10 setembro, 2018

"Quando o judiciário e parte da sociedade brasileira fazem de conta que está tudo bem ameaçar de morte publicamente a oposição política e que as instituições estão funcionando mesmo com a violência e o ódio de ocasião mobilizados pela campanha da extrema direita no Brasil, todos nós perdemos, e não é pouco, com a naturalização da barbárie.''


O artigo é de Patrícia Valim, publicado pelo site Brasil de Fato

A faca entrou na democracia e deflagrou a disputa entre a civilização e a barbárie

Todos nós perdemos, e não é pouco, com a naturalização da barbárie / Arte/Dreamstime

“A faca entrou” é o nome do novo livro publicado no Brasil de Theodore Dalrymple, pseudônimo do médico psiquiatra britânico Anthony Daniels, com larga experiência clínica em países como Zimbábue e Tanzânia, além de atuar em presídios ingleses.

Tal experiência é mobilizada pelo autor para criticar no livro os “excessos do comunismo” e aquilo que ele chama de “vitimização fomentada pelo assistencialismo governamental”, transformando-o em referência de nomes como Olavo de Carvalho e Luiz Felipe Pondé, e livro de cabeceira de onze entre dez liberais.

Não à toa, Daniels esteve em São Paulo em abril desse ano a convite do Instituto Liberal, quando proferiu palestra para um auditório lotado com 600 pessoas, entre as quais eleitores de João Dória Jr., Geraldo Alckmin, Paulo Skaf e Jair Bolsonaro. No final do evento, alguns presentes gritaram as palavras de ordem: “Fora, Petralhas” e “Fora Lula, Fora PT”.

“Petralha” é o termo usado para designar criminalmente pejorativamente membros do Partido dos Trabalhadores e para criminalizar as políticas dos governos petistas durante o período de 2003 a 2013, no qual o Estado de Bem Estar Social se consolidou por meio de planos, projetos e políticas de integração nacional, reparação social e de transferência de renda com contrapartida, tirando 40 milhões de pessoas da miséria absoluta e diminuindo as históricas desigualdades brasileiras do chamado “Brasil profundo”.

Esse mesmo Estado durante os governos petistas, no entanto, também foi responsável pelo “capitalismo de conciliação”: a melhoria substancial de todas as classes sociais, incluindo a classe dominante nas figuras de banqueiros, empresários e os responsáveis pelos chamados “campeões” nacional. Isso explica o fato de que a maioria dos políticos que vociferam o termo “petralha” tenha sido base aliada dos governos petistas desde 2003, entre eles o Deputado Federal e presidenciável, Jair Bolsonaro.

Há duas semanas, durante um comício no Acre, o mesmo presidenciável simulou descarregar um fuzil ao tempo em que gritava que “vamos fuzilar a petralhada toda aqui do Acre”. Não foi a primeira manifestação de ódio contra os membros do Partido dos Trabalhadores de Jair Bolsonaro. Também não foi a primeira vez que a imprensa e a justiça brasileiras foram lenientes com a apologia à violência escancarada pela campa nha da extrema direita e mobilizada pela grande imprensa desde 2013.

Na semana que passou, por exemplo, o PT entrou com processo contra o Deputado Federal por injúria eleitoral, incitação ao crime e ameaça, mas a Procuradora Geral da República, Rachel Dodge, não só descartou o crime de injúria eleitoral por “tratar-se de ofender alguém na campanha” (o presidenciável estava fazendo comício!), como afirmou que “o termo petralhada não personifica ninguém”.

Quando o judiciário e parte da sociedade brasileira fazem de conta que está tudo bem ameaçar de morte publicamente a oposição política e que as instituições estão funcionando mesmo com a violência e o ódio de ocasião mobilizados pela campanha da extrema direita no Brasil, todos nós perdemos, e não é pouco, com a naturalização da barbárie.

A começar pelo próprio presidenciável Jair Bolsonaro que, infelizmente, na semana que passou, foi esfaqueado durante a campanha nas ruas de Juiz de Fora em um ato violento e inadmissível, amplamente repudiado e prontamente investigado. Como o agressor foi preso em flagrante, parte da imprensa descobriu que ele foi filiado ao PSOL e tratou de buscar os vínculos entre a violência do agressor e sua militância, criminalizando mais uma vez o exercício político da esquerda brasileira. 

Marina da Silva, novamente presidenciável em 2018, não demorou a declarar que o atentado a Jair Bolsonaro foi um ataque à democracia e por meio de um feminismo de ocasião conclamou as mulheres a defendê-la, mas a ex-senadora nunca repudiou publicamente as declarações de Jair Bolsonaro elogiando os feitos findos do torturador Brilhante Ustra e desejando que a ex-presidenta Dilma Rousseff morresse de câncer durante o impeachment/golpe de 2016.

