27 julho, 2018

Leigas e Leigos - protagonistas da história!

Um pequeno texto que escrevi 


Leigas e Leigos - protagonistas da história!

É desafiador saber que devemos ocupar um papel protagonista na história, e que não podemos aceitar que fechem os espaços para esse protagonismo. No cenário de nossos dias esta visível e/ou despercebido e até negado o protagonismo das leigas e dos leigos de todas as idades. Mas olha que lindo, papa Francisco nos ensina que existe “o simples testemunho habitual”, de todos os dias, desde o amanhecer quando se acorda, e termia à noite, ao dormir.

O protagonismo dos idosos - para o papa Francisco a sabedoria dos idosos deve ser valorizada, “Os idosos representam a memória histórica de toda comunidade, um patrimônio de sabedoria e de fé, que deve servir de exemplo, mantido e valorizado”. A Exortação Apostólica “A Alegria do Amor” trata com delicadeza o valor da pessoa idosa, “... Os idosos ajudam a perceber «a continuidade das gerações», com «o carisma de lançar uma ponte»(215) entre elas.

O protagonismo da criança - as pequeninas e os pequeninos são transformadores e protagonistas do reino de Deus, cumprem tarefas sacerdotais, proféticas, de serviço, de denúncia, etc. O protagonismo infantil é algo importante na Bíblia, alguns exemplos: uma menina intervém na cura de Naamã (2 Rs 5.2-3); um menino no centro da promessa messiânica (Is 9.6); as crianças são convocadas a participar na missão do povo de Deus (Jr 1.6); as crianças presenciam importantes episódios de reconciliação (Gn 33.1-7); as crianças gritam e louvam a Jesus, incomodando as autoridades. (Mt 21.15-16).

O protagonismo da juventude – o papa incentiva as/os jovens rejuvenescer o rosto da Igreja e afirma que jovens são os protagonistas da mudança. O nosso Deus fala através dos Jovens e adolescentes (1 Sm 3.1-21). “O Espírito Santo virá sobre você [...] Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. “Como a jovem de Nazaré, vocês podem melhorar o mundo, para deixar um sinal que marque a história”. (papa Francisco)
Durante cerimônia da Jornada Mundial da Juventude disse o papa "Tenho seguido atentamente as notícias sobre tantos jovens que, em muitas partes do mundo, têm saído pelas ruas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna”.

O protagonismo da mulher - diz o papa para entender uma mulher é necessário antes sonhá-la, ela é a harmonia, é a poesia, é a beleza, traz harmonia à Criação, sem a mulher não há harmonia no mundo.  Para Francisco o primeiro apóstolo foi uma mulher: a samaritana que dialogou com Jesus à beira do poço de Jacó e, em seguida, saiu a anunciar que encontrara o Messias. A primeira testemunha da ressurreição foi Madalena. Afirma o papa “As mulheres têm muito a dizer-nos na sociedade atual. Às vezes somos demasiado machistas, e não deixamos espaço à mulher. Mas a mulher sabe ver as coisas com olhos diferentes dos homens. Todas as instituições, inclusive a comunidade eclesial, são chamadas a garantir a liberdade de escolha para as mulheres, para que tenham a possibilidade de assumir responsabilidades sociais e eclesiais, num modo harmônico com a vida familiar.”

A partir do Concílio Ecumênico Vaticano II atribui as leigas e aos leigos o caráter de “sujeitos”, como recomenda a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em seu documento “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade – Sal da Terra e Luz do Mundo (Mt 5,13-14)”.

As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil (2016-2019) apontam a urgência da Igreja a serviço da vida plena através das leigas e dos leigos, “Em tudo isso, a Igreja reconhece a importância da atuação no mundo da política e incentiva os leigos e leigas, especialmente os jovens, à participação ativa e efetiva nos diversos setores voltados para a construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário. Daí, a urgência na formação e apoio aos cristãos leigos e leigas para que atuem nos movimentos sociais, conselhos de políticas públicas, associações de moradores, sindicatos, partidos políticos e outras entidades, sempre iluminados pelo Ensino Social da Igreja. Tão desacreditada em nossos dias, a política, no entanto, “é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum”.

Papa Francisco por ocasião da Assembleia da Pontifícia Comissão para a América Latina, em 2016, recordou à idéia do Concílio Vaticano II dizendo que “a Igreja não é uma elite de sacerdotes, consagrados, bispos, mas que todos formamos o povo santo fiel de Deus”, não tem como negar, todas as cristãs leigas e todos os cristãos leigos devem participar plenamente da vida da Igreja, de modo especial, priorizando sua missão nas realidades em que se fazem presentes no dia a dia.

