29 julho, 2024

Seminário das CEBs da Província Eclesiástica de Maringá

Seminário das CEBs da Província Eclesiástica de Maringá
Tema: A história do passado para agir sobre a história presente!
27 e 28 de julho de 2024.











25 julho, 2024

CEBs da Província Eclesiástica de Maringá realiza seminário formativo!

Com o tema, “A história do passado para agir sobre a história presente! ”, lideranças das comunidades da Província Eclesiástica de Maringá, que é composta pela Arquidiocese de Maringá e Dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama, serão acolhidas nesse final de semana, 27 e 28 de julho, para seminário formativo articulado pelas Comunidades Eclesiais de Base da Província.



A história do passado, o livro de Atos dos Apóstolos, para agir sobre a história presente das comunidades, reafirmando-as da importância do acolhimento; da perseverança; do organizar-se para o cuidado pastoral para com as e os que vão achegando; as e os enfermos, necessitados e empobrecidos.

Atos dos Apóstolos relata a história da Igreja; sua importância para as Comunidades Eclesiais de base (CEBs), porque o movimento de Jesus é a continuidade desta utopia. No livro de Atos vemos mulheres e homens iguais a nós, sujeitos a fraquezas, e perseverantes diante dos desafios pelas forças de Cristo.

Diante da injustiça e da desigualdade social que geram milhares de pessoas empobrecidas que se tornam excluídas, quando não exterminadas, Atos dos Apóstolos convoca as comunidades para a necessidade da denúncia profética, assim também frente a injustiça, desigualdade e o clericalismo eclesial.

Igreja em saída, Atos dos Apóstolos desperta, mostra a necessidade e ensina como quebrar barreiras sociais, culturais e religiosos para seguir Jesus Cristo onde Ele deseja ir, e estar com quem Ele deseja estar.

O seminário formativo será também espaço de reencontro, alegria, partilha, socialização e celebração da nossa caminhada. O local será a Diocese de Umuarama, a assessoria será do Pe. Antônio José de Almeida e Pe. Marcos Roberto Almeida dos Santos.


Lucimar Moreira Bueno (Lúcia)
Articuladora das CEBs na Província Eclesiástica de Maringá


23 julho, 2024

Violência contra os Povos Indígenas no Brasil

Relatório dados de 2023
Violência contra os Povos Indígenas no Brasil

As disputas em torno dos direitos indígenas nos três Poderes da República refletiram-se num cenário de continuidade das violências e violações contra os povos originários e seus territórios em 2023.

Clique AQUI e veja o relatório



22 julho, 2024

Um olhar positivo sobre o IL do Sínodo – participação

Publicado pelo Portal das CEBs, 20/07/2024

Por Celso Pinto Carias



Um olhar positivo sobre o IL do Sínodo – participação
Por Celso Pinto Carias

O Instrumentum Laboris (IL), instrumento de trabalho para a segunda sessão da XVI ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS, já recebeu muitas reações, embora sua publicação seja muito recente (09/07). Teólogos como o italiano Andrea Grillo e o bispo emérito do Xingu, Altamira, Dom Erwin Kräutler, escreveram boas observações, entre outras que também estão aparecendo. Mas, com modéstia, queremos propor uma mudança de foco.

Das reações a que tive acesso, praticamente não há o que discordar. Mas a questão que me parece chave neste Sínodo e não tão bem reconhecida pelos comentadores, passa por garantir que os mecanismos de participação efetivos do Povo de Deus, sendo “povo” com maiúscula, apontando para todas as pessoas batizadas, sejam efetivados. Inclusive no âmbito das decisões. Aqui o documento confirma a eclesiologia do Concílio Vaticano II. Será que apontando o que falta no IL estaremos contribuindo para que esta perspectiva seja garantida no pós-sínodo? O que é possível fazer, dentro da conjuntura eclesial atual, até com franca oposição a Francisco, para que o resultado do Sínodo não seja absolutamente frustrante?

Evidentemente que o IL não é completo e não dá conta de dimensões fundamentais para uma “Igreja em saída”, mas o tempo todo ele aponta para garantir participação. Creio, modestamente, que este é o eixo central. Muitas expectativas podem ser frustradas se tais mecanismos não forem aprofundados. Trata-se de garantir, no processo, ampla participação. Ora, se não for possível ao menos abrir canais nesta direção, aí, sim, o Sínodo será apenas mais um capítulo da manutenção de uma igreja clericalista e autorreferencial. As forças do clericalismo estão muito bem sedimentadas. Qualquer batizado que caminha com o Concílio Vaticano II percebe isso. Neste sentido, qual seria a melhor estratégia para, no processo deste Sínodo e no que acontecerá após ele, garantir a manutenção de um diálogo profícuo em vista de responder aos desafios que estão a nossa frente nesta crise civilizatória?

