29 março, 2016

Não ao golpe, não ao impeachment

Não ao golpe, não ao impeachment
Nenhum crime pesa contra a presidenta Dilma
O processo de impeachment, como está colocado, é um golpe contra a democracia.
A democracia em nosso país está em risco.
A constituição da legalidade ao mandato da presidenta Dilma, conquistada legitimamente nas eleições de 2014, com mais de 54 milhões de votos.
O mandato da presidenta deve ser preservado e defendido, é triste ver um eticamente desqualificado como Eduardo Cunha, a oposição que não se conforma de ter perdido nas urnas as eleições de 2014 e mídia golpista atrasando e parando nosso país.
Os articuladores do impeachment, do golpe, em sua grande maioria, são investigados e réus em processos. Na comissão do impeachment são 34 investigados pelo Supremo Tribunal Federal, na Câmara dos Deputados 271 deputados enfrentam acusações que vão da fraude ao homicídio.
A irresponsabilidade de tudo isso, de todo esse processo esta parando nosso país. O que vale para o governo não vale para a oposição, para os golpistas, porque o que esta na mira desses são as conquistas sociais, a distribuição de renda, a política externa independente, as cotas, a defesa das empresas nacionais, a ampliação dos direitos humanos. A democracia.

28 março, 2016

Democracia posta à prova - Dom Demétrio Valentini

Por Dom Demétrio Valentini - Bispo Emérito de Jales-SP
DEMOCRACIA POSTA À PROVA
Estamos na iminência de uma ruptura constitucional. Em momentos assim, se faz necessário um apelo à consciência democrática, e uma advertência dos riscos de uma decisão política profundamente equivocada.
Falando claro e sem rodeios: com a tentativa de impeachment da Presidente Dilma, procura-se revestir de legalidade uma iniciativa política com a evidente intenção de destituir do poder quem foi legitimamente a ele conduzido pelo voto popular.
Isto fere o âmago do sistema democrático, que tem como pressuposto básico o respeito aos resultados eleitorais.
E´ preciso desmascarar a trama que foi sendo urdida, para criar artificialmente um pretenso consenso popular, para servir de respaldo aos objetivos que se pretende alcançar.
E´ notável que desde as últimas eleições presidenciais, os derrotados não aceitaram o resultado das urnas, e traduziram seu descontentamento em persistentes iniciativas de deslegitimar o poder conferido pelas eleições.
Outra evidência é a contínua e sistemática obstrução das iniciativas governamentais, praticada especialmente por membros do Congresso Nacional, com o evidente intuito de inviabilizar o governo, e aplainar o caminho para o golpe de misericórdia contra ele.
Está em andamento um verdadeiro linchamento político , conduzido sutilmente por poderosos meios de comunicação, contra determinados atores e organizações partidárias, que são continuamente alvo de acusações persistentes e generalizadas, e que se pretende banir de vez do cenário político nacional.
Causa preocupação a atuação de membros do Poder Judiciário, incluindo componentes da Suprema Corte, que deixam dúvidas sobre as reais motivações de suas decisões jurídicas, levando-nos a perguntar se são pautadas pelo zelo em preservar a Constituição e fazer a justiça, ou se servem de instrumento para a sua promoção pessoal ou para a vazão de seus preconceitos.
Em meio a esta situação limite, cabe ao povo ficar atento, para não ser ludibriado.
Mas cabe ao Judiciário a completa isenção de ânimo para garantir o estrito cumprimento da Constituição.
E cabe ao Congresso Nacional terminar com sua sistemática obstrução das iniciativas governamentais, e colaborar com seu apoio e suas sugestões em vista do bem comum, e não de interesses pessoais ou partidários.
Em vez deste impeachment sem fundamento legal e sem justificativa, que nos unamos todos em torno das providências urgentes para que o Brasil supere este momento de crise, e reencontre o caminho da verdadeira justiça e da paz social.

26 março, 2016

Um abençoado Sábado Santo a todas e a todos!

Um abençoado Sábado Santo a todas e a todos!
Trazemos presente o aniversário do triunfo de Cristo, a vitória da vida sobre a morte, a redenção e libertação do pecado da humanidade pelo Filho de Deus.
São Paulo nos diz: “Aquele que ressuscitou Jesus Cristo devolverá a vida a nosso corpo mortal”.
Celebrar a Páscoa é celebrar a libertação, não apenas de um povo, de uma nação isolada, mas do mundo inteiro. É celebrar o resgate e a reabilitação de mulheres e homens que se encontram caído. Libertação do egoísmo, complexos, individualismo, preconceitos, discriminação, comodismo. Libertação das/os excluídas(os) e perseguidas(os).
A Páscoa é convite para seguirmos o testemunho das que sempre foram, são e serão, sacerdócias, profetas, discípula, apóstolas embora infelizmente nem sempre aceitas e reconhecidas. Seguir o testemunho das mulheres, para quem Jesus ressuscitado aparece primeiro e as envia.
E com alegria e coragem elas vão e anuncia:
“JESUS RESSUSCITOU”

24 março, 2016

Uma Abençoada Quinta-feira Santa a Todas e a Todos!

Uma Abençoada Quinta-feira Santa a Todas e a Todos!

O Senhor se faz servidor. Jesus nos dá a lição do serviço humilde, generoso, gratuito aos outros.

Jesus diz a seus discípulos e discípulas e a todos nós: “Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros” (Jo 13, 34).

A liturgia da Quinta-feira Santa é um convite a aprofundar concretamente no mistério da Paixão de Cristo.