A Conferência de Santo Domingo confirma “Que todos os leigos sejam protagonistas da Nova Evangelização, da promoção humana e da cultura cristã.” (n.97) (…) “Um laicato, bem-estruturado com formação permanente, maduro e comprometido, é o sinal de Igrejas Particulares que têm tomado muito a sério o compromisso da Nova Evangelização.” (n.103).

Motivador o pronunciamento do Papa Francisco na Assembleia do Pontifício Conselho para os Leigos, em 17/06/2016, quando propôs, como horizonte de referência para o imediato futuro, o seguinte binômio: “Igreja em saída” e “laicato em saída”, olhando para os que se encontram ‘distantes’ do nosso mundo, às tantas famílias em dificuldade e necessitadas de misericórdia, aos campos de apostolado ainda inexplorados, e as numerosas leigas e aos numerosos leigos, que devem ser envolvidos e valorizados pelas instituições eclesiais. Francisco concluiu seu discurso dizendo: “precisamos de leigos bem formados, animados pela fé cristã, que “sujem suas mãos” e não tenham medo de errar, mas que prossigam adiante. Precisamos de leigos com visão do futuro e não fechados nas pequenezas da vida, mas experientes e com novas visões apostólicas”.

Dá-nos, Senhor, aquela PAZ inquieta, que não nos deixa em PAZ! (Dom Pedro Casaldaliga)

Lucimar Moreira Bueno (Lúcia)
Assessora leiga das CEBs na Arquidiocese de Maringá

Pastoral Popular Luterana envia carta de apoio ao ex-presidente Lula




Pastoral Popular Luterana envia carta de apoio ao ex-presidente Lula

A Pastoral Popular Luterana (PPL) enviou, nesta segunda-feira, 23 de julho, uma carta de apoio ao ex-presidente Lula. O documento, entregue a Lula pelo pastor luterano Inácio Lemke, 1º vice-presidente do CONIC e 2º vice-presidente da IECLB, foi assinada por mais de 200 pessoas. 
 
A seguir, confira o esclarecimento dado pela PPL sobre o assunto:
 
O momento que vivemos no Brasil é grave. Talvez nem tenhamos hoje a dimensão do que se passa na estrutura da nossa sociedade, que está sendo literalmente destruída. Nesse momento o canto dos ilusionistas pode estar convencendo muita gente de que o caminho para nossa redenção passa pela força, pelo autoritarismo mais deslavado, pelo simplismo travestido de firmeza militar. Será mesmo? O que estamos vivendo é, até onde nos é possível discernir com responsabilidade, uma encruzilhada. E numa hora dessas, temos de ter a coragem de ir pelo caminho estreito, como nos ensina o evangelho (Mateus 7.13s). O caminho largo (pois infelizmente, nesse caso, não existe caminho do meio) fatalmente nos levará ao absurdo, ao “todos contra todos e salve-se quem puder”.
 
Depois de muito refletir, nós resolvemos nos posicionar publicamente em relação à prisão do ex-presidente Lula. Fazemos isto por entender que vivemos um momento fundamental na história do nosso país. Quisemos nos posicionar, não como uma opção política partidária, mas como pessoas de fé que se sentem interpeladas pelas circunstâncias históricas em que nos encontramos. A tão necessária investigação da corrupção em nosso país corre o risco de se transformar num mecanismo de luta e favorecimento político, o que irá solapar ainda mais a já acentuada perda de credibilidade nas instituições operadoras do direito em nosso país, com consequências, talvez, irreversíveis a longo prazo. Em uma formulação sintética, entendemos que a democracia brasileira, já enfraquecida faz tempo, está em jogo. Ou queremos um país democrático e então lutamos por ele. Ou então cairemos no fascismo aberto e isto nos levará a uma situação sem volta (pelo menos não de modo pacífico e com enormes perdas humanas).
 
