19 março, 2019

Dom Pedro Casaldáliga. Quase uma despedida e um testamento

Transcrição livre da mensagem de dom Pedro Casaldáliga ao final da celebração de 17 de julho de 2011, na Romaria dos Mártires da Caminhada, cidade de Ribeirão Cascalheira, MT, Prelazia de São Félix do Araguaia.

"Possivelmente seja essa, para mim, a última romaria pé no chão. A outra já seria contando estrelas no seio do Pai. De todo modo, seja a última seja a penúltima, eu quero dar uns conselhos. Velho caduco tem direito de dar conselhos...

E a memória dos mártires, o sangue dos mártires, mais do que um conselho, [é] compromisso que conjuntamente assumimos, ou reassumimos. São Paulo, depois de tantos dogmas que anuncia, tantas brigas teológicas, tantas intrigas por cultura, dá um conselho único: 'o que eu peço de vocês [é] que não esqueçam dos pobres; o que eu peço de vocês [é] que não esqueçam a opção pelos pobres, essencial ao Evangelho, à Igreja de Jesus'. A opção pelos pobres. E esses pobres se concretizam nos povos indígenas, no povo negro, na mulher marginalizada, nos sem-terra, nos prisioneiros..., nos muitos filhos e filhas de Deus proibidos de viver com dignidade e com liberdade.

Eu peço também para vocês que não esqueçam do sangue dos mártires. Tem gente, na própria Igreja, que acha que chega de falar de mártires. O dia que chegar de falar de mártires deveríamos apagar o Novo Testamento, fechar o rosto de Jesus.

Assumam a Romaria dos Mártires, multipliquem a Romaria dos Mártires, sempre, recordemos bem, assumindo as causas dos mártires. Pelas causas pelas quais morreram, nós vamos dedicar, vamos doar, e se for preciso morrer, a nossa própria vida também...

E ainda uma palavra: há muita amargura, há muita decepção, há muito cansaço... Isso é heresia! Isso é pecado! Nós somos o povo da esperança, o povo da Páscoa. O outro mundo possível somos nós! A outra Igreja possível somos nós! Devemos fazer questão de vivermos todos cutucando, agitando, comprometendo. Como se cada um de nós fosse uma célula-mãe espalhando vida, provocando vida.

A Igreja da libertação está viva ressuscitada porque é a Igreja de Jesus. A teologia da libertação, a espiritualidade da libertação, a liturgia da libertação, a vida eclesial da libertação não é nada de fora, é algo mui de dentro, do próprio mistério pascal, que é o mistério da vida de Jesus, que é o mistério das nossas vidas.

Para todos vocês, todas vocês, um abraço imenso, de muito carinho, de muita ternura, de um grito de esperança, esse cantar viva a esperança que seja uma razão... Podem nos tirar tudo, menos a via da esperança. Vamos repetir: 'Podem nos tirar tudo, menos a via da esperança!'.

Um grande abraço para vocês, para as suas comunidades, e a caminhada continua! Amém, Axé, Awere, Saúde, Aleluia!"

VIII Ciclo de Palestras Cérebro e Mente

Aberto á quem quiser participar
Valor da inscrição é de R$ 60,00 
Data: nas noites de 2, 3 e 4 de abril de 2019
Horário: Das 19h às 21h
Promovido pelo MUDI (Museu Dinâmico Interdisciplinar da UEM, parceria com a PEC e apoio da Prefeitura Municipal por meio da Secretaria de Cultura.   
Local: Teatro Calil Haddad em Maringá. 




Não fique tentando agradar quem não gosta de você



Não fique tentando agradar quem não gosta de você

Se pudéssemos nos olhar de fora, certamente nos sentiríamos envergonhados por alguns comportamentos nossos no dia a dia, sendo um deles a insistência que teimamos em nutrir em relação às pessoas erradas. Perdemos muito tempo esperando acontecer o que nunca ocorrerá e aguardando o retorno de quem nem se lembra de nossa existência.

Criar expectativas é bom, até certo ponto, uma vez que elas alimentam nossas esperanças, nossos sonhos de vida, impelindo-nos a continuar, a não desistir. Esperar o melhor do que vem e das pessoas enche-nos de energia positiva que nos protege nas reviravoltas dolorosamente bruscas que a vida dá. É preciso esperançar, positivar, otimizar, ter fé, porém, um tanto de razão deverá sempre estar permeando isso tudo.

