08 agosto, 2025

Campanha da fraternidade (CF) 2026

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou quinta-feira, 7 de agosto, a identidade visual da Campanha da Fraternidade (CF) 2026.

Tema “Fraternidade e Moradia”
Lema bíblico “Ele veio morar entre nós” (Jo 1,14)

Despertar a consciência sobre o direito à moradia digna como expressão concreta da fé cristã.

O assessor do Setor de Campanhas da CNBB, padre Jean Poul Hansen, afirmou “Deus veio morar entre nós, e isso fundamenta a dimensão social da nossa fé. A Campanha da Fraternidade nos convida a construir aqui, entre nós, sinais do Reino de Deus, promovendo dignidade, especialmente nas realidades onde ela é negada”.

Segundo o padre Jean, o Brasil enfrenta um déficit habitacional de 6 milhões de moradias, somado a um déficit qualitativo de 26 milhões de residências inadequadas – sem saneamento básico, com espaços superlotados ou estruturas precárias. “Essa realidade clama por conversão social e ações concretas que garantam um lar digno a todos”.



*A mensagem do cartaz*

A imagem escolhida para representar visualmente a Campanha foi desenvolvida pela Assessoria de Comunicação da CNBB e traz elementos simbólicos que provocam reflexão. No centro, destaca-se a escultura “Cristo sem-teto”, criada por um artista católico canadense em 2012, Timothy Schmalz, após a experiência de ver um homem em situação de rua dormindo em um banco de parque, em Toronto.

A escultura, que tem réplicas em diversas cidades do mundo – inclusive no Brasil – mostra um homem coberto por um cobertor, com o rosto e as mãos escondidos, mas com os pés feridos, revelando ser Jesus. Há um espaço vazio no banco, convidando quem vê a se aproximar.

“A mensagem é clara: é preciso se aproximar para reconhecer o Cristo presente nas periferias e entre os empobrecidos. Deus habita nossas cidades, mas muitas vezes está escondido nos que mais sofrem”, explicou padre Jean.

O fundo do cartaz exibe a silhueta de uma cidade dividida por duas cores contrastantes – marrom e laranja – representando os paradoxos urbanos e sociais. Ao centro, uma igreja com uma cruz simboliza a presença da fé nesse contexto, chamada a ser sinal de esperança e transformação.

“O cartaz quer nos provocar à conversão: mudar o olhar, reconhecer o Cristo no irmão sem moradia, e assumir um compromisso pessoal, comunitário e social com a dignidade humana”, completou o assessor.

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Fonte: Site da CNBB


Ouvir o canto de Isabel

Por Irmã Tea Frigério

Ouvir o canto de Isabel

A Boa Nova das Comunidades lucanas está nos acompanhando nas liturgias dominicais. Entre os Evangelhos sinóticos seja o que mais nos ajuda a compreender que a história de Deus se faz realidade na história cotidiana vivida por mulheres e homens. O protagonismo das mulheres é o elemento fundamental desta história: abrem sua obra com elas, e, o testemunho delas é referencial ao encerrar o evangelho. Lucas 1-2 e 24 colocam as bases históricas-sociais e teológicas sobre as quais constroem o caminho de Jesus e das comunidades originarias tendo a participação decisiva, igualitária, autônoma das mulheres.

Há um debate aberto: o evangelho de Lucas é favorável mais do que os outros evangelhos às mulheres? O debate é aberto e não há consenso, mas nestes escritos, vou deixar a questão de lado. Sublinho somente que o evangelho de Lucas tem cerca de 20 referências a mulheres que não encontramos nos outros evangelhos.

Convido vocês a fazer esta pesquisa, sem dúvida enriquecedora sobretudo nas intuições que vocês podem elaborar. Pessoalmente fiz isso e partilho minhas intuições tendo como chão o caminho que como Igreja estamos vivendo, o da sinodalidade.

