06 fevereiro, 2015

Carta da Ampliada Nacional das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)

Representantes dos 18 regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) participaram, entre os dias 21 e 25 de janeiro, da Ampliada Nacional das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), em Londrina (PR). 

Abaixo segue a carta final assinada pelos participantes:


Londrina, 25 de janeiro de 2015
“Comunidade é força se lutarmos todos juntos,
Contra esse tal sistema que aflige todo mundo”
(cantoTrem das CEBs)

Nestas terras vermelhas do Paraná, na cidade de Londrina, fomos acolhidos e acolhidas com muito calor e amizade para o encontro da Ampliada Nacional das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Contamos com a presença de representantes dos 18 regionais da CNBB, assessores e assessoras e dos bispos Dom Giovane Pereira de Melo, Bispo de Tocantinópolis e Referencial das CEBs, Dom Manoel João Francisco, Bispo de Cornélio Procópio e representante do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs) e Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Londrina.
Embalados pela mística libertadora, fomos convidados a fortalecer a unidade na diversidade de dons e serviços. Buscamos nos situar e fincar o pé na realidade local. Diante da complexidade do mundo urbano as Comunidades Eclesiais de Base, tem a missão de aprofundar a reflexão sobre as contradições da modernidade e apresentar caminhos de superação. Assim, o Deus da Vida nos convida a sermos fermento na massa, sinal de esperança e alimentar a espiritualidade de que um “outro mundo é possível”.
No segundo dia contamos coma presença de Dom Orlando Brandes, que presidiu a Celebração Eucarística. A partir das grandes regiões, debatemos sobre o papel da Ampliada Nacional que consiste em, fundamentalmente, dinamizar a caminhada das CEBs no Brasil. Com relação aos Intereclesiais, eles são momentos privilegiados de celebração e de troca de experiências. Para o 14º Intereclesial, definimos como tema “CEBs e os desafios no mundo urbano”, tendo como lema “Eu vi e ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3,7). Para ampliar o debate contaremos com um texto-base, a ser elaborado. Foi-nos oportunizado conhecer os possíveis locais para a realização do 14º Intereclesial.
Destacamos o lançamento do livro “CEBs: Raízes e frutos ontem e hoje”, escrito por muitas mãos e organizado por Benedito Ferraro e Nelito Dornelas. O livro é resultado de reflexões pós 13º Intereclesial e é fundamental que todos os animadores e animadoras se apropriem dessas reflexões.
Aprofundamos os eixos temáticos que conduzirão o próximo Intereclesial. Colhemos sugestões para a elaboração do cartaz do 14º, onde os artistas populares serão convidados a colaborar nesta tarefa.
No intuito de manter a memória das CEBs, retomamos o Projeto “Memória e Caminhada” que é uma parceria com a Universidade Católica de Brasília (UCB), para arquivar e possibilitar pesquisa sobre a caminhada das CEBs no Brasil.
O encontro possibilitou o esclarecimento de dúvidas referente ao Abaixo Assinado pela Reforma Política. Reafirmamos nosso compromisso e empenho na coleta de assinaturas.
Empenhamo-nos nas questões práticas e encaminhamentos para a próxima ampliada.
Encerramos, com a celebração da Eucaristia e fomos enviados em missão para os nossos Regionais. Animados pela fé em Deus libertador, e contando com a presença protetora de Nossa Senhora do Rocio, Padroeira do Paraná, acreditamos na vitória das flores e no bom perfume da primavera que espalhamos neste País!
Participantes da reunião da Ampliada Nacional das Comunidades Eclesiais de Base

Romero: um mártir da fé ou da justiça?