Tomamos a liberdade de compartilhar nossa iniciativa com algumas pessoas amigas e solidárias com o resgate da cidadania e da democracia. Foi para nós grande satisfação que mais de 200 irmãs e irmãos prontamente apoiaram nossa proposta de Carta a Lula com suas assinaturas. Elas vieram de diversas regiões do Brasil e dos sínodos da IECLB. Por iniciativa de um colega que vive na Alemanha, até de lá veio apoio com mais de 20 assinaturas, entre elas inclusive de um irmão que fez questão de colocar ao lado do seu nome a palavra “operário”. A carta dirigida ao ex-Presidente Lula, com as assinaturas, foi entregue pessoalmente a ele, no dia 23 de julho, pelo Pastor Inácio Lemke, Vice-presidente do CONIC e 2º Vice-Presidente da IECLB, juntamente com o livro Radicalizando a Reforma, publicado pela Editora Sinodal (São Leopoldo, 2017). Conforme relato do Pastor Inácio – que esteve sozinho com Lula durante uma hora em sua cela na Polícia Federal em Curitiba – ele recebeu a carta que leu na hora com muita alegria e emoção. Disse depois o seguinte: “Vocês são a minha voz lá fora. Transmitam muita esperança ao povo e especialmente aos jovens desse sofrido país”. Ao término da visita, a pedido de Lula, o Pastor Inácio proferiu com ele uma oração em que rogou a Deus por forças ao ex-presidente, por paz, democracia e justiça para o país.
 
É importante registrar que esta carta teve uma que a antecedeu. Um pequeno grupo de pastores eméritos da IECLB escreveu uma carta pastoral que igualmente foi enviada a Lula, assinada por eles e esposas. Inspirados naquela carta, redigimos esta que depois correu o país e recebeu o apoio que aqui divulgamos. Nossa opção não implica ausência de crítica aos governos Lula e Dilma. Pelo contrário, entendemos que a avaliação crítica de algumas políticas levadas a efeito é extremamente necessária, além da investigação séria e imparcial de eventuais malfeitos devidamente comprovados. Mas não podemos nos calar diante da condenação sem provas e da injustiça daí decorrente contra Lula e outras pessoas, principalmente pessoas mais pobres, vulneráveis e necessitados em nosso país. Como muitos juristas vem alertando a opinião pública brasileira, os regimes fascistas do passado usaram os temas da “corrupção” e da “criminalização da política” como motivo para justificarem suas medidas autoritárias que levaram à guerra e ao genocídio de milhões de pessoas. Não podemos permitir que esta história se repita em nosso país. Abaixo carta de apoio que enviamos ao Presidente Lula. 
 
Roberto E. Zwetsch e Lauri Emilio Wirth
 
Agora, leia o conteúdo da carta entregue ao ex-presidente Lula:
 
Caríssimo Presidente Lula,
 
Saudações fraternas. Deixe-nos chamá-lo como o povo o conhece e gosta de falar de você: Presidente Lula! Sua prisão é o atestado de que existe, sim, um golpe neste país. Golpe parlamentar-midiático, mas que também interfere na prática da justiça formal. Sua decisão de acatar a condenação injusta, porque não há nenhuma prova contra você que pudesse justificar tamanho absurdo jurídico, ao contrário do que quiseram seus algozes, o fortaleceu. Você ficou ainda mais forte na mente e no coração do nosso povo. Não por acaso seu nome está em primeiro lugar na preferência do eleitorado brasileiro que se manifesta sobre as próximas eleições. E esta posição aparece em qualquer pesquisa feita com isenção por diferentes institutos de sondagens eleitorais.
 
Mas pesquisa não ganha eleição, como sabemos. Por isto nós nos somamos ao movimento nacional Lula Livre! Sua libertação vai acontecer, mais dia menos dia. E quando isto ocorrer nós iremos às ruas para cantar seu nome e continuar a luta por Democracia e Justiça. Porque é disso que se trata.
 
Um país democrático, justo e livre deve ter uma justiça isenta, uma imprensa livre e imparcial e o direito de ir e vir garantido a todas as pessoas, independente de sua posição social, política ou econômica. E o sagrado direito da presunção de inocência como garante a Constituição cidadã de 1988. Ao submeter-se à prisão, você afiança crédito à Justiça brasileira, apesar de ela o ter condenado injustamente. E o faz para provar sua inocência. Com esta atitude, incompreensível para quem não entende a profundidade do seu gesto, você pedagogicamente demonstra ao nosso povo que temos de recuperar a dignidade da justiça e fazê-la funcionar para o bem do direito e a segurança das pessoas. Seu gesto instiga em nós a esperança de que isto um dia acontecerá. 
 
Desejamos que você renove suas forças a cada dia quando escuta do povo da vigília o grito em alto e bom som: - Bom dia, presidente! Que em suas muitas horas de meditação, estudo e acompanhamento cotidiano da situação brasileira, seu espírito se fortaleça na busca por um país mais justo, solidário e soberano. Desejamos-lhe saúde, serenidade e muita paciência, aquela que Nelson Mandela, seu amigo pessoal, aprendeu nos muitos anos de prisão injusta.
 
