15 julho, 2021

Vejam esse relato. Foi hoje.

“Filha, para ser feliz não precisa muito, não precisa lugares bonitos. Você pode ser feliz tomando um café com uma pessoa, jogando um baralho, tomando uma cerveja que eu sei que você gasta. Existe muita ilusão em torno de felicidade que a televisão, a sociedade apresenta, principalmente para vocês mais jovens.”

Fui a uma cidade levar uma documentação que uma senhora havia solicitado para o escritório onde trabalho.

Uma senhora de 88 anos.

Ao chegar a casa, ela quem veio atender.

Um sorriso e um bom dia bem forte.

Ainda estava na rua, estava para colocar a mascara ela disse: garota bonita quem é você.

Identifiquei e ela mandou entrar.

Fomos conversando, uma casa toda arrumadinha e limpinha, um cafezinho gostoso.

Em nossa conversa a velhinha simpática e alegre contou-me um pouco de sua história, uma lição de vida.

Meu esposo faleceu ha quatro anos, tenho duas filhas e três filhos, duas netas e três netos e dois bisnetos e uma tataraneta. Todos meus filhos mora aqui nessa cidade.

Moro sozinha, meus filhos quase não vejo, o último que mais próximo veio me visitar foi no final de abril, dizem eles que a vida é muito corrida.

Ela perguntou, é solteira ou casada? Respondi solteira.

Ela disse:

Casar, ter filhos não significa que terá casa cheia e gente por perto, veja eu.

Continuando disse, tenho uma irmã que quando casou tinha dezoito anos e o seu esposo vinte anos. Eles tinham quatro meses de casados, sofreram um acidente e seu esposo morreu.

Eu quatro anos perdi meu esposo.

Eu disse a ela, é uma senhora alegre.

Ela respondeu sim sou.

Sou alegre, não tenho solidão, depressão nada disso.

Quando mais nova sempre sai nas festas, bailes e outros divertimentos que havia. Sempre fiz caminhada, hoje caminho na rua da minha casa. Até hoje gosto de uma cerveja.

Sou católica, a igreja fica uma seis quadras as missas da igreja vou com minha vizinha, mas aqui na comunidade que moro, uma vez por mês tem missa e sempre vem alguém e me convida, pede se quer que me busque más vou sozinha. Toda semana tem terço, tem grupo. A comunidade faz de vez em quando festinha na rua. Tudo que têm eles convida, pede se quer que venha me buscar.

Tudo que tem eu vou.

O padre vem sempre aqui em casa, conversamos tomamos um café. Tem umas pessoas aqui da comunidade que trabalham com o padre, direto estão aí na porta, pergunta se estou bem, preciso de algo, conversa um pouco, às vezes entra outras vezes fica só no portão.

Dois anos atrás, não fiquei muito bem de saúde, umas mulheres e homens também da pastoral vinha todo dia, até duas noites pousaram aqui em casa. Limparam minha casa e lavaram minha roupa.

Sempre gostei de jogar baralho e ainda gosto, tem um grupo aqui na rua que jogam toda semana, até o padre vem jogar, sempre vou jogar com eles.

Gostaria muito que meus filhos e meus netos estivessem sempre aqui, mas não é assim.

Mas tenho uma família que não deixa ser só, são as pessoas da igreja, os daqui da comunidade, meus amigos. Saiu aí na rua, converso com as vizinhas.

Eu acho conversamos quase uma hora, mas o que mais marcou foi quando ela disse mais ou menos assim:

“Filha, para ser feliz não precisa muito, não precisa lugares bonitos. Você pode ser feliz tomando um café com uma pessoa, jogando um baralho, tomando uma cerveja que eu sei que você gasta. Existe muita ilusão em torno de felicidade que a televisão, a sociedade apresenta, principalmente para vocês mais jovens.”

Sai para levar esse documento com “raiva” e voltei serena....