22 janeiro, 2020

Bom humor, uma raridade



Bom humor, uma raridade

Bom humor, bom humor mesmo, pouco tem a ver com essa alegria que as pessoas julgam obrigatória nas intermináveis fotos do FB e redes semelhantes. E muito menos na ostentação de uma suposta felicidade, que hoje parece ser um dever coletivo. O bom humor, pelo menos um que seja mais duradouro, brota é de um certo olhar sobre nós mesmos, da capacidade de rir de nós mesmos, de uma espécie de desinflação psíquica. De fato, está passando da hora de reconhecermos que não somos tão bons quanto nos julgamos, nem tão inteligentes, nem tão perspicazes quanto gostamos de parecer. E nem nossos adversários são tão estúpidos, ignorantes ou passíveis de suspeição quando alardeamos. A linha que divide bons e maus existe, embora não seja tão nítida como desejamos.  E mais;  nenhum de nós está o tempo todo do lado bom. O mundo, o mundo real, não cabe inteiro nos nossos discursos por mais articulados que pareçam. Sobra sempre, ainda bem. O ódio que cultivamos, a indignação que esbravejamos, não poucas vezes, fala mais de nós mesmos e não tanto sobre os outros. Claro, não é o caso de defender nenhum indiferentismo e nem afirmar que todos os gatos são igualmente pardos. Não são, mas um bom humor desse tipo parece necessário se quisermos, de fato, retomar a conversação entre nós, sair de nossas ilhas, relaxar nossas defesas. Embora andemos esquecidos, fomos feitos, nós, os humanos, uns para os outros, para que nos eduquemos mutuamente. E não para essa raiva surda, cheia de certezas e, suspeito, desesperada, que tem marcado nosso cotidiano.  E lembrando Fernando Pessoa andamos precisando de um Esteves. Não um Esteves sem metafísica, que a metafísica tem lá seu encanto, mas um Esteves que nos tire do nosso endurecido mal humor. 

 Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola

Papa: a hospitalidade é uma virtude ecumênica que exige disposição para ouvir os outros


Na Audiência Geral desta quarta-feira, Francisco abordou o tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos “Trataram-nos com gentileza”, partindo do Livro dos Atos dos Apóstolos que fala sobre a hospitalidade dos habitantes de Malta para com São Paulo e seus companheiros de viagem que naufragaram com ele. O mar que fez Paulo naufragar junto com seus companheiros é ainda “um lugar perigoso para a vida de seus navegantes”. "Homens e mulheres migrantes enfrentam viagens arriscadas para fugir da violência, da guerra e da pobreza."

A catequese da Audiência Geral do Papa Francisco, nesta quarta-feira (22/01), realizada na Sala Paulo VI, foi dedicada ao tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos “Trataram-nos com gentileza” (At 28,2).


Francisco sublinhou que o tema deste ano é o da hospitalidade e foi desenvolvido pelas Igrejas cristãs de Malta e Gozo, a partir da passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos que fala sobre a hospitalidade dos habitantes de Malta para com São Paulo e seus companheiros de viagem que naufragaram com ele.

O Papa iniciou, contando a experiência dramática desse naufrágio.

O navio em que Paulo viaja está à mercê dos elementos. Durante  catorze dias eles estão no mar, e como nem o sol e nem as estrelas são visíveis, os viajantes se sentem desorientados, perdidos. Abaixo deles, o mar bate violentamente contra o navio e eles temem que o navio se rompa por causa da força das ondas. Do alto eles são açoitados pelo vento e pela chuva. A força do mar e da tempestade é terrivelmente poderosa e indiferente ao destino dos navegantes: mais de 260 pessoas!

A hospitalidade comunica algo do amor de Deus

Porém, Paulo sabe que não é assim. A fé lhe diz que a sua vida está nas mãos de Deus que ressuscitou Jesus dentre os mortos e chamou o Apóstolo dos Gentios “para levar o Evangelho aos confins da terra. A sua fé também lhe diz que Deus, segundo o que Jesus revelou, é um Pai amoroso. Portanto, Paulo dirige-se a seus companheiros de viagem e, inspirado pela fé, anuncia a eles que Deus não permitirá que um fio de cabelo deles seja perdido”.

