A expansão da bolha social permite que mais pessoas sejam
incorporadas ao núcleo familiar, que devem manter esse relacionamento de forma
exclusiva.
Com a extensão da quarentena em muitos países que estão em
isolamento há semanas, e com a falta de clareza sobre como sair dela sem
aumentar drasticamente os casos de covid-19, o ânimo das pessoas está se
desgastando.
Publicada por BBC News, a reportagem é de Laura Plitt em
05-05-2020.
Além do golpe econômico que representa para aqueles que
dependem do trabalho diário fora de casa para sua subsistência ou do caos para
mães e pais que precisam fazer malabarismos para trabalhar em casa e cuidar de
seus filhos, muitos sofrem o impacto da solidão e da falta de contato físico.
Por esse motivo, uma das estratégias que alguns governos
estão avaliando para sair desse impasse é criar ou expandir as chamadas
"bolhas sociais".
O termo começou a ganhar destaque depois que a Nova
Zelândia, um dos países de maior sucesso na luta contra a pandemia, anunciou a
diminuição de seu nível de alarme de 4 para 3.
Embora continue a valer a recomendação de ficar em casa e
evitar interações sociais o máximo possível, as novas regras que entraram em
vigor na semana passada autorizam a população a expandir seu círculo de
contatos.
"As pessoas devem continuar dentro da bolha de sua
casa, mas podem expandi-la para se reconectar com sua família ou para trazer
cuidadores ou ajudar pessoas isoladas", diz o governo em seu site,
"desde que todos vivam na mesma cidade".
O contato entre esse grupo de pessoas deve ser exclusivo: ou
seja, as pessoas que fazem parte dessa bolha não podem fazer parte de outra.
"Essa abordagem é uma maneira de aumentar o contato
social e minimizar o risco de transmissão da doença, pois, se ocorrer uma
infecção, ela permanece na bolha e não será transmitida a outras pessoas",
explica Stefan Flasche, professor associado da London School of Hygiene and
Tropical Medicine.
"É uma maneira eficiente de relaxar as restrições que,
em princípio, são viáveis em quase todas as situações em que o número de
infecções não está mais aumentando", diz ele.
Na opinião dele, é uma ferramenta importante para lidar com
a situação, enquanto a busca por uma vacina continua, "embora cada país
deva priorizar quais medidas precisam ser flexibilizadas com mais
urgência".
Não mais que 10
Embora a proposta implementada na Nova Zelândia não defina
um número de indivíduos por unidade (embora obviamente a ideia de uma bolha é
exatamente que seja pequena), outros governos que avaliam a possibilidade de
incorporar essa estratégia estabelecem um limite de 10 pessoas.
O governo britânico disse estar considerando relaxar as
medidas de isolamento social permitindo as "bolhas sociais"; a ideia
seria permitir a combinação de um grupo familiar com dois ou três outros
grupos, também exclusivamente.
A ideia também está sendo considerada, entre outros, por
Escócia, Canadá e Bélgica.
Para Per Block, co-autor de um estudo liderado pela
Universidade de Oxford sobre estratégias baseadas na reestruturação de nossas
relações sociais para achatar a curva da covid-19 após a quarentena, as
vantagens desse modelo são evidentes.
"Quanto mais rigorosa a quarentena, maior o custo para
a vida social e o bem-estar psicológico das pessoas", disse o pesquisador
à BBC Mundo. "Há uma enorme diferença entre encontrar algumas pessoas ou
ficar sozinho em casa, especialmente para pessoas que são psicologicamente
vulneráveis, ou que estão em uma situação insegura, ou que precisam de contato
físico para o seu bem-estar mental".
Brian Dow, vice-diretor executivo da Rethink Mental Illnes,
ONG britânica comprometida com a promoção dos direitos das pessoas afetadas por
problemas de saúde mental, acredita que essa política será benéfica desde que
seja bem administrada.
"Isso permitiria que as pessoas diminuíssem a ansiedade
que estavam sentindo por ficarem presas em suas casas", disse ela à BBC.
"As pessoas têm sido muito criativas (em termos de socialização), mas
francamente o que precisam agora é apena um abraço."
Como montar sua bolha
Mas como uma família ou um grupo que compartilha uma casa
monta sua bolha sem muita complicação e dor de cabeça — aceitando alguns,
rejeitando outros e deixando todos na casa satisfeitos?
"É uma tarefa delicada, porque você precisa fazer um
contrato social com outras pessoas que estão na sua bolha e garantir que todos
fiquem dentro dela — e isso se baseie na confiança", diz Block.
Também há muitos outros fatores a serem considerados, como
as diferentes gerações que vivem juntas sob o mesmo teto.
"Se dependesse de mim e de minha parceira, certamente estaríamos
OK nos comunicando digitalmente com nossos amigos, mas temos uma filha de
quatro anos e a situação dela é pior, porque ela sente falta da interação
física com seus amigos porque não consegue se comunicar digitalmente", diz
Flasche.
"Portanto, você precisa considerar com cuidado quem na
casa precisa mais expandir sua bolha pessoal e criar uma unidade de acordo com
quem realmente precisa."
Outra coisa importante, diz Block, é criar uma bolha com um
grupo geograficamente próximo (como vizinhos que são amigos e com uma estrutura
familiar semelhante), para que "em caso de contágio, você possa limitar a
distância de propagação da doença".
Do que dependerá o sucesso dessa estratégia?
A resposta é simples, segundo os entrevistados: que as
pessoas cumpram as regras.
Não é para sempre, mas se trata de "uma solução
intermediária entre agora e talvez daqui a um ano em que voltaremos a interagir
normalmente", diz Block.
"Eu vejo isso como uma oportunidade para a
sociedade", diz Lasche.
Se as pessoas seguem as regras e limitam seus contatos o
máximo possível, essa pode ser uma estratégia viável e sustentável que torna a
quarentena mais tolerável a longo prazo", afirma ele.
"Se não cumprirmos os regulamentos e estabelecermos
mais contatos, a doença se espalhará e teremos que voltar a um isolamento mais
severo. É por isso que é do interesse de todos que esse não seja o caso",
acrescenta.
A Nova Zelândia, onde a estratégia da bolha social já está
em andamento, reavaliará em 11 de maio sobre como avançar.
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