Introdução
O ambiente nos forma. Foi assim com Paulo! Ele é pessoa de cidade: nasce em Tarso, forma-se em Jerusalém, passa sua vida sob o domínio de Roma, Damasco é fundamental na sua vida. Antioquia é sua comunidade de referência e onde começa sua missão de apóstolo; toda sua vida missionária se desenvolve nas cidades greco-romanas. Sua missão o levará às cidades da Ásia Menor e Grécia. É nessa itinerância que se declarará cidadão romano (At 22,25-29). Declaração que lhe merecerá terminar seus dias em Roma, capital do Império (At 28,16.30-31).
A cidade forma Paulo
As cidades formaram Paulo, nelas nasceu e se tornou homem adulto. Em Tarso, com o leite materno, bebeu à fonte do judaísmo da diáspora, no qual a fidelidade à lei judaica se colorava de filosofia e poesia grega; em Jerusalém, bebe à fonte do judaísmo rabínico fiel ao Deus da vida na formatação da Lei. Damasco o põe em xeque: o Deus que vê e ouve o clamor de seu povo, que se encarnou na história em Jesus de Nazaré, o crucificado e ressuscitado, vive na comunidade e se identifica com os crucificados da história.
A comunidade cristã multicultural de Antioquia o acolhe e envia às cidades onde urge anunciar a boa-nova de Jesus, o Cristo. Cidadão romano, conhece por dentro a estrutura opressora e excludente do Império e das cidades greco-romanas. Conhece sua força de irradiação e nelas vê o povo marginalizado e escravizado, então ousa abrir trilhas que saem do traçado, fiel ao Deus que ouve o clamor do povo, enxertando-se em Jesus de Nazaré, o Cristo, e anunciando a boa-nova da liberdade, igualdade e solidariedade.
“Eu vi, ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3,7) é a memória fundadora da fé israelita. Palavras evocativas do olho-d’água que deságua num rio que percorre toda a experiência do povo de Israel, dos profetas, de Jesus, de Paulo, das primeiras comunidades e que papa Francisco retoma hoje, indicando-nos o chão onde afundar nossas raízes, a seiva da qual beber.
Esta memória fundadora nascida na experiência do êxodo, mantida viva pelos profetas, deságua em Jesus Cristo. Jesus, fiel a ela, anunciou a boa-nova do Reino no mundo judaico, na Palestina, numa cultura onde predominava o pensamento rural; essa memória realiza-se no tempo e na história por meio daqueles e daquelas que se põem no caminho do discipulado. Entre eles se destaca Paulo, que experimenta seu chamado em continuidade à vocação profética e a vive anunciando a boa-notícia de Jesus no mundo greco-romano, eminentemente mundo da cultura de cidade.
Como Paulo se enxertou na utopia de Jesus de Nazaré?
Jesus passou 30 anos de sua vida em Nazaré, vila próxima das cidades de Cafarnaum e Séforis, compartilhando a vida do povo. Na Galileia, percebeu que a estrutura de dominação do império romano e a estrutura religiosa do judaísmo formal oficial haviam desintegrado e quebrado as relações da “casa”, as antigas relações de solidariedade no meio do povo. A memória histórica do êxodo, dos profetas, dos anawim, dos pobres, de Javé, que desce e caminha na história do povo, levou-o a deslocar-se da vila de Nazaré e percorrer os caminhos da Galileia, da Samaria, da Judeia, para reconstruir as relações da “casa”.
Desde o ventre da mãe, Jesus coloca-se a caminho, entra nas casas, senta à mesa e transforma e reconstrói as relações: econômicas, políticas, sociais, de classe, de gênero, étnicas, religiosas. Reconstruir a casa é apressar a vinda do reino de Deus ao meio dos pobres, os excluídos da história. Os discípulos de Emaús são o ícone das primeiras comunidades: caminho, casa, mesa, missão; neles vislumbramos a semente das CEBs.
O Movimento de Jesus é a continuidade desta utopia: reconstruir as relações na casa. Os pequenos “quadros” nos Atos dos Apóstolos (At 2,42-47; 4,32-35; 5,12-16) nos falam desta utopia, dos primeiros passos, das experiências ousadas, com seus acertos e desacertos, daqueles conhecidos como “os do Caminho”. Somente em Antioquia, capital da província romana da Síria, uma Roma em miniatura, é que terão sua identidade reconhecida e serão chamados de “cristãos”. É nesta comunidade eclética e circular que Paulo é acolhido e escolhido para fazer parte da equipe missionária (At 13,1ss).