Jesus nos dá um testemunho idôneo da vocação ao serviço do mundo e da Igreja quando decide lavar os pés dos seus discípulos.

Ajoelha e lava os pés, como gesto inquietante de uma acolhida inalcançável, solidariedade, igualdade, e serviço.

A entrega de Jesus foi tanta que deu em alimento seu Corpo e seu Sangue para todas e todos os que queiram segui-lo, ficando assim instituída a Eucaristia.

Jesus não exclui ninguém - “Então Jesus pegou o cálice, agradeceu a Deus, e disse: tomem isto, e repartam entre vocês” (Lc 22,17).

A celebração da Ceia do Senhor na qual Jesus, um dia como hoje, na véspera da sua paixão, "enquanto ceava com seus discípulos tomou pão..." (Mt 26, 26). Ele quis que, como em sua última Ceia, seus discípulos e discípulas se reunissem e se recordassem dEle abençoando o pão e o vinho: "Fazei isto em memória de mim" (Lc 22,19).

23 março, 2016

Precisamos preservar nossa democracia

Precisamos preservar nossa democracia, o Estado de direito e as conquistas sociais que o nosso país alcançou nos últimos anos.
Não podemos ser guiados por uma mídia partidarizada e tendenciosa. Não podemos aceitar o golpe em marcha executado pela direita raivosa, constituída pela elite e os partidos que os representam.

Inspirados no gesto profético do Papa Francisco ousamos dizer: "ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião a uma intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos” (EG, 183).

Manifestações, ódio e golpe: as crianças do Brasil estão aprendendo

Manifestações, ódio e golpe: as crianças do Brasil estão aprendendo
"Salvem o Gui, salvem os nossos filhos. Não deixem que eles acreditem que desejar a morte de uma pessoa é normal. Não deixem que eles acreditem que xingar uma mulher de puta e vagabunda é aceitável. Que espancar alguém que veste vermelho é um comportamento admissível. Ele e os nossos filhos têm que aprender que todos podem lutar pelos seus ideais, mas dentro da lei. E que urrar, babar e matar é coisa de bicho, não de homo sapiens."

Salvem o Gui. Salvem nossos filhos", publicou Rita Lisauskas, no Estadão sobre a criança que, ao invés de fazer desenhos do "Ben 10 ou Homem Aranha, retrata a Presidenta e o ex-Presidente da República com ferimentos no peito, sangrando, ao lado das frases 'Morre Diuma' (sic) e 'Morre Lula'". A colunista afirma que o Gui e as crianças "precisam de ajuda". "E rápido", completa.
Para a colunista, o passo seguinte a esse incentivo que partem dos pais ou das escolas é aprender "também que se pode fazer justiça com as próprias mãos quando ouve o pai dizer que 'tem que matar esse bando de petistas!'".
O comentário é de Luis Nassif publicado por jornal GGN, 22-03-2016.
O jornalista, reproduz na integra o artigo de Rita Lisauskas.
Eis o artigo.
Deixe seu filho longe desse ódio todo
Quando entro na escola do meu filho e vejo aquelas crianças todas brincando meu coração sempre enche de esperança. Não paro de sorrir para aquela gritaria fininha, e meus olhos nem piscam ao ver a alegria dos meninos e meninas correndo para cima e para baixo, absortos em suas próprias fantasias, brincadeiras e sonhos, sem ter a menor ideia das guerras rolando atrás da jabuticabeira linda colada ao muro da educação infantil.
Mas fiquei chocada, semana passada, ao ver que o ódio, esse sentimento comezinho, adulto e detestável, tinha sim pulado o muro e sentado no gira-gira do parquinho das crianças. Tinha invadido também a aula de artes, esse lugar sagrado onde nossos filhos desenham o céu, as nuvens e colam lantejoulas amarelas no sol, para que fique com o brilho igual ao de suas fantasias.
Ninguém deveria ter deixado isso acontecer. Pior do que assistir à invasão bárbara é comemorá-la. “Meu filho, meu maior orgulho. Gui se manifestando na aula de artes. Vamos para as ruas domingo, vamos lutar por um país digno para as nossas crianças”, escreveu um pai semana passada em seu Facebook, ao compartilhar, orgulhoso, um desenho de seu filho feito na escola. Não sei quem é esse pai, a pessoa que compartilhou na minha timeline teve o cuidado de não expor a identidade desse homem.
Sabemos apenas que ele é o pai do Gui. Não conheço tampouco a professora do Gui e a escola do Gui mas, espero de todo o coração, que ambas tenham ficado chocadas a ponto de chamar essa família para conversar. Um menino que senta em sua mesinha, coloca um avental e, em vez de desenhar e pintar o Ben 10 ou Homem Aranha, retrata a Presidenta e o ex-Presidente da República com ferimentos no peito, sangrando, ao lado das frases “Morre Diuma” (sic) e “Morre Lula” precisa de ajuda. E rápido.
O Gui deve ser como todas as crianças. Gosta de super-heróis, adora um Lego. E muitas vezes, deve ser retirado de seu mundinho paralelo de brincadeiras para correr para a varanda e gritar uns palavrões horríveis, como “puta” e “vagabunda” enquanto seus pais batem panelas. “Mas a mamãe e o papai não disseram que é feio falar palavrão?”, pensa. Pensa, mas não diz, porque nessa idade eles aprendem tudo o que a gente faz, como esponjas, quase sem questionar. Aos poucos o Gui está aprendendo também que se pode fazer justiça com as próprias mãos quando ouve o pai dizer que “tem que matar esse bando de petistas!” Também fica confuso quando a mãe xinga uma mulher que está de vestido vermelho na rua: “Mas vermelho não é só uma cor?”, pensa. “Mas se a mamãe está tão brava deve ser uma cor horrível”, conclui.
Salvem o Gui, salvem os nossos filhos. Não deixem que eles acreditem que desejar a morte de uma pessoa é normal. Não deixem que eles acreditem que xingar uma mulher de puta e vagabunda é aceitável. Que espancar alguém que veste vermelho é um comportamento admissível. Ele e os nossos filhos têm que aprender que todos podem lutar pelos seus ideais, mas dentro da lei. E que urrar, babar e matar é coisa de bicho, não de homo sapiens.

