31 março, 2020

Um impeachment nunca é igual a outro

"A manutenção do governo Bolsonaro é, progressivamente, uma situação cada vez mais instável e difícil. Suas condutas, seus movimentos, suas declarações, seus enfrentamentos na conjuntura da pandemia, tanto nos aspectos sanitários quanto nos aspectos econômicos, aumentam a cisão entre as frações que compõem seu bloco de sustentação; e estão a erodir seu apoio em setores de empregados médios e nas classes trabalhadoras assalariadas e precarizadas", escreve Jorge Branco, sociólogo e professor, mestre e doutorando em Ciência Política.

Eis o artigo. 

O avanço da pandemia da Covid-19 no Brasil está acelerando as crises que já haviam se formado ou desenvolvido antes desse período.
crise econômica sobrevive e recrudesce desde a explosão da crise de financiamento em 2008. Em especial, a partir de 2013 tornou-se forte no país e assumiu contornos mais dramáticos em 2017 devido às opções austericidas de Michel Temer. Desde 2019 Bolsonaro aprofunda o cenário com medidas de concentração de renda adotadas sob o comando de Paulo Guedes.
crise política vem, de forma continuada, desde os questionamentos à legitimidade do governo Dilma Rousseff, já no dia seguinte às eleições de 2014. O quadro foi progressivamente se agravando com o esforço político feito pelo bloco neoliberal no processo de impeachment de Dilma e na sustentação do esquálido e moribundo, porém obediente, governo Temer.
O resultado destas crises foi um crescimento dos setores neofascistasneoconservadores e autoritários que ganharam apoio popular, exatamente pelo desalento que se abateu sobre os setores mais empobrecidos e sobre a pequena burguesia desesperada. Setores estes com os quais a burguesia neoliberal se viu obrigada a compor um bloco para garantir o poder, através da eleição em 2018, de um governo cindido desde seu início. Um Bloco no Poder onde se confrontam a necessidade de estabilização institucional, sentida pela burguesia internacionalizada e financeirizada, e a necessidade de rupturas progressivas e sucessivas com os elementos do estado social da lúmpen burguesia regional, ávida por extorquir os salários dos trabalhadores antes que o barco afunde.
Esta aliança, entre rentistas, bancos e multinacionais com essa burguesia comercial local, abriu espaço para todo o tipo de contrabandista, sonegador, alto burocrata fundamentalista, militar ressentido e miliciano, transformarem em política e virtude sua forma de exploração e segregação dos trabalhadores, em especial dos trabalhadores precários das vilas e favelas mais empobrecidas e desassistidas de nossas cidades.
A crise sanitária da pandemia atualizou essas cisões e crises no interior do Bloco no Poder. Grandes intelectuais orgânicos da burguesia financeira demonstram rejeição ao Governo Bolsonaro. Economistas, como André Lara Resende e Armínio Fraga, governadores e prefeitos conservadores, como João DóriaWilson Witzel e BrunoCovas, empresas de comunicação e suas vozes, como a Rede Globo e Luciano Hulk, têm se distanciado e rejeitado as medidas do governo Bolsonaro. Não se trata somente da genocida política sanitária de Bolsonaro, mas também de sua política econômica, que apressa o Brasil em direção à anomia e à hipótese dos golpes autoritários.
A manutenção do governo Bolsonaro é, progressivamente, uma situação cada vez mais instável e difícil. Suas condutas, seus movimentos, suas declarações, seus enfrentamentos na conjuntura da pandemia, tanto nos aspectos sanitários quanto nos aspectos econômicos, aumentam a cisão entre as frações que compõem seu bloco de sustentação; e estão a erodir seu apoio em setores de empregados médios e nas classes trabalhadoras assalariadas e precarizadas.
A pesquisa publicada neste mês de março, pelo Valor Econômico [1], indica que 50% dos entrevistados desaprovam a ação de Bolsonaro para enfrentar a “crise do Coronavírus” e que 64% não confiam que o Presidente Bolsonaro tenha capacidade de enfrentá-la em um contexto onde 84% concordam com as medidas de proibir aulas, aglomerações e recomendar o toque de recolher às pessoas, ou seja com as medidas de isolamento social. As manifestações dos bolsonaristas ricos contra as medidas de proteção à vida, como as ‘carreatas da morte”, foram recebidas com críticas e reações tanto populares quanto institucionais. Foi assim em Porto Alegre onde a carreata foi vaiada e recebida com panelaço, em Salvador não teve condições de percorrer as ruas por falta de apoiadores ou em Belém onde foi impedida pela polícia com base nos decretos de ordem pública.
Crescem as movimentações políticas, inclusive entre militares, pela hipótese do afastamento de Bolsonaro, seja pelo impeachment ou por renúncia - caminho que pode permitir maior controle da sucessão aos setores conservadores do governo.
impeachment fatalmente mobilizaria a oposição e, talvez, acabasse por extrapolar para mobilizações sociais, o que poderia dificultar o controle do processo. Contudo, processos de impeachment e renúncia nunca são iguais uns aos outros.
Jânio Quadros renunciou em agosto de 1961, após um breve governo sem base parlamentar, sem apoio dos militares, distanciado dos EUA e que não expressava uma afirmação ideológica com capacidade de mobilização contra a ordem, seja à esquerda ou à direita. O governo de Jânio Quadros implementou cortes nos gastos públicos para conter a inflação, medidas estas de cunho liberal. O resultado foram perdas salariais fortes, que geraram críticas entre os trabalhadores. Por outro lado, tentou controlar a remessa de lucros ao exterior, contrariando setores conservadores que o haviam apoiado. Sua renúncia abriu caminho para a unificação da frente empresarial e militar que levou ao golpe militar de 1964, com apoio dos EUA.
Em 1992, Fernando Collor de Melo sofreu o impeachment, já isolado após o confisco da poupança, num acelerado processo de desregulamentação da economia que, se o aproximou do capital volátil internacional, o distanciou da ainda autárquica indústria brasileira, que desde este período entrou em declínio contínuo, tanto econômico quanto político. Este processo marcou o mergulho da burguesia brasileira no neoliberalismo e sua financeirização, consolidando a hegemonia política dos setores rentistas, após longas décadas de expansão sob a direção desenvolvimentista, Sua base de apoio se desmanchou “no ar”, vindo a se reorganizar depois, sob a política do “Plano Real” de Itamar Franco e Fernando Henrique.
impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, foi a expressão do rompimento de um Bloco no Poder construído no contrafluxo da tendência mundial de radicalização neoliberal. Um bloco que, sob hegemonia de um setor autárquico da burguesia, envolveu setores das classes trabalhadoras e apostou em um projeto de aquecimento do mercado interno, com base em requisitos parcialmente desenvolvimentistas. O impeachment da Dilma foi, em última análise, o afastamento dos setores da classe trabalhadora do bloco no poder, com o sentido estratégico de desobstruir o caminho para a retomada de um programa de austeridade e garantia da remuneração de capital, para o que seria necessária a diminuição dos sistemas de proteção social. Além da operação de desestabilização do setor rentista da economia e da nova direita, também a erosão do apoio popular em função das medidas recessivas tomadas, em especial no ano de 2015, criou as condições para a deposição.
De um modo geral e não detalhado, o que há em comum entre os dois primeiros episódios críticos no governo Bolsonaro, a renúncia de Jânio e o impeachment de Collor, é a incapacidade de resistência desses governos à própria queda. Já o que caracterizou o processo de queda da Dilma foi a retirada de setores da classe trabalhadora do Bloco no Poder, ainda que ocupassem um papel não dirigente.
As hipóteses de destronamento de Bolsonaro não navegam pelas mesmas águas de nenhum destes processos políticos. Em comparação ao processo de Dilma, a deposição de Bolsonaro não tem o objetivo de excluir os trabalhadores do Bloco no Poder que sustenta Bolsonaro, já que estes nunca incorporaram o campo político do governo. Em relação aos processos de Jânio e Collor a diferença está na capacidade de reunir recursos para resistir. Bolsonaro ainda reúne alguns relevantes.
A política de sustentação de Bolsonaro está baseada na emergência de uma direita de caráter neoconservadora e neofascista, mobilizada, ideologizada e politizada. Reúne um bloco de ressentidos ideológicos que pensam ter perdidos direitos naturais baseados na supremacia racial, no patriarcado e nos valores culturais religiosos fundamentalistas. As transformações de hierarquia social em curso no Brasil, em especial no período dos governos de política Lulista, de 2003 a 2014, com a diminuição da pobreza somada a uma acelerada corrosão da economia brasileira, de 2015 aos dias de hoje, criaram as bases para um ‘contra-ataque’ reacionário, com um programa de restauração da tradição, da família e do direito dos ricos. A aliança destes setores da direita reacionária com a elite empresarial rentista foi o que deu condições para a ascensão deste bloco ao governo.
Ainda que os setores rentistas internacionalizados da economia percebam a dimensão da crise a que Bolsonaro está levando a economia e a política, e comecem lentamente a se distanciar dele, refletindo nas críticas das empresas de comunicação, no distanciamento dos governadores, na perda de base no Congresso e em revezes no Supremo Tribunal Federal e no sistema de justiça, Bolsonaro ainda possui condição de resistência, mesmo que tenha perdido grande parcela de sua capacidade de direção política, criando um vai-e-vem de decisões, desencontros e derrotas capazes de ampliar a crise em um contexto crescente da pandemia.
O tema de sua deposição está em aberto, está na pauta e em crescimento. Porém, não resolvida exatamente pela capacidade de Bolsonaro mobilizar a nova direita reacionária. Um caminho pode ser seu afastamento por uma renúncia acordada, o que seria o auto reconhecimento de sua total inépcia, necessitando para isto uma deterioração política na unidade deste campo reacionário - que se mantém mobilizado em torno de causas ideológicas e de valores - até sua perda total de apoio, inclusive na extrema direita que vai para as ruas e atua nas redes sociais, catalisando opinião.
O outro caminho, a deposição pelo impeachment, pressuporia um crescimento da oposição no sentido amplo, mas a de caráter popular em especial, e uma disposição de enfrentamento político maior. Neste segundo caminho é de se supor que haja resistência de Bolsonaro e de sua base de extrema-direita. Neste contexto, não se pode, sob pena de subestimar a luta política e a disposição da nova direita brasileira, descartar a hipótese de viés autoritário, onde Bolsonaro e seu campo político, incluindo-se parcela dos militares e do judiciário, poderiam adotar medidas desdemocratizantes como a suspensão das eleições de 2020, para que estas não virem um plebiscito contra seu governo. A adoção do Estado de Defesa viria para concentrar poder e diminuir o dos governadores, prefeitos e Congresso, como estratégia de sobrevivência dos setores mais autoritários e de viés fascista e regional, dependentes da manutenção do governo para consolidar sua acumulação de capital e autoridade.
Inspiração e talvez autorização superior não faltam. Nesta semana (19/03), com a conveniente discrição dos meios de comunicação e das vozes reacionárias e extremistas do bolsonarismo, o instável e deslegitimado governo do Primeiro-Ministro de IsraelBenjamin Netanyahu [2], fechou o parlamento e os tribunais israelenses [3]. BenjaminNetanyahu concentrou poderes sob o manto da excepcionalidade da “guerra contra o Coronavírus”, em um claro passo adiante na ideia de um processo de desdemocratização e autoritarismo em fomentação no mundo. Trata-se de um aliado central da política de Donald Trump e do setor de defesa dos EUA. O quadro é semelhante na Hungria de Viktor Orban, na Bulgária de Boyko Borisov, nas Filipinas de Rodrigo Duterte, entre outros arroubos da nova direita no mundo.
queda de Bolsonaro está na ordem do dia, mas trata-se de uma luta entre forças poderosas, múltiplas e paradoxais, inclusive as forças da sustentação de Bolsonaro. O desfecho se dará quando houver uma nova coalizão política, que tenha força suficiente para deslocar uma fração de um campo para o outro.