Como membros da IECLB – Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, nos manifestamos pessoalmente. Estes são nossos votos e nossas orações por você e sua família. Porque apoiá-lo neste momento é para nós muito mais que uma opção. Nós o fazemos em fidelidade ao mandato que recebemos do próprio Cristo, de anunciar Boa Notícia aos pobres, libertação aos presos, recuperação da vista aos cegos, dar liberdade aos oprimidos e alimentar a esperança em um tempo no qual a justiça seja plena para todos e todas (Lucas 4.18-19). É por isto que apoiamos governantes que colocam as necessidades básicas da população na ordem do dia da gestão pública. Pois nossa fé nos ensina que facilitar a alimentação dos pobres, garantir vestimenta e moradia aos necessitados, acolher os estrangeiros e visitar os encarcerados é uma forma de prestar culto a Deus (Mateus 25.31-46).
 
Abraço solidário.
 
Fonte: PPL
Foto: Francisco Proner/Reuters

Fonte: Conic

Nota de Repúdio à “reportagem” da TV Band: quem de fato está devastando as margens do rio São Francisco?



Nota de Repúdio à “reportagem” da TV Band: quem de fato está devastando as margens do rio São Francisco?

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) – CPT Nacional e Regional Minas Gerais – vêm a público repudiar e exigir direito de resposta à Band (Rádio e Televisão Bandeirantes S.A.) em face da reportagem da TV Bandeirantes veiculada às 20h do dia 19 de julho de 2018 e disponibilizada também em seu sítio eletrônico, sob o título “Grupos invadem terras e destroem vegetação perto do rio”, que criminaliza os Povos e Comunidades Tradicionais e esconde a verdade a respeito dos conflitos agrários e socioambientais que acontecem às margens do rio São Francisco, no norte de Minas Gerais. Esta “reportagem” revela que o jornalismo da Band não entende nada sobre este tema e, ao se meter nele, está acintosamente a serviço dos ruralistas da região, usurpadores de terras públicas e os reais destruidores do chamado “rio da unidade nacional”. Na realidade a “reportagem” é uma propaganda disfarçada que mostra o compromisso do jornalismo da Band com os interesses de empreendimentos do agronegócio, que causam imensa devastação socioambiental e que não foram denunciados.

Já de início, a chamada da “reportagem” – “o processo de demarcação põe em risco o futuro do rio” – esconde a realidade para apoiar os latifundiários e empresários da região, que têm realizado ações para impedir a celebração do Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS) e outras ações de regularização fundiária entre as Comunidades Ribeirinhas e o poder público.

A bem da verdade, temos que informar que:

1) As Comunidades ribeirinhas com seus modos tradicionais de vida ocupam as margens do rio São Francisco, algumas há séculos. Vivem da pesca, do extrativismo e de pequenas áreas de plantio nas ilhas e vazantes, aproveitando a fertilização natural trazida pelas cheias do rio. Daí sua identificação como ribeirinhos, pescadores e vazanteiros, algumas também indígenas e quilombolas. Além da subsistência de suas famílias, produzem boa parte dos alimentos comercializados nas feiras da região e protegem as beiras do rio das quais depende este modo de vida. Para essas Comunidades “o Rio é Pai e Mãe”, e as margens, uma bênção. Logo, as Comunidades Ribeirinhas são as primeiras interessadas na sua preservação. Vale lembrar que neste ano umas das comunidades vazanteiras do Norte de Minas, dentre 5 casos no Brasil, recebeu o Prêmio BNDES de boas práticas para Sistemas Tradicionais, em parceria com a EMBRAPA. São “exemplos de convivência com a terra, amostras da genuína cultura do campo em que natureza e comunidades se misturam e se confundem num jeito de viver especial”, conforme publicou a EMBRAPA.

2) A partir dos anos 1970, com favorecimentos dos governos da ditadura civil-militar-empresarial, grandes projetos de irrigação se apoderaram destas áreas ribeirinhas. Entre eles o Jaíba, nos marcos do Projeto JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão), à época tido como o maior do mundo, em parceria com o capital japonês.

3) Neste processo, milhares de famílias tradicionais ocupantes, diante da violência de jagunços, foram expulsas, algumas resistiram, muitas alojaram-se nas ilhas e periferias das cidades. São estas ainda hoje numerosas e lutam pela garantia da posse das áreas que lhes dão os meios de vida, para o que precisam preservá-las.

4) Fazendas de gado e empresas de irrigação ocupam áreas da União – as áreas inundáveis às margens de rios nacionais são de propriedade da União – de forma ilegal, muitas mediante mecanismos de grilagem de terras. Assim, além de usar as vazantes para colocar o gado nos períodos de seca, têm acesso ilimitado às águas do rio São Francisco para irrigação.

