10 junho, 2019

Vem Liberdade

Esse é um momento propício para falar de liberdade.



Filme da Disney-Pixar , Coco

Filme da Disney-Pixar , Coco.

Esse é o filme citado na matéria postada a baixo " A pele não sofre de Alzheimer, ela sempre se lembra de uma carícia ou uma cicatriz".
 
"Pessoas com Alzheimer ou outra demência precisam de uma reconexão com o mundo
O mais recente filme da Disney-Pixar , Coco, nos mostra de uma forma muito emocional como podemos nos reconectar com as pessoas com Alzheimer, como podemos acessar sua pele, seus sentimentos mais profundos. Ele nos mostra com “Don’t forget me”, uma música que, sem dúvida, dá um sabor terno ao afeto emocional que ela causa."  






A pele não sofre de Alzheimer, ela sempre se lembra de uma carícia ou uma cicatriz

Há um tipo de equívoco generalizado: pessoas com Alzheimer ou outros tipos de demência tendem a se desconectar do mundo externo presente para entrar em seu mundo interior distante e irreal. Isso não é verdade. No entanto, quando pensamos que a pessoa que sofre da doença de Alzheimer já não é a pessoa que deveria ser, eles acabam perdendo sua identidade em face da sociedade e seus sentimentos quase automaticamente perdem seu valor.


> Se nos colocarmos no lugar da pessoa com demência, perceberemos que é normal ter medo da insistência dos outros, não saber expressar o que precisa ou o que está sentindo, não entender o que os outros dizem nem reconhecr as pessoas que se aproximam, tampouco saber ou lembrar-se dos nomes das coisas.

> Nós raramente nos colocamos no lugar das pessoas com Alzheimer. No entanto, se o fizéssemos, perceberíamos que isso diariamente pode parecer aterrorizante e desconcertante. Nós entenderíamos ansiedade ou outras reações emocionais que parecem desproporcionais à nossa visão “saudável” do mundo.

> O método de validação, uma terapia centrada na pessoa

> Na última década, os modelos de atenção e comunicação centrados no indivíduo ressurgiram. Esses modelos terapêuticos e de relacionamento consideram muito importante que as pessoas ao redor do paciente de Alzheimer sejam estimulantes e abertas.

> Em outras palavras, devemos procurar ter empatia com a pessoa com demência, manter sua identidade e gerar uma atitude abrangente diante dessas ” alterações comportamentais ” que desconcertam e causam tanto mal-estar nos cuidadores e familiares.

Os autores que promovem esse modelo de atenção enfatizam a necessidade de preservar o princípio da dignidade de cada pessoa. Portanto, é necessário usar a empatia para estar em sintonia com a realidade interna das pessoas afetadas pela demência.

O objetivo é ser capaz de proporcionar segurança e força, fazendo com que a pessoa se sinta “validada” e expresse seus sentimentos. Pois somente quando uma pessoa pode se expressar novamente, sua dignidade é restaurada.

Por quê? Porque validar significa reconhecer os sentimentos da pessoa. Validar é dizer a ela que seus sentimentos estão certos. Ao negar sentimentos, negamos o indivíduo, cancelamos sua identidade e, como resultado, criamos uma enorme lacuna emocional.

Princípios básicos do método de validação
Os princípios básicos do método de validação são:
• Aceite a pessoa sem julgar (Carl Rogers)
• Trate a pessoa como um indivíduo único (Abraham Maslow)
• Os sentimentos expressos pela primeira vez e depois reconhecidos e validados por um interlocutor confiável perderão intensidade. Quando ignorados ou negados, os sentimentos se tornam mais fortes. ” Um gato ignorado se transforma em tigre” ( Carl Jung )
• Todos os seres humanos são preciosos, independentemente do estado de desorientação em que se encontram (Naomi Feil)
• Quando a memória recente falha, recupere o equilíbrio restaurando memórias antigas. Quando a visão falhar, vamos usar o olho do espírito para poder ver. Quando a audição vai embora, vamos ouvir os sons do passado (Wiler Penfield)

Pessoas com Alzheimer ou outra demência precisam de uma reconexão com o mundo
O mais recente filme da Disney-Pixar , Coco, nos mostra de uma forma muito emocional como podemos nos reconectar com as pessoas com Alzheimer, como podemos acessar sua pele, seus sentimentos mais profundos. Ele nos mostra com “Don’t forget me”, uma música que, sem dúvida, dá um sabor terno ao afeto emocional que ela causa.