No caminho de Damasco, Paulo penetra no mistério que lhe é revelado: “Quem és?” “Eu sou Jesus, a quem persegues”. Jesus, o crucificado, está vivo e identifica-se com a comunidade que Paulo persegue (At 9,5ss). Este compreende que o movimento do Caminho é continuidade, concretização histórica da memória profética de Javé libertador, da utopia de Jesus de Nazaré: reconstruir a “casa”. E, em sua itinerância, vai viver isso, vai fazer sua esta utopia, abrindo picadas, ousando inculturar.
Enxertando no mundo greco-romano a boa-nova da “casa”, torna-se “ekklesia”. A sua Nazaré será a periferia das cidades, o mundo do trabalho manual; sua opção é identificar-se com os últimos, como Jesus de Nazaré. Deste lugar social, anunciará o evangelho, que é de Deus, a boa notícia de Jesus, o Cristo (1Ts 2,1-7). Convoca a constituir a “ekklesia na casa de…”, alternativas à ekklesia das cidades. Em 1Cor 1,26-31, delineia o retrato dessa ekklesia alternativa: “entre vós não há muitos sábios… poderosos…, mas Deus escolheu o que não é para confundir o que é…”, retrato expresso magistralmente na profissão batismal de Gl 3,28: “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus”.
A ekklesia era a assembleia da cidade onde as relações eram piramidais e marcadas pelo estatuto de cidadão, garantido pelo “status” de posse de bens, de nome, de saber; o poder era controlado por uma elite restrita, excluindo cidadãos não residentes, artesãos, trabalhadores manuais, mulheres e, naturalmente, os escravos. Na ekklesia, assembleia das comunidades, as relações são transformadas, são alternativas, vive-se a circularidade dos bens, do poder, do saber, dos afetos: ser cristão é ser membro do corpo de Cristo, comprometido em fazer circular a vida (1Cor 12,12ss), não se amoldar à lógica do mundo (Rm 12,2), proclamar a cidadania da liberdade, da igualdade, da solidariedade (Gl 5,1).
Comunidades na cidade
Missão é tarefa fundamental da Igreja: define-se em saída, enviada. Missão é a dimensão da Igreja que se abre para além de si mesma a fim de ser fermento no meio de outras culturas e religiões.
Paulo adota o sistema de itinerância e de apoio das casas, mas não quer depender das pessoas. Cria espécies de cooperativas de trabalhadores. Como ele era fabricante de tendas, reunia os tecelões e aí, trabalhando, pregava o evangelho: ou, se preferirmos, pregando o evangelho, trabalhava.
A cidade olha para o mundo, para a humanidade, para o transcendente, para a religião, com uma ótica totalmente diferente daquela do mundo rural. Paulo, marcado pelas cidades que o formaram, vive sua vocação numa continuidade profética, mas sua linguagem e suas opções se inserem no movimento apocalíptico com a finalidade de criar um universo de pensamento alternativo ao pensamento ideológico massificante romano. A profecia nasceu do lado do povo que se sentia responsável pela história. No momento em que o povo faz a experiência de ser uma pequena etnia em meios aos impérios “globalizados”, experimentando que a história foge ao seu controle, escapa de suas mãos, quando tudo parece perdido, a profecia renasce na apocalíptica. Não nasce do lado do poder, mas do lado de quem sofre na história e se sente perdido nela. Não nasce do lado de quem se sente dono dos destinos das nações e dos povos, mas do lado dos pequenos, que são privados de qualquer poder e são oprimidos por quem domina a história. Profecia e apocalíptica são expressão da fé em Javé, aquele que era, é e vem.
A fé apocalíptica anima a permanecer, a resistir na luta criando pensamentos e práticas alternativas. A fé em Deus, que continua sendo o Senhor da história, proporcionava aos que resistiam capacidade de ler a história. Com esta fé aparentemente irreal, sem fundamento, visionária, eles souberam resistir aos poderes que os ameaçavam, perseguiam e marginalizavam.