Notas:

[1] Brasileiros temem crise devastadora, segundo pesquisa. Leia aqui.
[2] Sobre isto ver o oportuno artigo de Eric Kayser “Coronagolpe ou como a pandemia pode ser usada para criar ditaduras”. Leia aqui.
[3] Coronavírus: Netanyahu fecha Parlamento e israelenses protestam. Leia aqui.
Fonte: IHU

Nos bastidores, Planalto planeja permitir cortes nos salários

Nova MP pode liberar redução de até 70% e ainda prevê suspensão de contratos por dois meses. Leia também: ministro da Saúde proibido de comentar atitudes de Bolsonaro.

Lá vem mais uma

A justificativa é sempre a de preservar os empregos. Primeiro foi a medida provisória 927, que, entre outras coisas, autorizava a suspensão de salários dos trabalhadores celetistas por quatro meses e gerou tanto barulho que, no dia seguinte, veio a MP 928limando essa possibilidade de suspensão.
A informação é publicada por Outra Saúde, 31-03-2020.
Agora, há uma nova MP trabalhista em discussão no Planalto… E essa vai permitir cortes em faixas de 25%, 50% e 70% nos salários, segundo informações da Folha e d’O Globo. A manchete da Folha, aliás, engana: “Governo prevê ajuda a todo trabalhador formal com corte salarial, mas regras mudam com renda”. A “ajuda” se refere à contrapartida dada pelo governo, que garantiria aos trabalhadores uma parcela do seguro-desemprego na mesma proporção do corte.
O problema, de cara, é que o valor do seguro-desemprego não é igual ao do salário regular. Vamos a um exemplo. O trabalhador que ganha R$ 2,8 mil e tiver uma supressão de 70% passa a receber R$ 840 do empregador (30% de 2,8 mi) e mais R$ 1.270 do governo (70% do seguro-desemprego). Fica com R$ 2,1 mil. Em outras palavras, perde 700 reais por mês. Quem ganha mais, perde mais – um empregado com R$ 10 mil de salário que tivesse uma redução de 70% receberia no total R$ 4.260.
A proposta parece ainda pior do que uma outra, veiculada na semana passada, que permitia o corte de 65%. Não só pela possibilidade de maior redução, mas também porque antes a ideia era ter uma trava evitando que a ela atingisse todos os funcionários de uma empresa. No novo texto, não mais. “O recurso poderá ser adotado de microempresas a empresas de grande porte, em qualquer tipo de salário, sem tratamento diferenciado entre os setores da economia”, explica O Globo. Empregados domésticos celetistas também entram na jogada.
Mais uma vez, aparecem os “acordos individuais”. Para quem ganha até R$ 3,1 mil ou mais que R$ 12,2 mil, a decisão sobre a redução se daria em acordos entre patrões e empregados. Só entre esses dois valores, e só para reduções superiores a 25%, seria necessária intermediação de sindicatos.
E, não menos importante: a nova MP volta a prever suspensão de contratos, mas agora não por quatro meses, e sim por dois. Isso seria permitido para todas as micro e pequenas empresas, mesmo as que ainda estiverem funcionando. No caso das grandes, só as que forem obrigadas a fechar por determinação dos governos locais.
O “impacto” da proposta para os cofres públicos está estimado em R$ 51,2 bilhões. Para a massa dos trabalhadores, desconhecemos a cifra.