Tudo o que exacerba os limites da razoabilidade acaba por ser infrutífero, em todos os setores da vida. Nesse sentido, um dos maiores favores que faremos a nós mesmos vem a ser a conscientização de que é inútil querer ser querido por todo mundo. Ninguém agrada de forma unânime, simplesmente porque cada pessoa possui as próprias expectativas, ou seja, muito daquilo que oferecemos não corresponde às expectativas de várias pessoas.

Liberte-se da necessidade de ser querido por todos, isso é utopia. Para tentar conseguir isso, você terá que vestir várias máscaras por dia, de acordo com o ambiente em que estiver. Será preciso uma encenação teatral constante, enquanto se afasta mais e mais da sua essência, das suas verdades, daquilo que alimenta o seu coração. Aprenda a lidar com suas imperfeições, com suas limitações, com sua humanidade. É assim que a gente se basta.

O que é falso não convence, o que é forçado não agrada, o que é mentira não se sustenta. Fingir e dissimular só fará com que você deixe de manter junto aqueles que gostam de quem você era de verdade e deixou de ser para agradar todo mundo. Mas, caso queira acabar sozinho e frustrado, continue tentando agradar quem não gosta de você. Nunca falha.

________________________________

Por Marcel Camargo – Graduado em Letras e Mestre em “História, Filosofia e Educação” pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.

Nota sobre proposta da Reforma da Previdência do Governo Bolsonaro



Nota sobre proposta da Reforma da Previdência do Governo Bolsonaro
19 de março de 2019

O Governo Bolsonaro encaminhou proposta de reforma da previdência ao Congresso Nacional no segundo mês de seu governo, como prometeu. Muitas análises e uma disputa para legitimar a proposta estão em curso. Alguns dos argumentos centrais apontados pelo governo e pelos analistas e economistas aliados aos interesses do mercado são de que o Brasil precisa fazer a reforma da previdência para (1) contribuir no ajuste fiscal e controle das contas públicas, sem o qual não se retoma o crescimento da economia no país, (2) fazer justiça social, corrigindo as distorções existentes no sistema previdenciário e (3) garantir a seguridade da previdência para as gerações futuras. Apresentamos alguns comentários ainda iniciais de posicionamento.

(1) O argumento do ajuste fiscal e da retomada do crescimento da economia, entre outras questões, destaca o chamado déficit orçamentário da previdência ou “rombo da previdência”. Para os economistas comprometidos com os senhores do mercado este é o grande atravancador do avanço da economia no país. A economista e professora da UFRJ, Denise Lobato Gentil, defende que este argumento não se sustenta, quando confrontado à Constituição Federal de 1988. Para ela “o governo faz um cálculo sem considerar o que prevê a Constituição Federal nos artigos 194 e 195. Nesses dois artigos verifica-se que os recursos que pertencem à seguridade social, que financiarão os gastos com saúde, assistência social e previdência, são provenientes de várias fontes de receita”. Segundo ela, “quem defende a seguridade social, no entanto, sabe que toda essa retórica é forjada para privatizar a oferta de serviços públicos”. Com isto “empurra-se a população para fazer planos de previdência em fundos privados de capitalização e desloca essas pessoas de um serviço que deveria ser público para o sistema financeiro. Trata-se de um processo de financeirização do orçamento público. Reduzir benefícios significa empurrar as pessoas para os planos privados de previdência” (a). Para a economista, em acordo com o que aponta a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip), “baseado nos preceitos constitucionais, não há déficit da previdência”. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) realizada pelo Senado Federal e concluída no final de 2017, em seu relatório final (b), aprovado por unanimidade, observou que “falar simplesmente de déficit da Previdência, a partir do comportamento das receitas e despesas atuais da seguridade social como um todo, é mitigar a realidade” (2017, p. 34). Por outro lado, é importante frisar que o crescimento da economia é resultado de vários fatores e atrelar a crise econômica ao sistema previdenciário é jogar com o interesse dos mercados sobre os direitos dos/as trabalhadores/as.