O fato de a pessoa perder a capacidade de se expressar verbalmente não significa que ela não precise se expressar. É, portanto, essencial adaptar-se às necessidades das pessoas afetadas, conectar-se ao humor delas e se misturar umas com as outras.

Como Tomaino (2000) disse, “é sempre surpreendente ver uma pessoa que está completamente fora de contato com o presente por causa de uma doença como a de Alzheimer, voltar à vida quando ouvem uma música familiar . A resposta da pessoa pode variar de uma mudança de posição a um movimento saltitante: do som à resposta verbal.
Normalmente, há uma resposta, uma interação.

Muitas vezes, essas respostas aparentemente delirantes podem dizer muito sobre a preservação de uma pessoa e como as histórias pessoais ainda podem estar perfeitamente presentes na memória “

Fonte: Pensar Contemporâneo
Traduzido de Nos Pensées  

Triste realidade brasileira...


Seleção estreia no Mundial da França, 40 anos após mulheres serem proibidas de jogar futebol no Brasil

Neste domingo (9), a seleção feminina entra em campo para disputar a Copa do Mundo da França, evento que já conta com uma audiência recorde: cerca de 40 milhões de europeus assistiram o primeiro jogo quando as francesas bateram as sul-coreanas por 4 a 0. Mas nem sempre foi assim. Entre as ditaduras do Estado Novo (Getúlio Vargas) e a Militar, mulheres brasileiras foram presas por se aventurarem nos gramados, reservados apenas aos homens. No entanto, elas nunca pararam de jogar, mesmo clandestinamente.  



Assinado por Getúlio Vargas em 14 de abril de 1941, durante a ditadura do Estado Novo, o artigo 54 do decreto-lei 3.199, afirmava que ”às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”.

A proibição da presença feminina em campos de futebol durou quase 40 anos, e vigorou entre 1941 e 1979, marcando gerações de brasileiras que não puderam exercer seu talento nos gramados. O argumento sexista de que o futebol poderia ferir a “natureza feminina” serviu para criar um vácuo no esporte feminino, em prol da “dedicação ao lar” e “à família”.

Em declarações à imprensa brasileira, Aira Bonfim, historiadora e pesquisadora, responsável pela implementação do Centro de Referência do Futebol Brasileiro, no Museu do Futebol, em São Paulo, afirma que era “como se você, por quase 40 anos, construísse uma ideia, uma cultura e uma proibição moral”.

Em 1965, após o golpe de 1964 que instaura a Ditadura Militar no Brasil, o recente governo militar decide tornar expressa a proibição de mulheres jogarem futebol, e inclui na lei uma série de esportes considerados “inapropriados para mulheres”, como futebol, pólo aquático e rúgbi. Mas a proibição não se limitava apenas às esportistas.

A brasileira Lea Campos, 75, que marcou o futebol brasileiro e mundial ao se tornar a primeira mulher árbitra do Brasil e do mundo, relatou à Folha de S. Paulo nesta quinta-feira (6) ter sido presa mais de 15 vezes entre 1967 e 1971, por desobedecer ao decreto assinado por Vargas. Ela conta que, quando a polícia invadia o campo para prender as jogadoras, ela se oferecia como responsável, enquanto árbitra da partida.

Clandestinidade

A literatura especializada mostra que a saída das jogadoras, entre esses “anos de chumbo”, foi jogar bola nas periferias ou em locais clandestinos, onde “não pudessem ser vistas”. Literalmente, mulheres jogando bola, em 1940, se tornavam “caso de polícia”, como demonstram vários registros históricos da imprensa mineira da época.

Curiosamente, pouco antes do decreto de Vargas, criminalizando o futebol feminino, o ano de 1940 viu surgir em Belo Horizonte o primeiro time feminino de Minas Gerais, que ganhou repercussão nacional, uma agremiação chamada Mineiras F.C., que veio se juntar a times como Casino Realengo e S.C. Brasileiro, que frequentavam normalmente as páginas dos jornais esportivos brasileiros, antes da onda de repressão iniciada pelo decreto da Era Vargas.