Rapidinhos

Assim que Bolsonaro começou a defender regras mais frouxas de isolamento, os Correios começaram a descontar parte do salário de funcionários que estão em casa. Segundo a empresa pública – cujo presidente, indicado por Bolsonaro, é o general de reserva Floriano Peixoto Vieira Neto –, o teletrabalho só está autorizado para empregados classificados em grupos de risco ou que morem com alguém desses grupos, como pessoas maiores de 60 anos, com diabetes ou asma.
Tem outra. O artigo da MP 927 que permitia suspender os contratos por quatro meses ficou em vigor por menos de 24 horas. Foi suficiente para que uma empresa (a Rotas de Viação do Triângulo) adotasse a medida e mandasse 700 dos seus 855 funcionários embora. O dono da companhia, Flavio Maldonado, diz que agora alguns consideram que ela está em uma “situação jurídica peculiar”, mas que a suspensão segue valendo.

Se é pela economia...

Saiu uma estimativa do Ipea de que o isolamento social vai levar o PIB brasileiro a uma queda de 0,4% a 1,8%, dependendo da duração.
Mas uma nova pesquisa, baseada na experiência dos Estados Unidos durante a gripe espanhola, mostra que medidas restritivas e duradouras de isolamento podem levar a uma recuperação econômica mais rápida depois que a pandemia acaba. Sergio CorreiaStephan Luck (do Fed, o Banco Central americano) e Emil Verner (do MIT) viram que, um século atrás, cidades que adotaram maiores restrições à movimentação registraram depois um aumento de 5% a mais no emprego industrial. Em relação à duração das medidas, cada 50 dias adicionais (em comparação à média) corresponderam a um crescimento extra de 6,5% no setor manufatureiro. Além de, é claro, o confinamento contribuir para reduzir a mortalidade.
Os autores notam que, embora o impacto econômico do isolamento seja grande, “a pandemia em si provoca consequências econômicas severas, decorrentes do aumento na mortalidade, dos afastamentos dos doentes do trabalho e dos custos elevados com a saúde, como as que eles próprios mensuraram”. O estudo ainda é preliminar. Se a solidez for confirmada, será mais um forte argumento contra o negacionismo de Bolsonaro – ou seria, caso o presidente fosse movido a argumentos, é claro.
Fonte: IHU

O Papa reza pelos sem-teto: sejam ajudados pela sociedade, a Igreja os a...

30 março, 2020

Prece


"Rezemos hoje pelas muitas pessoas que não conseguem reagir: permanecem amedrontadas com esta epidemia. Que o Senhor as ajude a reerguer-se, a reagir para o bem de toda a sociedade, de toda a comunidade." (Papa Francisco)

“Cada um de nós tem as próprias histórias”!


"Cada um de nós tem as próprias histórias. Cada um de nós os próprios pecados. E se não se recorda, pense um pouco:
os encontrará. Agradeça a Deus se os encontra, porque se não os encontra, você é um corrupto. Cada um de nós tem os próprios pecados. Olhemos para o Senhor que faz justiça, mas que é tão misericordioso. Não nos envergonhemos de estar na Igreja: envergonhemo-nos de ser pecadores. A Igreja é mãe de todos. Agradeçamos a Deus por não sermos corruptos, por ser pecadores. E cada um de nós, olhando como Jesus age nestes casos, confie na misericórdia de Deus. E reze, confiante na misericórdia de Deus, reze (pelo) perdão. ”Porque Deus me guia no caminho mais seguro, pela honra de seu nome. Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei. Estais comigo com bastão e com cajado, eles me dão a segurança!”” (Papa Francisco)

CNBB traduz e apresenta propostas ao documento das celebrações da Semana Santa


A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos ofereceu uma atualização das indicações e sugestões gerais dadas aos bispos sobre as celebrações da Semana Santa diante da pandemia da covid-19, causada pelo novo coronavírus. Novamente, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) traduziu o documento com as propostas de adequação à realidade brasileira. Também foram oferecidas sugestões para as coletas da Solidariedade e para os Lugares Santos.
Decreto sobre a Semana Santa 2020 reitera que a data da Páscoa não pode ser transferida e que, nos países afetados pela doença, onde estão previstas restrições às reuniões e movimentos de pessoas, “os bispos e padres celebram os ritos da Semana Santa sem a participação do povo e em local adequado, evitando concelebração e omissão da troca de paz”.
A orientação é que os fiéis sejam informados do horário de início das celebrações, para que possam participar da oração em seus lares. “Poderão fazer uso diretamente dos meios de comunicação social. Em qualquer situação, continua sendo importante dedicar um tempo adequado à oração, principalmente aprimorando a Liturgia das Horas”, lê-se no decreto.