O presidenciável do PSL, por sua vez, após sair da zona de risco de morte, na primeira oportunidade deixou-se fotografar simulando fuzilar outrem, respondendo com a violência que lhe é usual, e recendo o colega pastor Silas Malafaia que rapidamente atribuiu a autoria do atento aos petistas mineiros.

Após o condenável atentado, grupos de extrema direita se manifestaram pelo país: usaram verde e amarelo, cantaram o hino nacional, rezaram pela saúde de Jair Bolsonaro, pediram “direitos humanos para humanos direitos” e ameaçaram de morte “petralhas” e opositores políticos que repetem “Eu sou Lula” cuja frase foi proibida pelo ministro Luís Felipe Salomão, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por considerá-la uma “afronta” à decisão do colegiado pela impugnação da candidatura de Lula.

No mesmo final de semana, no jornal Valor, o cientista político estadunidense Steven Levitsky, da Universidade de Harvard, afirmou que participou de um encontro fechado com 15 empresários brasileiros que juntos concentram boa parte do nosso PIB e todos eles declararam apoiar Jair Bolsonaro (PSL) contra Fernando Haddad (PT) no segundo turno.

 No domingo, dia 9, o Comandante do Exército Brasileiro, general Villas Boas, afirmou em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de São Paulo que o atentado a Jair Bolsonaro pode questionar a legitimidade do novo governo eleito no Brasil e que as forças armadas serão mobilizadas para a manutenção da “estabilidade democrática” no país em eventual deflagração de conflito em razão do resultado das eleições de 2018.

No início dessa segunda-feira, o sítio da InfoMoney publicou o resultado de uma nova pesquisa FSB/BTG após o atentado: Jair Bolsonaro sobe de 26% para 30% das intenções de voto, conquistando consolidada posição no segundo turno enquanto os demais candidatos a segunda vaga aparecem “tecnicamente empatados” nessa nova categoria heurística criada pelos institutos de pesquisa nessas eleições de 2018.  

Seja como for, “a faca entrou” no corpo de um presidenciável e na essência de nosso Estado Democrático, e explicitou aquilo que não poderá ser negado daqui a algumas décadas por desconhecimento ou distração pelos apoiadores da política da violência e do ódio: as eleições de 2018 representam a disputa entre a civilização e a barbárie. Entre o Estado Democrático de Direito e o Estado de Exceção. Entre a Democracia e o Fascismo, enfim. 


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*Patrícia Valim é professora de história do Brasil colonial da Universidade Federal da Bahia, conselheira do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Perseu Abramo. Mãe de Ana, Bento e Maria, e avó de Maria Antônia. email: patricia.valim@ufba.br

1ª Romaria das Juventudes - Regional Sul II - Paraná


Dia Internacional de luta contra a OMC e os Tratados de Livre Comércio Dez de Setembro!

A jornada de luta denuncia a OMC a série de Acordos de Livre Comércio, bilaterais e multilaterais, que tem criado níveis de desigualdades críticos no mundo.


Da Via Campesina Internacional

Organismos internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que promovem, direta e indiretamente, uma série de acordos comerciais bilaterais e multilaterais,  tem criado níveis criminais de desigualdades no mundo, onde de acordo os dados da OXFAM, 82% da riqueza mundial é controlada atualmente por 1% da população.

A fome mundial está aumentando novamente e a Soberana Alimentar dos povos está sob grande ameaça. Este é o resultado de uma pressão persistente, durante sete décadas, para adotar políticas neoliberais, que promovem regime de “livre comércio” em todo o mundo. Como consequência a privatização e o desmonte enriquecem aos ricos, enquanto a pobreza e a fome no mundo continuam em níveis criticamente altos.

É um crime imperdoável que coloca em questão a existência dessas instituições e os acordos de livre comércio que eles promovem. Tudo o que esses acordos garantiram é a liberdade das multinacionais de despejar alimentos baratos em países economicamente mais fracos, depois de receberem grandes subsídios de seus governos ricos.

Isso, juntamente com um impulso para um sistema agrícola industrial, é a razão pela qual os grãos de alimentos são vistos como produtos com os quais especular e comercializar, com camponeses e agricultores familiares que não podem sequer cobrir o custo do cultivo. Tudo isso destruiu as comunidades camponesas e devastou os mercados de pescadores e camponeses. O aumento na privatização dos serviços aumentou o custo de vida, enquanto os níveis de renda das famílias camponesas despencaram. A dívida resultante levou milhões de famílias camponesas a um endividamento profundo.

Este sistema de agricultura industrial promovido pelo trio criminoso da OMC, do Banco Mundial e do FMI, levou à consolidação e controle da cadeia alimentar global nas mãos de algumas empresas do agronegócio, criando um impacto devastador no planeta, suas pessoas e todas as espécies vivas.

Organizar, formar e mobilizar! 