19 março, 2016

Que bom se estivéssemos vendo bandeiras expressando propostas!

Um lindo e abençoado final de semana a todas e a todos.

É triste ver bandeiras de luto e outras coisas desvalorizando o país e a nação.
Que bom seria se estivéssemos vendo bandeiras de propostas...

"O verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de generosidade; é impossível imaginar um revolucionário autêntico sem esta qualidade."
Che Guevara

Domingo de Ramos - entrada de Jesus a Jerusalém

Um pequeno texto que escrevi

Domingo de Ramos - entrada de Jesus em Jerusalém

Com a Celebração de “Domingo de Ramos” damos inicio a Semana Santa que é como uma escola para conhecer Jesus.

Jesus é Salvador e Rei. É exemplo de obediência e humildade.

Ao celebrarmos Domingo de Ramos, fazemos memória da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, onde o povo com ramos de oliveira o aclamou como rei.

Montado num jumentinho que, conforme as profecias era a característica do rei justo, pobre e desarmado.

Mas é preciso ficar atento, o mesmo povo que aclamou Jesus como rei, deixa-se enganar pelos poderosos que temiam a perca de seu poder e suas mordomias e vão gritar: crucifica-o.

Vamos participar com todo o nosso coração as liturgias da Semana Santa, para vivermos á certeza da ressurreição.

17 março, 2016

“Acham Que Pegaram Lula E Dilma. Na Verdade, Pegaram Você”, Diz Renato Janine Ribeiro

Artigo para nos ajudar na reflexão e não ficar somente com o senso comum.

Esqueçam por um momento que foram Dilma e Lula os grampeados ilegalmente ontem à tarde. Pensem que, agora, não há mais limite algum ao grampo ilegal e a seu uso igualmente ilegal. A qualquer momento, um policial e um juiz podem mandar gravar você. Você, empresário, psicólogo, o que seja. Conheço psicólogos que atendem pelo telefone. Podem ser grampeados – e com boas razões, porque, afinal, há clientes que superfaturam ou corrompem, e que contam isso ao terapeuta. Há sacerdotes que ouvem confissões. Confissão é de coisa errada, não é? Ótima razão para gravar e apurar. Empresários podem sonegar, ótima justificativa para grampeá-los, todos, não é? Mesmo que não soneguem. Isso já começou, quando o sigilo acusado-advogado foi rompido. Claro, o acusado é bandido, não é? E nestas gravações, caro amigo, cara amiga, podem descobrir coisas que nem desonestas são, mas que vão te causar um mal danado. Podem descobrir, empresário, que você pretende lançar um novo produto na praça. E podem divulgar este segredo para seu concorrente. Leia na íntegra

Ação relâmpago de Moro é irresponsável e política

A divulgação do grampo de uma conversa entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula mostra que está sendo travada uma guerra aberta entre o juiz Sérgio Moro e o Palácio do Planalto. Moro agiu em retaliação à nomeação de Lula para a Casa Civil.
Numa ação relâmpago, Moro quis causar um dano antes de as investigações saírem das suas mãos e tomarem outro rumo. Isso é perigoso. Um juiz não deve agir politicamente. É frágil o argumento de justificar a divulgação como uma forma de atender ao interesse público e de mostrar que autoridades agiriam na sombra.
Nesse caso, o juiz deveria ter divulgado antes, não no dia em que houve a decisão que levaria a investigação sobre Lula para o Supremo Tribunal Federal.
A exposição de um material desse tipo, sem denúncia contra Lula, sem uma decisão judicial num processo em que ele seja réu, é uma forma de julgamento sumário, de justiçamento. Não é correto um juiz agir como justiceiro.
Há ainda dúvida sobre a legalidade da escuta...continue lendo...

14 março, 2016

'O que é mesmo que estão querendo? - Linha de Tiro.'

A quem interessa criar um clima de guerra civil, no qual a Polícia já começa a interromper plenárias sindicais, violando frontalmente a Constituição ?
Esta trapalhada faz lembrar, também, a insensatez dos movimentos que pedem, ou a renúncia ou o impedimentos da Presidenta – por ódio político ou inconformidade com o resultado eleitoral – sem levar em consideração a instabilidade política e o aumento da crise econômica e social a que o país seria jogado, se isso acontecesse.

Eis o artigo de Tarso Genro

A denúncia feita pelos promotores de São Paulo, que contém o pedido de prisão preventiva do Presidente Lula – de um dos seus filhos e da dona Marisa – pareceu abrir um clarão de lucidez nos meios jurídicos, em setores políticos menos sectários e em boa parte da inteligência do país. Demonstra, também, o grau de partidarização daquele órgão de Estado, a tragédia de parte do nosso ensino jurídico e a escassa capacidade que vem demonstrando um setor daquela corporação, de compreender a importância das suas funções no Estado de Direito, que é diferente daquelas exercidas pela instituição num Estado policial, no qual, Governo e Estado, se confundem no monopólio da violência sem lei.