Mesmo com o fim da proibição de mulheres jogarem futebol no Brasil, em 1979, a regulamentação da modalidade feminina só aconteceu em 1983, e graças à mobilização das próprias jogadoras. Especialistas avaliam que os cerca de 40 anos de proibição do esporte no Brasil deixaram um saldo extremamente negativo, com péssimas condições de trabalho e falta de patrocinadores. Além de tudo, um enorme vácuo em relação à criação de uma cultura brasileira do futebol feminino, no país das chuteiras. O futebol feminino foi sufocado e relegado à clandestinidade com argumentos banais e sem respaldo médico.

Elas estão de volta

Depois da primavera feminista e da era #metoo, as garotas brasileiras voltam aos gramados neste domingo (9), estreando no Mundial contra a Jamaica, na cidade de Grenoble, no leste da França. As jamaicanas disputam sua primeira Copa do Mundo. Já as brasileiras, estão em seu oitavo torneio.

O Brasil sofre com contusões e traz um histórico de nove derrotas nos últimos amistosos. A seleção sofrerá ainda em sua estreia com as ausências de duas jogadoras experientes: a zagueira Erika, lesionada no tornozelo e substituída por Daiane, e a atacante e estrela do time, Marta, que ainda se recupera de dores na coxa e deve ficar no banco, segundo o técnico Vadão.

Fonte: RFI

Lava Jato: entenda os desdobramentos após vazamento de conversas

'A semana começou com uma bomba que deve estar tirando o sono de muitos em Brasília e Curitiba. O site The Intercept Brasil revelou supostas conversas entre o ex-juiz da Operação LavaJato, Sergio Moro, com o procurador do Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol. Nelas, os integrantes das investigações contra a corrupção combinavam estratégias, trocavam informações dos bastidores dos processos e anunciavam decisões antes de serem julgadas.'  


O professor de Direito Constitucional Pedro Serrano explica todos os cenários e defende que processo de Lula deve ser anulado imediatamenteA semana começou com uma bomba que deve estar tirando o sono de muitos em Brasília e Curitiba. O site The Intercept Brasil revelou supostas conversas entre o ex-juiz da Operação Lava Jato, Sergio Moro, com o procurador do Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol. Nelas, os integrantes das investigações contra a corrupção combinavam estratégias, trocavam informações dos bastidores dos processos e anunciavam decisões antes de serem julgadas.

Se comprovada, a atitude de ambos pode ser considerada crime e os processos envolvidos podem ser anulados. É o que explica o professor de Direito Constitucional da PUC-SP, Pedro Serrano. “A primeira coisa que precisa ser feita é uma investigação de onde partiu essas mensagens e se não foram modificadas. Há mecanismos na justiça que conseguem comprovar isso”, defende Serrano.

Em um cenário em que as mensagens foram obtidas de forma lícita, através de algum membro que participava do grupo das conversas, Moro e Dallagnol podem responder por crime na justiça. O procurador do Ministério Público pode sofrer também um processo disciplinar e ser afastado do cargo. Já o atual ministro da Justiça terá grandes dificuldades em conseguir a vaga no STF, prometida pelo presidente Jair Bolsonaro. Entretanto, Serrano acredita que o cenário não é esse e que as conversas foram obtidas através de hackers.

Caso Lula

O Ministério Público Federal sustenta essa tese e diz que os celulares dos envolvidos foram hackeados. Se isso for comprovado, Serrano explica que as provas se tornam ilegais e não podem ser utilizadas em um processo criminal contra os envolvidos. Porém, podem ser usadas para anular processos que foram citados na conversa, como é o caso do ex-presidente Lula. “Se comprovado, acho necessário que o sistema de justiça anule o processo do Lula imediatamente. Não dá para amenizar o conteúdo que estava ali, é extremamente grave”, diz Serrano.