Quando a comunidade cristã surge no meio de um poder tão abrangente, nasce justamente como um grito de esperança. De uma esperança que é “escândalo” e “loucura” (1Cor 1,21-25), porque não corresponde à racionalidade do poder, mas surge como experiência da cruz. É uma racionalidade incompreensível para os poderes deste mundo (1Cor 2,2-8).
Que esperança tinha a comunidade cristã nascente de sobreviver, de impor sua existência, sua fé? “… para anunciar o evangelho sem recorrer à sabedoria da linguagem, a fim de que não se torne inútil a cruz de Cristo…” (1Cor 1,7b-31).
Ao escrever isto, Paulo manifesta uma consciência lúcida: o que são? O que valem os da comunidade de Corinto na organização da pólis, na estrutura massificante do Império? Eles são um nada, seja numericamente, seja qualitativamente; eles não têm nenhum poder. Crer nas comunidades era “loucura” e “escândalo”. Mas é nesse universo ideológico radicalmente diferente que Paulo aposta.
Para os cristãos de Tessalônica e seus irmãos da região, que sentido tinham suas lutas, padecimentos, mortes? A eles Paulo escreve: “Empenhai a vossa honra em levar uma vida tranquila, ocupai-vos dos vossos negócios e trabalhai com as vossas mãos, conforme as nossas diretrizes. Assim levareis uma vida honrada aos olhos de fora e não tereis necessidade de ninguém” (1Ts 4,10–5,11).
Palavras que fogem à ideologia imperante e por isso se colocam em outro universo ideológico com a finalidade de alimentar a utopia, através da esperança. Esperança se transforma em identidade: “nós que cremos”. O universo ideológico, a fé alternativa, gera reconhecimento, união, força para resistir aos de “fora”, que proclamam uma “paz, segurança”, ilusória.
Quem é “crente”? Qual é a identidade que querem manter? No mundo que despreza o trabalho manual, o povo da roça, e só preza os sábios, os espirituais, os cidadãos, Paulo estimula os tessalonicenses a viver orientados por outros valores, outras estruturas, outras utopias.
São esses pensamentos, reflexões, perguntas que fazem nossa cabeça fervilhar.
Fervilhar como a cabeça de Paulo devia fervilhar, ao escrever a carta aos Gálatas. Como devia fervilhar quando lhe relataram as divisões presentes na comunidade de Corinto. Como devia fervilhar ao olhar a atitude passiva dos cristãos de Tessalônica que esperavam a volta iminente de Jesus, o Senhor. Como devia fervilhar para encontrar as palavras certas para escrever a Filemon. Como devia fervilhar diante da escravidão e exclusão, marcas registradas do império romano. Como devia fervilhar quando deu voz ao gemido da criação cativa. Como devia fervilhar ao refletir a respeito da experiência de liberdade que vivia após o acontecimento de Damasco. Como devia fervilhar ao se interrogar sobre os passos a serem dados para que outros, outras, pudessem viver essa experiência tornando-se igreja, assembleia, casa, comunidade, espaço de relações alternativas.
Talvez o que nos falta hoje é justamente nos deixar desafiar, deixar borbulhar perguntas, deixar a cabeça fervilhar, nos permitir sair do traçado. Como Paulo ousou sair do traçado.
A novidade cristã
Sair do traçado é o que Paulo fez. Sair do traçado judaico. Sair do traçado de cidadão romano. Sair do traçado dos critérios apostólicos. Sair do traçado e abrir picada, abrir caminho novo. Sair do traçado e deixar-se guiar pela força da Palavra, pela força do Espírito, pela força dos acontecimentos.