Qualquer um destes promotores aguentaria dez minutos de debate com Celso Antonio Bandeira de Mello, com Fábio Comparatto, com Dalmo Dallari, com Lenio Streck, com José Geraldo de Souza Junior, com Paulo Abrão, com Luiz Moreira, sem mandar algum deles “catar coquinhos”, como disse um dos brilhantes Promotores, ao responder pergunta de um jornalista sobre a parceria, até então desconhecida, de Marx diretamente com Hegel? Creio que não. Acho que perderiam a cabeça e provavelmente pediriam a solução do impasse de ideias, pelas “vias de fato”, numa mistura de “progrom” cultural, com uma Santa Inquisição pós-moderna.

Esta trapalhada faz lembrar, também, a insensatez dos movimentos que pedem, ou a renúncia ou o impedimentos da Presidenta – por ódio político ou inconformidade com o resultado eleitoral – sem levar em consideração a instabilidade política e o aumento da crise econômica e social a que o país seria jogado, se isso acontecesse.

Vejamos qual seria a sucessão de Dilma (sobre quem não pende nenhuma acusação criminal), sucessão que lembro sem afiançar qualquer uma das acusações que são feitas a estes políticos, já que não se conhece nada de oficial, até agora, sobre imputações que lhes estariam sendo feitas. Cordão sucessório: Vice-Presidente Michel Temer, na linha de tiro do Supremo; deputado Eduardo Cunha, na linha de tiro do Supremo, próximo ao cadafalso; Senador Renan Calheiros, com três inquéritos, na linha de tiro do Supremo. Depois vem o Presidente do STF e o Procurador Geral da República. (Bem, mas poderia ser Aécio, por alguma forma de golpismo institucional? Resposta: já na linha de tiro doSTF, por citação, entre outros, do próprio Senador Delcídio, festejado agora pela mídia como o “novo delator fundamental”).


Costumo consultar, quando tenho dúvidas sobre a estética da linguagem em situações difíceis, um precioso livro deJorge Luís Borges e José E. Clemente (“El Lenguaje de Buenos Aires”,1968), onde os autores compõem uma sinfonia de rejeição “do colonialismo idiomático das academias” e mostram o seu “aborrecimento”, perante “o que chamam “linguistas profissionais”. Lá na pg. 37 desta preciosidade está uma das sentenças lapidares de Borges: “Falam em voz mais alta, isto sim, com a postura dos que ignoram a dúvida.”

A arrogância autoritária destes jovens promotores, não vem somente de um cortejo à grande mídia, na expectativa de que o apoio imediato desta, à prisão de Lula, lhes permitisse suprimir “as dúvidas”, por falarem “mais alto” -através dela- majoritariamente comprometida com o golpismo. Sua arrogância vem, principalmente, da sua visão peculiar do Estado de Direito, como Estado-Polícia, a quem competiria solucionar os conflitos da ordem, a partir de juízos políticos por fora dos parâmetros da Constituição.

Os Promotores de São Paulo, todavia, não levaram em consideração que a sua aventura não seria incensada pela imprensa, não pela sua grosseira falta de juridicidade, mas por enfraquecer um outro “bunker” autoritário, que é - ele mesmo - o preferido do golpismo da grande mídia: a jurisdição ilegal do juiz Moro, instalada em Curitiba.

Os que pedem a deposição da Presidenta, o fazem na expectativa que, colocando um daqueles próceres políticos na Presidência, os inquéritos da “Lava-Jato” vão ser suspensos? Janot vai recolher as suas denúncias? Moro, vai se recolher ao seu trabalho comum? A Polícia Federal vai deixar de investigar? Os vazamentos vão cessar? Os que estão nas ruas, com intenções de denunciar a corrupção na Petrobras, vão voltar para casa? Ou, ao contrário, os movimentos populares da base da sociedade, vão radicalizar as suas mobilizações para que todos sigam o mesmo destino de “exceção”, que retiraria a Presidenta, do Governo? Pergunto: isso não seria criar uma situação de indeterminação política no país, próxima a uma situação revolucionária, sem possibilidades de revolução? Ou seja, o caos a ser resolvido pelos aventureiros da força? Ricardo Noblat – se é verdadeiro o “tuíte” que lhe é atribuído – aposta (e festeja) que a “Lava-Jato” é um instrumento político destinado à derrubada da Presidenta Dilma, o que – efetivamente – hoje ela se tornou. Mas, atenção, hoje ela também se tornou mais do que isso: é um instrumento de desidratação política da democracia que, com a suas imperfeições e misérias, mantém a capacidade orgânica de recuperar-se dentro da Constituição.

A verdade é que, se o impedimento da Presidenta se realizar sem causa legítima, conduzido por Eduardo Cunha como está proposto, este desfecho vai devastar o que tem de “ruim” e de “bom”, na ordem política, e nos legará um sistema de poder ainda mais corrupto e transgressor, que o atual. Isso já ocorreu com Berlusconi, na Itália, quando a moralidade desejada pelo resultado das “mãos limpas”, gerou a amoralidade absoluta das mãos berlusconianas.