Foi para destacar essa extrema violação na vida no campo que, em 10 de setembro de 2003, Lee Kyung Hae - um produtor de arroz da Coréia do Sul e líder de nosso movimento camponês - tirou a própria vida do lado de fora da reunião ministerial do OMC em Cancun, México. Enquanto sacrificava sua vida para expor os crimes da OMC e os acordos de livre comércio, Lee segurava uma faixa que dizia: "A OMC mata os camponeses".

Desde aquele dia, tomamos a data de 10 de setembro para comemorar o Dia Internacional de Luta contra a OMC e os Acordos de Livre Comércio, mobilizando nossos membros contra o ataque do capitalismo global e regimes de livre mercado. Denunciamos a OMC em todas as reuniões ministeriais realizadas desde então por meio de ações diretas.

Este ano vamos também intensificar a resistência. Vários acordos bilaterais e multilaterais, como RCEP, CPTPP, UE-Mercosul, CETA e outros, estão sendo negociados freneticamente por países e organizações globais a portas fechadas, sem respeitar a democracia e a soberania nacional.

No período que antecedeu 10 de setembro, convocamos todas as nossas organizações membros, aliadas, aliadas nas cidades e campos e todos os amigos para organizar passeatas, reuniões públicas e ações que continuarão a denunciar a existência da OMC, do Banco Mundial. e o FMI, além de expor os detalhes desses acordos que ameaçam tirar a Soberania Alimentar das pessoas e permitir a expansão dos mercados para o agronegócio multinacional.

Devemos ecoar, em nossas próprias e diferentes formas de luta descentralizada, o apelo de Lee Kyung Hae: "A OMC e os acordos de livre comércio matam os camponeses".

No dia 10 de setembro, a Via Campesina também anunciará um massivo esforço de mobilização contra o trio criminoso do Banco Mundial, do FMI e da OMC. Pedimos a todas as nossas organizações membros que se unam e mostrem o poder da resistência das pessoas.

Em marcha, agora!
A OMC mata camponeses!
Agricultura de todas as negociações de livre comércio!
Queremos a soberania alimentar, não o livre comércio!



Fonte:  Site do MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

A violência destrói!


"A violência destrói o que ela pretende defender:
 a dignidade da vida, a liberdade do ser humano."

(São João Paulo II)

Jovem, negro, candidato do PT é baleado à queima-roupa pela polícia no Paraná

www.brasil247.com - 09 de setembro


Jovem, negro, candidato do PT é baleado à queima-roupa pela polícia no Paraná

Renato Almeida Freitas Jr., candidato do PT a deputado estadual no Paraná, jovem, 
negro, foi baleado por duas vezes no começo da noite deste domingo pela pela Guarda Municipal de Curitiba durante panfletagem na Praça do Gaúcho -ele levou tiros de bala de borracha à queima-roupa em uma das mãos e nas costas. Mesmo ferido, foi preso. Assista o vídeo que ele fez no camburão em que era transportado pelos policiais e postou, ao vivo, em sua página no Facebook, às 19h51. 

Renato é advogado criminalista e já foi candidato a vereador pelo PSOL. "Eu não estava fazendo nada, só estava panfletando", relata ele no vídeo.

Ele foi internado no Hospital do Cajuru e depois seria encaminhado para o 1° Distrito, no centro da cidade. Dr. Rosinha, presidente do PT Paraná e candidato a governador pelo partido. 

Leia a nota do PT do Paraná e, a seguir, assista o vídeo:

"Nesta noite de domingo, 09, o candidato a deputado pelo PT Paraná, Renato Almeida Freitas, fazia panfletagem no centro de Curitiba e foi agredido pela Guarda Municipal, que o atacou com balas de borracha e o levou preso. Nenhum motivo para a prisão e nem para a violência policial.

Da mesma forma, no dia 07, durante o desfile cívico, Edna Dantas, candidata a deputada estadual pelo PT-PR, realizava manifestação em prol da libertação do presidente Lula junto a outros militantes do partido e foram agredidos e detidos pela Polícia.

Nos dois casos, a única explicação para a perseguição é que ambos são negros, do PT e dos movimentos sociais. O que estamos vendo é uma assustadora onda crescente de violência e perseguição a quem se manifesta e luta a favor dos oprimidos.

Não houve nenhuma preocupação com os ônibus da Caravana do Presidente Lula que giram alvejados, estamos há seis meses sem saber quem matou Marielle e ainda o judiciário determina que não podemos nos manifestar em apoio a Lula.

Estive hoje acompanhando, logo que soube, o desenrolar da prisão arbitrária do Renato. Como estarei solicitando desde já apuração sobre desvio de função policial em ambos os casos.

Estou ao lado da Democracia e, portanto, lutando contra o estado de exceção que vivemos. Basta de perseguição! Basta de violência!

Dr. Rosinha
Presidente do PT Paraná"

Para Refletir

“Guarda-te de jamais fazer a outrem o que não 
quererias que te fosse feito” 
(Tb 4,16).