Apenas algumas menções. No número 67, o IL vai afirmar que o “exercício da autoridade na Igreja não consiste na imposição de uma vontade arbitrária”. No 77, que é preciso haver transparência e prestação de contas. No 92, fala que os organismos que organizam a pastoral não podem ser feitos a partir da escolha exclusiva das autoridades eclesiásticas. Quantas vezes já vimos isso acontecer? Um Pároco novo destituir uma coordenação por pura e exclusiva vontade pessoal? No 94, fala da criação de conselhos a nível de comunidade de base. Sim, COMUNIDADE DE BASE. No fundo, o IL parece confirmar uma prática que na América Latina se fez por décadas e que foi sendo destruída.

Ora, se tais estruturas de participação não existirem, certamente, por maior fundamentação teológica que alguém possa ter, nada poderá sequer ser discutido, como o caso de ordenações de mulheres. Nem mesmo ordenar mulheres diáconas, por exemplo. Como poderemos propor, como propôs o Sínodo para a Amazônia a ordenação de homens casados, se o poder decisório se concentra única e exclusivamente nas mãos dos bispos? Mesmo que o Papa decidisse por sua conta, cremos que dificilmente os bispos iriam efetivar. Como poderemos falar de uma Igreja toda ela ministerial, se há um temor de perda de privilégios? E poderíamos continuar com outros exemplos. Portanto, no mínimo, é fundamental garantir um debate franco, aberto, dialogal. Não é possível, em uma Igreja de irmãos e irmãs, ter medo de se posicionar. A Igreja tem leis e mecanismos próprios para se defender de abusos, mas não pode usar essa estrutura sem dar direito ao contraditório. Temos visto, por exemplo, muitos abusos no campo litúrgico, e nada sendo feito. Alguém, em sã consciência, pode afirmar que “cerco de Jericó” é uma expressão legítima da liturgia católica? No entanto, nada é dito. Porém, tem bispo proibindo que se entre com a bíblia em uma liturgia de forma inculturada.

O IL reconhece a necessidade de reformular o processo de escolha de bispos. O processo atual é extremamente frágil, e, em boa medida, não pautado por valores evangélicos. Os procedimentos de escolha não garante que interesses muito específicos de arcebispos e cardeais locais acabem por prevalecer e o processo acabe sendo viciado por questões pessoais. Sem falar na falta de perspectiva pastoral, pois se pode colocar um bispo “doutor em direito canônico”, mas sem experiência pastoral comprovada. Um bispo do sul, no caso do Brasil, que nunca trabalhou no nordeste. É possível uma inculturação? Evidentemente, mas um bispo tem necessidade de tomar decisões nos primeiros meses logo que toma posse de uma diocese. Assim, ele precisa de experiência para além de um saber canônico.

Portanto, não é preciso demonstrar que a perspectiva sinodal é fundamental para a continuidade do Projeto de Jesus Cristo no seio da Igreja Católica. Agora, sem ingenuidade, neste caso Andrea Grillo está coberto de razão, existe uma reação forte de um “Trento moderno” que quer impedir uma Igreja em saída. Mas a Igreja estará condenada à irrelevância no mundo se insistir nesta direção. Certamente, ela não acabará, até porque os mais ricos são os tridentinos de hoje. Mas assumam essa possibilidade sem escamotear, como fez o Cardeal Carlo Maria Viganò.

19 julho, 2024

Papa insiste pela trégua olímpica nos Jogos de Paris: a paz está seriamente ameaçada

A mensagem de Francisco ao arcebispo Ulrich para os Jogos Olímpicos que serão realizados na capital francesa de 26 de julho a 11 de agosto: “que sejam oportunidades de harmonia fraterna para superar as diferenças e oposições e para fortalecer a unidade da nação”.



Salvatore Cernuzio - Vatican News

Uma oportunidade para “superar as diferenças e as oposições” e para “fortalecer a unidade da nação”; uma oportunidade para “derrubar os preconceitos, para promover a estima onde há desprezo e desconfiança, e a amizade onde há ódio”. Grandes esperanças e expectativas do Papa para os Jogos Olímpicos de Paris que serão realizados na capital francesa de 26 de julho a 11 de agosto. Jogos que, “por sua própria natureza, são portadores de paz, não de guerra”, escreve Francisco na mensagem enviada ao arcebispo metropolitano Laurent Ulrich que, na manhã desta sexta-feira (19/07) celebrou a "Missa pela Paz" de abertura da trégua olímpica na Igreja da Madalena, em Paris.

Trégua Olímpica

Uma tradição sábia, a da trégua, instituída no mundo antigo e que é urgente nesta era ferida por conflitos: “nestes tempos difíceis, em que a paz no mundo está seriamente ameaçada, espero fervorosamente que todos respeitem esta trégua na esperança de resolver os conflitos e restaurar a harmonia”, afirma o Papa, reiterando um apelo já expresso no prefácio do livro “Jogos de Paz”, publicado pela Livraria Editoria Vaticana.