Creio que seria melhor um “pacto político de responsabilidade democrática”, para enfrentar uma situação de crise, entre, de um lado, as forças políticas que não tem demonstrado condições suficientes para governar com estabilidade; e, de outro, aquelas forças que não são hegemônicas para substituir a Presidenta dentro da Lei. Este pacto de bom senso, poderia fundar uma solução do impasse dentro da Constituição, entre outras, com as seguintes preliminares: arquivamento dos processos de impedimento; os que querem governar o país, de novo, buscariam isso nas eleições de 2018; ficaria acordada uma unidade contra a destruição da esfera da política, em implantação por processos judiciais nitidamente de “exceção”, que estão em andamento; acordar-se-ia um plano emergencial de retomada do crescimento, para combater o desemprego; ajustar-se-iam cláusulas claras, para uma reforma política e eleitoral imediata, ainda que provisória, principalmente para acabar com a “dinheirização” da política, responsável por grande parte da corrupção no Estado.

O que devemos nos perguntar, neste momento, é a quem interessa criar no país, um clima de guerra civil, no qual a Polícia já começa — como ocorreu sexta à noite no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC- a interromper plenárias sindicais, violando frontalmente a Constituição, que diz todos poderem reunir-se sem armas, sem prévia autorização de qualquer autoridade? A quem interesse iniciar embates “de rua”, entre cidadãos com distintas posições políticas, às vezes vizinhos, às vezes da mesma família? A quem interesse suprimir a política como mediação dos conflitos para colocar, no lugar dela, a força de uma burocracia iluminada, que não responde a ninguém?

Pode interessar a alguém, mas certamente a poucos. Ao país interessa sair desta encalacrada mais forte e mais democrático. Com instituições mais respeitadas e um povo mais feliz, para assumir o seu destino em liberdade. Estamos, na verdade, à beira da hora de uma nova Constituinte, que virá, ou de forma acordada pelas forças políticas majoritárias, em desmoronamento, ou por implosão da ordem atual, com todos os riscos da imprevisibilidade que sucede a violência.

Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul – PT
Fonte: Carta Maior

08 março, 2016

Somos Mulheres. Simplesmente Mulher!

Segue um texto meu

Somos Mulheres. Simplesmente Mulher!

Somos mulheres criadas a imagem e semelhança de Deus; somos negras, brancas, índias; somos de tanta raça e tanta cor. Gostamos de banho perfumado, de receber flores e ouvir palavras de amor e receber carinho; de cantar, dançar e tocar. Deixamos com muita facilidade as lágrimas banhar nossos rostos. Somos geradoras de vidas, amor e esperança; tornamos o ambiente mais alegre e bonito. Somos sempre lindas.

Somos mulheres frágil e forte, uma mistura que da certo. Somos capazes de superar os preconceitos da sociedade e os preconceitos eclesiais que aos poucos já não encontram mais suporte. Sabemos de nossa missão, que somos enviadas e estamos por todos os lugares semeando fraternidade, justiça, paz e amor. Somos presença amiga de Deus no meio de seu povo.

Somos esposas, mulheres da aliança. Somos mãe, fonte de vida e de amor, revelamos a face materna de Deus, ele que é fonte de vida e de amor sem limites, tal como as estranhas da mãe. Somos porta voz de Deus proclamamos sua mensagem de vida e ressurreição. Somos filhas e amigas, presença incansável, cremos na vida, num novo amanhecer; queremos um mundo construindo paz.

Somos profetas e não nos calamos, mesmo quando estamos silenciosas. Somos solidárias com cada irmã e cada irmão que luta. Nesse chão tantas mulheres plantadas pela vida, justiça, amor e paz; sofrem caladas, perdem a vida e enfrentam a dor. Somos a força feminina presente construindo uma nova história. Maldita toda a violência que devora a vida pela exclusão e pela repressão.

Somos dona de casa, estudante, evangelizadora, lavradora, contadora, operária, catadora de reciclável, vendedora, medica, presidenta do Brasil; somo de tudo um pouco. Somos lutadoras, fazemos história mesmo quando não reconhecem nosso valor. Somos incansáveis. Temos o dia oito de março como nosso dia, mas com muita ousadia fazemos de cada dia o nosso dia. Somos Mulheres. Simplesmente Mulher.

07 março, 2016

Um linda e abençoada semana a todas e a todos!!

Um linda e abençoada semana a todas e a todos!!

“Que maravilha será o dia em que cada batizado compreender que sua profissão, seu trabalho, é um trabalho sacerdotal; que, assim como eu celebro a missa no altar, cada carpinteiro celebra sua missa na sua carpintaria, cada profissional, cada médico com seu bisturi, a mulher na feira, no seu lugar de trabalho… estão fazendo um ofício sacerdotal." 
Dom Oscar Romero

04 março, 2016

Assassinato de Berta Cáceres: transformamos nossa dor em luta!

Transformamos nossa dor em luta!


