leveza de pensamento e ação. Você dá passagem para o carro que força caminho ao seu lado, cede lugar no ônibus para a adolescente impaciente, se segura para não fazer um discurso irritado com o vizinho abusado. Você chega em casa e não quer ganhar a disputa de quem teve o dia mais exaustivo ou estressante, mas entende que o mais importante é estar bem com aqueles que ama. Você descobre que não precisa dar lição de moral em ninguém, que não lhe cabe fazer justiça ou provar a todo custo suas certezas, que não precisa divulgar aos quatro ventos suas decisões políticas, religiosas ou sociais. Ao contrário, entende que, mais importante que estar certo, é conseguir preservar seus afetos e suas relações. Você começa a falar e agir com suavidade, tomando cuidado com a bagagem e o coração do outro. Você aprende que a gentileza não é afeita a grandes gestos, mas resultado de delicadezas miúdas, muitas vezes despercebidas, que jamais serão esquecidas.

Finalmente, tenho que concordar com a escritora e grande amiga Josie Conti, que escreveu a melhor definição de gentileza que eu já li: “Gentil é aquele que passa pela vida do outro, toca-o com leveza e o marca, onde ninguém mais pode ver…”

Compreender o Evangelho!