Piedade Popular

Sobre as expressões da piedade popular e as procissões que ocorrem na Semana Santa e no Tríduo Pascal, a Congregação para o Culto Divino orienta que, no julgamento do bispo diocesano, podem ser transferidas para outros dias adequados, por exemplo, nos dias 14 e 15 de setembro, quando é celebrada a Festa da Exaltação da Santa Cruz.

Distanciamento social

Aqui no Brasil, de acordo com informe divulgado nesta quinta-feira pelo bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, mesmo com o decreto presidencial inserindo as atividades religiosas entre serviços e atividades essenciais, a Conferência manteve a indicação que sejam obedecidas as orientações das autoridades de saúde para se evitar aglomerações a aplicar o isolamento social:
A CNBB, considerando as orientações emanadas pelas autoridades competentes do Ministérios da Saúde, que indicam o distanciamento social, orienta os bispos que as igrejas podem permanecer abertas, porém, do modo como tem sido feito até agora, apenas para orações individuais, transmissões online, etc. Segundo o documento, “não há como entender que os instrumentos legais possam obrigar a reabertura das igrejas, muito menos para a prática de qualquer tipo de aglomeração”.

Subsídios

Ainda no segundo documento da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, há também o reforço que as Conferências Episcopais e as dioceses individuais “não deixem de oferecer subsídios para ajudar a oração familiar e pessoal”. A CNBB tem oferecido materiais para a celebração dominical da Palavra em família e também materiais para exercícios quaresmais.

Detalhamento das celebrações

Além da oferta desses subsídios, a CNBB deu indicações adicionais para as celebrações da Semana Santa, como por exemplo as coletas já tradicionais para a Solidariedade e para os Lugares Santos. Confira o trecho do decreto com detalhamento sobre as celebrações e as respectivas observações da CNBB:
 1 – Domingo de Ramos. O Memorial da Entrada do Senhor em Jerusalém é comemorado dentro do edifício sagrado; nas igrejas catedrais é adotada a segunda forma prevista pelo Missal Romano; nas igrejas paroquiais e em outros lugares, a terceira.
OBSERVAÇÃO DA CNBB
Sobre a Coleta da Solidariedade, gesto concreto da Campanha da Fraternidade, a Presidência da CNBB acolhe algumas sugestões e submete à avaliação dos bispos as datas de 16 e 17 de novembro, Dia Mundial dos Pobres, para esta coleta. Os bispos podem enviar suas manifestações para o endereçosecretariogeral@cnbb.org.br.
2 – Missa do Crisma. Ao avaliar o caso concreto nos vários países, as Conferências Episcopais poderão dar indicações sobre uma possível transferência para outra data.
OBSERVAÇÃO DA CNBB
Neste caso, a CNBB optou por deixar a cada bispo diocesano, administrador apostólico ou administrador diocesano o discernimento de quando celebrar “para bem atender à realidade local”. A Conferência pede, no entanto, que, dentro do possível, seja compartilhada a opção feita, “de modo que possamos ter uma visão geral do que está ocorrendo nas diversas dioceses do país”.
3 – Quinta-feira Santa. O lava-pés, já opcional, é omitido. No final da Missa na Ceia do Senhor, a procissão também é omitida e o Santíssimo Sacramento é mantido no tabernáculo. Neste dia, os padres recebem excepcionalmente a faculdade de celebrar a missa, sem a participação popular, em um local adequado.
4 – Sexta-feira Santa. Na oração universal, os bispos cuidarão de preparar uma intenção especial para aqueles que se encontrarem em situação de perda, de doentes e de falecidos (cf. Missale Romanum). O ato de adoração na cruz através do beijo é limitado apenas ao celebrante.
OBSERVAÇÃO DA CNBB
Para esta celebração, a Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da CNBB disponibilizou uma sugestão de texto para a Oração Universal, que pode ser baixada aqui
coleta para os Lugares Santos também deve ser transferida, de acordo com a decisão dos bispos. A proposta da CNBB é que ocorra nos dias 14 e 15 de setembro, quando é celebrada a Festa da Exaltação da Santa Cruz. Assim como em relação à Coleta da Solidariedade, os bispos podem enviar suas manifestações para o endereço secretariogeral@cnbb.org.br.
5 – Vigília da Páscoa. Deve ser comemorada exclusivamente em catedrais e igrejas paroquiais. Para a liturgia batismal, permanece mantida apenas a renovação das promessas batismais (cf. Missale Romanum).

Fonte: CNBB

29 março, 2020

Lições que o coronavírus nos ensina


A gente não virou uma grande família de uma hora para outra. A gente sempre foi. A questão é que agora o universo está nos forçando a perceber isso. É como se ele estivesse dizendo: “será que vocês vão ter que passar por isso pra aprender?”. O universo está nos forçando a compreender lições que já deveríamos ter compreendido faz tempo. Homo sapiens significa homem sábio. Precisamos honrar o nome da nossa espécie.