Martirizado "em ódio à fé", ou porque "proclamava a justiça"? O dilema – referente a Dom Oscar Romero – não se extingue, mas, ao contrário, reinicia depois do anúncio, dado nessa terça-feira pela Santa Sé e reiterado nessa quarta no Vaticano, de que, ainda este ano, será beatificado o arcebispo de San Salvador, assassinado no dia 24 de março de 1980. Para entender a questão – eclesiológica e política ao mesmo tempo – é preciso brevemente enquadrar a história.
A reportagem é deLuigi Sandri, publicada no jornal Trentino, 05-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em 1977, Romero foi nomeado por Paulo VI arcebispo da capital do pequeno Estado centro-americano. Ele era um "moderado" que, antes, como bispo de uma pequena diocese, nunca tinha denunciado os abusos da junta militar que regia o país e da oligarquia que, de fato, a controlava.
Mas, um mês depois da sua entrada na capital, os esquadrões da morte (grupos paramilitares protegidos pelo regime) mataram o padre Rutilio Grande, um jesuíta amigo seu, defensor dos direitos dos "campesinos", os agricultores oprimidos.
Velando o corpo do sacerdote, Romero entendeu que devia se tornar "a voz dos sem voz" e, a partir daquele dia, com um crescendo irrefreável, denunciou as violências dos militares, as injustiças dos latifundiários, a onda tremenda dos desaparecidos (pessoas sequestradas e assassinadas), a morte de centenas de catequistas. Mas, também, a revolta armada ao regime, reunida na Frente Farabundo Martí.
A maioria dos bispos salvadorenhos eram críticos contra Romero, acusado de "fazer política", e alguns deles apoiaram a tese do governo, ou seja, que o arcebispo era um "comunista".
Recebido em audiência por João Paulo II, o prelado teve – ele mesmo diria isso, depois – um sentimento de "profunda solidão" e de grande frieza. Com efeito, para o papa polonês, era difícil entender que, na América Latina, não eram "comunistas", mas "cristãos" (tais eram os membros da junta salvadorenho e os chefes do Exército) que matavam padres.
Finalmente, no dia 23 de marco de 1980, falando na catedral, o arcebispo lançou um apelo aos homens do Exército: "A lei de Deus diz: não matar. Em nome de Deus e em nome deste povo sofrido, cujos lamentos sobem até o céu cada dia mais tumultuosos, eu lhe suplico, eu lhe rogo, eu lhes ordeno, em nome de Deus: cesse a repressão!".
No dia seguinte, um assassino contratado pelo regime atirou em Romero, justamente enquanto o prelado, durante a celebração da missa, elevava o cálice, oferecendo, inconsciente, o peito ao carnífice.
Foi muito dura, sob o Papa Wojtyla, a oposição de muitos bispos latino-americanos e de grande parte da Cúria Romana à hipótese de elevar Romero às honras dos altares. Com Francisco, o processo da beatificação se desbloqueou.
Mas, segundo o Vaticano, o arcebispo, agora definido como "mártir", foi morto "em ódio à fé", e não "por ter defendido a justiça". Uma coisa é certa: se ele não tivesse denunciado a injustiça social e a opressão dos empobrecidos, ainda estaria vivo. É verdade, ele amava a Deus. Mas foi assassinado porque amava o homem sofredor.
Fonte: IHU