A fina arte histórica narrativa que Lucas coloca à disposição das comunidades nos presenteia nos capítulos 1 e 2 com a reflexão teológica de suas comunidades: a Boa Nova de Jesus não tem início na sua idade adulta, mas sonho-anúncio, gravidez-feto, amamentação-bebê, cuidado-criança são o lugar onde a Boa nova é gestada e vem à luz. Deus salva na relação-presença com mulheres portadoras de vida. Deus salva e liberta se tornando carne no mistério da carne de mulheres que engravidam e dão à luz. Experiência misteriosa do sagrado que se realiza na vida através de fala de anjos, de Espírito que envolve, de corpos de homens, de mulheres, crianças.

Na sua arte narrativa Lucas nos convida a entrar na história através de narrações paralelas: o anúncio e nascimento de João Batista e Jesus.

“… nos dias de Herodes …”(1,5) palavras que nos introduzem numa história onde há violência e morte, que nos convidam a fixar nossa atenção sobre um casal: Isabel e Zacarias“… ambos justos … neles não havia criança, porque Isabel era estéril e ambos eram avançados em idade” (1,7).

A apresentação de Isabel e Zacarias minuciosamente paritária nos faz recordar Sara e Abraão. No entanto a esterilidade de Isabel vem colocada em primeiro plano, implicitamente culpada pela ausência de criança. A narração avança nos fazendo entrar no templo com Zacarias, participar do anúncio do anjo Gabriel, sair do templo mudo, voltar para as montanhas de Judá, somente no final da narração lembrando-se de Isabel. Acompanhando o roteiro, também as interpretações e comentários de 1,5-25, têm relegado Isabel à margem, dando destaque a Zacarias.

A Boa Nova, porém, é vivenciada para ambos embora em tempos diferentes: Zacarias sai do templo mudo por causa de sua incredulidade. O primeiro louvor, neste evangelho brota da boca de Isabel. “Isto me fez o Senhor, quando olhou para baixo para anular o meu opróbrio entre as pessoas” (1,25).

Opróbrio, vergonha, discriminação, exclusão devido a esterilidade apontam para humilhação a partir de sua sexualidade; seu sofrimento existencial vem das observações maldosas ou alusões a esterilidade associadas a compreensão de pecado e maldição.

Do opróbrio se eleva a voz de Isabel que canta sua libertação. O primeiro cântico de louvor, no evangelho das Comunidades lucanas o escutamos de Isabel. Gravidez e louvor, guardados primeiro no silêncio por cinco meses, como dons preciosos, explodem de sua boca, canta a Boa Nova de libertação: seu ventre floriu, uma criança está sendo gestada, Deus anulou a discriminação.

A narração se encerra mantendo nosso olhar em Isabel: em seu ventre o novo se manifesta e concretiza.

O que aconteceu a Zacarias em sua volta para casa? Será que por ter ficado mudo escutou mais a voz de Isabel? Será que algo mudou na relação entre Isabel e Zacarias? Será que foi percebendo que o sagrado habitava na casa, no corpo de Isabel? Será que esta mudança atraiu e agradou o olhar de Deus que a abençoou com uma criança?

Sem maiores detalhes, pressupondo mudanças na relação sexual dos idosos Isabel e Zacarias, a narração afirma a concepção e a gravidez de Isabel. No corpo da mulher, no seu ventre grávido salvação e libertação se realizam. E, a comunidade guardou para nós a memória do seu cântico de louvor, tornando-o o primeiro cântico de louvor em seu evangelho.

O cântico de louvor de Isabel denuncia as relações sociais e religiosas construídas de forma assimétricas que humilham mulheres que não têm criança e que por causa disso são colocadas na última esfera da hierarquia social e excluídas da esfera religiosa. Os cânticos de louvor que brotam hoje das vozes das mulheres nas comunidades o que denunciam?

No templo, Zacarias incrédulo, ficou mudo. A igreja precisará ficar muda para apreender a escutar a voz das mulheres? Esta Igreja que relega ao último versículo as mulheres, silencia seu cântico, descarta seu poder de engravidar o novo e assim anula seu próprio poder salvífico libertador.