“Que Deus tenha piedade de nós!”, escreve agora na mensagem ao arcebispo Ulrich, que o Senhor "ilumine as consciências dos que estão no poder sobre as graves responsabilidades que lhes cabem, que conceda aos operadores de paz o sucesso em seus esforços e que os abençoe.

Abrir as portas de igrejas, lares e corações

Na missiva, o Papa Francisco invoca os dons de Deus para todos aqueles que, como atletas ou espectadores, participarão do evento esportivo e também apoio e bênção para aqueles que os receberão no país, “especialmente os fiéis de Paris e de outros lugares”. “Sei que as comunidades cristãs estão se preparando para abrir as portas das suas igrejas, escolas e casas. Acima de tudo, que abram as portas dos seus corações, testemunhando o Cristo que habita neles e lhes comunica a sua alegria, através da gratuidade e da generosidade das suas boas-vindas a todos”, escreve o Papa, enfatizando que apreciava muito o fato de que as pessoas mais vulneráveis não foram esquecidas, "especialmente aquelas em situações muito precárias".

Superar diferenças e oposições

A esperança do Pontífice é que “a organização desses Jogos ofereça ao povo francês uma oportunidade maravilhosa de harmonia fraterna que permitirá superar as diferenças e as oposições e fortalecer a unidade da nação”.

“O esporte”, observa Francisco, ”é uma linguagem universal que transcende as fronteiras, os idiomas, as raças, as nacionalidades e as religiões; tem a capacidade de unir as pessoas, de incentivar o diálogo e a aceitação mútua; estimula o desenvolvimento do espírito humano; incentiva as pessoas a se superarem, fomenta o espírito de sacrifício e encoraja a lealdade nas relações interpessoais; incentiva a reconhecer os próprios limites e o valor dos outros".

Encontro entre pessoas, mesmo as mais hostis

Se forem realmente “jogos”, os Jogos Olímpicos podem ser realmente “um lugar excepcional de encontro entre os povos, mesmo os mais hostis”, diz Francisco, olhando para o conhecido logotipo com os cinco anéis entrelaçados que, segundo ele, representam o “espírito de fraternidade” que deveria caracterizar o evento olímpico e a competição esportiva em geral.

Derrubar preconceitos e o ódio

Concluindo sua mensagem, o Papa expressa o desejo de que “os Jogos Olímpicos de Paris sejam uma oportunidade imperdível para que todos aqueles que vêm de todas as partes do mundo se descubram e se valorizem mutuamente, para derrubar preconceitos, para promover a estima onde há desprezo e desconfiança, e a amizade onde há ódio”.


10 julho, 2024

A vida ensina e capacita!

A vida ensina e capacita!

Desde criança, uma experiência de lutar pelo meu espaço, meu valor, e minha igualdade sendo eu a mais nova e mulher. Cresci em um ambiente familiar masculino, minha mãe, meu pai, e três irmãos. Tenho uma irmã, primeira filha de meus pais, não tive convivência com ela, pois, sendo a primeira, casou-se, e no dia a dia não tinha sua presença. Minha mãe, inspiração e resistência, a ela, o que sou hoje.

Nesses dias, articulando o seminário das CEBs da Província Eclesiástica de Maringá, que acontecerá nos dias 27 e 28 desse mês de julho, uma frase que feriu “Não vamos indicar, pois, estamos num processo de rearticulação interna da paróquia e não temos lideranças prontas para um seminário de CEBs em nível de província”.

A vida ensina e capacita, não existe lideranças não prontas e na vida o buscar conhecimento é constante, nunca vamos estar prontos, sempre teremos algo a aprender; a buscar. Somos seres inteligentes, mas temos sempre que buscar porque a fé nos exige uma série de atitudes e valores, porque se fundamenta no exemplo de Jesus Cristo que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida por todos os seres humanos (cf. Mt 20,28).

Refiro-me ao aprendizado que se alcança uns com os outros; ao apoiarmos uns nos outros; e aos nos encorajamos uns aos outros, porque assim estamos unidos no nosso desejo de seguir fielmente a Jesus Cristo.

É triste quando quem está à frente de uma paroquia diz não ter lideranças prontas em condições a participar de uma formação a nível de província, porque isso significa considerar a incapacidade do laicato da paroquia a sentar-se e partilhar com laicato de paroquias de outras dioceses.

Uma liderança, é antes do que tudo, alguém que inspira; motiva engaja, não é alguém formada pela mais importante habilidade. Todos seres humanos trazem consigo valores e habilidades individuais; valores e habilidades adquiridas pela vida, sua experiência de vida.

Quando se oferece uma formação a nível de província é com a consciência de comunhão entre as Igrejas particulares que comungam dos mesmos ideais e direcionamento pastorais. É porque se acredita na valorização da cultura, da experiência e da sabedoria das pessoas como apoio para um processo formativo.

A vida ensina e capacita, nunca estamos prontos, porque na vida o aprendizado é constante, dia a dia, e por toda a vida.

08 julho, 2024

Desmasculinizar a liderança na Igreja!

