Que leigo eu quero
A está pergunta eu repondo sem titubear; eu quero um leigo que seja leigo! Não “leigo na matéria” como ouvimos por aí mas homens e mulheres ensopados em Cristo. Que não queiram ser padres nem freiras mas apenas leigos!!
Não quero alguém que fale em meu nome nem me represente por aí em eventos onde eu não poderia estar e onde não é para estar, como padre! Quero que ele vá por si mesmo. Que seja sujeito e não apenas objeto de atenção. Quer vê-los nas periferias existenciais enlameados, sujos, rasgados, feridos, mas se mostrando como seguidores dos mestres.
Quero um leigo que saiba ao que veio como igreja! Igreja que é ele mas que não é um fim em si mesmos para ele!
Não quero tropeçar com ele na sacristia nem o ver apenas na fila da comunhão e muito menos apenas na lista dos dizimistas. Quero vê-los na tv como protagonistas do bem e da justiça e dando um show de Evangelho na festa da vida! Onde ninguém fala em padre - graças a Deus - eu quero engravatados, mecânicos, diarista, professores, homens e mulheres reais mostrando o rosto de Jesus.
Que leigo eu quero?
Que me olhe de frente como irmão, me corrija e me motive a lutar. Um companheiro ou companheira de jornada que domine os instrumentos da vida eclesial , com uma fé madura e esclarecida.
Um leigo bem formado que tenha intimidade com a palavra e Deus e espírito de corpo se sabendo membro de uma família chamada igreja. Que perdoe e seja perdoado. Que critique e aceite críticas! Que ame e seja amado. Que entenda processos e seja paciente mas que provoque mudanças. Que prefira ceder para preservar a comunhão do que avançar sozinho.
A igreja e de leigos! Não numericamente - o que seria óbvio! Mas a igreja como missionária por natureza, aponta para o mundo e não para dentro! Isso nos diz Francisco com perspicácia...
Porque não quero leigos semi padres? Porque seriam uma aberracao! Algo tão híbrido que perderia o sentido!
Quem sempre foi olhado não entende a beleza do poder olhar! Como diria Anthony de Melo, são águias vivendo como frangos! Um parto difícil mas que retirará as amarras dos que nunca souberam o poder que o batismo lhe conferiu!
E da minha parte como padre?
Resistir a encrustada tentação de dar palestra cada vez que encontro um leigo! De tratá-lo com puerilidade, como incapaz ou reduzido a sua insignificância! Nasci no Vaticano II mas confesso que Trento me persegue ainda...
Com 27 anos de padre, ainda tenho a tentação de ser perito em política, economia, casamento, ou acender e apagar as velas do altar!
Ano do laicato! Momento de mea culpa!
Depois do século IV roubamos deles o protagonismo! Os tornamos figurantes de tragédias e comédias ou assessorios de lindas celebrações! Reduzimo-los a leigos na matéria. Hoje, faz-se mister chacoalha-los e trazê-los ao palco onde seu papel jamais será secundário!
Formação! Formação! Formação!
Se não souberem ao que vieram; se não tomarem consciência de si e do “eu cristão” que neles habita, sempre terão o sotaque incomodo de quem parece de fora! Leigos são de dentro! Se apresentarem sotaque, que seja a riqueza e a beleza da diversidade, numa igreja que não pretende ser monocromática!
Minha avó era cristã católica. Tão santa como eu jamais conseguirei ser! Mulher, mãe e analfabeta nas “coisas da Igreja”! Mas minha avó morreu sem saber porque era batizada! Sem saber dos seus direitos como tal! Minha avó sempre foi um apêndice do clericalismo que vigorava na sua época! Fazia ótimos jantares para o vigário, contribuía com o vinho e o azeite, aceitava as orientações sobre ter ou não ter filhos e como educa-los.
Padre manuel Longa