A Divina Ruah abra os ouvidos, rompa a incredulidade, ajude a percorrer o caminho de Zacarias: sair do templo, voltar para periferia, para casa, voltar mudo, e, no silêncio aprender a ouvir, acolher a voz de Isabel, seu canto de louvor pelo novo que carregam em seu ventre.

Bolsonarismo: o puro suco da vergonha alheia

O que segue a baixo, é newsletter, recebido em meu e-mail, do "Brasil de Fato"

Bolsonarismo: o puro suco da vergonha alheia

E Bolsonaro finalmente foi preso. Quero dizer, quase. Prisão domiciliar é um começo, certo? Pós-tornozeleira eletrônica e impedimento de usar as redes sociais, que, aliás, foram o motivo da sua queda, com uma ajudinha de seus filhos e do deputado Nikolas Ferreira. Mas a extrema direita não se calou. Ou melhor, se calou, fez motim, impediu o retorno do Congresso, do Senado e de Comissões.

O Brasil não é para fracos e a semana não poupou emoções. A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes na segunda-feira (4). A decisão inclui o uso de tornozeleira eletrônica, proibição de visitas exceto de familiares próximos e advogados, e recolhimento de todos os celulares do local.

Tudo isso porque o ex-presidente participou a distância do protesto de manifestações bolsonaristas realizadas no dia anterior (3) em algumas cidades brasileiras. No Rio de Janeiro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), colocou brevemente o pai no viva-voz para falar com o público e, mais tarde, divulgou um vídeo mostrando Bolsonaro em casa enviando uma mensagem aos apoiadores.

O deputado federal Nikolas Ferreira fez o mesmo, utilizando o ex-presidente para impulsionar as mensagens proferidas na manifestação. Aparentemente, nem todas ações dos aliados realmente vêm para ajudar e Bolsonaro teve que passar a semana em casa.

Falando em aliados, a oposição também tentou ajudar. Parlamentares bolsonaristas obstruíram as votações na Câmara e no Senado em defesa da anistia a condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, o fim do foro privilegiado e pedindo o impeachment de Moraes. E chamaram as ações de “pacote de paz”.

Assim, deputados e senadores de oposição se revezaram ocupando as mesas diretoras da Câmara e do Senado, impedindo os trabalhos do parlamento. Nas imagens, bocas, olhos e orelhas tapados com fita crepe, correntes ao redor dos punhos, pressão ao redor do presidente da Câmara Hugo Motta (Republicanos-PB), muito barulho e vergonha alheia.

Tanto Motta quanto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), tentaram contornar a situação e reagir ao bloqueio, mas para quem vê de fora, a sensação é de falta de moral e ambiguidade. Neste meio tempo, o pedido de impeachment de Moraes foi protocolado com apoio de muitos senadores, mas Alcolumbre disse que o tema não será pautado.

O que se observa é o desespero da oposição para aprovar o PL da anistia aos investigados pela tentativa de golpe de Estado e o fim do foro privilegiado. Tudo isso para livrar Bolsonaro da prisão definitiva, aquela fora de casa. Mas a ação penal no STF está prestes a ser concluída e talvez seja a hora de se dedicar a outras pautas.

Afinal, todo o pandemônio desta semana ocorreu em meio ao início oficial da taxação de 50% nos produtos exportados para os Estados Unidos, imposta pelo governo de Donald Trump, que começou quarta-feira (6) com demissões nos setores afetados. E o próprio governo brasileiro está bolando um plano de contingência para ajudar os setores afetados, usando uma “régua” para considerar a variação de exportações dentro de um mesmo setor, para tornar o socorro mais preciso.

É estranho que, enquanto a economia brasileira corre riscos, parte dos parlamentares se preocupe em salvar a pele de um ex-presidente que, se olharmos bem, pouco fez para que o país crescesse em todos seus anos na política.

Ou talvez não seja estranho. Afinal, como disse o cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) Paulo Niccoli Ramirez, é apenas um “sintoma do fundamentalismo político e religioso” no país. “São políticos que não estão preocupados com o Brasil, não colocam o Brasil acima de tudo, mas os Estados Unidos acima de todos, e a ignorância e estupidez como uma regra das suas práticas políticas.”