Desmasculinizar a liderança na Igreja.
O protagonismo das mulheres no cristianismo.

“o desafio de desmasculinizar a Igreja tem como objetivo geral analisar transdisciplinarmente os desafios e possibilidades de um processo de desmaculinização da Igreja tendo em vista o reconhecimento e protagonismo das mulheres na vida eclesial.”

O evento é aberto ao público para assistir na Página inicial IHU, YouTube, Facebook e Twitter. Não é necessária inscrição para acompanhar a transmissão.

https://www.ihu.unisinos.br/evento/desmasculinizar-a-igreja?utm_campaign=newsletter_ihu__05-07-2024&utm_medium=email&utm_source=RD+Station


04 julho, 2024

O tráfico de pessoas existe em Roraima e é visível

Todas as modalidades do tráfico de pessoas existem na tríplice fronteira do Brasil, Guiana e Venezuela. Em missão no estado de Roraima, a Comissão da CNBB de Enfrentamento ao Tráfico Humano, testemunhou a luta para combater as violações dos direitos humanos.


A reportagem é publicada por CNBB, 02-07-2024, é de Cláudia Pereira.


Foto: Pessoas aguardando a entrega de refeições no posto de atendimento em Boa Vista (RR) onde são distribuídas mais de 1.500 refeições por dia. Foto| Cláudia Pereira.


Na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana as violações dos direitos humanos são latentes, sobretudo para os migrantes e os povos indígenas. “Crianças foram raptadas do colo de mãe, tiradas à força de suas mães e utilizadas para exploração. Tivemos casos de crianças usadas como locação”. Esses são relatos que causaram impactos no primeiro dia da missão de enfrentamento ao tráfico de pessoas. Reunidos na diocese de Roraima entre os dias 17 e 23 junho, a Comissão Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CEETH-CNBB), em parceria com organizações religiosas e civis, a comitiva visitou espaços importantes para escutar sobre o crime do Tráfico de Pessoas e as modalidades.

A visita realizada na semana do migrante, momento em que a igreja católica dedica para a reflexão sobre a situação dos migrantes, o olhar atento revelou um cenário que gerou um misto de sentimentos: Indignação e Esperança. Essas duas palavras estiveram presentes todos os dias da Missão e foram expressas inúmeras vezes. O Tráfico Humano é a terceira atividade ilegal mais rentável do mundo, segundo relatório emitido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), estima que mais 50 milhões de pessoas no mundo, são vítimas da escravidão contemporânea. “As pessoas naturalizam muitas práticas, realidades que geram endividamento, cárcere, exploração e ações que privam a liberdade de alguém. Isso implica no que conceituamos como tráfico de pessoas”. Afirma a professora e socióloga Márcia Maria de Oliveira da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Márcia é doutora em Sociedade e Fronteiras, acompanha a frente de pesquisa que estuda a economia garimpeira, um dos setores econômicos do estado de Roraima. A atividade do garimpo, sobretudo o ilegal, revela modalidades do crime de tráfico de pessoas que violentam os povos indígenas.

O estado tem como nome de origem o significado indígena de “Morro Verde”, que faz todo sentido ao se contemplar a paisagem entre Boa Vista e Pacaraima. A vegetação aberta denominada de lavrado, com montanhas, muita água e um verde intenso nesta época do ano. O estado possui a quinta maior população de povos originários do país, são 13 etnias em 32 territórios. A praça do centro cívico da capital, encontra-se um monumento que ostenta um garimpeiro, representando um setor econômico do estado que causa danos ambientais e viola os direitos humanos. O Rio Branco corta a cidade formando um balé em alta velocidade com seus afluentes, onde se vê beleza e perigo em todos os sentidos. A cidade com suas ruas, calçadas e praças largas bem arborizadas, transmite uma calma absoluta, mas esconde uma realidade que é visível aos olhares e ouvidos atentos.

Fluxo migratório e o tráfico de pessoas no Estado

Dias antes de acontecer a missão da Comissão de Enfrentamento ao Tráfico de Humano da CNBB, em Boa Vista, circulava a notícia nos meios de comunicação e redes de mensagens, a notícia que três meninas de 16 anos haviam sido aliciadas e levadas para a Guiana. “O tráfico de pessoas ainda acontece aqui no estado de Roraima. As meninas brasileiras que têm um valor no mercado do sexo na Venezuela, Guiana e para a exploração sexual no garimpo”. Afirmou a diretora do Programa de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Roraima, Socorro Santos, que apontou falhas nas funções dos órgãos de investigação. No caso das três meninas desaparecidas, a investigação estava na polícia civil, uma vez que a denúncia cabe à investigação da polícia federal. “Esse momento em oportuno junto para nos ajudar a lutar pela efetivação das políticas que nos faltam nesta pauta aqui no estado. Aqui, as meninas e meninos, independente de nacionalidades ou raça, estão sendo traficados em todas as modalidades, e digo mais, existe extração de órgãos em nosso estado”. Socorro chama atenção para o tráfico de pessoas interno, e denunciou que tem crescido o tráfico de órgãos e recentemente recebeu relatos de meninas resgatadas que denunciaram casos ocorridos no estado.

