29 janeiro, 2019

Lucro acima de tudo, lama em cima de todos



Por Pedro Paulo Zahluth Bastos, 19/01/2019 - Carta Capital

A Vale e Bolsonaro são as mais perfeitas expressões do capitalismo neoliberal no mundo

O desastre da Vale em Brumadinho foi uma tragédia anunciada. Em dois sentidos: primeiro porque o lobby das mineradoras barra legislação para evitar o pior. Segundo, em um sentido mais profundo, porque tragédias ambientais são da lógica do capitalismo, principalmente depois das reformas neoliberais que mudaram o mundo desde os anos 1980.

O desastre com a barragem da Samarco em Mariana (MG) em novembro de 2015 também é responsabilidade da Vale. A Samarco é um joint venture da Vale com a anglo-australiana BHP Billiton. A última era a maior empresa de mineração do mundo em 2013, perdendo a posição para outra anglo-australiana (a Rio Tinto), que por sua vez teria perdido a posição para a Vale há duas semanas.

Depois do desastre em Mariana, a comoção levou a promessas de mudança de conduta por parte da empresa, de um lado, e de dureza na legislação e na fiscalização, de outro. As promessas foram vãs, pois as mineradoras financiaram lobby para barrar reformas protetoras do meio-ambiente.

Um projeto com regras severas de licenciamento ambiental para novas barragens e fiscalização mais dura das existentes está paralisado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais há um ano. O projeto aumentava o custo das mineradoras, tanto por aumentar investimento em prevenção quanto exigir a formação de um fundo para danos futuros.

Foi vetado pelos deputados Tadeu Martins Leite (MDB), Gil Pereira (PP) e Thiago Cota (MDB). O último afirmou à BBC Brasil que o projeto “inviabilizaria a mineração em Minas Gerais… não teríamos mais como sonhar com o retorno da Samarco. Isso seria terrível para Mariana, Ouro Preto e toda uma região.”

O lobby das mineradoras também barrou projeto no Senado que aumentava a fiscalização, as exigências de segurança e as punições por não cumpri-las. Também exigia a contratração de seguro ou garantia financeira para cobertura de danos. A exigência de seguro complementaria a fiscalização pública com a avaliação da seguradora privada.

Enquanto o projeto do Senado foi arquivado em 2018, três projetos da Câmara de Deputados estão parados desde 2016. No Ministério Público, a cobrança no valor de R$ 155 bilhões contra a Samarco está suspensa por conta de negociações com a empresa, que quer diminuir o valor.

A luta contra a indenização pelo desastre de Brumadinho já começou. Na segunda-feira o advogado da Vale, Sérgio Bermudes, afirmou que a empresa “não enxerga razões determinantes de sua responsabilidade” no estouro da barragem. A repercussão negativa levou a empresa a desautorizá-lo, mas ele já pediu à Justiça mineira o fim do bloqueio de R$ 11 bilhões para indenizações.  

Os Bolsonaros, Queiroz, as milícias e a morte de Marielle


As conexões possíveis entre os milicianos de Rio das Pedras homenageados por Flávio Bolsonaro e o caso Marielle

O senador americano Daniel Patrick Moynihan, morto em 2003, costumava dizer: “Todos têm direito à própria opinião, mas não a seus próprios fatos”. Jair Bolsonaro, presidente recém-empossado, e Flávio Bolsonaro, às voltas para explicar as movimentações financeiras suspeitas entre a equipe de seu gabinete, compartilham de uma opinião: “A esquerda defende bandido”. Mas os fatos são outros. Vastos são os registros de Bolsonaro e de seu filho primogênito defendendo — e até mesmo homenageando — notórios milicianos.

Hoje, enquanto a polícia investiga a participação de milicianos de Rio das Pedras (favela na Zona Oeste do Rio de Janeiro) na morte da vereadora Marielle Franco, é inquietante olhar em retrospecto as moções de louvor que Flávio Bolsonaro apresentou na Assembleia Legislativa do Rio em nome do ex-policial Adriano Magalhães da Nóbrega e do major Ronald Paulo Alves Pereira — ambos alvo, na manhã desta terça-feira (22), daOperação Os Intocáveis , que investiga a compra e venda de terrenos invadidos, agiotagem, extorsão e pagamento de propina na região de Rio das Pedras.

Em 2003, Flávio homenageou Nóbrega — hoje chefe da milícia de Rio das Pedras — por sua “dedicação, brilhantismo e galhardia” . Nóbrega seria preso, ...continue lendo AQUI.

Mineração: desde 1963 matando gente em Minas Gerais