Ao invés de pensar: “por que isso está acontecendo conosco?”, podemos começar a pensar “o que isto está nos ensinando?”. Fiz esse exercício e aqui compartilho algumas reflexões que surgiram.

1.    Somos mais conectados do que imaginamos.
Estamos totalmente interconectados. Um único vírus, microscópico, gerou um caos na humanidade inteira. Os efeitos de algo que acontece do outro lado do mundo chegam até a nossa porta em um período muito curto de tempo. É quase que instantâneo. Precisamos observar os efeitos das nossas ações. Dependemos uns dos outros.  Só com o esforço de todos, poderemos vencer esta batalha. Isso é um grande ensinamento. Além de sermos conectados uns aos outros, todas as dimensões da sociedade estão conectadas de forma sistêmica. A educação afeta a saúde. A saúde afeta a economia. A economia afeta a política. E o ciclo não para.

2.    A necessidade de compartilhar apenas notícias seguras
Uma parcela grande do medo e angústia da população é fruto da falta de informação consciente. Precisamos buscar informações em fontes seguras para realmente tomar decisões mais conscientes e responsáveis, cultivando o bem-estar de todos. Em tempos de “Fake News”, surge a necessidade absoluta de compartilharmos o caos.

3.    A única coisa permanente é a impermanência.
Tudo pode mudar a qualquer momento. Podemos ser surpreendidos por fatores que jamais imaginaríamos. É importante estarmos preparados em todos os campos das nossas vidas: emocionalmente, fisicamente, financeiramente e espiritualmente. Não dá pra esperar a crise chegar pra começar a cuidar da nossa saúde ou das nossas finanças. Precisamos construir a mentalidade .

4.    Somos mais vulneráveis e frágeis do que podemos imaginar
Achamos que somos os donos do mundo. Que podemos fazer o que quisermos com a natureza. Que podemos fazer o que quisermos com os animais. Que somos superiores. E aí, o momento de crise vem nos mostrar que somos vulneráveis e frágeis. Que não estamos no controle de nada. Que não temos o direito de achar que somos mais importantes que o nosso entorno. É hora de migrar do “egossistema” para o ecossistema.

5.    Precisamos rever nosso sistema de educação
“Estude. Tire boas notas. Passe de ano. Faça vestibular. Consiga um emprego. Compre seu carro. Compre seu apartamento. Case. Tenha filhos. Mande eles tirarem boas notas na escola. Mate um leão por dia e seja feliz no final de semana. Se aposente. E acabou.” Nosso sistema incentiva a inteligência intelectual e despreza outras dimensões da inteligência. Inteligência emocional, inteligência corporal e inteligência espiritual: um tripé essencial para passarmos por momentos como esse. Mas ninguém nos estimulou a desenvolvê-lo. A inteligência emocional nos ensina sobre neutralizar emoções negativas e desenvolver empatia, por exemplo. A inteligência espiritual nos ensina a compreender a interconexão entre todos nós. A inteligência corporal nos ensina a cuidar do nosso corpo com amor e respeito. Precisamos reinventar a educação e inseri-los no sistema urgentemente. O foco em tirar boas notas e passar de não vai nos ajudar a construir uma geração capaz de superar desafios como o que estamos vivendo no futuro.

6.    A crise provoca mudança de hábitos
Pessoas começaram a meditar e se conectar com a espiritualidade. Outras, começaram a se preocupar com a sua saúde, que afeta diretamente sua imunidade. Alguns, começaram a apreciar a natureza. Outros, despertaram para a importância da criatividade. A crise transforma. Provoca metamorfose. A origem da palavra crise está ligada à “momento decisivo, que antecede uma mudança”. Nesse caso, o momento decisivo é: vamos aprender com tudo isso ou viveremos um colapso ainda maior lá na frente.

7.    Precisamos valorizar o que realmente importa
Reclamamos de tudo. Focamos no negativo. Brigamos por besteira. Não dizemos “eu te amo”. Vivemos correndo. Agoniados. Estressados. Angustiados. Não estamos acostumados a desacelerar. Talvez precisemos ouvir a terra e repensar nosso ritmo. De uma hora pra outra, precisamos deixar de abraçar as pessoas, pra evitar contágio. E os abraços que não demos? E os beijos que não demos? E os carinhos que não fizemos? Agora, sentimos falta. Estamos tendo que deixar de ser humanos para relembrar o quão humanos precisamos ser. E os profissionais de saúde? Muitas vezes, não valorizamos seu trabalho. Nesse momento, eles e elas se tornam heróis e heroínas de antes dos nossos olhos.