O fluxo migratório no estado é permanente, os migrantes que atravessam o país na busca de uma vida melhor, são suscetíveis ao aliciamento de tráfico de pessoas. Um dos locais visitados pela Comissão foi o Posto de Interiorização e Triagem (PITRIG). Localizado próximo à rodoviária internacional de Boa Vista. O posto atende em maioria migrantes venezuelanos que buscam refúgio, documentos e regularização de permanência no Brasil. “Aqui é um lugar que recebemos os migrantes para regularizar documentos, permanência e abrigá-los para que a cidade possa ficar livre”, dizia o soldado ao receber a comitiva, logo na entrada. Não é permitido filmar ou fotografar no local sem antes uma solicitação prévia. “Caso você queira fazer fotos teremos que verificar antes de você sair”. Alertou o soldado.

O espaço é coberto por várias tendas distribuídas com funções específicas para os trabalhos realizados em ação conjunta que envolve a Agência ONU para Refugiados, (ACNUR), Organização Internacional de Migração (OIM), Exército Brasileiro e outras organizações que integram o atendimento. O local possui setores de serviços, porém poucas pessoas para atender. No dia da visita a temperatura média de Boa Vista era de aproximadamente 30º C, sob as tendas a sensação térmica era insuportável, ar-condicionado disponível somente nas salas de atendimento. Enquanto caminhávamos nos espaços, os olhares curiosos das crianças e de alguns adultos pareciam implorar por algo. Uma estrutura improvisada que se tornou permanente, assim como os oito abrigos para migrantes na cidade. A estrutura organizada dos abrigos é semelhante a um camping com barracas perfiladas, em média cada abrigo acolhe entre duas e três mil pessoas. As casinhas de plásticos sob o sol, são denominadas de Unidade de Habitação para Refugiados (RHU). É difícil imaginar as condições de viver por longo período nestas condições.

Difícil de imaginar, no entanto evidente, porém ao observar com atenção, é o tráfico de pessoas. Os migrantes são suscetíveis pelas condições precárias ao chegar na fronteira e são alvos dos aliciadores para o trabalho escravo contemporâneo, exploração sexual e outras modalidades. Em uma roda de conversa e brincadeiras para crianças, a agente de pastoral distraía um grupo pequeno de crianças com idades entre 7 e 12 anos, enquanto os pais acompanhavam orientações e informações sobre seus direitos como migrantes. Alguns deles falaram que trabalhavam durante a semana, questionados sobre o que mais gostavam de fazer: brincar ou trabalhar? A maioria afirmou que era melhor trabalhar.

Os relatos informam que crianças são exploradas para ser cuidadoras de carros nas proximidades de centros gastronômicos da cidade e são exploradas para a mendicância.

Durante os cinco dias de missão, os momentos de escuta tiraram da invisibilidade através dos relatos que o tráfico de pessoas existe no estado de Roraima. A fronteira de Bonfim com a Guiana, a 125 km de Boa Vista, é extremamente vulnerável sem oferecer a menor segurança de fluxo migratório. A região que possui predominância dos povos indígenas Wapichana, são afetados pelo tráfico do garimpo que contamina o território com uso indevido de mercúrio. Os relatos de pessoas traficadas para o garimpo, comércio chinês e exploração sexual é uma realidade quase que naturalizada. Para enfrentar, religiosos realizam um trabalho de prevenção, com muita dedicação, apesar da limitação de recursos.

“Aqui em Bonfim o tráfico de pessoas é uma realidade. Meninas são traficadas para exploração sexual no garimpo, homens e mulheres principalmente migrantes são aliciados para o trabalho escravo. Muitas vezes durante o atendimento que realizava como servidora pública presenciei meninas muito jovens e bonitas indo para o garimpo. Diziam que iam trabalhar como cozinheiras, percebi que sempre havia pessoas que os levavam. Temos o caso da Raissa que ficou conhecida nacionalmente, que foi vítima de tráfico de pessoas, infelizmente não voltou viva. Foi brutalmente assassinada grávida de sete meses e todos os indícios levavam crer que ela foi mais uma vítima. O tráfico de pessoas existe.” Disse uma testemunha durante a roda de conversa na cidade de Bonfim, cidade fronteira da Guiana.

O tráfico de pessoas não se restringe apenas à região de fronteira com a Guiana Inglesa, os rios e afluentes da região estão muito próximos do Suriname, que é outro espaço intenso do garimpo. A professora Márcia Maria de Oliveira conta que historicamente essa rota sempre foi reconhecida como lugar de exploração sexual, mas o dinamismo do tráfico muda com frequência o fluxo. “No geral as mulheres vão com a promessa por exemplo de ser cozinheira, é claro que a gente sabe que cozinheira é um código do garimpo. Esse código significa que a pessoa está sendo explorada sexualmente. É uma forma de aliviar essa situação para a família encarar, sem problematizar e denunciar”. Situa a professora e pesquisadora.