É com muito pesar e tristeza que recebemos nesta manhã (03) a notícia de que a companheira de Honduras Berta Cáceres foi assassinada em sua casa nesta madrugada. Segundo as primeiras informações relatadas por fontes locais, homens não identificados e armados invadiram a sua casa enquanto ela dormia, a mataram e feriram seu irmão.
Berta era líder da comunidade indígena Lenca e de movimentos de camponeses hondurenhos, defensora de direitos humanos e ativista ambiental. Como tantos e tantas outras lutadoras hondurenhas, Berta denunciou e resistiu ao Golpe em Honduras e, desde então, foi perseguida e enfrentou a criminalização. Ela não se intimidou: junto com o povo Lenca, enfrentou corporações poderosas e conseguiram recuperar seus territórios.
A luta das comunidades indígenas Lencas, que habitam o ocidente hondurenho, é pela defesa de seu território ancestral frente à ofensiva de corporações poderosas que com projetos hidroelétricos e mineradores aprovados pelo governo sem nenhuma consulta aos moradores.
Em 2015 recebeu o prêmio Goldman, considerado o Nobel do Meio Ambiente, pela luta em defesa das comunidades rurais de Honduras.
Berta dedicou sua vida a denunciar as expropriações e violação aos direitos humanos impulsionadas pelo governo em territórios ancestrais. Além disso, cobrou ampliação de serviços básicos de saúde e assistência rural. Sempre se colocou como feminista em defesa dos direitos das mulheres. Também não se curvou diante das tentativas norte-americanas de implementar bases militares no território Lenca, e fortaleceu a luta dos povos latino-americanos pela desmilitarização.
A ativista sofria ameaças de morte há anos, inclusive concedeu uma coletiva de imprensa há pouco mais de uma semana na qual denunciou que quatro dirigentes de sua comunidade haviam sido assassinados e outros, incluindo ela, estavam recebendo ameaças.
Nós, mulheres da CUT e da Marcha Mundial das Mulheres, nos somamos a todas as organizações hondurenhas e latino-americanas e esperamos que sua morte seja investigada e que os culpados sejam punidos.
As corporações não vão conseguir seu intento porque não se cala Berta nem assassinando-a. Sua luta continua com o povo Lenca, que tem toda nossa solidariedade.
Nossa dor e tristeza se convertem em força para seguir a luta de Berta. Esse é nosso compromisso com todo povo que luta e resiste ao avanço das transnacionais sobre nossos territórios e corpos.
Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!
Fonte: site  Marcha Mundial das Mulheres

03 março, 2016

Comunidades Eclesiais de Base se preparam para crescerem no mundo urbano

Entrevista com Celso Pinto Carias -  exclusiva à Adital

"Agora, o olhar das CEBs está voltado, de modo mais cuidadoso, para o mundo urbano. O tema do próximo intereclesial, inclusive, é "CEBs e desafios no mundo urbano”. (...). Nos grandes centros urbanos, temos uma imensa população de seres humanos invisibilizados, que as próprias igrejas, muitas vezes, abandonam”, observa o assessor.


Celso Pinto Carias vive em Duque de Caxias, Estado do Rio de Janeiro. É doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), onde trabalha. Assessor das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB (Comissão do Laicato, Setor CEBs), vem acompanhando a vida dessas Comunidades desde 1989, quando ajudou a coordenar os serviços do 7º Encontro Intereclesial, em Duque de Caxias. Participa do grupo de assessores e assessoras da Ampliada Nacional das CEBs, juntamente com as irmãs Mercedes e Tea, e o padre Vileci.

Nesta entrevista exclusiva à Adital, o teólogo analisa o impulso que a Igreja Católica de base vem experimentando a partir do papado de Francisco. Nesse contexto, destaca-se a atitude do Papa argentino ao enviar uma carta aos participantes do 13º Intereclesial, ocorrido na Diocese do Crato (Ceará), em 2014, momento em que "as CEBs se sentiram, mais uma vez, confirmadas pelo magistério”.

"Antes do Papa Francisco, os setores que deram continuidade ao [Concílio] Vaticano II praticamente não eram lembrados. Mas eles não desistiram (...) Certamente, ainda estamos em uma situação muito frágil, pois o Papa Francisco está falando praticamente sozinho (...) Haverá muitos que darão graças a Deus quando este Papa passar, mas o papado nunca mais será o mesmo”, declara Carias.

Nesta entrevista, ele também avalia como os papados de João Paulo II e Bento XVI influenciaram o compromisso social das CEBs, que, aliás, para o teólogo, é "parte essencial do processo de evangelização”.

"Da metade da década de 1980 para frente, já sob o pontificado de João Paulo II, mesmo com o apoio de renomados prelados, como os cardeais Paulo Evaristo Arns e Aloisio Lorscheider, as Comunidades de Base passaram a ser duramente bombardeadas. Com Bento XVI, não foi diferente (...) A atuação e abrangência das CEBs, por conta da perseguição, diminuíram, mas não morreram, como querem seus detratores. Elas continuam a atuar pelo Brasil e América Latina, e até mesmo na Ásia, África e Europa”, comemora Carias.

Outra observação levantada pelo teólogo se refere à "urbanização” do movimento, que, no passado, apresentava mais força no meio rural, em comunidades que, muitas vezes, não podiam contar com a presença de um sacerdote por muito tempo. Os leigos, então, reuniam-se para manterem vivo o espírito da Igreja na comunidade.

"Agora, o olhar das CEBs está voltado, de modo mais cuidadoso, para o mundo urbano. O tema do próximo intereclesial, inclusive, é "CEBs e desafios no mundo urbano”. (...). Nos grandes centros urbanos, temos uma imensa população de seres humanos invisibilizados, que as próprias igrejas, muitas vezes, abandonam”, observa o assessor.

Confira a entrevista.

Adital: As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) surgiram com o espírito de renovação da Igreja, inspirado pelo Concílio Vaticano II. Entretanto, após o "Papa bom”, João XXIII, e seu sucessor, Paulo VI, a Igreja passou por um retorno ao conservadorismo, imposto pelos papados de João Paulo II e Bento XVI. Como se deu a atuação das CEBs durante aquele momento vivido pela Igreja?