8.    Planejamento é um pilar essencial do crescimento
Tudo pode mudar a qualquer momento. Isso nunca esteve tão claro. E quem não estava preparado? Muita gente não estava cuidando da saúde e agora está. Muita gente não estava cuidando das emoções, e agora está. Muita gente não estava pensando em planejamento financeiro, e agora está. Para crescermos como pessoas e como sociedade, precisamos sair do modo “execução” e adicionar o elemento “planejamento”.
O grande desejo é que o corona vírus desperte o vírus da consciência e nos fortaleça. Definitivamente, não estamos passando por isso por acaso. Existe um sentido profundo por trás deste obstáculo. Sigamos juntos, acreditando, contribuindo, seguindo as orientações, fazendo a nossa parte e fazendo o que nascemos para fazer: sermos verdadeiramente humanos.

Fonte: Correio
correio24horas.com.br

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O CORREIO entende a preocupação diante da pandemia do novo coronavírus e que a necessidade de informação profissional nesse momento é vital para ajudar a população. Por isso, desde o dia 16 de março, decidimos abrir o conteúdo das reportagens relacionadas à pandemia também para não assinantes. O CORREIO está fazendo um serviço de excelência para te manter a par de todos os últimos acontecimentos com notícias bem apuradas da Bahia, Brasil e Mundo. Colabore para que isso continue sendo feito da melhor forma possível.

Coronavírus - O que fazer ao sair e ao retornar em casa


28 março, 2020

Nossas vidas são tecidas e apoiadas por pessoas comuns


"Nossas vidas são tecidas e apoiadas por pessoas comuns, geralmente esquecidas, que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas ou nas grandes passarelas, mas, sem dúvida, escrevem hoje os eventos decisivos da nossa história”. (Papa Francisco)

Coronavírus - Ofício enviado a Brasília (DF) pela Frente Nacional de Prefeitos ao governo federal em relação às ações adotadas e suas consequências



Ofício FNP nº. 197/2020
Brasília/DF, 27 de março de 2020.

A Sua Excelência o Senhor
JAIR MESSIAS BOLSONARO
Presidente da República

Assunto: Suspensão de medidas de contenção social

Excelentíssimo Senhor,
Com os cordiais cumprimentos, como é do conhecimento de Vossa Excelência os municípios brasileiros estão adotando medidas de restrição social para enfrentamento da pandemia do novo Coronavírus, fundamentadas em orientações do ministério da Saúde. Essas medidas estão sendo adotadas em mais de 150 países, seguindo orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Nos dias 13 e 14 de março, o ministério da Saúde definiu regras rigorosas para evitar o avanço do novo Coronavírus. Entre as quais, o incentivo à execução de reuniões virtuais e trabalho remoto. Para as instituições de ensino, indicou o planejamento da antecipação de férias e o uso de ferramentas de ensino à distância. Pediu também apoio fundamental dos municípios para atender essas recomendações.

Em reunião com prefeitos de capitais, no dia 22 de março, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, manteve a importância das medidas de isolamento social.

No dia 24 de março (terça-feira), Vossa Excelência realizou pronunciamento em rede nacional, reiterado posteriormente em diversas declarações públicas, criticando com veemência a atuação de governadores e prefeitos no enfrentamento da pandemia.

Após o pronunciamento de Vossa Excelência, no dia 24, o ministério da Saúde passou a afirmar que a quarentena foi “precipitada e feita de forma desorganizada”.

Diante das informações acima e, considerando a campanha oficial
#brasilnaopodeparar lançada nesta semana pelo Governo Federal nas redes sociais,
questionamos:

1. O Governo Federal orienta os entes subnacionais a suspender imediatamente as restrições de convívio social? Caso positivo, por meio de qual instrumento oficial?

2. Caso o convívio social seja suspenso, há previsão de diálogo federativo para a construção de uma estratégia para concretizar tal medida?

3. Quais as evidências científicas foram consideradas para motivar a mudança repentina no posicionamento do Governo Federal quanto às medidas de isolamento social?

4. Caso o Governo Federal suspenda a contenção social, o que poderá levar ao colapso do Sistema Único de Saúde (SUS), o Governo Federal assumirá todas as responsabilidades da Atenção Básica, Média e Alta complexidades, incluindo todos os atendimentos? Como estaremos na contramão do que indica e recomenda a OMS, o Governo Federal assumirá as responsabilidades de todo o atendimento à população?

5. Está entre as medidas do Governo Federal a federalização do SUS?

Ressaltamos que o momento exige serenidade e atendimento a determinação constitucional de harmonia federativa, com ações e serviços públicos de saúde integrando uma rede  regionalizada e hierarquizada. E, conforme preconiza o artigo 196 da Constituição Federal de 1988:
“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. ”

A depender da resposta do Governo Federal ao presente ofício, pois o posicionamento até o momento tem sido dúbio e gerado insegurança na população, não restará outra alternativa  os prefeitos se não recorrer à justiça brasileira com pedido de transferência ao Presidente da  república das responsabilidades cíveis e criminais pelas ações locais de saúde e suas  consequências.

Destacando que no Presidencialismo o presidente da República é respectivamente chefe de Governo e chefe de Estado, dirige o Poder Executivo e coordena a Federação, pedimos celeridade nessas respostas.