Para além das armadilhas em que os migrantes são atraídos, outra situação preocupante é a dos povos indígenas. “Os garimpos continuam aumentando com mais força, dragas e outros meios. Esse garimpo, não pode mais chamar apenas de garimpo, é um narcogarimpo que atua com tráfico de armas, drogas e de pessoas”. Dizia dom Evaristo Spengler, bispo de Roraima. “O estado não tem assumido ainda o seu papel no enfrentamento ao tráfico de pessoas”. Denunciou o bispo que acredita que a missão é capaz de aproximar os órgãos e a sociedade civil para propor políticas públicas e também aproximar as ações nas fronteiras para trabalhar em conjunto pelo enfrentamento ao tráfico de pessoas e na defesa da vida.

“Precisamos fortalecer esse trabalho, a situação aqui em Roraima é muito mais complexa, temos duas fronteiras: Guiana onde há um corredor de migração que chegam pessoas de modo especial da América central, temos a fronteira com a Venezuela que tem um fluxo de migração muito grande, já desde o ano 2017. Esta situação coloca as pessoas em situações frágeis”. Reforçou dom Evaristo para a impotência da missão.

Na divisa de Pacaraima, localizada a cerca de 215 km de Boa Vista, durante a visita aos abrigos e organismos da igreja que apoiam os migrantes com suporte de órgãos públicos e organização humanitária internacional, o som que ressoa na fronteira é mais espanhol que o português. Os rostos também são diferentes, com características indígenas na grande maioria. A presença dos Indígenas Venezuelanos da etnia Warao é marcante na região, que sobrevive da venda de artesanatos. Em uma ação de conscientização em espaço público, um homem Venezuelano falou que foi vítima de trabalho escravo. “Trabalhei em fazenda de nome Nossa Senhora Aparecida por quase três meses sem carteira assinada. E ao cobrar meus direitos e salários como migrante, o proprietário avisou que não teria direito algum. Fui ameaçado e até o momento não recebi pelos meses trabalhados”.

A força da igreja em defesa da vida na tríplice fronteira de Roraima

Com o sentimento de esperança e indignação evidente em todos que acompanharam a Missão da CEETH, pode ser afirmado que a luta contra o tráfico de pessoas em Roraima é realizada pela Igreja Católica e organismos comprometidos com a defesa da vida. Trabalhos realizados em parcerias com as pastorais, universidade federal, organismos internacionais humanitários e sociedade civil é que está na linha de frente diariamente. Em Pacaraima, ao lado do abrigo Janokoida, que acolhe os povos indígenas que chegam da Venezuela, fugindo de conflitos e fome, fica a Casa São José. Crianças são maioria nesses espaços de acolhida. Ao entrar na Casa São José ficamos de frente para uma fila de mulheres grávidas ou com crianças no colo à espera do atendimento acolhedor que as irmãs de São José de Chambery realizam com apoio da igreja e voluntários.

Criada no ano de 2020, a casa acolhe mulheres vítimas de diversas violações e em especial às vítimas de exploração do tráfico de pessoas. “Aqui se chega a atender centenas de pessoas entre mulheres e crianças, embora o fluxo da migração esteja menor atualmente a passagem destas mulheres na casa é de no máximo seis meses”. Disse o voluntário ao apresentar os cômodos da casa que possui espaços para crianças, alojamento para dormir e espaço para oficina profissionalizante de manicure, corte de cabelo e maquiagem. Tudo que as irmãs organizaram para a casa até o momento, é resultado de muita luta, sofrimentos inclusive perseguições. O que não descarta que os desafios e enfrentamentos ainda são uma realidade atual.

Do outro lado da fronteira, em Santa Elena, na Venezuela, a igreja se aproxima da pauta com um olhar sem fronteiras e desde 2022 vem construindo esse caminho. De acordo com a Cáritas do Vicariato do Caroní, aproximadamente 70% dos migrantes venezuelanos no Brasil são mulheres, e a organização tem acompanhado de perto as questões relacionadas ao fluxo migratório por meio de atividades de intercâmbio entre Venezuela e Brasil.

“Nós enquanto igreja fortalecemos o trabalho da Diocese de Roraima no enfrentamento ao tráfico de pessoas, porém ressaltamos a importância do papel do poder público federal, estadual e municipal. É necessário que haja um compromisso com essa causa e que essas instâncias atuem de forma integrada para combater essa chaga humana”. Enfatizou dom Adilson Busin, presidente da CEETH e bispo de Tubarão (SC).

A realidade das pessoas em condições de vulnerabilidade, nos espaços de acolhidas superlotados, poucas pessoas para atendimento e algumas situações despreparadas para atender situações delicadas e de conflitos, é um dos olhares nesse itinerário da Missão. Em Boa Vista, nas regiões próximas ao terminal rodoviário, o local se torna uma espécie de território sem lei. Em pouco tempo presentes no local, se ouviu relatos sobre assassinatos dentro dos abrigos, sequestro de crianças, abuso sexual e atividades que envolve o tráfico de drogas.