Sair do traçado e, com seu anúncio, provocar experiências humanas e comunitárias inéditas para seu tempo. Num mundo onde tudo falava de escravidão, Paulo, com ousadia, anuncia o evangelho da liberdade: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1.13). Em face da escravidão, que tornava as pessoas ferramentas animadas, a elas devolve dignidade e exige uma nova relação, “não mais como escravo, mas como irmão amado” (Fm 16). Diante da estrutura escravagista, patriarcal, que relegava cada pessoa a uma categoria social, numa pirâmide estratificada e imutável, ele ousa propor relações de amor e solidariedade (1Ts 4,9-10). À escravidão religiosa que amarrava a práticas exteriores, que erguia muros de separação, que tornava a experiência espiritual uma prisão, ele contrapõe a relação filial (Rm 8,15). Ao patriarcado que fazia das mulheres cidadãs de segunda categoria, considerando-as menores e mantendo-as sob a jurisdição do “pai de família”, do marido, ele escreve: “A mulher não dispõe de seu corpo; mas é o marido quem dispõe. Do mesmo modo, o marido não dispõe de seu corpo; mas é a mulher quem dispõe” (1Cor 7,4). Ele as apresenta, portanto, como suas colaboradoras, reconhece sua autoridade e direito de profetizar (Rm 16,1ss; 1Cor 11,5a).
Paulo ousa falar de liberdade, pois a experiência que ele estava vivendo era de profunda liberdade (1Cor 9,1.19). Experiência de liberdade que o torna capaz de ler seu momento histórico, que lhe faz intuir e traçar o caminho: criar uma linguagem, um pensar, uma ideologia, um crer alternativo ao sistema vigente; que o torna ousado, capaz de traduzir a boa notícia nascida num mundo rural para o mundo da cidade; capaz de inculturar a boa-nova do Reino, enraizada na religião judaica, num mundo pluricultural e plurirreligioso; capaz de colocar em xeque a circuncisão; capaz de fazer sentar à mesma mesa judeus e gregos.
Experiência de liberdade que marcou seu caminho missionário, que o tornou ousado na escolha dos itinerários, que o tornou destemido, sem medo de ser abandonado, criticado, combatido, acusado, que o tornou capaz de amar profundamente seu povo de origem, até largá-lo e voltar-se para outro povo, a fim apontar e seguir os caminhos do Espírito.
Liberdade, palavra badalada em todos os tempos. Em nosso tempo, essa palavra se colore de direitos pessoais e cidadania. Valores que são faces da mesma moeda, mas, na cidade, frequentemente se tornam conflituosos. Quanto mais cresce a consciência da dignidade do ser humano e seus direitos, mais aumenta o valor de cada pessoa; proporcionalmente, parecem fortalecer-se as estruturas e os mecanismos que negam na prática os valores democráticos e os direitos que as lutas conquistaram.
A liberdade, a caridade, o poder-serviço questionam as estruturas do mal. Não podemos fugir do poder: o poder é, nós somos poder. Não há como escapar: viver é poder. A questão está ligada ao exercício do poder: com autoritarismo ou participação; concentrando ou partilhando; dominando ou servindo; impondo ou buscando consenso. O serviço é o jeito cristão de exercer o poder: “Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fl 2,5).
Ao falar de liberdade, de dignidade, de poder, estamos tocando o coração da pessoa humana; estamos tocando a convivência humana, convivência que hoje se expressa prioritariamente no mundo urbano.
Afirmar isso é provocar perguntas, questionamentos: Por que em nossas igrejas temos tanto medo de viver experiências de cidadania? Por que nossas igrejas falam tanto de democracia, mas têm medo das experiências de partilha de poder? Por que, em nossas igrejas, há competição pelo poder, e não pelo serviço? Assumir isso é assumir que a boa notícia do Reino tem dimensão política que nos compromete nas mudanças históricas. Aponta-nos o lugar social de onde o novo deve brotar. Indica aqueles que devem ser os protagonistas do processo.
A cidade, no processo migratório que expulsou a população do campo, tornou-se “terra prometida”. Terra que nunca foi ocupada, porque nela a maioria vive à margem, e não só geograficamente. Isso interroga e desafia. As CEBs conseguirão, através de sua fé e prática, tornar a cidade espaço habitável? Conseguirão criar espaços alternativos, “casa” para os que não têm casa? Conseguirão oferecer espaço de inclusão, direitos e cidadania? Conseguirão superar a tentação de fechamento e aceitar parcerias, conviver com o diferente e somar na rede que se articula em favor da vida?
Que é loucura? Que é escândalo?
A boa-nova de Jesus, inculturada pela experiência paulina nas cidades gregas, torna-se a boa-nova da cidadania, boa-nova da liberdade, da solidariedade, da igualdade, da inclusão. Mas, para seguir este caminho, temos de olhar a cruz.
