29 março, 2021

A Árvore da Vida: o apelo desesperado da espécie humana pela graça, pela delicadeza, pela cortesia

Em artigo publicado no sítio do IHU em 2011, Rodríguez analisa o filme em três níveis narrativos: o primeiro conta a história da família O'Brien, que vive no Texas nos anos 1950; o segundo se expressa através das imagens e da música "que dão à história um alcance cósmico e universal"; e o terceiro nível "tem a forma de uma oração que é pronunciada fundamentalmente perante Deus pelos três personagens principais – mãe [Jessica Chastain], pai [Brad Pitt] e filho mais velho [Sean Penn]. Nessas orações harmonizadas com as imagens e a trilha sonora, oferece-se o fundo teológico que manifesta a presença e a busca de Deus, o encontro e a ausência do Mistério, a graça e a natureza, a dor e o pecado, a conversão e, por fim, o louvor", pontua.


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Sensação de impotência

Texto do Padre Manuel Joaquim, Arquidiocese de Londrina.

Sensação de impotência

É o que sentimos quando mostramos números, testemunhos, gritos, clamores, evidências científicas e constamos que nada disso convence. As festas continuam. As aglomerações no posto de gasolina, idem. Os tratamentos precoces (kit covid) são defendidos com “paixão política”, como se se torcesse por um candidato!

Médicos, advogados, engenheiros, padres, pastores e outros, falam com “autoridade” sobre a ineficácia do isolamento social, do lockdown e até das vacinas. Todos sabem de tudo e repassam avidamente os seus conhecimentos pelo WhatsApp. Assim, velozmente alcançam matilhas de fãs, dispostos a tudo para defender essas “verdades”! O vírus passa então pela sua maior mutação: ganha caraterísticas político partidárias agressivas, entra na corrente sanguinária dos exaltados e em poucos minutos, destrói amizades, famílias e comunidades. Não existe (ainda) vacina para esta peste!

O caixão chega da funerária e se dirige em poucos minutos para o cemitério. Sem velório. Sem o tempo de reconstrução psicológica necessário. Família chora o seu ente e o dos vizinhos que foi enterrado ontem. Lágrimas são poupadas para o cortejo de amanhã. Não tem ninguém na cidade que não tenha chorado ou vá chorar! Porém, a cidade quer “trabalhar”, quer salvar a economia. É preciso sair de casa, enfrentar a vida; diga-se, a morte! Os cortejos fúnebres se misturam com as procissões de infectados e desmascarados! O vírus gosta disso. A humanidade, mais inteligente e mais informada que o inimigo invisível, sucumbe pela burrice e pelos equívocos! Criaram falsos dilemas: “ou vida ou economia”! Assim, acreditam piamente que alguns (milhares, milhões!), precisam ser enterrados para que os outros continuem do lado de cá! Os homens e as mulheres estão vendados, porém, nem sempre mascarados!

Rouco e saturado, tento gritar o óbvio: Não temos vacinas suficientes! Fiquem em casa! Evitem aglomerações! Pensem nos que amam! Sinto-me impotente.

Enquanto o incêndio devora tudo que ajudamos a criar, tento convencer os aldeões, de que é de água que necessitamos e não de gasolina! Espavoridos, feito loucos, andam em círculo, se perguntando e acusando quem teria feito isso! Em vão, gesticulo com o balde. As chamas devoram tudo que amamos. São altas e sem nenhum sinal de diminuição. Mas o combustível sobre elas, as torna mais famintas e devoradoras! Parece um pesadelo. Não será? Queria acordar. Mas sei que não é sonho. Meus pés pisam o chão escaldante e a fumaça me sufoca. E vejo agora alguns tomando bebida e rindo, em vez de apagarem o incêndio. Outros já se foram. Talvez Deus mande chuva. A chuva – dom de Deus – sempre nos ajudou! Até nas queimadas do pantanal! Criminosas em sua maioria! E assim, olho para as parcas nuvens e imploro. Se não nos importamos em apagar, manda Senhor! Faz um milagre. O milagre sempre reflete a impotência do homem e a providência de Deus! E eu estou impotente!

Sou acusado de pessimista. Não! Não é tão assim como a imprensa pinta! A imprensa é do contra! É grave, mas sempre morreu muita gente! Estão baralhando os números para criar pânico, dizem! Tento argumentar! Mas a argumentação está em desuso! A lógica, nas suas deduções e induções, é coisa do passado. Vejo a sordidez do momento, ao constatar que entre a morte de um cidadão e a ideologia, a segunda é vencedora, de longe! A fronteira última não está mais no apagar das luzes da vida e sim no fio que separa a lucidez da insanidade. Este fio foi rompido com a mesma banalidade, com que desprezamos o último suspiro de um entubado na UTI. Meus amigos me olham de soslaio e alguns me baniram do convívio. Não sou persona grata no mundo que eles inventaram. Sei que não estou só. Sei que talvez sejamos maioria. Mas, na batalha infernal que travamos, alguns, são sinónimo de derrota total. 310 mil CPFs o confirmam!

Sentado no meio fio da existência, refletindo sobre a tragédia dupla e tripla que nos atingiu, não posso deixar de observar um raio de luz, que penetrou as nuvens de tempestade que cobrem o céu. É um raio ténue e fugaz, mas o sol banhou o meu rosto. O meu país é riquíssimo de recursos humanos. Institutos científicos e Universidades, estão mostrando que podemos vencer também este adversário. Sei que poderíamos ter andado bem mais rápido. Porém, vamos nos imunizar e assim estancar esta mortandade. Contudo, percebo que até neste meu grito de otimismo, encontro oposição. Ela vem dos fatos que me mostram, o que dizia o meu avô: “Não é o mal que vence. É o bem que perde”! Por isso me resta torcer, para que não atrapalhem a vitória do povo brasileiro contra a Covid 19!

Pe Manuel Joaquim R. dos Santos
Arquidiocese Londrina