5) A grande irrigação na Bacia do São Francisco é, comprovadamente, o maior consumidor de água, cerca de 70%. Por isso é o maior responsável pela evidente diminuição do volume de água do rio, um dos mais degradados do mundo.

6) Os responsáveis maiores pela supressão de matas ciliares são os latifundiários e empresários, não as comunidades ribeirinhas que delas dependem. Para induzir ao equívoco dos telespectadores, a “reportagem” mostra imagens aéreas de vegetação seca, sem revelar que se trata do período natural da estiagem. Nos espanta que o Cerrado, Bioma responsável por mais de 90% das águas do Velho Chico, venha sendo devorado pelas grandes plantações de eucalipto, algodão, soja e cana, dentre outras monoculturas, e isso nem ao menos tenha sido citado pela “reportagem”.

7) As comunidades ribeirinhas no uso do direito de autodefinição buscam a efetivação da Política Nacional e Estadual de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades Tradicionais instituída pelo Decreto n° 6.040/2007 e pela Lei Estadual n° 21.147 de 14 de janeiro de 2014. Lutam pela regularização de seu território tradicional, que constituem os espaços necessários à sua reprodução cultural, social e econômica, sejam eles utilizados de forma permanente ou temporária. Desta forma, parte das comunidades tem seus processos de regularização iniciados, diferentemente de latifundiários que ocupam e degradam áreas da União sem autorização nenhuma.

8) A ação da Superintendência do Patrimônio da União (SPU) tem por objetivo regularizar para proteger as terras públicas da União nas margens do rio São Francisco, rio federal, através da demarcação e aprovação de ocupações que as preservam. É dever da SPU demarcar os territórios tradicionais como prescreve a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) da ONU, da qual o Brasil é signatário, que determina que os direitos das Comunidades Tradicionais, após autor-reconhecimento, devem ser garantidos. A SPU, em Minas Gerais, planejou realizar seis audiências públicas em cidades à margem do rio São Francisco, mas todas elas foram canceladas em função das pressões e ameaças dos latifundiários do norte de Minas. O que revela que autoridades e funcionários da União e do Estado não estão isentos destas injunções escusas.

9) Os fazendeiros que aparecem na “reportagem” são lideranças dos ruralistas na região, latifundiários que ameaçam as comunidades, perseguem lideranças e agentes pastorais, buscam influenciar o Poder Judiciário, criam milícias armadas e estão envolvidos em crimes contra comunidades, movimentos sociais e o meio-ambiente. Como resultado de inquérito policial da Polícia Civil de Montes Claros, três fazendeiros estão foragidos e 12 pessoas presas, por planejar ataque e tentativa de assassinato a comunidade sem-terra. Segundo divulgado pela Polícia Civil, o ataque foi planejado no Sindicato Rural de Montes Claros, e 20 pistoleiros contratados pelos fazendeiros cometeram o crime. Armas foram apreendidas nas fazendas. Em 2014 Cleomar Rodrigues de Almeida, liderança que vivia com sua família em uma área de comodato, em Pedras de Maria da Cruz, foi assassinado por funcionário de um fazendeiro. Muitas lideranças populares na região estão ameaçadas e envolvidas em programas de defensores de direitos humanos.

10) Ruralistas influenciam ou mesmo controlam prefeitos e deputados da região, que juntos fazem campanha, como a chamada “Paz no Campo”, cujo intuito é impedir qualquer tentativa de regularização dos legítimos territórios das comunidades tradicionais ribeirinhas.

Como concessionária de um serviço público de comunicação, a TV Band tem por obrigação legal informar ao seu público, de modo isento e fiel, a verdade dos fatos. Como no presente caso descumpriu seu dever, acusando de forma leviana a Comissão Pastoral da Terra (CPT) de apoiar ilegalidades que não existem, nós exigimos direito de resposta conforme garante a Lei 13.188/2015, para que a verdade dos fatos seja restabelecida e conhecida. E a luta legítima e fundamental das comunidades ribeirinhas do Norte de Minas Gerais e de todo o rio São Francisco seja apoiada e vitoriosa, a bem da dignidade humana e do Rio – suas águas, terras, matas e gentes – e do País.

Belo Horizonte / Goiânia, 24 de julho de 2018.

Coordenação da CPT Regional Minas Gerais

Diretoria e Coordenação Nacional Executiva da CPT Nacional

Mais Informações:

Cristiane Passos (assessoria de comunicação da CPT Nacional): (62) 4008-6406 | 99307-4305

Fonte: CNBB