A defesa de Lula já anunciou que entrará com um pedido de anulação do processo por falta de imparcialidade do juiz – vale lembrar que o ex-presidente foi julgado por Moro e está preso há mais de um ano em Curitiba. Serrano explica que isso é possível, pois o artigo 254, inciso 4º, do Código de Processo Penal diz que quando o juiz orienta uma das partes, seja a defesa ou acusação, ele é obrigado a se declarar suspeito e o processo é anulado. “Ao orientar o Ministério Público, Moro se demonstrou totalmente parcial, portanto, isso é uma prova da parcialidade dele no processo que deve ser anulado”, pontuou Serrano.

O jurista explica que qualquer órgão de jurisdição pode fazer a anulação dos processos e com isso todas as provas são descartadas. Caso isso ocorra, Lula será solto imediatamente.

Se forem comprovadas as conversas, ainda de acordo com Pedro Serrano, a Operação Lava Jato não corre o risco de acabar, mas todos os processos envolvidos nas conversas podem ser anulados. “Há uma suspeita gravíssima de que o judiciário foi utilizado para fins políticos, isso é muito grave e deve ser imediatamente resolvido”, conclui Serrano.

Fonte: Carta Capital


O poder de cura do abraço e do contato físico

"Há momentos em que um simples abraço é tudo o que você precisa para recarregar e viver."


Você imagina o que causa contato físico em nossos corpos? um abraço, uma carícia, uma massagem ou simplesmente um aperto de mão, têm o poder de nos renovar.

Nos últimos tempos, devido à tecnologia digital, cada vez mais pessoas não têm contato físico. Beijos, abraços, apertos de mão são frequentemente substituídos pelas reações do Facebook ou de outras redes sociais. Muitos pensam que na esfera emocional uma “saudação digital” e uma saudação física são a mesma coisa, mas não é assim.

Por causa disso, muitos passam muitas horas, muitas vezes até mesmo alguns dias sem contato físico. Isso pode ter um impacto muito negativo na nossa saúde, muito mais do que podemos imaginar.

O contato físico simples causa respostas biológicas e emocionais por parte do nosso corpo que levam a benefícios significativos e importantes para a saúde. Apenas segure uma criança, acaricie um animal, abrace uma pessoa carinhosamente, massageie ou simplesmente cumprimente-a com um longo aperto de mão, para ativar uma profunda mudança benéfica no corpo, tanto emocional quanto física.

Quando somos acariciados, abraçados ou entramos em qualquer tipo de contato físico com outras pessoas, as terminações nervosas da pele enviam mensagens para o cérebro, da mesma forma que percebemos, por exemplo, calor e dor. Essas mensagens ativam uma resposta biológica e emocional em nosso corpo.

O fato de que um abraço, um beijo, um aperto de mão ou uma massagem pode nos melhorar emocionalmente é bem conhecido, mas dificilmente alguém imagina seus benefícios mesmo no plano físico.

Os benefícios do contato físico

– Combate depressão, ansiedade e estresse. Um contato físico agradável ativa a produção de serotonina (o hormônio do bom humor), a dopamina (o hormônio do prazer) e a ocitocina (o hormônio do amor), hormônios fundamentais para a saúde mental. Esses hormônios reduzem a ansiedade, combatem a depressão, aumentam a sensação de segurança, estimulam uma sensação de maior calma e paz, promovem uma sensação geral de bem-estar e reduzem a produção de cortisol, o principal hormônio relacionado ao estresse.
Não por acaso quando estamos tristes ou tensos, apenas um simples abraço para liberar toda a tensão em nós, para então ficarmos muito mais calmos, relaxados e regenerados psicologicamente.

– Estimula o desejo sexual. Em particular, a oxitocina (hormônio produzido devido ao contato físico) também é chamada de “hormônio do amor”, pois estimula o desejo sexual, a afetividade e a empatia.

– Fornece energia. Um simples abraço estimula a produção de hemoglobina, que transporta oxigênio para os tecidos, fornecendo energia ao organismo.

– Fortalece a auto-estima. Quando entramos em contato físico com uma pessoa que nos abraça, aperta nossas mãos ou nos beija, nossa auto-estima é fortalecida, nos aceitamos melhor e somos mais bem aceitos pelos outros.