Ressaltamos, ainda, que este ofício será encaminhado com cópia para os presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal, ao procurador-geral Ministério Público Federal e ao ministro da Saúde.

Com cordiais saudações municipalistas,
JONAS DONIZETTE
Prefeito de Campinas/SP
Presidente da Frente Nacional de Prefeitos

Coronavírus: Frente Nacional de Prefeitos diz que fim da 'contenção social' pode levar a colapso do SUS


A Frente Nacional de Prefeitos (FNP) voltou a criticar, nesta sexta-feira (27), a postura do presidente Jair Bolsonaro em relação ao combate ao novo coronavírus e alertou que o fim da "contenção social" pode levar ao colapso no Sistema Único de Saúde (SUS).



Em ofício enviado a Brasília (DF), a entidade promete que governadores municipais vão à Justiça para transferir responsabilidades cíveis e criminais ao governo federal em relação às ações adotadas e suas consequências. Leia a matéria na íntegra aqui

Oração:


"Deus onipotente e misericordioso, olha a nossa dolorosa situação: conforta teus filhos e abre nossos corações à esperança, porque sentimos sua presença de Pai em nosso meio". Amém. (Papa Francisco)

Papa Francisco: Abraçar o Senhor para abraçar a esperança


Com o cenário inédito da Praça São Pedro vazia com o Papa Francisco diante da Basílica Vaticana, o Pontífice afirmou que é "diante do sofrimento que se mede o verdadeiro desenvolvimento dos povos”. Francisco falou ainda da ilusão de pensar "que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente".

Abraçar o Senhor para abraçar a esperança: esta é a mensagem do Papa Francisco aos fiéis de todo o mundo que, neste momento, se encontram em meio à tempestade causada pela pandemia do coronavírus.

Diante de uma Praça São Pedro completamente vazia, mas em sintonia com milhões de pessoas através dos meios de comunicação, o trecho escolhido para a oração dos féis foi a tempestade acalmada por Jesus, extraído do Evangelho de Marcos.

E foi esta passagem bíblica que inspirou a homilia do Santo Padre, que começa com o “entardecer…”.

“Há semanas, parece que a tarde caiu. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e de um vazio desolador… Nos vimos amedrontados e perdidos.”

Estamos todos no mesmo barco
Estes mesmos sentimentos, porém, acrescentou o Papa, nos fizeram entender que estamos todos no mesmo barco, “chamados a remar juntos”.

Neste mesmo barco, seja com os discípulos, seja conosco agora, está Jesus. Em meio à tempestade, Ele dorme – o único relato no Evangelho de Jesus que dorme – notou Francisco. Ao ser despertado, questiona: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» (4, 40).

Com a tempestade, afirmou o Papa, cai o nosso “ego” sempre preocupado com a própria imagem e vem à tona a abençoada pertença comum que não podemos ignorar: a pertença como irmãos.

“Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: «Acorda, Senhor!»”

O Senhor então nos dirige um apelo, um apelo à fé. Nos chama a viver este tempo de provação como um tempo de decisão: o tempo de escolher o que conta e o que passa, de separar aquilo que é necessário daquilo que não é. “O tempo de reajustar a rota da vida rumo ao Senhor e aos outros.” 

A heroicidade dos anônimos
Francisco cita o exemplo de pessoas que doaram a sua vida e estão escrevendo hoje os momentos decisivos da nossa história. Não são pessoas famosas, mas são “médicos, enfermeiros, funcionários de supermercados, pessoal da limpeza, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho”.

“É diante do sofrimento que se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nossos povos”, afirmou o Papa, que recordou que a oração e o serviço silencioso são as nossas “armas vencedoras”.

A tempestade nos mostra que não somos autossuficientes, que sozinhos afundamos. Por isso, devemos convidar Jesus a embarcar em nossas vidas. Com Ele a bordo, não naufragamos, porque esta é a força de Deus: transformar em bem tudo o que nos acontece, inclusive as coisas negativas. Com Deus, a vida jamais morre.

Temos uma esperança
Em meio à tempestade, o Senhor nos interpela e pede que nos despertemos. “Temos uma âncora: na sua cruz fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor.”

Abraçar a sua cruz, explicou o Papa, significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de onipotência e posse, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. “Abraçar o Senhor, para abraçar a esperança.” Aqui está a força da fé e que liberta do medo. Francisco então concluiu:

 “Deste lugar que atesta a fé rochosa de Pedro, gostaria nesta tarde de confiar a todos ao Senhor, pela intercessão de Nossa Senhora, saúde do seu povo, estrela do mar em tempestade. Desta colunata que abraça Roma e o mundo, desça sobre vocês, como um abraço consolador, a bênção de Deus. Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade.”

Ao final da homilia, o Pontífice adorou o Santíssimo e concedeu a bênção Urbi et Orbi, com anexa a Indulgência Plenária.

Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano
Fonte: Vatican News