Passava de 12h00, meio-dia quando a comitiva chegou ao acampamento que distribui refeições pelo projeto da cozinha do Sumauma. A cena impacta. Centenas de pessoas perfiladas entre grades de proteção, na tentativa de organizar a entrega dos alimentos. As filas se estendem para além da tenda, sob o sol e finaliza dentro de um galpão com o tamanho proporcional de uma quadra de futebol, onde as pessoas se sentam para fazer suas refeições. Todos os dias são distribuídas mais de 1.500 refeições. O espaço é organizado pelo exército brasileiro, organizações da igreja e serviços da agência humanitária internacional. A cena é semelhante com a entrada de migrantes na fronteira de Pacaraima. Todos os dias centenas e centenas de mulheres, homens e crianças se aglomeram sob sol e chuva em busca de um novo viver. “Neste sentido podemos afirmar que a cidade de Boa Vista é a cidade com maior porcentual de população de rua do Brasil”. Frisou uma agente de pastoral.

“Existe uma omissão do poder público no enfrentamento desta causa, nós quanto à comissão denunciamos em coletiva de imprensa sobre essa ausência do poder público. Como igreja fortalecida e envolvida com as causas dos mais pobres, a diocese de Roraima segue firme e forte neste enfrentamento e defendendo a vida”. Disse a religiosa e assessora da CEETH, Irmã Eurides Alves de Oliveira.

As atividades da Missão foram encerradas com um Colóquio na Universidade Federal de Roraima sobre Tráfico Humano. A participação superou a expectativa da organização, estiveram presentes mais de 150 pessoas, quase não havia espaço para acomodar as pessoas que participaram atentamente daquele colóquio que está em sua terceira edição. 80% dos presentes, claro eram de migrantes e refugiados que expuseram questionamentos e denúncias sobre o tráfico de pessoas em Roraima.

“O colóquio foi um ponto muito forte, um espaço com o protagonismo popular, esse momento revelou que é inevitável a necessidade de organizar em rede. Se observou inclusive que as respostas desconexas em relação às perguntas e cobranças feitas pela população foram marcantes. Isso confirma através das escutas que tivemos, que não existe integração de alguns órgãos do poder público. O estado faz seu papel, porém falta garantir as necessidades humanas”. Ressaltou Alessandra Miranda, secretária executiva da Comissão Especial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da CNBB.

Apesar do sentimento de indignação em todo percurso desta Missão, a Esperança é soberana através da presença articulada da igreja católica de Roraima e sobretudo da alegria dos povos migrantes e brasileiros que é a mais pura demonstração de resistência.

Além da CEETH, outras Instituições/Organizações religiosas e civis se integraram a Missão, entre elas: Comissão Pastoral da Terra (CPT), Associação Brasileira de Defesa da Mulher da Infância e da Juventude ASBRAD, Rede CLAMOR Brasil, REPAM Brasil, Serviço Pastoral do Migrante (SPM), SEFRAS/Ação Social Franciscana, Cáritas, Universidade Federal de Roraima (UFRR) e Rede Um Grito Pela Vida da Conferência dos Religiosos/as do Brasil (CRB). A Missão contou com a articulação de dom Evaristo Spengler, bispo de Roraima e integrante da Comissão, dom Plínio José Luiz da Silva, bispo diocesano de Picos (PI) e dom Adilson Pedro Busin, bispo da diocese de Tubarão (SC) e atual presidente da Comissão Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB.


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Fonte: IHU

Pelo cuidado pastoral dos enfermos – O Vídeo do Papa 7 – julho 2024

01 julho, 2024

A voz frágil da democracia. Artigo de Stefano Feltri

"Biden perdeu um debate que não poderia vencer, porque a única maneira de derrotar Trump em seu terreno é se tornar pior do que ele: mais mentiras, mais violência, mais absurdos", escreve Stefano Feltri, jornalista italiano, em artigo publicado por Settimana News, 28-06-2024.

Eis o artigo.

O primeiro debate entre Joe Biden e Donald Trump, organizado pela CNN na Geórgia, foi decidido nos primeiros minutos. Quando o presidente em exercício começou a falar, todo espectador pôde sentir o peso de seus 81 anos, da vida que lhe foi dada e da carreira de político de profissão que escolheu.

Quem quer que tivesse dúvidas sobre a saúde física de Joe Biden, sua capacidade de suportar mais quatro anos na Casa Branca, viu confirmados os receios sobre sua inadequação. Para mim, porém, aquele falar vacilante e quase aflito me fez pensar não na voz de um velho, mas na flebile voz da democracia e dos direitos em uma era marcada pela violência verbal e física.
Assim como nossas democracias

Joe Biden é velho e cansado, assim como nossas democracias após vinte anos de raiva, para citar o fundamental livro de Carlo Invernizzi Accetti, do qual falaremos em breve. No fundo, não há um candidato melhor para encarnar as ideias e as políticas que se opõem a Donald Trump.