(2) O argumento de que a proposta de reforma apresentada pelo governo vai definitivamente promover a justiça social não passa de armadilha retórica ou mera ficção. Isso porque, nivelar os já historicamente prejudicados e alijados dos direitos constitucionais, do acesso aos serviços públicos básicos com aqueles que sempre gozaram de benefícios ou privilégios no sistema previdenciário não tem o menor senso de justiça social. Isto é, na contramão deste discurso, num rápido olhar sobre a proposta apresentada pelo governo, é possível detectar que ela é muito dura e injusta com os mais pobres, sobretudo em razão da diminuição dos ganhos, do aumento da idade e do tempo de contribuição e as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC), por exemplo. A previsão de que a população que tem direito ao BPC somente passará a receber o salário mínimo integral a partir dos 70 anos significa, para o economista e professor da Unicamp, Eduardo Fagnani, que “esta população terá uma sobrevida muito curta, uma vez que é difícil que cheguem aos 70 anos de idade” (c). A proposta previdenciária também atinge de forma negativa as mulheres, elevando e equiparando a idade e o tempo de contribuição com os homens, num universo adverso do mundo do trabalho, onde as mulheres além de exercerem a maternidade, na sua grande maioria cumprem com carga horária de trabalho dobrada e com ganhos inferiores aos dos homens. A classe trabalhadora que, em média vive de salário mínimo ou pouco mais, e que, em geral, ocupa os trabalhos mais onerosos à saúde, terá a idade mínima para garantia de aposentadoria aos 65 anos de idade para os homens e 62 para as mulheres, além da exigência de 40 anos de contribuição para a recepção do valor integral, gerando potencial altíssimo de ganho menor do que o salário mínimo ao se aposentar. Na contramão destas injustiças e sacrifício dos mais pobres e frágeis no sistema, o governo continua fazendo a opção em não discutir o gasto público no que se refere aos custos com pagamento de juros da dívida pública e com renúncias tributárias e fiscais dos mais ricos, além da inadimplência e das dívidas não cobradas, que transferem polpudos valores ou então deixam de arrecadar sobre lucros e dividendos, sustentando assim o avanço da concentração de renda e da desigualdade social no país.

(3) No que se refere ao terceiro argumento, defender a previdência para as gerações futuras não significa penalizar quem entrou recentemente ou está entrando agora no mercado de trabalho. Há análises que dizem que a proposta de reforma da previdência apresentada pelo governo vai incentivar a contratação de aposentados, uma vez que propõe desoneração com relação ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e multa rescisória. Logo, além de promover a perda de direitos para os/as trabalhadores/as mais velhos e/ou aposentados, estimula o mercado a não contratação de trabalhadores e profissionais mais jovens. Isto é defender as gerações futuras? Ainda, ao manter na ativa por mais tempo profissionais mais velhos, promove incentivo para que os mais jovens, especialmente os menos qualificados, se disponham a trabalhar com menos direitos, aderindo a já anunciada “carteira de trabalho verde e amarela”, que flexibilizará ainda mais os direitos trabalhistas (d). Por outro lado, fazer a reforma de previdência de costas para a realidade do mundo do trabalho e do trabalhador no Brasil, é um erro. No Brasil, mais ou menos 50% do trabalho se dá na informalidade, sem contribuição à previdência. Nesta perspectiva, segundo Eduardo Fagnani, “com essas regras propostas, que são duríssimas, mais uns 20% não irão conseguir contribuir e serão lançados à assistência ganhando 400 ou 500 reais.” Logo, ao invés de proteger as gerações futuras, o que teremos daqui a 20 ou 30 anos, no dizer de Fagnani, é “um país indigente” ou “um capitalismo sem consumidor”.

Enfim, centralmente o principal retrocesso na proposta do governo é que ela destrói um dos conceitos mais bem construídos e de amplo alcance na garantia de direitos sociais, formulado na Constituição Federal de 1988, a seguridade social. Na previsão atual, articula previdência, saúde e assistência social. A proposta de reforma do governo inaugura uma nova forma de previdência que não é de seguridade, mas de seguro social, numa perspectiva de capitalização e não de direitos. Esta proposta ataca profundamente os mais pobres pois se soma à reforma trabalhista já aprovada que flexibiliza e precariza de modo profundo as relações de trabalho. Ao promover esta mudança profunda, o País deixa de oferecer a garantia de realização dos direitos previstos no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (arts. 9º e 11, especialmente), promovendo um retrocesso imensurável e que viola este tratado internacional ratificado pelo Brasil (§ 1º do art. 2º e §§ 1º e 2º do art. 5º) e também o artigo 29 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), à qual o Brasil aderiu em 1992.