Cruz é um discurso complicado: fala de opressão, escravidão, dominação. Cruz é realidade negativa. Então por que a cruz, realidade negativa, tornou-se boa notícia? O fundamento desta transformação revela-se na cruz de Cristo. Em Jesus de Nazaré, a cruz torna-se boa notícia.
As comunidades na periferia do mundo greco-romano acolhem os crucificados e as crucificadas pelas estruturas. Acolhendo, vão ensaiando relações novas, abrindo espaços alternativos em face do sistema da sinagoga e das cidades greco-romanas. Em face do sistema da sinagoga, porque não obedecem às “normas”, porque negam o controle da Lei, porque obedecem ao Espírito, e não à carne, porque fazem ruir os muros de separação. Em face do sistema greco-romano, porque fogem do clientelismo, da “casa” regida por pessoa de renome que desfrutava do poder de conferir aos de sua convivência maior brilho e prestígio. Fogem do “apadrinhamento”, baseado no dinheiro, que sustentava a dependência e a estratificação social.
A cruz revela o totalmente diferente: aponta o caminho que convida a assumir a vida como cruz a ser resgatada. Assumir a vida como cruz não significa passividade, resignação, e sim empenho para eliminar as cruzes criadas pelos sistemas globalizantes e excludentes. Jesus não garante fazer as coisas em nosso lugar; garante ficar conosco: Eu sou aquele que sou, Emanuel, Jesus, o Cristo.
O que Paulo conclui, ao olhar o Cristo crucificado?
a) “Os fracos no mundo” são a verdadeira força no mundo. Força real do mundo, pois, com seu trabalho, sustentam o mundo (1Cor 1,26ss).
b) “Sabedoria” é palavra na vida. Quem tem a autêntica sabedoria? Quem tem vida autêntica? Lá embaixo, nos porões da humanidade, há um pulular de vida. Então lá onde a vida é pisada, lá a palavra fala mais forte (1Cor 1,29s).
O que Paulo percebe, ao olhar para
as comunidades dos crucificados?
a) “Os povos podem unir-se”: caiu o muro de separação que apartava os judeus dos gentios; eles estão sentados ao redor da mesma mesa, partindo o mesmo pão, sonhando as mesmas utopias (Ef 2,14).
b) “As pessoas convivem”: a estratificação social é quebrada pelas relações novas entre homem e mulher, entre escravo e livre, entre judeu e grego (Gl 3,28). Quando os cristãos comem em mesas separadas, é um escândalo (1Cor 11,17ss; Gl 2,11-14).
c) “O poder se torna serviço, torna-se entrega”: a experiência da fraqueza elimina as atitudes de imposição e alimenta atitudes de entrega amorosa, de serviço no oferecimento da própria vida. O centro não é mais o eu, mas o irmão, a irmã (1Cor 2,1-5).
O que Paulo vislumbra, olhando para as comunidades que congregam os fracos da história?
“Espaço alternativo, experiência nova de dignidade humana.” Vislumbra que é na cruz que se revela a ressurreição. Os crucificados são a revelação mais forte de Deus, pois a comunidade, construindo-se a partir dos excluídos, fala do poder de vida, de ressurreição. Ao ensaiar novas relações, a comunidade pode afirmar: “A morte foi absorvida na vitória. Morte, onde está tua vitória? Morte, onde está teu aguilhão? Graças se rendam a Deus, que nos dá vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (1Cor 15,54-56).
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Bibliografia
TAMEZ, Elza. Contra toda condenação: a justificação pela fé, partindo dos excluídos. São Paulo: Paulus, 1995.
Texto-Base do 14º Intereclesial – CEBs e os desafios do mundo urbano. Disponível em: .Acesso em: 10 jul. 2017.
Texto reflexão para Assembleia do CEBI. Disponível em: . Acesso em: 24 jul. 2017.
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Tea Frigerio
Tea Frigerio é Missionária de Maria – Xaveriana. Vive em Belém do Pará, é assessora do CEBI e assessora nacional das CEBs. Mestre em Ciência da Religião pela Universidade Gregoriana, Roma; mestre em assessoria bíblica pela Universidade EST, São Leopoldo.
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