– Melhora a pressão arterial e frequência cardíaca. Como descrito acima, um contato físico agradável e prolongado, como um longo abraço, ou uma “mão na mão”, reduz os efeitos físicos nocivos do estresse, graças aos “hormônios da felicidade” que o corpo libera. O estresse tem um impacto negativo na pressão arterial e na frequência cardíaca.

“Há momentos em que um simples abraço é tudo o que você precisa para recarregar e viver.”

Artigo escrito por Stephen Littleword / Salutecobio

Bolsonaro não é ultradireitista, soberanista, fascista. Ele é demente

Não há como definir a ideologia bolsonarista, somente cabe dizer que com o eleito em 2018 pela maioria a demência tornou-se forma de governo


Tenho a dolorosa certeza de que os analistas da monstruosa crise provocada pelo golpe de 2016, impulsionado desde 2014 pela Lava Jato e obrado pelos próprios poderes da República, e finalmente coroado pela eleição de Jair Bolsonaro, nada sabem a respeito do seu país. Para citar um exemplo recente, leio no Estadão de sábado 1º de junho que, em visita a Goiás, o capitão defendeu a “agenda conservadora”. Conservadora? Salvo raras exceções, jornalistas, colunistas, pensadores dos mais diversos matizes imaginam viver em outro lugar que não o Brasil.

Uma terminologia viável até hoje em países democráticos e civilizados não se adapta às nossas circunstâncias: conservadores e progressistas não medram por aqui. Esquerda e direita são termos inaceitáveis quando a casa-grande e a senzala continuam de pé. Não há como definir a ideologia bolsonarista, somente cabe dizer que com o eleito em 2018 pela maioria a demência tornou-se forma de governo. Bolsonaro não é ultradireitista, soberanista, fascista. Ele é demente. A irreparável enfermidade que o acomete, e aos filhos, e ao governo em peso, a sua incapacidade política, a sua ignorância abissal, a sua visão primitiva do mundo, o seu temperamento atrabiliário o impossibilitam definitivamente a cumprir a tarefa que os eleitores lhe entregaram e que os generais garantem. Temos razões de sobra para temer, entretanto que o Brasil o mereça, imerso cada vez mais em uma Idade Média dos tempos mais obscuros.

Cabem no cenário a jactância cômica dos privilegiados que já sonharam com Paris e hoje com Miami, o ódio social e de classe insopitável e de inaudita ferocidade, enquanto os desvalidos, a maioria sofredora e resignada, sem consciência da cidadania, não percebem o destino que lhe reservou uma distribuição de renda iníqua e a incompetência de uma pretensa esquerda. 

Permito-me apresentar um sucinto questionário dedicado a quem desconhece seu país. As perguntas, poucas para simplificar o serviço, começam da seguinte maneira: qual é o país democrático e civilizado onde… Aqui a questão se explicita e aguarda a resposta.

… as Forças Armadas, em vez de proteger as fronteiras como instrumento apolítico de defesa nacional e do próprio Estado, determinam o destino da nação, se preciso de armas em punho?

… o único líder popular é condenado e preso sem provas para impedir sua participação em um pleito presidencial que inevitavelmente venceria?

… os poderes da República unem-se para rasgar a Constituição e desferir o enésimo golpe de Estado em uma sequência implacável que caracteriza 130 anos de história?

… a mídia, praticamente em peso, funciona como porta-voz oficial da minoria privilegiada e dos seus interesses?

… mais de 60 mil homicídios são cometidos anualmente?

… o ciclópico desequilíbrio social consagra-o como um dos mais atrasados do mundo?

Se a conclusão não precipitar a constatação de que o Brasil não é democrático e civilizado, e nunca foi a não ser em raros dias de esperança, quando pareceu ter encontrado o rumo, localizaremos com precisão quem não é capaz de entender onde vive. É o resultado da ignorância nativa. Caso típico, e recentíssimo, o do terrorista Cesare Battisti, finalmente capturado na Bolívia pela polícia italiana depois de 30 tentativas frustradas da brasileira. A chamada esquerda verde-amarela o considerava um herói com o aval de professores universitários e ministros do STF, sem contar o ex-ministro da Justiça Tarso Genro: não se conforma ao insinuar que a confissão do assassino contumaz foi extraída à força, conforme antigos e celebrados hábitos verde-amarelos.