Fazer correções no sistema previdenciário é coisa que todos os países sérios fazem, mas não é justo fazer isto às custas da destruição do sistema de proteção social e que os maiores prejudicados sejam os/as cidadãos/ãs e trabalhadores/as que historicamente já pagam esta conta no país.

Brasília, 11 de março de 2019.

Assinam:

Articulação Estadual MNDH RS

Centro de Direitos Humanos de Cristalândia – Dom Heriberto Hermes

Centro de Direitos Humanos de Sapopemba – CDHS

Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos

Coletivo Jovem de Minas Gerais

Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo – CDHPF

Comissão Pastoral da Terra

Conselho Nacional do Laicato do Brasil – CNLB

FIAN Brasil

Fórum de Direitos Humanos e da Terra

Fórum Ecumênico ACT Brasil

Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte – GPEA-UFMT

Instituto Caracol – ICA

Instituto de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais – IDHESCA

Koinonia Presença Ecumênica e Serviço

Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB

Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH

Movimento REBELIÃO

Observatório da Educação Ambiental – OBSERVARE

Parceiros de Misereor no Brasil

Processo de Articulação e Diálogo Internacional – PAD

Rede Internacional de Pesquisadores em Educação Ambiental e Justiça Climática – REAJA

Rede Mato-grossense de Educação Ambiental – REMTEA

Sociedade Maranhense de Direitos

Quaresma e Campanha da Fraternidade: orientações aos fiéis da Arquidiocese de Maringá

"Reiteramos, portanto, que todo cristão católico que, de forma individual ou coletiva, organiza, promove ou se manifesta de forma contrária à Campanha da Fraternidade e aos seus objetivos, bem como à CNBB ou às ações e orientações do Papa Francisco, perturba a consciência e a unidade do povo católico e, portanto, não está em comunhão com a Arquidiocese de Maringá e não tem o nosso apoio e respaldo."

Leia na íntegra

Neste tempo quaresmal, em que a Igreja nos convida a vivenciarmos um processo de conversão através da oração, jejum e caridade para bem vivermos a Páscoa, somos igualmente convidados a refletirmos e promovermos ações concretas por meio da Campanha da Fraternidade.

A Campanha da Fraternidade (CF) é uma iniciativa da Igreja do Brasil iniciada em 1962, oficializada no âmbito nacional em 1964, e constitui-se como um tempo de reflexão e aprofundamento sobre uma temática específica a respeito do contexto socioeclesial brasileiro e tem como objetivo auxiliar os cristãos e cristãs a vivenciarem a sua fé com ações concretas, a partir do tema proposto para cada ano. Neste ano, a temática apresentada é Fraternidade e Políticas Públicas, com o lema “Serás liberto pelo direito e pela justiça” (Is 1,27), e tem o objetivo de estimular a participação em Políticas Públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de fraternidade. Uma das iniciativas sólidas da CF se refere à Coleta Nacional da Solidariedade, que ocorre no Domingo de Ramos e financia projetos locais e nacionais, em consenso com a temática desta Campanha.

Assim, reafirmamos a opção da Igreja de Maringá de caminhar em unidade com a CNBB e com Magistério Pontifício. Nestes mais de 50 anos de Campanha da Fraternidade os Bispos do Brasil sempre contaram com a aprovação e incentivo dos Papas. Nesse sentido, as reflexões e ações relacionadas à CF são amplamente incentivadas em nossa Arquidiocese como meio de nós cristãos vivenciarmos o nosso comprometimento com o discipulado a Jesus Cristo e a construção do Reino por Ele implantado. Assim, todos nós somos chamados, neste tempo quaresmal, a uma conversão integral ao projeto de Deus, que passa, obrigatoriamente, pela opção fundamental pelos pobres.

Reiteramos, portanto, que todo cristão católico que, de forma individual ou coletiva, organiza, promove ou se manifesta de forma contrária à Campanha da Fraternidade e aos seus objetivos, bem como à CNBB ou às ações e orientações do Papa Francisco, perturba a consciência e a unidade do povo católico e, portanto, não está em comunhão com a Arquidiocese de Maringá e não tem o nosso apoio e respaldo.

Deste modo, estas orientações tem a intenção de favorecer a vivência do tempo quaresmal em fraternidade e unidade com toda a Igreja.

Maringá, 19 de março de 2019

Conselho Arquidiocesano da Ação Evangelizadora da Arquidiocese de Maringá

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Metropolitano de Maringá          

Fonte: Site da Arquidiocese de Maringá