De fato, o Concílio Vaticano II foi um fator determinante para o nascimento das CEBs. Mas podemos afirmar que elas nasceram de um processo mais amplo. Um conjunto de fatores iria possibilitar que bispos, padres e leigos e leigas despertassem para a necessidade de nucleação das pessoas, construindo espaços nos quais elas pudessem se reconhecer como sujeitos da história, como o processo cultural moderno já vinha proporcionando em outros campos. A Igreja tinha que favorecer aos seus fiéis um espaço de vivência cristã, mais próxima do Evangelho. Naquele momento também, em quase toda a América Latina, estourava uma reação ditatorial contra as organizações populares. Neste contexto, impulsionadas por lideranças leigas e de bispos, como Dom Helder Câmara, as CEBs floresceram.

O Papa Paulo VI, sucessor de João XXIII, embora tenha feito algumas reservas às CEBs, pois já tinha sido avisado do seu engajamento político, apoiou diretamente, e, pela primeira vez, esse modelo de organização eclesial apareceu explicitamente em um documento papal (Evangelli Nuntiandi, 1974).

E assim as CEBs foram crescendo, mas também foram ganhando inimigos. Trata-se de um modelo mais participativo, que, por sinal, está perfeitamente de acordo com a grande Tradição da Igreja. Mas poder e carisma, muitas vezes, se confrontam, quando as decisões são tomadas com a cooperação de todos. Então, da metade da década de 80 do século 20 para frente, já sob o pontificado de João Paulo II, mesmo com o apoio de renomados prelados, como os cardeais Paulo Evaristo Arns e Aloisio Lorscheider, as Comunidades de Base passaram a ser duramente bombardeadas. Com Bento XVI, não foi diferente. Evidentemente, que estes papas recebiam informações vindas da própria região das CEBs, mas de forma unilateral.

A atuação e abrangência das CEBs, por conta da perseguição, diminuíram, mas não morreram, como querem seus detratores. Elas continuam a atuar pelo Brasil e América Latina, e até mesmo na Ásia, África e Europa, claro que com menor impacto. Agora, no momento em que o Papa Francisco reacende a necessidade da opção preferencial pelos pobres, elas podem, renovadas pelo tempo, continuar a serem sinal visível da fidelidade eclesial ao Caminho de Jesus Cristo. Sinal que é celebrado, visivelmente, nos intereclesiais, realizados desde a década de 1970. Caminhamos para o 14º Intereclesial, na Arquidiocese de Londrina [Paraná], em janeiro de 2018.

Adital: As CEBs promovem estudos bíblicos, orações e trabalhos sociais nas comunidades. E, hoje, como vem sendo a experiência das CEBs nessas comunidades? Vem se fortalecendo o trabalho social ou, na verdade, a prática comunitária desses grupos estão sofrendo uma retração?

Elas continuam a promover estudos bíblicos, celebrar e atuar onde as necessidades da realidade social exigem. No entanto, como já foi salientado, a perseguição fez a proporção se tornar menor. Hoje, em muitas dioceses, o compromisso social foi relegado a segundo, terceiro plano, mesmo com o Papa Bento XVI afirmando, na Encíclica Deus é Amor, que a caridade é essencial na evangelização. Pode-se verificar que onde há compromisso social, na perspectiva de criar política pública, quase sempre tem alguém das CEBs envolvido, ou pelo menos remanescente. Muitos fazem serviço social quase por uma obrigação, e não como parte de um processo fundamental de realizar sinais do Reino no meio do mundo. As CEBs não entendem o compromisso como uma obrigação, mas como parte essencial do processo de evangelização.

Adital: As CEBs surgiram no final dos anos 1960. Como vem sendo a procura das comunidades por esse modo de fazer igreja, nos últimos 50 anos? Há uma renovação de dirigentes e fiéis ou vive-se uma estagnação em seu quadro pastoral?

Estamos dentro de um processo cultural no qual as propostas consumistas perpassam a sociedade como um todo. Nem mesmo as religiões escapam. Neste sentido, tem crescido o modelo religioso que reproduz uma lógica de consumo, no qual se procura a satisfação do cliente através também da venda de bens de consumo religioso. As CEBs, como ninguém, neste contexto, não estão imunes a serem contagiadas por esse mecanismo ilusório de sentido. No entanto, elas vêm resistindo bravamente. Sim, há certa estagnação, mas está havendo um processo lento de renovação, no qual jovens têm se colocado na perspectiva desse modelo. A Pastoral da Juventude tem sido um bom berço para tanto. Porém, é um processo que exige muita resistência e paciência. Confiamos que a tendência, com o tempo, diante da crise que estamos vivendo, e da superficialidade de muitas propostas religiosas, é que as CEBs renascerão das Catacumbas. É bom lembrar que, nas antigas catacumbas, estava uma profunda experiência cristã.

Adital: A Teologia da Libertação (TdL) inspira a acolhida pelos sacerdotes das pessoas "pobres”, embora pouco se diga que essa pobreza ultrapassa a questão econômica. Há os doentes (pobres de saúde), estrangeiros (pobres de território), trabalhadores rurais sem-terra (pobres de meios de produção)... Para utilizar uma expressão do Papa Francisco, os que vivem nas "periferias existenciais”. Como vem sendo a atuação das CEBs diante desses oprimidos sexuais, de raça, orientação política, de gênero, de território...?