''Um mundo com fome zero é possível.''. Entrevista com Graziano da Silva

"Objetivo Fome Zero." Na conclusão da campanha para os Objetivos do Milênio, aFAO vai usar a Expo Milão, dedicada ao tema da nutrição, como vitrine para fazer um balanço dos resultados obtidos e relançar a agenda do pós-2015, como explica o diretor Graziano da Silva: "Graças ao trabalho feito no primeiro Objetivo do Milênio, ou seja, de reduzir pela metade o percentual de pessoas com fome em comparação com 1990-1992, a incidência da fome sobre a população global diminuiu em cerca de 40%, passando de 18,7% para 11,3%. No mesmo período, mais de 200 milhões de pessoas saíram da fome. O nosso compromisso, agora, é eliminá-la totalmente."
A reportagem é de Elisabetta Soglio, publicada no jornal Corriere della Sera, 05-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Silva será um dos palestrantes do dia de trabalho que se realizará em Milão, no sábado, em preparação para o documento que será a herança da Expo.
Eis a entrevista.
Qual será a sua contribuição para a Carta de Milão?
FAO participará com as suas competências técnica e com o seu peso político dessa importante iniciativa do governo italiano. É muito importante que os temas cruciais das Nações Unidas e de cada país individual, como o direito à alimentação, o desperdício alimentar, os sistemas agrícolas sustentáveis e a justa atenção ao empoderamento feminino, se reflitam nas prioridades identificadas na Carta de Milão.
Por que é importante uma exposição dedicada a esse tema?
Expo abre as suas portas para um cenário global alarmante. As mudanças climáticas estão pondo à prova os nossos sistemas alimentares, e as estatísticas dizem que, para saciar os futuros nove bilhões de habitantes da Terra, a produção agrícola deverá aumentar em 60% até 2050. Mas, acima de tudo, este é um mundo em que, hoje, 805 milhões de pessoas passam fome, e 165 milhões são crianças. Mais de dois bilhões de pessoas sofrem de carência de micronutrientes, ou "fome oculta", ou seja, não ingerem vitaminas ou minerais em medida suficiente para levar uma vida saudável e ativa. Ao mesmo tempo, cresce rapidamente o problema da obesidade, com cerca de meio bilhão de pessoas obesas e um bilhão e meio de pessoas com sobrepeso. Muitos países em desenvolvimento, especialmente os com renda média, hoje, estão tendo que combater simultaneamente tanto a fome quanto a obesidade.
O que trouxeram os Objetivos do Milênio?
Até hoje, 63 países em desenvolvimento alcançaram e, em alguns casos, até superaram o objetivo de reduzir a fome pela metade. Eu, pessoalmente, tive o prazer de "premiar", por exemplo, o BrasilCamarõesGanaPeruTailândia,Vietnã, por terem alcançado esses resultados. Os governos da África e da América Latina assumiram um objetivo ainda mais ambicioso: a completa eliminação da fome até 2025, um esforço que a FAO vai apoiar plenamente. Graças ao trabalho feito no primeiro Objetivo do Milênio, ou seja, reduzir pela metade o percentual de pessoas com fome em comparação com 1990-1992, a incidência da fome sobre a população global diminuiu em cerca de 40%, passando de 18,7% para 11,3%. No mesmo período, mais de 200 milhões de pessoas saíram da fome.
A ONU, pela primeira vez, decidiu não ter um pavilhão próprio, mas de se concentrar em uma exposição "difusa": por quê?
Exato, a presença da ONU não estará ligada a um único estande. Será uma presença transversal que, partindo doPavilhão Zero, acompanhará os visitantes ao longo de um itinerário temático através de todas as áreas do evento. Para marcar o percurso, haverá 18 instalações multimídia identificadas por uma grande colher azul, onde os visitantes poderão descobrir o trabalho das diversas agências da ONU, a complexidade e a vastidão do seu campo de ação, graças a imagens, vídeos, mapas e infográficos.
Qual é o objetivo da sua presença na Expo?
Certamente, o de levar a voz de 805 milhões de pessoas que ainda hoje passam fome. O nosso slogan será:"Desafio Fome Zero: unidos por um mundo sustentável". É o desafio lançado em Nova Iorque pelo secretário-geral, que nos vê unidos por um mundo livre da fome, um problema que realmente pode ser resolvido no arco da nossa geração. Mas, se quisermos vencer a batalha contra a fome, devemos investir mais na agricultura sustentável e reconhecer o papel fundamental dos agricultores.
O que o indivíduo pode fazer?
Muitíssimo. Pensemos, por exemplo, no fato de que hoje um terço dos alimentos vendidos nas nossas cidades é jogado fora, e com isso toda a água, a energia e os elementos utilizados para produzi-lo. Um desperdício insignificante que tem consequências devastadoras sobre os recursos naturais. Desperdiçar alimentos, solo, energia, recursos é um luxo que não podemos mais nos permitir.
Vocês já decidiram se vão celebrar o Dia Mundial da Alimentação na Expo?
Este ano, o Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro, será particularmente importante para nós. A FAO vai celebrar os seus 70 anos de vida e de experiência, e vai fazer isso com uma série de eventos importantes que culminarão emMilão. E esperamos contar com a presença do secretário-geral, Ban Ki-moon.
Fonte: IHU