“Essa profecia se torna realidade quando o navio encalha na costa de Malta e todos os passageiros chegam sãos e salvos a terra firme. Ali, eles experimentam algo novo. Em contraste com a violência brutal do mar tempestuoso, eles recebem o testemunho da “humanidade rara” dos habitantes da ilha. Essas pessoas, desconhecidas, estão atentas às suas necessidades. Acendem uma fogueira para eles se aquecerem, lhes oferecem abrigo contra chuva e alimento. Mesmo que ainda não tenham recebido as Boa Nova de Cristo, manifestam o amor de Deus em atos concretos de bondade. De fato, a hospitalidade espontânea e os gestos de carinho comunicam algo do amor de Deus, e a hospitalidade dos malteses é recompensada pelos milagres de cura que Deus opera através de Paulo na ilha. Portanto, se o povo de Malta foi um sinal da providência de Deus para o apóstolo, ele também foi testemunha do amor misericordioso de Deus por ele.”

Hospitalidade, virtude ecumênica
A seguir, o Papa disse:

“Queridos, a hospitalidade é importante; é uma importante virtude ecumênica também. Primeiramente, significa reconhecer que outros cristãos são realmente nossos irmãos e irmãs em Cristo. Nós somos irmãos.”

"Alguém lhe dirá: "Mas esse é  protestante, aquele é ortodoxo ..." Sim, mas somos irmãos em Cristo. Não é um ato de generosidade numa só direção, porque quando hospedamos outros cristãos, os acolhemos como um presente que nos é dado. Como os malteses, bons malteses, somos recompensados, porque recebemos o que o Espírito Santo semeou em nossos irmãos e irmãs, e isso se torna um presente para nós também, porque o Espírito Santo semeia suas graças em todos os lugares.”

“Acolher os cristãos de outra tradição significa, primeiramente, mostrar o amor de Deus por eles, porque eles são filhos de Deus, nossos irmãos, e também significa acolher o que Deus realizou em suas vidas”, ressaltou Francisco.

“A hospitalidade ecumênica exige disposição para ouvir os outros, prestando atenção em suas histórias pessoais de fé e na história de sua comunidade, comunidade de fé com outra tradição diferente da nossa.”

"A hospitalidade ecumênica envolve o desejo de conhecer a experiência que outros cristãos têm de Deus e a expectativa de receber os dons espirituais que surgem. E isso é uma graça; descobrir isso é uma graça. Penso nos tempos passados, na minha terra, por exemplo. Quando alguns missionários evangélicos chegaram, um pequeno grupo de católicos foi queimar as tendas. Isso não. Não é cristão. Somos irmãos, somos todos irmãos e devemos ser hospitaleiros uns com os outros.”

Migrantes enfrentam viagens arriscadas para fugir da violência

Francisco disse ainda que hoje, o mar que fez Paulo naufragar junto com seus companheiros é ainda “um lugar perigoso para a vida de seus navegantes”.

“Em todo o mundo, homens e mulheres migrantes enfrentam viagens arriscadas para fugir da violência, da guerra e da pobreza. Como Paulo e seus companheiros, experimentam a indiferença, a hostilidade do deserto, dos rios, dos mares. Muitas vezes não deixam eles desembarcar nos portos. Infelizmente, às vezes eles também encontram a hostilidade pior dos homens. São explorados por traficantes criminosos. Hoje! São tratados como números e como uma ameaça por alguns governantes. Hoje! Às vezes, a falta de hospitalidade os rejeita como uma onda em direção à pobreza ou aos perigos dos quais fugiram.”

Francisco concluiu sua catequese, dizendo que nós cristãos devemos trabalhar juntos para mostrar aos migrantes o amor de Deus revelado em Jesus Cristo. “Podemos e devemos testemunhar que não há somente hostilidade e indiferença, mas que cada pessoa é preciosa para Deus e amada por Ele. Trabalhar juntos para viver a hospitalidade ecumênica, tornará todos os cristãos, protestantes, ortodoxos, católicos, todos os cristãos, seres humanos melhores, discípulos melhores e um povo cristão mais unido.”

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, no Hemisfério Norte, teve início no último dia 18 e prossegue até o próximo dia 25. No Brasil, é celebrada entre Ascensão e Pentecostes.

Fonte: Vatican News - Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano