Adolescência!
No ônibus, nos shoppings, nas igrejas, nas famílias, o assunto é um só: adolescência! A série da Netflix que, no momento em que escrevo, já deve estar próximo das cem milhões de horas de exibição. Um recorde justificado. Tecnicamente está muitíssimo bem feita, capaz de “tirar o fôlego” do início ao fim. Muitos, como eu, devem tê-la assistido numa tarde de domingo! De uma tacada só! Aliás, esse é um motivo porque evito assistir séries! Nos empolgamos e quando olhamos o relógio, lá se foram quatro horas de Tv! Porém, o que mais atrai é o assunto abordado. Aparentemente existem poucas novidades relacionadas com o “mundo” que envolve os adolescentes. Eles são rebeldes, bagunçam na escola e não são de “muito papo”! Até aqui nenhuma novidade! Eu já fui assim e sobrevivi!
Contudo, a série desce ao sub mundo familiar e relacional que precisamos enfrentar com seriedade. A família está literalmente perdendo os seus filhos, surrupiados pela internet e seus aplicativos. Fechados num quarto, ignorados, ao ponto de ninguém saber a que horas o “guri” de treze anos chega em casa, os adolescentes no processo de construção da sua personalidade, são o alvo perfeito de bullyings e todo tipo de sedução e agressão, que chegam atrás das mídias sociais e dos vários aplicativos de relacionamento. Que eles sejam vulneráveis já o sabemos. Mas eles estão ficando sós. Abandonados.
Um amigo me chamou a atenção para o quarto episódio da série. De fato, nele é retratada uma família com os seus “perrengues”, não muito distante da normalidade; mas uma coisa chama a atenção nas palavras dele: “vida que segue Manuel! Vida que segue”! E foi isso que observei. Uma família que até então estava alheia à vida do filho ao ponto de ficar estarrecida com o crime, mas que agora, perante a sua confissão, toca a sua vida procurando incutir nela o máximo de banalidade.
A série expõe a mão do Estado que procura agir com certa civilidade perante um adolescente que pratica um crime horrendo; a Escola que, como muitas outras, apenas evidencia famílias desestruturadas e crianças revoltadas incapazes de aprender; mostra a sagacidade e a precocidade (alarmante) de uma (quase) criança argumentando com a psicóloga – e essa cena é de fato assustadora – e finalmente nos confronta com uma família, que eu temo ser paradigmática! Estado, Escola, Família! Três entes impotentes perante a epidemia que está matando nossos adolescentes!
Há vinte anos atrás escutei Bill Gates dizendo que controlava o computador e a internet de sua filha adolescente. No quarto, ela não tinha como se conectar! Gates não é um pai qualquer! É o fundador da Microsoft! Tenho dito ao longo dos anos que só conheço duas armas para enfrentar esse inimigo silencioso, geralmente noturno e que vem devorando nossas crianças e adolescentes: o diálogo aberto e constante entre pais e filhos e o controle necessário e urgente sobre horários e conteúdo da net. Os filhos não têm o direito adquirido de uso total e irrestrito de aplicativos e os pais não têm o direito de um laissez-faire fatal! Pesa sobre os adultos a responsabilidade de acompanhar, zelar e educar. As escolas cumprirão melhor o seu papel se em casa a tarefa for cumprida!
Finalmente, a série da Netflix escancara um vasto sub mundo cibernético, de deep web (e muitas vezes beirando o crime da dark web) raramente testemunhado pela maioria de nós. Precisamos urgentemente aplicar a vacina e criar imunidade em nossas crianças e adolescentes. Elas estão totalmente vulneráveis e o pior: sozinhas! Quando o máximo que um “amigo” faz é ajudar com a arma do crime, foi cruzado o rubicão de qualquer moralidade. E quando nossos filhos optam por esses amigos em detrimento dos pais é urgente parar tudo e rever a engrenagem familiar. Pais não são psicólogos profissionais e o se o forem, não usarão essas prerrogativas com os filhos. Porém, pais têm a obrigação de conhecer os filhos mais do que ninguém! A convivência familiar é a melhor terapia preventiva para esta epidemia!
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos
Arquidiocese Londrina