Desta ignorância, desta enevoada visão do mundo faz parte a ideia de que Bolsonaro é fascista. Antes de mais nada vale esclarecer que regimes totalitários são, para dizer pouco, execráveis de todos os pontos de vista. Mas cada qual, ao vingar, se adaptou às circunstâncias do país em que se deu. O salazarismo em Portugal, o falangismo na Espanha, o stalinismo na Rússia soviética, o nazismo na Alemanha. Espero que Salazar, Franco, Stalin, Mussolini queimem nas chamas do Inferno, mesmo assim não eram dementes. Quanto a Hitler, cabem justificadas dúvidas: o regime tinha sido muito eficaz na industrialização da Alemanha e de ferocidade sem paralelo na busca insana da raça pura. No confronto, os Autos de Fé empalidecem. 


O fascismo é um fenômeno tipicamente italiano, uma nódoa na história que medeia entre as duas Guerras Mundiais do século passado. Quanto ao seu líder, Benito Mussolini, filiado inicialmente ao Partido Socialista, jornalista que lidava com desembaraço com seu vernáculo, pretendia pelos caminhos fascistas transformar a Itália em potência mundial. O país perdera 600 mil soldados na Primeira Guerra Mundial, tinha uma economia basicamente agrícola e apresentava um desequilíbrio econômico e social profundo entre o Norte e o Sul. Munido de uma retórica grandiloquente, embora empolgante aos ouvidos provincianos, o fascismo foi fortemente nacionalista e decisivo na criação da indústria automobilística e naval.

Vivi a infância e a primeira adolescência durante a ditadura totalitária do fascio e, chegada a hora de ir para a escola, o meu pai, redator-chefe do principal jornal genovês, liberal à moda antiga e antifascista até a medula, me remeteu para o colégio das Marcelinas, tão avessas a Mussolini quanto ele, que, aliás, estava longe de ser católico praticante. Tenho a melhor lembrança daquelas suaves senhoras de touca levemente brejeira a não dispensar rendinhas, e do primário de classes mistas, alunos e alunas, muitos deles e delas judeus a motivar a minha inveja no momento da aula de Catecismo, quando eram enviados ao parque frondoso a cercar o colégio. Minha primeira paixão derretia-se aos pés da colega Simonetta Avigdor.

Vigorava a lei racial ditada por Hitler, amigos judeus dos meus pais, no entanto, levavam uma vida normal. Basta uma morte na consciência para condenar um ser humano e não busco desculpas ao observar que 8 mil judeus italianos chegaram aos campos de extermínio, enquanto foram 200 mil os franceses durante o governo do general Petain. A diferença explica-se à luz do temperamento e dos humores peninsulares. Derrubado, em julho de 1943, pelos integrantes do Grande Conselho do Fascismo, encabeçados por Dino Grandi e Galeazzo Ciano, na perspectiva da iminente derrota fruto da aliança com Hitler, o Duce foi preso em uma fortaleza dos Apeninos, da qual seria libertado por um comando nazista para fundar no norte a República de Saló, cujos janízaros prenderam meu pai em abril de 1944. Mussolini morreu fuzilado pelos partigiani ao fugir para a Suíça, juntamente com a amante, e acabou pendurado de cabeça para baixo na bomba de gasolina de uma praça periférica de Milão. Conto isso tudo para sublinhar que semelhança entre Mussolini e Bolsonaro não há alguma, mesmo porque a Itália não é o Brasil.

Aqui, entre os opositores de Bolsonaro, ainda há quem acredite na conciliação das elites, como se a porta da mansão pudesse se abrir para quem se preocupa com a sorte do povo. CartaCapital sabe o quanto a ideia é falaciosa, daí nosso apoio incondicional à greve geral convocada para o próximo dia 14. Esperamos que o recente exemplo argentino seja imitado e que saiba expor sua repulsa ao bolsonarismo, à sua patética veia totalitária, ao seu desvairado entreguismo, à sua incurável demência.

Fonte: Carta Capital

'Ai que saudades que eu sinto das noites de São João'