"Pobre” é uma categoria evangélica. O mesmo Papa Francisco afirma, categoricamente, na Alegria do Evangelho (48): "É necessário afirmar, sem rodeios, que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!” O que a TdL vem tentando fazer é sistematizar esta categoria a partir dos desafios que o mundo de hoje suscita. Não há dúvida de que precisamos aprofundar a nossa percepção dos mecanismos de exclusão social, alargando, inclusive, a análise para além das fronteiras econômicas. As CEBs, é verdade, priorizaram as contradições econômicas, mas, ao longo deste tempo, nunca deixaram de perceber outras contradições, como a racial por exemplo. Tanto é verdade que, agora, o olhar das CEBs está voltado, de modo mais cuidadoso, para o mundo urbano. O tema do próximo intereclesial inclusive é CEBs E DESAFIOS NO MUNDO URBANO.
Creio que daremos passos cada vez mais na direção dos diversos tipos de opressão. Nos grandes centros urbanos, temos uma imensa população de seres humanos invisibilizados, que as próprias igrejas, muitas vezes, abandonam. As CEBs renovarão a utopia do REINO DE DEUS diante deste novo mundo que surge à nossa frente, junto com todos e todas que buscam outro mundo possível.

Adital: O Papa Francisco vem tentando imprimir, na Igreja, um modo mais "pastoral” de ser, mais próximo à realidade social das pessoas, o que, para alguns, significa um "ressurgimento” dos ideais da TdL. Há, de fato, um retorno ao espírito do Vaticano II ou ainda é cedo para afirmar isto?

O que estava acontecendo, antes do Papa Francisco, é que os setores que deram continuidade ao Vaticano II praticamente não eram lembrados. Mas esses setores não desistiram. O Papa Francisco voltou a dar voz e vez àqueles e àquelas que acreditam no caminho trilhado pelo Concílio. E, como a TdL também não morreu, os teólogos e teólogas devem colocar suas inteligências a serviço deste novo momento.

Certamente, ainda estamos em uma situação muito frágil, pois o Papa Francisco está falando praticamente sozinho. A mídia não dá espaço para vozes mais progressistas neste campo. Não sabemos bem se haverá possibilidade de uma renovação mais profunda. Contudo, as CEBs e muitos outros setores da vida eclesial, bem como muitos irmãos e irmãs de outras igrejas, outras religiões, e até mesmo ateus, estarão atentos e atentas para aproveitarem a oportunidade na direção de mais um passo no aprofundamento dos valores a serviço do Reino de Deus. Como já disse há tanto tempo (1974) o Papa Paulo VI, "importa evangelizar, não de maneira decorativa, mas indo até as raízes” (20). Tem muita gente fazendo decoração por aí. Quando vier um vento mais forte, vai voar tudo, inclusive, certas rendas que enfeitam paramentos litúrgicos.

Adital: Qual deve ser o legado do papado de Francisco para o modo de ser Igreja das CEBs?

Se o Papa Francisco morresse hoje, espero que isto não aconteça tão cedo, ele já teria deixado um grande legado. Não necessariamente teria deixado grandes reformas. Ele já provou, como diziam os antigos, que o Papa deve ser "o servo dos servos de Deus”. Quando Francisco enviou uma carta ao 13º Intereclesial, na Diocese do Crato, em 2014, as CEBs se sentiram mais uma vez confirmadas pelo magistério. Se um próximo Papa quiser trazer de volta aquele tom mais de realeza e menos de servo, certamente, encontrará resistência. Mas não uma resistência com capacidade de mudar o poder, mas resistência a propor um Cristianismo sem testemunho.

Vivemos em um mundo onde a ameaça de excomunhão não funciona mais e, graças a Deus por isso. Certamente, haverá muitos que darão graças a Deus quando este Papa passar, mas o papado nunca mais será o mesmo. Por isso, termino esta entrevista com uma afirmação do próprio Francisco na Evagelii Gaudium, 49: Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: "Daí-lhes vós mesmos de comer” (Mc 6,37).
Celso Pinto Carias é autor do livro Ministérios Leigos nas CEBs


Fonte: http://site.adital.com.br/

01 março, 2016

Seminário de Formação em Fé e Política

Seminário de Formação em Fé e Política
Como parte do Projeto Fé e Política, junto ao Fundo Nacional de Solidariedade.

Dias: 12 e 13 de Março
Das: 07h30 (sábado) às 13h (domingo).
Local: Casa de Formação São José Freinademetz. Rua Albino Loch, s/n, Pitanga-PR. 

Investimento: será subsidiado pelo Fundo Nacional de Solidariedade. O único custo que haverá para os participantes será com a viagem até o local.



Inscrição: até o dia 04 de março pelo seguinte endereço eletrônico:
Obs: Levar roupas de cama (cobertas, lençol, travesseiros), higiene pessoal e assessórios para banho.

Programação:
Sexta-feira:
Acolhida e Credenciamento
Sábado:
07h – Missa
07h40 – Café
08h15 – Acolhida, Apresentação e Oração (Equipe de Coordenação)
09h – Apresentação do cronograma e objetivos do seminário (Equipe de Coordenação)
09h15 – Analise de Conjuntura (realidade política/social no Brasil e no Paraná).
Nacional – Carlos Signorelli (CAP-CNLB Nacional)
Regional – a Confirmar.
12h – Almoço
13h30 – Igreja e Sociedade – abordagem da visão da igreja (documentos) em relação às questões da política. (Pe Leomar - Maringá)
Escuta das Realidades.
20h – Partilha de Experiências de Cristãos Leigos que exercem mandato político.
22h – descanso.
Domingo
07h00 – Missa
08h00 – Café
08h30 – Rogério Carlos Born do TRE do Paraná (vídeo) sobre o serviço que a Igreja Católica pode prestar à sociedade no âmbito político.
09h00 – Orientação sobre o acompanhamento de políticas (escolas de fé e política ou comitês da Ficha Limpa).
Escuta dos participantes em relação à continuidade.
11h30 – Avaliação e Envio