O debate não foi um confronto entre dois candidatos, mas a representação da verdadeira natureza do conflito: o cerco do tirano ao forte desprotegido da democracia.

Um candidato mais jovem, vital, com a resposta mais rápida teria simplesmente tornado mais difícil perceber qual é o verdadeiro enredo das eleições de 5 de novembro. Não se trata da escolha entre Biden e Trump, mas entre a imperfeita democracia liberal dos direitos, das políticas redistributivas, do internacionalismo e uma loucura predatória, gananciosa e violenta na política interna, e um cinismo masoquista na política externa.

Biden tropeça, não se entende o que diz, sempre confunde – sempre – milhões (millions) com bilhões (billions).

Não tem uma resposta pronta quando perguntado sobre sua idade, começa a listar os sucessos da política industrial. Como dizer: vejam o que eu faço, não como eu conto.

É a tentativa, mal sucedida, de lembrar que já em 2019 Biden era considerado idoso, pouco lúcido, inadequado, mas então ele fez mais coisas relevantes em quatro anos do que Barack Obama em oito.

Trump revela apenas sua natureza e suas ambições: é inútil verificar suas declarações, toda a narrativa de Trump é construída sobre uma premissa que ele considera incontestável e óbvia. Ou seja, que os Estados Unidos estavam no auge de seu sucesso – econômico e político – quando ele foi forçado a deixar a Casa Branca em 2021 por uma eleição cuja legitimidade nunca reconheceu. E que com Biden, a América afundou em um abismo econômico, moral, geopolítico.

Nenhum dado – entre os milhares que poderiam ser citados – pode abalar essa convicção trumpiana.
A verdadeira questão

Diante de uma pergunta direta, Trump se recusa a se comprometer a reconhecer o resultado eleitoral de novembro de 2024, seja qual for.

Diz estar pronto apenas para respeitar o resultado de um processo justo e honesto, o que equivale a dizer que não reconhecerá outro resultado além de sua vitória, pois há quatro anos ele repete que as eleições de 2020 foram fraudadas a favor de Biden (nenhum tribunal jamais encontrou um único elemento a favor das teorias trumpistas, lembra o presidente Democrata, além disso, Trump está sendo processado por tentar reverter o resultado na Geórgia).

A crônica do debate seria deprimente, especialmente nos momentos em que dois senhores idosos tentam afirmar sua virilidade restante, reivindicando seus sucessos no golfe ou (no caso de Trump) nos testes de capacidade cognitiva, aos quais Biden se recusa a se submeter.

Não há dúvida de que Biden está cansado, frágil, confuso. Mas sua falta de clareza já me chamava a atenção em 2019. E Biden cometeu gafes e tropeçou mesmo quando era vice-presidente – já idoso naquela época – de Obama de 2008 a 2016. E então ele venceu, superou candidatos mais jovens e contemporâneos como Cory Booker ou Pete Buttigieg, e mostrou-se mais capaz de construir não apenas uma coalizão vitoriosa, mas também uma agenda política eficaz em comparação com os radicais Bernie Sanders ou Elizabeth Warren.

Talvez consciente de sua incipiente senescência, ele escolheu uma vice-presidente como Kamala Harris, inatacável em termos de biografia (filha de imigrantes, mulher, negra, progressista mas dura contra o crime), mas impalpável politicamente. Até agora, ninguém levou a sério a ideia de uma sucessão, com Kamala desafiando Trump.
Cada vez mais frágil e incerto

Biden perdeu um debate que não poderia vencer, porque a única maneira de derrotar Trump em seu terreno é se tornar pior do que ele: mais mentiras, mais violência, mais absurdos (como denunciar a inflação e anunciar tarifas alfandegárias sobre todos os bens, o que faria os preços de cada produto ou serviço nos Estados Unidos dispararem).

Em 2020, a democracia americana conteve Trump – com dificuldade – através do voto e da repressão à tentativa de golpe de Estado em 6 de janeiro de 2021. Quatro anos depois, está claro que a democracia se tornou mais frágil e incerta, assim como seu improvável campeão, Joe Biden.

A verdadeira questão levantada pelo debate desta noite não é quem ganhará as eleições, mas em que terreno se desenrola a competição entre democracia e autoritarismo. A de Trump é um ataque ao Estado e suas prerrogativas, que incluem estabelecer as regras para o acesso ao poder e o monopólio do uso legítimo da força.

Biden escolheu – por enquanto – manter a competição no campo do consenso, enquanto o restante do sistema americano tenta conter o ataque de Trump em outras frentes, começando pelo judiciário.

Discutir a fragilidade de Biden, portanto, desvia a atenção do verdadeiro problema, que é a fragilidade da democracia liberal. Não apenas a americana.

Fonte: IHU